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As fontes utilizadas em relação às reivindicações dos professores foram documentos internos do sindicato dos servidores municipais e anotações de registros pessoais do pesquisador enquanto ator do

ORIGEM DO MOVIMENTO DE LUTA DOS PROFESSORES POR UM PLANO DE CARREIRA DO MAGISTÉRIO.

25 As fontes utilizadas em relação às reivindicações dos professores foram documentos internos do sindicato dos servidores municipais e anotações de registros pessoais do pesquisador enquanto ator do

décimo terceiro. Do outro, o governo adotava como estratégia para contenção de despesa, a tentativa de corte do pagamento de difícil acesso nos meses em que os professores estivessem de férias.

A principal reivindicação dos professores a respeito dessa questão era que o pagamento dessa gratificação fosse com base na carga horária de efetivo exercício do magistério. Isso representava para a categoria docente, a correção da distorção que era receber o difícil acesso apenas sobre cem horas-aula mensais, quando na verdade, desempenhava as funções docentes em duzentas horas-aula. A inscrição dessa reivindicação no texto da lei implicaria para o professor, com duzentas horas- aula, dobrar o percentual do benefício em questão. A outra reivindicação ainda referente ao difícil acesso, era que o mesmo fosse pago durante os doze meses de cada ano, incidindo também para efeito de cálculo do décimo terceiro.

Em relação à gratificação de pó giz, o Estatuto do Magistério estabelecia no Art. 27º o seguinte: "será paga uma gratificação pelo exercício do magistério, sobre

a carga horária efetiva, a título de gratificação de pó de giz". Para o pagamento

dessa gratificação eram adotados critérios diferenciados onde, os professores da educação infantil de séries iniciais do ensino fundamental recebiam 30% sobre o salário correspondente à carga horária de efetivo exercício do magistério, enquanto os professores da segunda fase do ensino fundamental e ensino médio recebiam 25%. A reivindicação era que o plano de carreira unificasse esses percentuais.

Quanto à gratificação paga aos servidores que mantinham "vínculo administrativo entre as escolas e a Secretaria de Educação" conforme previsto no Artigo 26º do Estatuto do Magistério, a reivindicação dos professores era que o percentual fosse elevado de 10% para 20%, por entenderem que esse professor além conduzir o processo didático em sala de aula, era responsável também, pelas questões administrativas da escola, portanto, merecia ser mais bem remunerado.

As dificuldades enfrentadas pelos professores para serem promovidos na carreira profissional revelavam outros limites do Estatuto do Magistério, pois embora isso estivesse previsto no texto da Lei, 647/96, dependia de uma regulamentação posterior, conforme estabelece a redação do Inciso I, do seu Artigo 3º.

"estruturação da carreira do magistério, até o nível superior, com incentivos à pós-graduação, prevendo acessos horizontais e verticais, dependendo da melhoria de qualificação e tempo de serviço bem como desempenho individual conforme se dispuser no PCCV - Plano de Cargos, Carreira e Vencimentos".

Colocada nesses termos, a política de progressão na carreira funcional ficou então aguardando a instituição do Plano de Carreira, que teria a função de regulamentar os Artigos 35º, 36º e 38º, da Lei do Estatuto do Magistério.

O texto do artigo 35º versava sobre o significado da verticalidade e horizontalidade nas progressões, estabelecendo no parágrafo 1º, que a progressão vertical era a passagem de uma classe a outra mais elevada da estrutura de vencimento; o parágrafo 2º previa a progressão horizontal como deslocamento de um nível, a outro observado os critérios de mérito e antiguidade.

Os esclarecimentos em relação aos critérios das progressões vertical e horizontal foram previstos no Artigo 36º, o qual estabelecia o seguinte:

"o docente que alcançar, por continuação dos estudos, escolaridade imediatamente superior, dentro de sua área de formação, será enquadrado de acordo com o parágrafo primeiro do artigo anterior, respeitado o número de vagas existentes, segundo a classe correspondente ao seu novo nível de formação”.

O parágrafo 1º do mesmo artigo limitava a quantidade de servidores beneficiados ao percentual máximo de 10% das vagas disponíveis para o novo cargo, obedecendo aos critérios de: I - maior tempo de serviço; II - o mais idoso, á época da nomeação; III - o que apresentar maior número de filhos próprios.

A partir desses critérios, o Estatuto do Magistério deixava muitas dúvidas e uma certeza, a progressão por classe não dependia apenas do esforço pessoal do professor, era necessário se submeter a critérios até certo ponto obscuros, sobre os quais levantavam-se as seguintes questões: qual era realmente o quadro de vagas em cada classe? Com base em que era definido esse quadro de vagas? Na classe de professores licenciados, as vagas eram definidas por disciplinas? Como ficaria a situação dos professores pós-graduados? As respostas a estas questões não eram encontradas no texto da lei, este apenas indicava, no Artigo 9º, que as classes eram definidas como: a) professor regente rural - professores leigos; b) professor de pré-

escolar e ensino fundamental de 1ª a 4ª série, para qual era exigida a habilitação em magistério nível médio; c) professor de 5ª a 8ª série e ensino médio, exigido licenciatura plena; d) pedagogo.

O parágrafo 2º, do artigo 36º, estabelecia que, na passagem de uma classe a outra, o enquadramento na nova classe seria no nível I, e de acordo com o parágrafo 3º deveria existir um interstício mínimo de 730 (setecentos e trinta) dias para o servidor concorrer a novas progressões.

