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4.5 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL

4.5.7 A EJA no período de 1961 a 1964

Na década de 50 e começo dos anos 60 teve início no país um amplo movimento pelas reformas de base (educação, política, sindical, agrária, industrial,...) proposto por grupos influentes da sociedade como os movimentos de cultura popular, de erradicação do analfabetismo, cinema novo, teatro popular, movimento estudantil, em busca de um novo país, pela transformação efetiva da realidade nacional.

Essa efervescência política e cultural fez com que os anos entre 1961 e começo de 1964 fossem tempos instáveis em termos políticos no Brasil. Houve uma renúncia presidencial depois de apenas sete meses de governo sem uma causa aparente (apenas ‘forças ocultas’ no dizer do renunciante), a mudança de sistema de governo presidencial para parlamentar, devido à pressões militares, que não admitiam a posse do Vice-Presidente da República, por considerá-lo muito próximo dos movimentos socialistas, o retorno mais tarde ao presidencialismo por vontade popular por meio de plebiscito e finalmente, um golpe conservador dirigido pela elite industrial, agrária, militar, midiática, religiosa rompeu com a ordem constitucional de 1947.

No começo do governo Jânio Quadros foram criados dois programas para a educação de adultos: o Movimento de Educação de Base (MEB) e a Mobilização Nacional Contra o Analfabetismo (MNCA). O MEB surgiu do interesse da CNBB de ampliar a atuação da Igreja Católica na educação popular, por meio de seus sistemas de educação de rádio que haviam realizado experiências bem sucedidas nessa área nos Estados do Rio Grande do Norte e de Sergipe. O interesse da CNBB estava também em concordância com as proposições contidas na Carta de Princípios do II Congresso de 1958, de o governo federal financiar também programas educativos de adultos realizados por instituições privadas.

O Decreto nº 50.370, de 21 de março de 1961, determinou que o governo federal fornecesse recursos para a realização do MEB, via convênio MEC-CNBB, pelo qual as emissoras católicas nas regiões subdesenvolvidas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste deveriam levar a educação por meios das escolas radiofônicas. Em 1963, o movimento já mais imbuído das ideias sociais da Igreja expandiu-se para outras regiões do país, com forte influência da Juventude Universitária Católica (JUC).

Para Damas (2004), o MEB foi uma iniciativa por iniciativa da Igreja Católica e abriu horizontes para uma nova concepção de educação no sentido de:

responder à imensa população empobrecida que não tinha acesso à Escola Católica. Enquanto nas escolas formais se discutiam os métodos psicopedagógicos mais eficientes para adaptar o indivíduo à sua vida profissional futura, nas experiências de educação popular discutia-se a exploração, o problema da terra e das várias pobrezas. (DAMAS, 2004, p. 148).

O MNCA, instituído por decreto para as outras regiões do país, na véspera da renúncia presidencial, sequer foi implantado. Foi retomado, porém, no ano seguinte com algumas modificações, com a incorporação de todas as campanhas federais existentes, como a CEAA, CNER, CNEA, a construção de escolas e merenda escolar. Os locais escolhidos para a implantação do programa foram seis capitais (São Luis, Teresina, Fortaleza, Natal, Salvador e Florianópolis) mais o Distrito Federal.

Junto com o MNCA, foi instituído o Plano de Emergência na educação, que tinha a finalidade de encontrar recursos financeiros no orçamento federal para auxiliar os Estados no desenvolvimento do ensino primário e médio e para a alfabetização da população adulta.

Porém, todos esses programas foram extintos pelo Decreto nº 51.867, de 26 de março de 1963, para atender as novas diretrizes educacionais previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1962, que atribuía competência aos Estados, nos diferentes níveis educacionais, e competência da União na

formulação de objetivos gerais a serem alcançados na educação, além de estabelecer cooperação financeira e assistência técnica na educação de caráter complementar.

Em paralelo as campanhas federais, surgiram nesse período os movimentos ligados à Cultura Popular, impulsionados por intelectuais, políticos e estudantes, que visavam à participação política da população no processo de tomada de consciência dos problemas brasileiros. Deles participavam os liberais, as esquerdas marxistas e os estudantes católicos ligados à JUC, que pretendiam mudar a sociedade brasileira por meio da:

transformação das estruturas sociais, econômicas e políticas da país, sua recomposição fora dos pressupostos da ordem vigente; buscavam criar a oportunidade de construção de uma sociedade mais justa e mais humana. Além disso, fortemente influenciados pelo nacionalismo, pretendiam o rompimento dos laços de dependência do país com o exterior e a valorização da cultura autenticamente nacional, a cultura do povo. (PAIVA, 1993, p. 230).

Com base no modelo construído pelo Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), os centros populares de cultura se espalharam pelo país. A forma mais visível de atuação dos CPC era o teatro de rua, com peças apresentadas nas ruas, nos sindicatos, nas universidades e praças públicas. Também promoviam cursos, exposições gráficas e fotográficas sobre temas como a reforma agrária, remessa de lucros ao exterior, política externa independente, voto do analfabeto, entre outros.

Com relação ao tema do analfabetismo, a UNE pensou em enfrentá-lo por meio da criação de uma Universidade de Cultura Popular, mas não deu tempo, pois foi fechada pelo novo regime que se instalou em 1964.

Atuando na mesma época e de forma semelhante aos CPC, mas com orientação política vinculada à Igreja Católica progressista, surgiram os Movimentos de Cultura Popular (MCP), derivados do MCP do Recife, criado em 1960 e ligado à Prefeitura do Recife, que tinha em Paulo Freire o grande idealizador e executor ativo. O objetivo do MCP era “encontrar uma fórmula brasileira para a prática educativa ligada às artes e à cultura do povo e suas atividades estavam voltadas, fundamentalmente, para a conscientização das massas através da alfabetização e da educação de base.” (PAIVA, 1993, p. 236). Além do MPC do Recife, outro movimento importante foi criado pela Prefeitura de Natal, em 1961, denominado “De Pé no chão também se aprende a ler”.

Com a extinção das campanhas de alfabetização em março de 1963, a UNE propôs e o MEC encampou a proposta de realizar no país um programa extensivo de educação de adultos, onde o governo federal entraria com os recursos financeiros e a assistência técnica e

sua execução ficaria a cargo dos sindicatos e das entidades estudantis, com base no método Paulo Freire, com a meta de alfabetizar cinco milhões de brasileiros até 1965. Esse Plano Nacional de Alfabetização (PNA) chegou a ser criado pelo Decreto nº 53.465, de 21 de janeiro de 1964, mas funcionou apenas com dois projetos-piloto quando foi extinto em 14 de abril de 1964.

Esse programa representava “a incorporação, a nível ministerial e em termos práticos, da orientação indicada pelos grupos que desde 1962 desenvolviam atividades ligadas à educação de adultos” (PAIVA, 1993, p. 258), ou seja, dos CPC, dos MCP e do MEB progressista.

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