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4.8 O PROGRAMA PROEJA NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE

4.8.4 O Programa PROEJA

Esse programa surgiu como uma nova proposta de EJA no Brasil, e se propõe a investir na inclusão dos segmentos populacionais socialmente vulneráveis, por meio da formação profissional de qualidade para o mundo do trabalho e para a vida. Ele se destina a atender à população de jovens e adultos fora da escola, no sentido de assegurar a retomada da trajetória escolar e, ao mesmo tempo, oferecer a oportunidade de realização de um curso técnico profissionalizante.

Segundo Carnielli et al. (2008b), essa medida educacional veio resgatar uma dívida social e que se direciona à integração dos futuros egressos ao mundo do trabalho, pois ela se trata:

de uma iniciativa inovadora, que atende às duas principais necessidades de jovens e adultos que não completaram sua trajetória escolar: a conclusão de sua formação acadêmica e a formação profissional, de forma articulada. O Programa vislumbra uma nova postura educacional, especialmente para a melhoria da formação humana dos jovens e adultos. Essa visão inovadora aponta para a perspectiva de construção de uma política pública do Estado brasileiro para o segmento da educação de jovens e adultos. (CARNIELLI, 2008b, p. 12).

Cursos técnicos dessa natureza tendem a oferecer às pessoas, possibilidades de ingressar no trabalho e ter uma ocupação com carteira assinada, ou de executar atividades autônomas, que lhes permita formas alternativas de atuação profissional.

Inicialmente, o programa tinha como ponto de partida para a sua execução, a rede federal de educação profissional e tecnológica, por ela ter tradição na oferta de cursos profissionais de excelência que permitem aos egressos inserirem-se no mundo do trabalho, por meio de uma formação qualificada. Mais recentemente, passou a admitir os sistemas estaduais e municipais de ensino e as entidades privadas nacionais do Sistema S, além de ampliar a abrangência do nível de ensino no programa, com a inclusão do ensino fundamental, e passou a se denominar PROEJA FIC (Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores).

O PROEJA passa a fazer parte do conjunto de políticas afirmativas desenvolvidas pela política educacional brasileira, na busca de igualar oportunidades e de proporcionar uma sociedade mais justa. Este é um programa complexo, composto de diferentes sujeitos da educação, um programa inclusivo, agregador das diferentes realidades regionais por meio da educação. É um programa governamental de inclusão social por meio de uma política educacional dirigida a elevar o nível de escolaridade e desenvolver competências para o mundo do trabalho dos estratos sociais de menor renda, como forma de mudar a realidade de cursos dessa natureza, que apresentam altos índices de evasão.

Em tempos de globalização de modelos de políticas públicas educativos, o Programa PROEJA encontra semelhança com o Programa Chile Califica, um programa que associa a educação geral para adultos à educação profissional, articulando-as horizontal e verticalmente a fim de contribuir para a melhoria de oportunidades e o desenvolvimento produtivo do país. Segundo Gomes (2009), é um Programa conjunto entre os Ministérios da Educação, Economia, Trabalho e Previdência Social do Chile, direcionado para: a população

economicamente ativa dos setores mais pobres da população, que precisa ajustar-se a exigências educacionais e ocupacionais mais elevadas; jovens e trabalhadores em geral que precisam da formação em níveis médio e superior; e a população economicamente ativa em geral.

No Ministério da Educação do Chile (CHILE, 2012), o Programa está a cargo da Coordenação Nacional de Normalização de Estudos, responsável pelo Serviço Educativo para Pessoas Jovens e Adultas e pelo Sistema Nacional de Exame e Certificação de Estudos, ambos utilizados para implementar o Programa.

A formação profissional de jovens e adultos no contexto do Programa chileno, a exemplo do Programa PROEJA, pode ocorrer na educação básica (ensino fundamental) e na educação média (ensino médio). A finalidade da formação profissional na educação básica é proporcionar às pessoas a possibilidade de melhorar suas condições de empregabilidade, iniciar uma trajetória educativa orientada para educação média para a obtenção de um título de técnico de nível médio e, assim, ascender à melhores níveis de qualidade de vida.

