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4.8 O PROGRAMA PROEJA NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE

4.8.5 Qual é o sentido da educação profissional para jovens e adultos nesses tempos

O educar na atualidade significa buscar respostas para os desafios que se fazem presentes no contexto da educação e do mundo, nesses tempos de rápidas e profundas mudanças, para nos entender no nosso cotidiano de educador. Segundo Gomes et al. (2008a), duas elaborações teóricas recentes podem auxiliar nos auxiliar a compreender o impacto das transformações na educação: a Declaração de Veneza e o Relatório Delors.

A Declaração de Veneza (UNESCO, 1986) expõe as ideias de pensadores da transdisciplinaridade sobre a necessidade de se examinar as questões do nosso tempo por meio da interação dinâmica entre as ciências exatas e as ciências humanas, isto é, entre o pensamento objetivo e o pensamento subjetivo, da qual emerge os aspectos axiológicos da educação, a dimensão afetiva da educação.

Essa necessidade de interação entre o conhecimento e os valores humanos também aparecem no Relatório Delors (UNESCO, 1996). Esse documento trás sugestões de como deve ser a educação do século XXI e apresenta os quatro pilares da educação contemporânea que devem nortear as políticas públicas em educação, em qualquer nível e modalidade: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, e aprender a ser.

Aprender a conhecer é buscar o domínio dos instrumentos do conhecimento e tem sido o terreno da educação geral. É, ao mesmo tempo, um meio e um fim. Já levar o conhecimento à prática e dar-lhe utilidade é aprender a fazer, é a operação ligada à formação profissional. Aprender a viver juntos é um imperativo deste violento mundo moderno. É a educação para o convívio, para o trato da alteridade, para a tolerância, finalmente para a paz como objetivo final. Aprender a ser busca o objetivo síntese da educação, que é desenvolver o ser humano na plenitude de suas potencialidades, alcançando o homem inteiro, corpo, inteligência, sentido ético e estético, responsabilidade e espiritualidade. Falamos de educação integral. (GOMES et al., 2008a, p. 39).

No que se refere à formação profissional, esses conceitos de globalidade, multidimensionalidade e complexidade do mundo e do ser humano podem ser encontrados nas políticas públicas mais recentes adotadas na educação profissional e que se destinam a formação inicial e continuada de trabalhadores, na educação profissional integrada ao ensino médio, na educação tecnológica de graduação e de pós-graduação.

Para os educadores envolvidos diretamente no processo mediador entre o educar e o formar, deve-se evitar a forma de educação que Dubet (2008) denomina de republicana, onde o ofício do professor está centrado unicamente na transmissão dos saberes, a escola (também formativa) é pensada como um santuário, devendo se proteger das demandas sociais, o aluno é um aprendiz, um sujeito resignado, cuja confrontação com o universal e com a Razão do mestre, deve lhe conduzir à autonomia e à liberdade. Em lugar desse tipo de escola, deve entrar a escola democrática, uma escola justa, que trata bem seus alunos, que os educa ao mesmo tempo em que os instrui e, mesmo que classifique e hierarquize os alunos, assegure sua dignidade, autoestima e confiança em si mesmo.

Por esse motivo, no processo contínuo da nova educação, dos novos atores que se harmonizam na complexa dinâmica do mundo, a escola encarregada da formação tem que saber, agora, com profundidade, na visão de Gomes et al (2008a), quem é o seu aluno? quais os seus desejos, as suas necessidades, os seus sonhos? Quais são suas dificuldades para enfrentar as exigências de uma sociedade que é acima de tudo dinâmica, plural e imprevisível?

As respostas a essas questões com antecedência é que levam a um processo educacional que se pretenda de qualidade e democrático, pois educar nessa nova concepção de mundo, de complexidade e interdisciplinaridade,

é enriquecer a capacidade de ação e de reflexão daquele que aprende, seja individualmente, seja em parceria com outros seres. É a integração entre o sentir, o pensar e o agir; é acima de tudo a integração entre a razão e a emoção; é o resgate dos sentimentos visando a restauração da inteireza humana e paradoxalmente da multidimensionalidade do ser. (CÂMARA, 2008a, p. 45).

Assim, uma das questões a ser investigada na pesquisa empírica do presente trabalho será verificar se o curso oferecido pelo Programa PROEJA fez sentido para alunos, se o foi relevante para sua vida profissional e pessoal. Ou seja, se o curso cumpriu sua finalidade de educar para a vida, educar para o mundo do trabalho e se irá permitir a continuidade de estudos em cursos de aperfeiçoamento, superiores (tecnológicos ou profissionais).

5 INTERPRETANDO OS DADOS DA PESQUISA

“Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios”, escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver.

Rubem Alves (2004)

A pesquisa empírica foi realizada na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que está localizada no Município de Santa Maria, situado na Região Central do Estado do Rio Grande do Sul e distante 280 km da capital Porto Alegre. Essa região, segundo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) é composta por 34 municípios, com área de 32.457 km², representando 11,51% do território gaúcho, e uma população de 652.725 habitantes. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) médio da região é de 0,81, bem mais elevado do que o IDH médio do país de 2011, que é de 0,718. (BRASIL, 2011).