Quanto à progressão horizontal, prevista como o deslocamento de um nível a outro dentro da mesma classe, os critérios eram definidos nos parágrafos 1º e 2º do artigo 38º, o primeiro estabelecia um interstício de cinco anos entre cada progressão, o segundo prescrevia que não seria considerado, para efeito de progressão o tempo que o servidor estivesse afastado, prestando serviço a outro órgão ou exercendo cargos comissionados.

A incompletude do Estatuto do Magistério de Petrolina, aprovado em 1996, refletia-se também ao não prever uma tabela de vencimentos, e um piso salarial específico da categoria. Sobre essa questão mencionava-se apenas o seguinte: "A Lei

fixará um piso de vencimentos e vantagens próprias, para cada uma das classes a que pertencem os cargos relacionados” (Art. 21, Lei, 647/96.). Assim, os

professores não teriam como se orientar quanto aos ganhos reais com as novas progressões.

Observa-se que a questão da progressão não foi de todo esquecida no texto do Estatuto do Magistério, mas, a falta de clareza não eliminava a dependência em relação a uma outra lei que a regulamentasse. As reivindicações dos professores eram no sentido de que fossem instituídas regras mais claras na lei, e que essas possibilitassem, de fato, a implantação de uma política de progressão na carreira docente.

É possível concluir que em relação à progressão na carreira funcional, a aprovação do Estatuto em 1996 não representou de direito, muito menos de fato, uma conquista para o professorado. Para que isso viesse acontecer se fazia necessário instituir um plano de carreira específico dos profissionais do magistério que regulamentasse essa matéria no estatuto.

47º, previa como direitos fundamentais dos professores: acesso a informações educacionais, assessoramento pedagógico, oportunidade de afastamento para frequentar cursos de pós-graduação com ou sem vencimento, dispor no ambiente de trabalho de instalações e material didático-pedagógico, suficiente e adequados, para melhor desempenhar as funções docentes.

Mas, se isso estava proclamado na lei como direitos dos professores, no cotidiano prático destes, e das escolas, esses direitos não se refletiam. As queixas dos professores e os depoimentos da liderança sindical revelaram a contradição entre o que prescrevia a Lei do Estatuto do Magistério e a concreticidade das relações estabelecidas no universo da Rede Municipal de Ensino de Petrolina.

Analisando a situação da Rede Municipal de Ensino de Petrolina, em entrevista assistemáticas, vários professores da própria Rede classificavam as unidades escolares como arremedos de escolas. Isto é, sem competência para desenvolver uma ação educativa significativa, eficiente e eficaz do ponto de vista da qualificação técnica, social e humana. Esses indicam como causa dessa situação o fato de que a maioria das escolas situadas no interior foi construídas em comunidades bastante afetadas pelo êxodo rural, onde as pessoas mais jovens, por não virem ali o fomento das suas expectativas se deslocam para centros mais desenvolvidos.

Assim, essas escolas foram esvaziadas, diminuídas enquanto espaço de socialização entre os alunos, com os professores e professoras jogados à própria sorte, residindo em ambientes que não oferecem o mínimo de conforto e segurança, como foi constatado na fala de uma das professoras do município ao se posicionar diante das colocações feitas pelo Presidente do Sindicato ao se referir às características dos docentes da Rede Municipal durante o seminário realizado dia 28 de fevereiro de 2000.

“até concordo que o professor do município seja 'ruralista', só não concordo com as condições que são impostas, onde o professor tem que conviver em uma casa sem água, cheia de barbeiros, com escolas onde os espaços físicos são inadequados para o desenvolvimento das atividades

educativas etc26.”

Essa sempre foi uma realidade presente principalmente na zona rural, onde os professores se submetiam a todo tipo de adversidade ao exercerem a docência no interior. Essa situação pode ser ilustrada com as palavras do próprio Presidente do SINDSEMP que presidiu a entidade no período de 1997 a 2000, ao afirmar o seguinte:

“a estrutura física e social na zona rural (grifo meu) é precaríssima, para se ter uma idéia, há localidades que o professor dorme na sala de aula, (...) ele faz as refeições na sala de aula, o seu ambiente, o seu leito dá-se também dentro de uma sala de aula, ali rodeado de insetos e morcegos··.”.

Essa fala traduzia a angústia de muitos professores que se submetiam a trabalhar em tais condições, uma realidade caótica e também marcada por uma relação de poder na qual prevalecia a dominação pela tradição "patrimonialista", no dizer Faoro(1998). Segundo a fala do Presidente do Sindicato, "o professor era tido

como um condenado, ele passou num concurso e vai para localidade tal, porque fulano de tal mandou para lá, não existia uma ordem, classificação27".

Mudar esse quadro, nas relações de trabalho e de poder entre os gestores e professores a partir da eliminação de ingerências políticas, foi uma das principais motivações que levaram a alguns membros da categoria docente a unirem-se em torno da reivindicação pela instituição de uma lei com regras mais claras, que pudesse servir como instrumento de luta da categoria docente.

Para o professorado e as lideranças sindicais dos servidores municipais, as limitações do Estatuto do Magistério, estendiam-se às formas de composição e assunção das funções técnicas pedagógicas definidas pela lei de 1996 como: funções de direção, vice-direção e supervisor pedagógico. Estas podiam ser exercidas por professores não pertencentes ao quadro de carreira do município, e, sendo função de confiança do Executivo Municipal, cabia a este, a livre nomeação e exoneração. Tais

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