Por ser um Programa de formação flexível em face das diversas pontes (Gomes, 2009), existem diferentes portas de entrada e saída para o aluno. Assim, um estudante pode concluir uma etapa da educação geral e matricular-se num curso de educação profissional do nível correspondente ou frequentar ambos simultaneamente, seguindo o seu próprio ritmo.

Estudo da UNESCO (2010) revelou que o Programa Chile Califica havia certificado 30.000 pessoas até o ano de 2009, um número considerado insuficiente, devido à elevação da taxa de alunos que deixaram de frequentar o ensino primário e secundário, e recomendou mudanças no Programa para fazer frente a essa nova realidade.

4.8.4.1 Os sujeitos do PROEJA

Segundo Di Pierro (2009), pode-se identificar os destinatários das políticas de EJA, os sujeitos da EJA na América Latina e Caribe, como sujeitos sociais prioritários, relativamente homogêneo, constituídos pelos setores populares empobrecidos que habitam assentamentos urbanos precários e sobrevivem de trabalhos pouco qualificados da economia informal.

Essa caracterização genérica comporta, segundo ela, uma pluralidade de sujeitos, no interior da qual emergem numerosas identidades singulares. Os migrantes rural-urbanos, em sua diversidade étnica, cultural e de gênero, constituem os destinatários tradicionais da EJA. Mas, hoje, o grupo predominante é a juventude urbana dos setores populares que não teve

êxito na escola regular e busca na EJA um espaço que permita conciliar estudo e trabalho, acelerar a obtenção de certificados e/ou inserir-se em processos de qualificação profissional.

Especificamente no Brasil, a EJA trabalha:

com sujeitos marginais ao sistema, com atributos sempre acentuados em consequência de alguns fatores adicionais como raça/etnia, cor, gênero, entre outros. Negros, quilombolas, mulheres, indígenas, camponeses, ribeirinhos, pescadores, jovens, adultos, idosos, subempregados, desempregados, trabalhadores informais são emblemáticos representantes das múltiplas apartações que a sociedade brasileira, excludente, promove para a grande parte da população desfavorecida econômica, social e culturalmente. (BRASIL, 2007b, p. 11).

Como a oferta de EJA, na opinião de Di Pierro (2009), é preponderantemente escolarizada e urbana, as populações rurais e os povos indígenas, embora constituam um público potencial numeroso, continuam a ser marginalizados. Em tempos em que a miséria incrementou a criminalidade e fez crescer a população carcerária, os jovens prisioneiros também ganham visibilidade, e o direito deles à educação continua vigente no sistema prisional, principalmente por ser um direito constitucional.

No ano de 2009, outras ações passaram a ser desenvolvidas pelo MEC no âmbito do PROEJA FIC, envolvendo convênios de instituições de ensino federais com Estados, municípios e sistema prisional, com objetivos específicos de implantar cursos de formação inicial e continuada para o público jovem e adulto, integrados ao ensino fundamental, que estão privados da liberdade.

4.8.4.2 Ações paralelas executadas em apoio ao PROEJA

Segundo obtidos junto a SETEC/MEC em 2010, gestora do Programa PROEJA, o Programa previa investimentos da ordem de R$ 558 milhões no período de 2007 a 2011, recursos esses destinados à financiar a formação de profissionais, docentes e gestores, para atuar no Programa; a constituição de núcleos de pesquisa e redes de colaboração acadêmica; material de custeio em geral (para os cursos a serem implantados ou em andamento); material didático e publicações; e assistência ao educando da educação profissional, matriculados na Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.

Desse total de recursos, R$ 360 milhões eram destinados à capacitação de docentes, gestores e técnicos administrativos e R$ 164 milhões à concessão de benefícios aos alunos, na forma de alimentação, atendimento médico-odontológico, alojamento e transporte, com o objetivo de contribuir para o bom desempenho do aluno na escola. Quanto à capacitação de

profissionais dos sistemas públicos de ensino para atuar no PROEJA, a meta era a qualificação de 120 mil profissionais até 2011, por meio de cursos de especialização Lato Sensu, com carga horária mínima de 360h, e cursos de extensão com carga horária entre 120h e 240h, além de ciclos de seminários e oficinas de atualização pedagógica e administrativa.

