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Participação como militante e/ou simpatizante de partidos políticos Na tentativa de evidenciar a cultura de participação do conjunto dos

PERFIL E PARTICIPAÇÃO DOS PROFESSORES NO MOVIMENTO Encarando o desafio de elaborar uma proposta preliminar do plano de carreira

45 O presidente do SINDSEMP não era professor.

4.2.1 Participação como militante e/ou simpatizante de partidos políticos Na tentativa de evidenciar a cultura de participação do conjunto dos

professores a partir da amostra selecionada, distribuída nos três grupos de análise, e através de questionários foi-lhes formulada a seguinte questão: Você é filiado ou militante de algum partido político? Qual? Procurava-se então perceber o grau de envolvimento destes professores no contexto da política partidária e tendências povoava a cultura política do professorado do município de Petrolina; e ainda se seria possível distinguir os professores por sua associação a uma linha ideológica ou

a outra; ou se os laços políticos por eles desenvolvidos estavam dentro de um universo relacional definido por afinidades pessoais.

Entre os integrantes do grupo de trabalho que elaborou a proposta preliminar do EPCM, três admitiram algum tipo de envolvimento com agremiações político- partidárias, ou seja, 50% dos membros do referido grupo de uma forma ou de outra, tem ou tiveram algum relacionamento mais direto com um determinado partido. Dos que afirmaram já ter participado, uma diz que foi militante ativa do PMDB, apenas na campanha eleitoral para governador da Bahia, em 1986, participando inclusive como fiscal nas eleições na cidade onde morava sendo que à época da pesquisa já se mostra apenas simpatizante dos partidos de esquerda. Outra disse estar começando a ter envolvimento com partido político há menos de um ano, atribuindo esse envolvimento aos seus vínculos de amizade com pessoas ligadas ao PT, no entanto, não era filiada ainda a este partido. O terceiro, era filiado ao PCdoB desde de 1986, apesar de haver se distanciado do partido nos últimos anos, aproximando-se apenas nos períodos eleitorais.

Em relação aos professores que compuseram os dois grupos da amostra, denominados "presentes" e "ausentes", as respostas ao questionamento sobre o envolvimento com partidos políticos indicam que a grande maioria dos professores não tem uma tradição de militância na política partidária como membro filiado, estando, portanto, distantes das decisões tomadas no interior dos partidos.

Entre aqueles considerados presentes nas manifestações promovidas pelo SINDSEMP, apenas 06 disseram ser filiados a partidos, enquanto 38 responderam que não eram. Os que responderam sim, 03 eram filiados ao PT, 01 PFL, 01 ao PPS, 01 PRTB.

Em relação aos "ausentes", 42 disseram que não tinham nenhum envolvimento com partidos, 02 responderam afirmativamente e 01 não respondeu. Entre aqueles que responderam afirmativamente uma se diz filiada ao PFL e outra ao PTB.

Vale salientar que estudos revelam que os partidos políticos brasileiros não têm uma tradição de envolver as bases eleitorais nas decisões da cúpula partidária. Numa referência à história dos partidos no Brasil, Cardoso (1982), diz que,

"a mobilização popular de apoio aos partidos fazia-se quase que exclusivamente durante os períodos eleitorais. Não que os partidos deixassem de existir no período intereleitoral (...). Alguns, é certo, funcionaram no passado como meras legendas, cujos proprietários faziam acordos de cessão transitória de direitos a algum outro partido para que este dispusesse de maior número de vagas nas listas de candidatos a deputados ou a vereadores (...). Terminada a eleição, a imensa maioria dos comitês se dissolvia, deixando muitas vezes um travo amargo, de esforço não continuado, nos milhares de pessoas que os comitês mobilizaram.(Cardoso, 1982, p.178)

A análise da situação atual nos mostra que embora tenhamos progredido com relação à participação popular em muitos setores e organismos da sociedade civil, a situação dos partidos, com raras exceções, permanece a mesma descrita por Cardoso. Ou seja, os partidos não cumprem a função que é de serem também "espaços

privados de difusão das ideologias e dos valores simbólicos" (Semeraro, 1999,

p.74), que na visão de Gramsci representam uma das formas pelas quais a sociedade civil organizada somada à sociedade política constitui o Estado.

