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Capítulo III. Eventos profissionais

III 2.6 Tendências futuras na área dos eventos

IV. 3 Diferentes enquadramentos e perspetivas sobre género

IV. 3.2 Enquadramento interacional

Ao contrário do enquadramento individualista, que se foca nas características individuais que são internalizadas e se revelam relativamente estáveis, o enquadramento interacional enfatiza as forças sociais que operam de forma externa aos indivíduos (Wharton, 2005). Deste modo, esta é uma visão contextual, na medida em que tenta compreender de que forma o género é construído à volta da pessoa, possibilitando explorar como é que os processos sociais, nomeadamente a interação social e as instituições, incorporam e reproduzem o género (Wharton, 2005).

Wharton (2005) distingue dois tipos de enquadramento interacional: (i) o social e o (ii) institucional e organizacional, os quais analisaremos nos pontos seguintes.

IV. 3.2.1 Enquadramento interacional – social

Neste enquadramento, entende-se que o género é criado a partir da interação social, o que significa que o género não pode ser reduzido a uma identidade ou a um conjunto de traços pessoais, mas é antes o resultado das características do contexto que interagem ou

135 compensam atributos de personalidade internalizados e comportamentos para criar distinções de género (Wharton, 2005).

Assim, o enquadramento interacional foca-se mais no contexto social em que os indivíduos interagem, dando especial atenção às forças que operam no exterior, sendo que as reações e comportamentos individuais variam consoante o contexto em que estes atuam (Wharton, 2005).

No seio do enquadramento interacional social, partindo do pressuposto da categorização social, ou seja, os processos pelos quais os indivíduos se classificam a si próprios e aos outros como membros de grupos específicos, sejam eles raça, etnia, ou idade, encontramos três perspetivas diferentes:

(a) ‘Doing gender’ – perspetiva que argumenta que a interação social é o veículo pelo qual as pessoas se apresentam aos outros como mulheres ou homens. Neste sentido, é pressuposto que as categorias sociais são construções que emanam da própria dimensão social e não determinações biológicas ou físicas. Compreender como é que a interação social produz um mundo diferenciado pelo género é o seu propósito, sendo que o género pode ser construído em todas as situações sociais, já que as categorias sociais estão sempre presentes, podendo ser entendidas como a base para interpretar o comportamento dos outros (Wharton, 2005).

(b) Características de status – enfatiza as formas pelas quais as categorias de sexo se tornam a base para as expectativas sobre as competências dos outros. Esta perspetiva foi desenvolvida para explicar as interações orientadas para objetivos, como as que ocorrem em contextos de trabalho, aulas ou em qualquer grupo orientado para um fim comum, nos quais as expectativas mais importantes são as que se relacionam com a performance. Ou seja, os membros do grupo avaliam quão competentes as pessoas são e que valor deve ser atribuído às suas contribuições, formando expectativas sobre as competências dos outros pelo peso da característica de status em termos da relevância para a tarefa em mãos, embora possa ser um processo inconsciente. Estas expectativas tendem a colocar em desvantagem as pessoas com menor status, o que, no caso do género, são usualmente as mulheres, isto é, podem ser vistas como menos competentes e as suas contribuições podem ser vistas como menos valiosas, embora possa variar consoante o contexto (Wharton, 2005).

(c) Abordagem homofílica – teoria social que argumenta que as pessoas tendem a conectar-se com pessoas similares a si em termos de características socioeconómicas, valores, crenças ou atitudes. A similitude tende a ser mais forte na atração interpessoal do que a diferença. Neste sentido, as pessoas que têm as mesmas visões tendem a

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ajudar à afirmação da pessoa e da forma como esta vive, sendo também mais fácil confiar e comunicar, podendo haver um maior grau de proximidade e afinidade. Ao contrário, as pessoas identificadas como diferentes podem parecer mais ameaçadoras e difíceis de atingir, o que pode levar a uma maior rejeição de grupos heterogéneos, neste caso, no que diz respeito ao género. Esta abordagem tem especial relevo no estudo das experiências em ambiente de trabalho (Wharton, 2005).

IV. 3.2.1 Enquadramento interacional – institucional e organizacional

No seio do enquadramento interacional encontramos, ainda, a perspetiva institucional e organizacional, a qual entende o género como dependente da estrutura social e cultural, direcionando a sua atenção para as práticas e políticas das organizações e para as dimensões materiais e simbólicas de instituições sociais em larga escala, entendendo-se 'organizações' como empresas, entidades ou grupos coesos de pessoas, e 'instituições' como a educação, o trabalho ou a família (Wharton, 2005).

Assim, este enquadramento argumenta que o género está intrínseco às estruturas e práticas das organizações e das instituições sociais, já que, mesmo que estas possam parecer neutras, as características da estrutura e organização social têm uma importância decisiva nas distinções de género. Por outro lado, como estas tendem a perpetuar-se, as instituições têm um papel central na manutenção de distinções e desigualdades (Wharton, 2005).

Como muitas das interações sociais acontecem no contexto das organizações, as suas regras, limites, procedimentos e meios de comunicação (Hall 2002 cit. por Wharton, 2005) vão influenciar as relações sociais e a forma como estas produzem e reproduzem o género. Por seu turno, a lógica das instituições inclui estruturas, padrões e rotinas, as quais se baseiam em sistemas de crenças e significados que também influenciam o que se entende por diferenças de género. Neste sentido, as instituições, porque são mais abrangentes, incorporam mais o contexto social do que as organizações, as quais tendem a ser mais circunscritas. Por exemplo, ao analisar a instituição 'educação' devem ser tidas em conta várias organizações, como sejam diferentes tipos de escolas, grupos de professores, associações de estudantes ou de pais (Wharton, 2005).

Assim, este enquadramento foca-se nas estruturas, práticas ou procedimentos e enfatiza as formas como estes aspetos da ordem social, os quais são poderosos, enraizados e muitas vezes tomados como garantidos, produzem e reproduzem distinções e desigualdades de género (Wharton, 2005).

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