Em 2006, por meio do Edital nº 003/2006, foi realizado um acordo de cooperação entre a CAPES e a SETEC/MEC para a constituição de grupos de pesquisa sobre a integração da educação profissional com a educação de jovens e adultos. Esses grupos envolvem dezenas de profissionais na pesquisa sobre os campos de atuação do PROEJA e são responsáveis pela consolidação de uma rede de cooperação acadêmica e pela produção e divulgação de estudos e pesquisas que possam contribuir para a implantação do Programa, expansão da oferta e melhoria da qualidade.

Um desses grupos de pesquisa trata das experiências de educação profissional e tecnológica integrada à educação de jovens e adultos no Estado do Rio Grande do Sul, do qual participam a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFET RS), o Instituto Federal Sul Riograndense (IFET Sul Riograndense), o Instituto Federal Farroupilha (IFET Farroupilha) e o Colégio Técnico Industrial da Universidade Federal de Santa Maria (CTISM/UFSM).

4.8.4.3 O Programa PROEJA em andamento

A primeira turma do PROEJA no país iniciou suas aulas no segundo semestre de 2005, no curso técnico da área da construção civil, realizado pelo CEFET de Roraima. Dados obtidos junto à SETEC/MEC em 2010, indicavam que foram matriculados na rede federal, em 2006, 4.129 alunos; em 2007, 5.991 alunos. São números iniciais expressivos, considerando que foi o primeiro ano de efetiva execução do Programa PROEJA ampliado e, nesse tempo, a Rede Federal contava com 148 unidades de ensino.

A oferta de cursos por essas unidades direcionados ao Programa PROEJA, em 2008 em 2009, segundo a SETEC/MEC, era variada, embasada na demanda do mercado de trabalho da área atendida pela unidade de ensino. Como era de se esperar, em decorrência dos avanços da tecnologia, os cursos de Informática, incluindo a instalação e manutenção de equipamentos, apareciam em primeiro lugar, oferecida por 44 das unidades de ensino. Em segundo lugar, vinha a Agricultura, nas áreas de agroecologia, agropecuária, agroindústria e

agricultura familiar, com 31 ofertas de cursos. Seguiam os cursos de Eletrônica, Eletrotécnica, Eletromecânica, com um total de 20 ofertas e os cursos de Edificações, com 16. Esses cursos são oferecidos, indistintamente, na área rural e urbana (BRASIL, 2009).

O acompanhamento da demanda desses cursos pelos candidatos, bem como sua conclusão pelos alunos, permitirá a realização dos ajustes que se fizerem necessários, tarefa a ser cumprida pelas próprias unidades executoras dos cursos e pelos grupos de pesquisa encarregados da avaliação do Programa.

Com a criação dos IFETs e a construção de novas unidades de ensino até ao número de 314 escolas técnicas no país, a meta do MEC é de acrescentar 274 mil matrículas as 160 mil atuais existentes na rede federal, para chegar a 500 mil vagas no ensino profissional e tecnológico até o ano de 2011. No que se refere ao PROEJA, no ano de 2010 estavam matriculados 27.530 alunos nos 240 estabelecimentos em funcionamento na rede federal de ensino e a estimativa era chegar em 2011 com 60.000 matrículas em 2011 (BRASIL, 2010).

No entanto, pode-se antecipar que, por si só, a Rede Federal dificilmente poderá alcançar as metas estabelecida pelo MEC. O concurso do Sistema S e dos sistemas estaduais e municipais de ensino será imprescindível para a consecução desta meta, ainda assim, muito aquém da clientela potencial do Programa.

Os cursos do PROEJA em nível médio têm uma duração média de três anos, com um total de 2.400 horas-aula. Portanto, o número de matrículas é cumulativo pelo período de duração do curso.

4.8.5 Qual é o sentido da educação profissional para jovens e adultos nesses tempos

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