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Registros pessoais do pesquisador durante o processo de observação assistemáticas

TRAJETÓRIA DO EPCM: DA ELABORAÇÃO À APROVAÇÃO 5.1 Consensos e conflitos internos no grupo de trabalho

89 Registros pessoais do pesquisador durante o processo de observação assistemáticas

especificidades das funções gratificadas. Essa polêmica, de certo modo já era esperada, uma vez que, a manutenção do termo “exclusivo”, estaria provocando uma ruptura com uma tradição que imperava na Rede Municipal de Ensino de Petrolina, que era a nomeação para esses cargos por conta dos acordos e conchavos políticos, ou seja, o apoio a um determinado político na campanha eleitoral poderia render um cargo de diretor de escola ou coordenador pedagógico na secretaria. Não que isso deixe de existir pura e simplesmente porque os professores seriam todos do quadro, mas, porque o projeto lei elaborado, contribuía para impedir até certo ponto o inchaço da máquina administrativa do município por via da Secretaria de Educação.

Outros pontos conflitantes foram identificados na Seção VI, do capítulo II, a qual se refere aos vencimentos e vantagens, especificamente nos incisos III, VI e VII do Artigo 19º. Sendo mais polêmicos os incisos III e VI, que são gratificações remuneratórias e, portanto implicava em onerar a folha de pagamento. Isso porque esses incisos continham inovações que eram a substituição das denominações Gratificação de Difícil Acesso por GIDI (Gratificação de Incentivo a Docência no Interior); e, a Gratificação de Pó de Giz, por Gratificação de Regência.

Para os professores, essa questão tinha alguns imperativos que eram: primeiro algo que já se tornou comum para o movimento docente, a luta pela manutenção e ampliação de vantagens adicionais aos salários como forma de corrigir as constantes perdas, e, também na expectativa de em outra oportunidade poderem incorporá-las aos mesmos.

Segundo que a substituição da denominação difícil acesso por GIDI, resolveria uma polêmica quanto à compreensão do que venha a ser aquele, pois se para os representantes, no caso o Governo Municipal, era a dificuldade de deslocamento do professor de sua residência até à escola; os representantes dos professores compreendiam esta como as dificuldades e muitas vezes a perda de oportunidades na zona urbana, por estarem trabalhando no meio rural, muitos deles como se estivessem recebendo por um regime de dedicação exclusiva, coisa que não existe no município.

Terceiro, a substituição de “pó de giz” por “Gratificação de Regência” se dava por motivo de precaução contra interpretações dúbias, uma vez que com os avanços tecnológicos, o giz pode estar perdendo a sua função numa sala de aula, e isso

poderia ser usado como argumento para a suspensão da citada gratificação, já que o professor não irá mais respirar o citado pó.

Ainda sobre o Difícil Acesso, o Governo Municipal não concordava com Artigos 20º e 22º, um por se referir à denominação GIDI, e o outro por prever que o pagamento do benefício seria feito “sobre a carga horária efetiva da classe e nível a que pertença o servidor” e não sobre a carga horária base como previa o estatuto anterior. Enquanto o poder público argumentava que isso oneraria a folha de pagamento inviabilizando o cumprimento desta cláusula da lei que estava sendo gestada, os professores consideravam injusto ganharem somente sobre a carga horária base, quando na realidade, por conta de terem na maioria das vezes a carga horária dobrada, permaneciam por mais tempo nos locais de trabalho, ou mesmo considerando só o deslocamento, teriam que se deslocar mais vezes onerando assim os custos com transporte.

No que diz respeito às progressões na carreira funcional, a polêmica se estabeleceu também em relação aos valores que seriam acrescentados no vencimento dos professores quando houvesse deslocamento de uma classe a outra, ou de um nível a outro. Foi concebido no anteprojeto elaborado pelos professores, que as progressões se dariam por deslocamento vertical entre classes, de acordo com o grau de formação escolar ou acadêmica do profissional de educação, e também horizontal, entre níveis, considerando para isso o tempo de serviço e o mérito, sendo este, avaliado pela participação freqüente em cursos e seminários de aperfeiçoamento ao longo da carreira como profissional.

Nessa questão, em dois pontos o governo não concordava com a proposta dos professores, o primeiro, referia-se ao artigo 18º onde sugeria a supressão dos percentuais de diferenciação entre classes e níveis que haviam sido estipulados entre 6% e 1% respectivamente, mas, em contrapartida não apresentava nenhuma proposta. O segundo ponto discordante era o Artigo 35º, que em conformidade com o que foi sugerido pelos professores que previa a progressão por classe automaticamente caso o professor alcançasse um novo grau de formação escolar e/ou acadêmica imediatamente superior, independente da modalidade de ensino em que atuava. A proposta do Governo estipulava 10% das progressões por classe, ou seja, entre aqueles que adquirissem uma nova formação, apenas 10% progrediriam na

carreira a cada ano.

Também em relação às progressões, os professores haviam sugerido que “a progressão far-se-á por mérito a cada somatório de 100 (cem) horas de curso, considerando para efeito de promoção os diplomas e certificados emitidos a partir de 1997 ou por tempo de serviço a cada interstício de 1460 (um mil quatrocentos sessenta dias)”90. O governo propunha aumentar o somatório de curso para 120 horas, incluindo aí a avaliação de desempenho profissional.

A equipe do Governo Municipal justificava essa preocupação com os aspectos financeiros por não saber em números precisos, qual seria o impacto que isso causaria na folha de pagamento, e que isso poderia causar um estrangulamento nas contas do município, incidindo sobre o percentual de 60% a ser gasto com pagamento de pessoal, definido em Lei Federal.

No contexto dessa discussão que se processava nos bastidores entre membros da direção do SINDSEMP, e a equipe técnica do Governo Municipal, havia uma insatisfação generalizada por parte dos professores, pois, além de conviver com os salários em atraso por quase dois meses, não entendiam porque não recebiam os seus salários condizentes com o que havia anunciado o Governo Federal, nos informes publicitários sobre a implantação do FUNDEF (Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental), já que em cidades da região, de porte econômico igual ou muito inferior a Petrolina, já recebiam salários tal como fora anunciado pelo Presidente da República91.

Essas dúvidas e inquietações dos professores que constituíam a base sindical exigiram que os diretores buscassem conhecer a capacidade de pagamento dos salários por parte da Prefeitura Municipal, e funcionamento no repasse dos recursos do FUNDEF, para que fosse possível dar uma explicação aos professores e ao mesmo tempo conclamá-los para a luta.

Assim, o sindicato propôs à Secretaria de Educação juntamente com a Diretoria de Recursos Humanos, fazerem em parceria, um levantamento cadastral de todos os professores do município, a fim de levantar dados sobre: quanto se gastava somente com o ensino fundamental, quantos professores recebiam por esse nível de

90 Versão preliminar da proposta de EPCM, cedida pelo Sindicato.

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