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Expressão pronunciada pelos professores da rede, captada pelo pesquisador em conversas informais sobre o EPCM.

TRAJETÓRIA DO EPCM: DA ELABORAÇÃO À APROVAÇÃO 5.1 Consensos e conflitos internos no grupo de trabalho

96 Expressão pronunciada pelos professores da rede, captada pelo pesquisador em conversas informais sobre o EPCM.

exemplo do SINTEPE (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco), da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), assim como das universidades, da imprensa local, de órgãos governamentais do Estado de Pernambuco como a DERE (Diretoria Regional de Ensino), do Poder Legislativo Municipal e do próprio Poder Executivo através da Secretaria de Educação.

A intenção com essa ampliação era que o seminário tivesse uma grande repercussão nos diversos segmentos e órgãos que lidam direta e indiretamente com as questões da educação no município de Petrolina. Foi proposta pelo SINDSEMP à Secretaria de Educação, a inclusão do referido evento na abertura do ano letivo de 2000, mas, não foi possível uma vez que os gestores da mesma, já haviam definido uma outra programação, no entanto, foi reservado o dia 28 de fevereiro para a sua realização.

No seminário foram discutidas questões referentes à ética profissional no exercício do magistério e as políticas públicas de educação em Petrolina. Para proferirem palestras e debaterem sobre estas temáticas foram convidados representantes de universidades da região, da Secretaria de Educação, do Poder Legislativo, do SINTEPE e outras organizações sindicais, que na oportunidade debateram com os professores municipais os problemas concernentes ao exercício da profissão de educador.

O retorno às discussões sobre o EPCM a partir do planejamento e realização do seminário em 28 de fevereiro de 1998, revelou mais uma vez diferentes posturas dos professores em relação à participação no movimento pela aprovação do plano de carreira. Mostrou visivelmente que enquanto um pequeno grupo preocupava-se em elaborar, discutir, tomar decisões, uma grande parte se mantinha alheia, e displicente quanto a um processo que implicaria em definições de regras que dizem respeito a suas vidas profissionais.

Essa postura se mostrou bastante evidente na própria dinâmica do seminário quando nas discussões sobre os problemas enfrentados pela categoria docente, esperava-se que o anseio pela implantação do EPCM ocupasse a pauta central, por ser este, um projeto de lei que implicaria em significativas mudanças na organização da Rede Municipal de Ensino. Mas, Foi demonstrado nas preocupações que emergiram durante as intervenções dos professores no debate, que o EPCM enquanto

uma totalidade e expressão política das reivindicações dos professores, não se constituía naquele momento, no espectro das representações mentais do professorado, não era para onde estavam voltadas as expectativas da maioria. Isso foi constatado tanto nas falas daqueles que se posicionaram verbalmente, quanto dos que o fizeram por escrito.

Como já foi abordado na quarta parte deste trabalho ao se referir às reivindicações que fizeram desencadear o movimento de luta pelo EPCM, as preocupações da maior parte do professorado neste outro memento de luta são relacionadas à questão salarial e a obtenção de benefício individuais. A tabela seguinte demonstra que além da questão salarial que aparece como a representação mais forte para os professores, há um sentimento de obediência, de enquadramento por parte de muitos ali presentes.

Grande parte dos que participaram do seminário, não estariam lá, caso a Secretaria de Educação não autorizasse a suspensão das aulas. Assim, não é de se estranhar que aproximadamente 20% dos bilhetes encaminhados à mesa foram dirigidos ao Secretário de Educação do Município, justificando a ausência de professores em um dos turnos no dia em que foi realizado o seminário. Os demais apenas manifestavam, dúvidas, indignação pessoal em relação a algum aspecto da administração pública, crítica e/ou manifestação em relação à direção do sindicato e apenas dois cobravam a implantação do EPCM.

Tabela n° 18: Demonstrativo das preocupações dos professores manifestadas durante o seminário realizado de 28/02/2000.

Preocupações dos professores Q. prof. %

Justificativa de falta 10 19,6%

Insatisfação por estar lotada em creches 3 5,9% Dúvidas dos professores não concursados 3 5,9% Manifestava-se sobre a demora na implantação 2 3,9%

Do EPCM

Reclamações quanto ao péssimo atendimento na

SEDUTE 2 3,9%

Dúvidas em relação ao instituto de previdência 2 3,9% Transferência de professores por critério de

apadrinha-

1 1,96% Mento e outros privilégios

Sugestão de um sindicato exclusivo dos professores

1 1,96%

Críticas à passividade do sindicato 1 1,96% Manifestação de solidariedade ao sindicato 1 1,96% Reclamação pela falta de material didático e

merenda

1 1,96% No início do ano letivo

Reclamações sobre as condições de trabalho 1 1,96% Dificuldade na relação entre diretores e professores 1 1,96%

Nas escolas

Dúvidas em relação à situação profissional individual

1 1,96% Diante das mudanças a partir das novas leis

Total 30 58,9%

Fonte: elaborado a partir dos 51 bilhetes enviado para a coordenação do seminário.

No caso dos professores que adotam essa postura, a participação ocorre dentro de uma característica definida por Demo (1993), como uma “participação tutelada”, ou seja, condicionada aos limites permitidos pelo Estado e não como uma conquista que extrapola as fronteiras dessa permissão.

Uma evidência desse caráter foi percebida no fato de que, além da direção do sindicato negociar com a Secretaria de Educação a liberação de um dia letivo para a realização do evento, aquela assumiria ainda o papel de policiar se os professores estariam presentes ou não, conforme os termos da comunicação enviada às escolas convocando os mesmos a participarem do seminário: "o seminário Ética

Profissional e Políticas Públicas para a Educação, no auditório da FFPP nos horários da Manhã e Tarde será computado como Atividade Escolar (Dia Letivo),

cuja falta será imputada aos que não comparecerem”97

Os termos dessa convocação deixam claros dois aspectos: primeiro, não havia naquele momento um clima de mobilização e por isso o receio da Diretoria Executiva do SINDSEMP de que o professorado não se fizesse presente. Segundo, uma aposta na falta de autonomia dos professores de sequer decidir entre participar do seminário ou continuar dando suas aulas normalmente na escola.

Refletindo com Foucault sobre o “olho do poder”, é possível identificar o

97 Texto transcrito do edital de convocação emitido ás escolas convocando os professores para se fazerem

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