Estado, que para a grande maioria dos pensadores modernos, é o lócus central do poder, o espaço privilegiado que condensa e redistribui o poder na sociedade, a partir das decisões políticas. Poder, que "tem como ponto de ancoragem uma certa

relação de força estabelecida em dado momento, historicamente precisável, na guerra e pela guerra" (Foucault, 1999, p. 23). Guerra essa, que se dá após a

superação dos equipamentos bélicos e continua por outros meios que é a própria política.

Refletindo a partir do que afirma Foucault (1999, p. 21), "que o poder não se

dá, nem se troca, nem se retoma, mas que ele se exerce e só existe enquanto ato",

uma questão que vem a tona é como os professores da Rede Municipal de Ensino de Petrolina se inserem nas relações de poder no campo da política partidária? Se não fazem parte das agremiações partidárias, que outros canais tem contribuído para sua formação política como sujeito de poder? Como é exercido esse poder?

Refletindo sobre o quadro de referência pelo qual se opera a cidadania no Brasil, DaMata (1997 p. 86), identifica tipos que se definem por lógicas diferentes. Uma se pauta pela racionalidade liberal, das relações impessoais onde as relações devem ser regidas através de leis universais, válidas para todos. Outra que "funciona

fundada nas mediações tradicionais". Assim, há uma lei que se aplica para os

cidadãos comuns, os indivíduos que não comungam num dado momento na partilha do poder, e uma outra para os amigos e correligionários. Na política isso se define pela "lógica das lealdades relacionais que não têm compromissos ideológicos" (DaMata, 1997, p. 87)

Petrolina, sem dúvida, é um contexto muito propício à utilização dessa lógica, uma vez que como se pode perceber os partidos políticos em sua grande maioria são instituições frágeis enquanto mecanismos de participação popular, e não representam canais para a participação do povo nas decisões políticas, se não apenas através do voto, que na realidade não são dados a partidos e sim às personalidades, e, diga se de passagem que as lideranças mais expressivas pertencem a um clã familiar que embora divido nas últimas décadas, está no poder há mais de um século.

Na condição de indivíduos constituídos culturalmente nesse contexto a maioria dos professores, assim como a imensa maioria da população, não manifesta uma expressão de poder nas decisões políticas, ou, quando o exerce ele se dá dentro desse universo relacional por meio do favorecimento pessoal, individual, no momento em que seu padrinho político está exercendo o poder.

4.2.2 - Participação no movimento sindical.

Avaliando a questão da participação dos professores membros do grupo de trabalho, no movimento sindical, verificou-se através de suas respostas durante a entrevista que poucos traziam em na história de vida pessoal de cada um marcas significativas de participação como liderança, mesmo aqueles que durante as discussões do EPCM, ou seja, no período entre 1997 a 2000, ocupavam funções de diretores no SINDSEMP. Apenas um dos professores convidados para integrar o grupo, tinha antes ocupado funções como dirigente sindical em períodos anteriores.

Este professor havia participado da diretoria do SINDSEMP, eleita para dirigir a entidade entre 1994 - 1997, mas, por incompatibilidade de tempo, somada às divergências quanto à concepção de luta sindical, com outros membros da direção, decidiu se afastar.

grupo, inclusive dos três professores que faziam parte da Direção eleita para o período 1997 - 2000, era restrita a reuniões, assembléias gerais e passeatas promovidas tanto pelo próprio SINDSEMP, como por outras agremiações afins.

Em relação aos dois grupos de professores - presentes e ausentes nas ações desencadeadas pelo sindicato - com os quais foram aplicados os questionários, as respostas evidenciaram que mesmo entre os docentes classificados como presentes, a participação jamais foi além do comparecimento às reuniões, assembléia, passeatas e greves. Não tinham a experiência como lideranças de movimentos sindicais, mas, sem dúvida uma participação fundamental para respaldar as atitudes dos líderes dos movimentos.

Estas observações foram evidenciadas pelas respostas ao questionamento sobre o comparecimento às reuniões convocadas pelo sindicato, os "presentes" foram unânimes em responder sim, entre os "ausentes", 34 professores também afirmaram que sim, enquanto somente 10 confessaram não participar e 01 não respondeu a questão. Há nesse caso, uma contradição entre o que mostra as listas fornecidas ao pesquisador pelo sindicato e as respostas dos pesquisados, pois os nomes dessas pessoas não aparecem em nenhuma das 20 listas consultadas46.