O município de Santa Maria tem uma economia muito variada. No setor primário predominam as pequenas e médias propriedades rurais, com o setor agroindustrial em fase de desenvolvimento; no setor secundário há um pequeno parque industrial; mas é no setor terciário que a cidade encontra sua principal vocação econômica. Como município-sede de uma microrregião, Santa Maria concentra um grande número de instituições de educação básica e superior, constituindo-se por isso, importante polo educacional, comercial e de saúde da região.

Apresenta uma população constituída em grande parte de pessoas que migraram para o município em busca de oportunidades de formação e trabalho. Assim, constata-se um grande contingente de estudantes, tanto da educação superior como do ensino técnico, e uma parcela de pessoas com formação profissional qualificada e outra carente de escolaridade compatível com o exercício profissional.

Já o município de Frederico Westphalen, onde está localizado o CAFW, situa-se na região do Médio Alto Uruguai, ao norte do Estado do Rio Grande do Sul. O município dista 290 km de Santa Maria, sede da UFSM à qual o colégio está vinculado, e 430 km de Porto Alegre. Essa região, segundo MDA, é composta por 34 municípios, com área de 5.800,80 km², representando 2,05% do território gaúcho e uma população de 193.402 habitantes. O IDH médio da região é de 0,76. (BRASIL, 2011).

Frederico Westphalen é sede da uma região geoeconômica caracterizada pelo setor primário da economia e formada por aproximadamente 40 mil pequenas unidades rurais de produção familiar, com uma média de 13 hectares por propriedade.

A UFSM possui na sua estrutura administrativa, três estabelecimentos de ensino profissional e tecnológico, vinculados à Coordenadoria de Ensino Médio e Tecnológico, responsável pela interlocução dessas instituições com os diferentes segmentos da Universidade. O Colégio Politécnico e o Colégio Técnico Industrial localizam-se no campus da UFSM, onde está a sede da Universidade, e o Colégio Agrícola de Frederico Westphalen está situado no município que lhe dá o nome, distante 290 km da UFSM.

Nessa pesquisa, pretende-se compreender como foi a execução da política educacional direcionada para a formação profissional de jovens e adultos, integrada com a formação geral, nos estabelecimentos de ensino médio e tecnológico da UFSM, em particular no Colégio Técnico Industrial, no período correspondente ao ingresso até a conclusão da primeira turma de formandos do Programa PROEJA, consubstanciada pelo Decreto nº 5.840, de 13 de julho 2006.

Pelo Decreto nº 5.840/2006, as instituições de ensino podem oferecer cursos de educação profissional direcionados para a formação inicial e continuada dos trabalhadores e para a qualificação profissional técnica de nível médio, articulados ao ensino fundamental ou ao ensino médio. Essas duas possibilidades se refletiram na implantação dos cursos do Programa PROEJA, nos diferentes estabelecimentos de ensino da UFSM.

O Colégio Técnico Industrial (CTISM) optou por incluir o Programa PROEJA no contexto das discussões internas nos anos de 2006 e 2007, sobre a forma de reestruturar os seus cursos técnicos, decidindo pelo retorno do ensino técnico integrado ao ensino médio, em face da nova legislação (Decreto nº 5.514/2004). O Programa PROEJA foi concebido como um curso técnico de nível médio em Eletromecânica, oferecido no turno noturno.

O Colégio Politécnico procurou inovar na implantação do Programa PROEJA, ao combinar ações educacionais de nível médio com subsequentes ao médio, ao proporcionar a

formação geral de ensino médio para os jovens e adultos, por meio de material instrucional caracterizado como autoensino, e formação profissional nas diferentes especialidades, subsequentes ao ensino médio, oferecidas pelo Colégio Politécnico para quem já possui a educação básica.

O Colégio Agrícola de Frederico Westphalen (CAFW), devido às suas peculiaridades, pois está localizado em município de pequeno porte e formado por uma diversidade de pequenos produtores rurais, optou por realizar o Programa PROEJA como Curso de Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores na área de Agroecologia, em articulação com o Núcleo de Educação de Jovens e Adultos (NEJA) do Município de Frederico Westphalen e com os demais Núcleos de EJA do município e região.

Portanto, pode-se perceber que os três estabelecimentos de ensino vinculados à UFSM construíram o Programa PROEJA de forma diferenciada um do outro, em respeito à autonomia de cada instituição de ensino, das suas experiências acumuladas de formação profissional, das particularidades produtivas locais e regionais, em concordância com o Decreto nº 5.840/2006.

As análises relacionadas ao Programa PROEJA estão baseadas nos conteúdos dos Projetos Político-Pedagógicos (PPPs) de cada estabelecimento de ensino relacionados ao Programa, nos dados obtidos em entrevistas com gestores das três instituições de ensino e professores do CTISM, nas entrevistas e nos questionários respondidos pelos alunos formandos na primeira turma do Programa PROEJA do CTISM e nos registros das secretarias escolares dos estabelecimentos de ensino.

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