Entende-se por representações sociais "o conjunto de conceitos, proposições e explicações

originadas na vida cotidiana no curso das comunicações interpessoais (...), e se organiza em

torno de um núcleo central que é um subconjunto da representação, composto de um ou alguns elementos cuja ausência de sestruturaria a representação ou lhe daria uma significação diferente" (Sá, 1996, p. 31-67).

Identifica-se na fala dos professores a preocupação com as condições de trabalho, no entanto, na maioria dos casos manifesta-se apenas por força do hábito, por ser uma expressão que já se tornou jargão nos movimentos dessa categoria profissional. Ela é também um elemento significativo nas representações sociais dos docentes pesquisados, uma vez que se constitui na interação entre o desejo de cumprir o papel que lhe é conferido na sociedade e as limitações que se interpõem no seu fazer cotidiano.

Quanto à aprovação do EPCM e a regularização do salário atrasado, percebe- se que são lutas recentes desencadeadas pelo SINDSEMP, o que leva a concluir que grande parte dos professores da Rede Municipal de Ensino de Petrolina não tem uma tradição de se envolver em movimentos sociais cujo conteúdo das reivindicações esteja associado a um projeto de mudança cultural, conforme a discussão levantada por Touraine (1999).

Pelo que se pode perceber a necessidade de superação dos limites, não se restringia ao texto da Lei, 467/96 - Estatuto do Magistério de Petrolina, consiste também, na necessidade de superação da carência de consciência crítica de grande parte dos professores, para que seja possível a implementação de uma nova cultura de gestão da educação na Rede Municipal de Ensino em Petrolina.

Embora a maior parte dos profissionais tenha ficado alheia às discussões na primeira fase do movimento quando se reivindicava a aprovação do projeto de lei instituindo o novo Estatuto e Plano de Carreira do Magistério (Lei, 951/00), o grupo de professores envolvidos na sua elaboração, assim como muitos que participaram das suas discussões acreditaram estar dando um passo significativo rumo à democratização da educação.

3.2 - A identidade coletiva na formação do trabalho

A importância da identidade nas ações coletivas é ressaltada por Vianna, ao recorrer às contribuições teóricas de notáveis pensadores como Alain Touraine e Alberto Melucci, os quais “apontam a identidade como um dos vértices importantes

da construção do movimento social” (Vianna, 1999, p.56).

“A identidade é um processo no qual os atores produzem 'quadros cognitivos' comuns de compreensão da realidade na qual atuam e que lhes permitem calcular os custos e benefícios da ação com base nas negociações estabelecidas, nas 'relações entre os atores' e no 'reconhecimento emocional'. São dois tipos de motivação para a ação: as relações para a finalidade de grupo e as relações interpessoais de convívio”.(Vianna, 1999, p. 59)

Com base nas colocações acima diríamos que um grupo específico que luta em prol de uma determinada causa, é formado por aquelas pessoas que se identificam entre si, onde a subjetividade individual de cada membro envolvido é constituída por elementos identitários que possibilitam a produção de uma subjetividade coletiva. Ou seja, os grupos se formam a partir da identificação entre os sujeitos no desenvolvimento de suas relações cotidianas.

O envolvimento de cada um dos membros do grupo de trabalho constituído pelo SINDSEMP para elaborar a proposta preliminar do plano de carreira do magistério se deu a partir das relações interpessoais estabelecidas por meio das frequentes visitas à sede da referida entidade por parte de alguns dos integrantes. Além disso, tiveram papel importante, a participação em reuniões, assembléias, passeatas, e acima tudo, a convivência profissional entre os membros. Esta última possibilitou o estabelecimento de relações, onde aos poucos os sujeitos envolvidos foram identificando características comuns na maneira como ver as coisas, no próprio pensar, e na forma de agir.

Outros aspectos que os aproximavam eram os motivos de suas indignações e as expectativas em relação ao que poderia ser feito para reverter as causas da insatisfação com a realidade da Rede Municipal de Ensino de Petrolina. Portanto, tendo como perspectiva mudar o quadro nas relações de trabalho, e de poder, entre os gestores e os professores, o grupo de trabalho aglutinou diversos interesses em torno da reivindicação pela instituição do Plano de Cargo Carreira do Magistério.

A identificação pessoal entre os envolvidos, e a insatisfação com o sistema, foram elementos capazes de motivar a formação de grupos de discussão em torno de questões comuns a todos, e podem ser percebidas na fala dos próprios professores ao se referirem aos aspectos que os estimularam a participar como membro do grupo

responsável pela elaboração da proposta preliminar do EPCM em Petrolina.

Olho, eu tenho vontade de participar dessas coisas só para ver se eu posso ajudar a fazer alguma coisa sei lá... foi a curiosidade sabia? Eu fui convidada por Nei na época para participar ( ...) eu já conhecia ele das lutas mesmo, que ele fazia pela prefeitura, ele é uma pessoa muito comunicativa, Nei é uma pessoa muito conhecida né? Eu já tinha aproximação com ele, aí eu sempre, sempre não! às vezes eu ia ao sindicato e sempre conversava, aí ele me convidou...37

Veja só, eu já andava, eu gosto de participação em sindicato, e aí o presidente do sindicato, o SINDSEMP, chamou e eu aceitei a idéia de ajudar, de também dar a minha colaboração em termos de idéias, fazer um diálogo, juntar com os meus colegas...38

"Os colegas que já estavam envolvidos né? Eu admirava, admiro ainda, os colegas que estavam participando da discussão e isso me chamou né? Me convidou muito, já tava no SINDSEMP quando isso começou, e ai a participação dos colegas foi meu grande estímulo".39

“... eu fiquei preocupada com a nossa situação no município que é... acho que não tem nem um nome que expresse (risos) estou sempre assim preocupada o que fazer pra que melhore a questão da educação no município? E a situação do profissional da educação? E acho que foi isso que me fez querer participar, buscar alguma melhoria..." 40

Os vínculos de amizade se constituíram também a partir das visitas constantes do Secretário geral do SINDSEMP – que no final da gestão 1994 - 1997, assumia a função de presidente – aos encontros e capacitações dos professores. Isso além de proporcionar a aproximação entre ambos contribuiu para que na composição da chapa eleita para dirigir a entidade sindical no triênio 1997 – 2000, tivesse três professores, além de um delegado setorial41.

Um fato curioso, merecedor de algumas considerações, é que, na composição da diretoria do SINDSEMP entre 97 e 2000, dois dos professores integrantes da mesma, e mais, o delegado setorial, trabalhavam na Escola José Cícero de Amorim, localizada no distrito de Rajada, a aproximadamente 80 km da sede do município.

37 _Ibid. 38 _Ibid. 39 _Ibid. 40 _Ibid.

41 _{O delegado setorial é o membro representante de cada categoria de servidores do município, que}