Quando questionados sobre o porque de comparecerem a essas reuniões, as frases mais presentes no conteúdo das respostas eram: "para me manter informado", "reivindicar nossos direitos", para "fortalecer a luta dos professores". A frequência dessas respostas pode ser observada através da tabela n° 16.

Tabela n° 17: Motivos que levaram os professores a participar das ações coletivas organizadas pelo SINDSEMP no período de 1997 a 2000.

Professores presentes às manifestações coletivas Professores ausentes às manifestações coletivas

N° % N° %

Para me manter informado 30 66,6% 21 46,6%

Para reivindicar nossos direitos

09 20% 07 15,5%

46 As listas fornecidas pelo Sindicato eram utilizadas para atestar a frequência dos

professores às reuniões, assembléias, e momentos de paralisação de protesto e até mesmo durante as manifestações de rua, isso compreendendo o período de julho de 1997 a Março de 2000.

Para fortalecer a luta dos professores

12 26,6% 12 26,6% Fonte: Projeto de dissertação, respostas aos questionários aplicados no período de agosto a outubro de 2000 durante o trabalho de campo.

A tabela demonstra que os professores têm o sindicato como uma fonte de informação sobre seus interesses junto ao poder municipal, e que é através dele que são reivindicados os direitos e fortalecidas as lutas dos profissionais. Mas, a prática cotidiana dessa relação entre professores e sindicato demonstra que não há uma transcendência nessa relação. De fato, a entidade não constitui em algo mais que um simples órgão burocrático, opera dentro de uma lógica representativa e consegue mobilizar apenas uma pequena parcela dos servidores municipais.

Nas conversas informais com professores, muitos deles deixam transparecer que entendem o sindicato como um organismo ao qual compete a resolução de problemas que são da alçada do poder executivo, e diante da falta de solução para problemas que fogem à competência do sindicato, expressam suas revoltas em relação à entidade através da seguinte afirmação: "o sindicato não faz nada". Isso se dá muitas vezes porque o sindicato não consegue solucionar uma questão isolada, ou então porque não teve força suficiente para pressionar o governo a resolver uma situação a favor da categoria.

Em muitas situações o professorado tem demonstrado que não percebe - ou, se percebe não quer se expor - que a força motriz que impulsiona as ações desenvolvidas pelo sindicato é o grau de envolvimento da sua base de sustentação. Diante disso, a entidade se organiza seguindo a mesma lógica da democracia representativa defendida pelo credo liberal burguês, com uma estrutura burocrática onde uma minoria pensa e decide o que fazer, enquanto a grande expressão de participação da maioria se resume ao voto nos momentos de escolha dos membros para a diretoria.

A força do discurso liberal burguês, em que os "objetivos proclamados" na maioria das vezes não correspondem aos "objetivos reais" como nos lembra Saviani (1996), encontra sua ressonância naquilo que é expresso em algumas ocasiões pelos professores quando falam dos objetivos que os levam a participar das reuniões e manifestações promovidas pela entidade sindical. Ao se referirem à luta pelos

direitos e ao fortalecimento da categoria profissional, parece ser apenas o pronunciamento de um "chavão" por demais conhecido nos movimentos sociais e que de certa forma se tornou banal.

É importante salientar que a luta por direitos e fortalecimento da categoria se opera no nível da "concreticidade da ação política e pedagógica" como enfatiza Arroyo (2000), ação que implica em conhecer os direitos e também se inserir nas lutas e desafios para conhece-los e fazer valer pela própria ação que é desenvolvida.

Não seria, no entanto, justo deixar de reconhecer em muitos professores a capacidade de transcender o discurso para desenvolver uma ação efetiva que não se limita à participação nos movimento de massa, de estar no meio da praça de bandeiras e faixas em punho, esbravejando palavras de ordem, pois, são inúmeros aqueles que se empenham em elaborar seus projetos, propor suas metas e objetivos, esboçando outras formas de luta pela defesa dos direitos de uma maioria na sociedade, que implica não reivindicar exclusivamente o salário, melhores condições de trabalho, mas sim proporcionar mudanças na cultura de organização e gestão do tempo e espaços pedagógicos para tornar reais os objetivos proclamados.

4.2.2 Participação em movimentos comunitários, estudantis e grupos de

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