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Versão preliminar da proposta de EPCM, cedida pelo Sindicato 91 Observações assistemática do pesquisador.

TRAJETÓRIA DO EPCM: DA ELABORAÇÃO À APROVAÇÃO 5.1 Consensos e conflitos internos no grupo de trabalho

90 Versão preliminar da proposta de EPCM, cedida pelo Sindicato 91 Observações assistemática do pesquisador.

ensino, quantos atuavam no ensino médio e no fundamental, quantos tinham diploma de nível superior, quantos estavam para concluir etc. Esses dados iriam permitir uma radiografia mais clara para saber quais seriam as possibilidades das negociações avançarem.

Conforme foi abordado no capítulo anterior, essas preocupações levaram a representação dos professores a ampliar a discussão procurando envolver um maior número de membros dessa categoria profissional na luta pela aprovação do seu plano de carreira.

No entanto, apesar de todos os esforços as negociações foram interrompidas no início do segundo semestre de 1998, pois o projeto só poderia ser votado até o dia 30 de junho do referido ano, uma vez que se tratava de matéria financeira, e, portanto, sua votação fora desse prazo infringiria a lei eleitoral que não permite a votação de projetos dessa natureza num período de 90 dias antes ou após a qualquer pleito eleitoral.

Mesmo diante do esforço do SINDSEMP em colaborar com o estudo desenvolvido pelas Secretarias envolvidas, o empenho do legislativo e a pressão dos professores, o executivo decidiu não enviar o projeto, alegando que ainda não tinha conhecimento suficiente dos impactos no orçamento do município que o plano traria e, portanto não iria enviar para a Câmara “uma caixa preta sem saber o que havia dentro”92.

Isso implica que mais uma vez, o município de Petrolina não cumprira o prazo para apresentar o Plano de Carreira do Magistério, e outra vez se beneficiava da liminar referida pelo Ministro da Educação já que “diferentes prazos constam em

projetos de lei tramitando no Congresso Nacional”(MEC, apud Lima, 1999, p.129).

Assim, o sonho de ver o plano aprovado em 1998 foi a adiado, os professores retornaram as aulas e os líderes do movimento continuaram alimentando a esperança de que o estudo que incluía um cadastramento dos professores fosse realmente priorizado pelas Secretarias de Educação e de Finanças da Prefeitura Municipal, e as discussões pudessem se processar com vistas à aprovação do projeto no início de 1999.

92Frase pronunciada pelo Vice-Prefeito, representando o Prefeito Municipal em reunião realizada dia 03 de julho de 1998, último prazo para o envio do projeto a Câmara de Vereadores, ainda no citado ano.

5.4 - A descontinuidade do movimento

Ainda no segundo semestre de 1998, a direção do sindicato tentou fazer o cadastramento dos professores, mas não obteve sucesso, uma vez que a grande maioria dos professores não respondeu os questionários enviados. Estes visavam identificar quantos professores seriam enquadrados em uma nova classe, caso o plano fosse aprovado em 1998, para então projetar o impacto financeiro que o plano causaria no orçamento do município se implantado no ano seguinte.

Essa foi uma das últimas ações da direção do sindicato, em 1998, com relação ao EPCM, uma vez que se tornou muito difícil mobilizar a categoria de professores para lutar nesse sentido, por não haver nenhuma expectativa de sua aprovação no segundo semestre do ano de 1998. Assim, as esperanças estariam mesmo voltadas para o início de 1999.

Nesse período, o grupo de professores que havia se empenhado na luta pela aprovação do plano, basicamente por três motivos se desarticulou. Primeiro por que passou a haver um distanciamento entre os mesmos devido às transferências e/ou afastamentos das atividades docentes por parte daqueles que antes estavam concentrados em grande parte na mesma escola, ou seja, na Escola José Cícero de Amorim. Segundo, alguns que possuíam vínculo empregatício apenas com a Rede Municipal de Ensino de Petrolina, foram aprovados nos concursos realizados pelas Redes Estadual e Municipal na cidade Juazeiro – BA, e ao passar a exercer a docência nesta cidade limitaram o tempo para envolvimento com a questão do EPCM. Terceiro, o volume de assuntos que o sindicato precisava dar conta era muito grande, pois como se sabe o sindicato não representava apenas a categoria dos professores.

Os motivos acima mencionados merecem algumas considerações. O primeiro e o segundo dizem respeito a uma questão que até certo ponto contribui para o esvaziamento do movimento docente: aqueles professores mais aguerridos, quase sempre os mais qualificados, assumem até três vínculos ao buscarem condições de vida digna e condizente com a sua qualificação profissional. Essa por sinal é uma das dificuldades para profissionalização e a consolidação da identidade do professor da educação básica, uma vez que “a descontinuidade compromete a noção do

espaço escolar enquanto catalisador de um projeto político-pedagógico pensado,

debatido e executado ‘com’ e ‘pelos’ atores que atuam na escola”(CNTE93, 1997, P.

22).

Em relação ao terceiro ponto, vale salientar que houve uma certa dispersão também entre os membros da direção do SINDSEMP, sobrecarregando o seu Presidente e implicando naturalmente numa centralização do poder de decisão quanto às questões pertinentes à entidade. Consequentemente, isso dificultava as ações no sentido de mobilizar uma comissão para que pudesse reascender as discussões sobre o EPCM e estimular a categoria a lutar pela sua aprovação na esfera política do município.

É importante ressaltar que se vivia um período de campanha eleitoral94 e todas as atenções do poder municipal estavam voltadas naturalmente para a política partidária, onde os esforços se concentravam na tentativa de eleger os candidatos da facção política apoiada pelo prefeito. Assim, conforme experiência de outros processos eleitorais, era de se esperar que o Governo não iria voltar suas atenções de fato, para a discussão do EPCM.

Após as eleições o Prefeito Municipal procedeu às mudanças de seu secretariado de governo. A Secretária de Educação deixou o cargo, e assumiu em seu lugar, um professor da Escola Técnica Federal de Pernambuco (extensão de Petrolina), graduado em engenharia civil, com especialização em supervisão educacional. Isso implica que da parte do governo seria necessário um tempo para que o novo Secretário se inteirasse da situação, uma vez que com essa mudança do gestor na Secretaria, mudaram também alguns dos auxiliares diretos, os quais precisavam ainda conhecer o projeto de EPCM que vinha sendo discutido.

A exemplo do segundo semestre de 1998, no ano de 1999 o projeto permaneceu na gaveta, segundo relata um dos professores envolvidos, “não houve

93 Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, que defende a instituição de jornadas de 40

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