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SCHUMPETER E NEOSHCUMPETERIANOS: UMA ALTERAÇÃO NO FOCO DA CONCORRÊNCIA

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (páginas 45-47)

A importância da economia do conhecimento conforme destacado anteriormente e sua relação estreita com temas de espacialidade nos faz destacar a contribuição neoschumpeteriana para o tema de políticas de desenvolvimento.

Uma entre as muitas observações fundamentais de Schumpeter refere-se à concorrência e à constatação de que a mesma não se dá via preços, mas, fundamentalmente, via inovação. A inovação, neste caso, é tratada lato sensu, mas é neste conceito schumpeteriano amplo que estaria a base do “progresso econômico”. Este aporte schumpeteriano nos remete à consideração da acumulação de capital e à dinâmica do modo de produção capitalista, tratada anteriormente ao mencionarmos o processo de autovalorização do capital. No caso schumpeteriano, não fugimos ao raciocínio: as assimetrias produtivas geradas pela inovação, base de um sistema com informações imperfeitas, garantem vantagens absolutas de preço e/ou qualidade, gerando ampliação de espaço de atuação e eventuais perdas aos concorrentes (BAPTISTA, 2000).

A busca da inovação confere, então, dinâmica ao sistema ao possibilitar a ampliação da fronteira de produção, ao viabilizar a criação e a recriação de assimetrias entre agentes, assimetrias essas que resultam de incertezas associadas ao processo inovativo e a quem assume tais incertezas ou não, e que geram a possibilidade de apropriação de lucros extraordinários uma vez que a inovação gera as imperfeições de mercado, vistas em Schumpeter não como anomalias a serem reduzidas pelo Estado, mas como endógenas, fruto da própria dinâmica capitalista centrada na inovação.

Em termos de política industrial ou de desenvolvimento, fica clara a ação necessária no sentido de um sistema que promova a inovação e que a firma é uma formuladora de estratégias, dados a estrutura de mercado em que se encontra, os ativos, as capacidades que possui, e a concorrência. As estratégias, para serem temporalmente válidas, devem permitir a conservação da posição da firma no mercado. Como o mercado se constitui no locus não de alocação ótima de preços, mas de rivalidade entre agentes, os padrões de concorrência setoriais são definidores dos processos decisórios. Chega-se, então, à conclusão da inviabilidade das hipóteses ortodoxas de estabilidade das funções de produção entre empresas e da simetria informacional, para citar apenas duas. Ao mesmo tempo, conclui-se pela necessidade de políticas setorialmente diferentes, uma vez que o foco, a base da dinâmica é a

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inovação. Chegaríamos, estendendo o raciocínio, a um viés de política industrial que traz os sistemas de inovação para o centro da discussão, sejam eles setoriais ou nacionais.

Os neoschumpeterinaos, mantendo a ideia da inovação como elemento fundamental da dinâmica, chegam ao progresso técnico endógeno a partir do Princípio de Causação Circular e Cumulativa21 de Kaldor-Myrdal associado ao aporte teórico schumpeteriano.

Para compreender a análise neoschumpeteriana e as possíveis aberturas de políticas de desenvolvimento neste ponto, faz-se necessário abrir a economia e considerar os elementos de inserção da mesma na divisão internacional do trabalho.

Kaldor defendia, basicamente, a existência de diferenciais entre as elasticidades-renda da demanda entre setores (ou produtos), o que contraria a hipótese de funções de produção homogêneas entre setores. Adicionalmente, para o autor, há retornos crescentes de escala na produção que levam à polarização do comércio internacional (BAPTISTA, 2000).22 Assim, os países desenvolvidos são os que apresentam altas elasticidades-renda das exportações e baixas elasticidades-renda das importações, o que traduz a vantagem em termos inovativos, em tecnologia de ponta.

Para não desvirtuar este trabalho de seu propósito, bastará lembrar uma única questão adicional tratada em Kaldor e incorporada pelos neoschumpeterianos: o mercado é mecanismo de transmissão de mudanças, mudanças estas que se relacionam diretamente ao processo inovativo e a suas características de geração de economias dinâmicas, estáticas e de aprendizado de escala, fundamentais para entender o mercado como o lugar de geração/apropriação de renda.

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O sucesso gera mais sucesso e o fracasso gera mais fracasso: em resumo, regiões mais pobres tendem a aprofundar a pobreza em função da ação de forças centrípetas ou efeitos regressivos, que não somente fazem com que as regiões mais ricas atraiam os melhores profissionais, como fazem com que as mais pobres, com menor poder de atração de empresas e pessoas, tendam à estagnação. Ou seja: as regiões mais dinâmicas contribuiriam para tornar as mais pobres cada vez menos dinâmicas. Myrdal parte do pressuposto de que a dinâmica de um polo se origina de um fato histórico determinado. Migrações, comércio e o movimento do capital tenderiam a aprofundar os efeitos nos dois extremos do desenvolvimento: nas regiões dinâmicas, a “causação” assume o efeito positivo de gerar maior dinamismo, enquanto nas regiões deprimidas, a “causação” opera no sentido contrário. O processo é cumulativo e o mercado, por consequência da análise dinâmica, opera no sentido de aprofundar as desigualdades.

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Em relação à primeira destas teses, Kaldor estabelece uma relação causal entre a inserção setorial de cada economia e seu potencial de geração de renda e emprego recuperando a versão dinamizada do multiplicador de comércio exterior de Harrod [....]. Neste sentido, e através da operação dos efeitos multiplicador e acelerador neokeynesianos, a elasticidade de renda das exportações aparece, neste referencial teórico, como a variável-chave que vincula a demanda (neste caso o seu componente externo) à geração de renda.[...] Kaldor enfatiza [...] a elasticidade-renda das exportações como elemento fundamental na explicação do crescimento das exportações e a “habilidade inovativa” como fator básico na definição destas elasticidades-renda (BAPTISTA, 2000, p. 24-26).

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (páginas 45-47)