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Palavras da professora A, participante do grupo de trabalho constituído para elaborar a proposta preliminar do EPCM, em entrevista concedida em fevereiro de 2000.

ORIGEM DO MOVIMENTO DE LUTA DOS PROFESSORES POR UM PLANO DE CARREIRA DO MAGISTÉRIO.

31 Palavras da professora A, participante do grupo de trabalho constituído para elaborar a proposta preliminar do EPCM, em entrevista concedida em fevereiro de 2000.

A revisão desta prática sempre foi uma inquietação do professorado de Petrolina e um dos pontos na pauta de reivindicação do movimento docente onde quer que fosse verificada esta prática. Portanto, era consenso entre os professores entrevistados de que o critério para nomeação do diretor de escola deveria ser por meio de eleição direta, conforme as falas transcritas a seguir:

“... uma instituição escolar é para discutir a questão política, não a política partidária (...), por exemplo, uma eleição para diretor que é

um dos pontos do EPCM···”.

"... a escolha de diretores e a formação dos técnicos da SEDUTE através de concurso, eu acho que era o ponto mais importante".32

“Eu acho importante a eleição p/ diretores de escola, porque eles são indicados por políticos, as vezes pessoas que nem sabem mesmo direito como trabalhar (...) acho que sendo um professor da escola, já conhece a vida da escola, a rotina, o dia-a-dia, conhece os professores, né? Sabem exatamente o que vai fazer, vai trabalhar mesmo naquele ponto, quem vem de fora até se adaptar na escola ainda vai sair procurando...”33

“... o cargo de direção da escola deve ser realmente exercido pelo professor do quadro e escolhido democraticamente num processo eleitoral, certamente isso tudo isso influi na prática escolar (...)”34

Observa-se que as reivindicações dos professores, não eram apenas solicitações dirigidas ao governo, eram na verdade proposições a serem incluídas em um plano de carreira, marcando assim, a participação dos professores na redefinição das regras instituídas na gestão das relações na Rede Municipal de Ensino de Petrolina.

Essa atitude propositiva se materializou nas ações de um grupo de seis professores35 que, junto com o presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Petrolina (SINDSEMP), assumiu a condição de representante da categoria docente,

32 Palavras da professora "A" participante do grupo de trabalho em entrevista em fevereiro de 2000. 33 Palavras da professora "C" Participante do grupo de trabalho em entrevista em fevereiro de 2000. 34 Palavras do professor "F" Participante do grupo de trabalho em entrevista em fevereiro de 2000. 35 Quatro dos professores faziam parte da estrutura administrativa do SINDSEMP sendo três Diretores e um Delegado Setorial, os outros dois foram professores convidados a integrar o grupo.

na elaboração da proposta preliminar do Estatuto e Plano de Carreira do Magistério - EPCM.

As propostas encaminhadas por este pequeno grupo refletiam os interesses de um universo mais amplo de professores, cujo teor das reivindicações se prendiam a questões imediatas como o salário, melhores condições de trabalho, regularização do pagamento em atraso. Estas reivindicações puderam ser constatadas em 50 bilhetes encaminhados à coordenação do seminário organizado pelo SINDSEMP, em fevereiro de 2000, cujos propósitos eram dar visibilidade à discussão da proposta de Estatuto e Plano de Carreira do Magistério - EPCM. Os referidos bilhetes foram encaminhados à mesa para serem respondidos pelas autoridades presentes.

Entre os cinquenta bilhetes encaminhados 21 (vinte um) versavam de alguma forma sobre a questão salarial, conforme demonstra a tabela abaixo.

Tabela n ° 08: Demonstrativo das preocupações dos professores em relação a ganhos salariais, manifestado em seminário realizado em 28/02/2000.

Preocupações dos professores Quantidade de professores

%

Intenção de receber o salário de acordo com o FUNDEF 12 24%

Gratificação de difícil acesso 3 6%

Preocupação c/ possíveis reduções de salário por causa do

inchaço na folha de pagamento da prefeitura 3 6%

Gratificação de pó de giz 1 2%

Manutenção das horas-aula excedente 1 2%

Salário do professor ao salário mínimo 1 2%

Outras preocupações 29 58%

Total 50 100%

Fonte: quadro elaborado a partir do conteúdo dos bilhetes encaminhados à mesa no seminário realizado dia 28/ 02/2000

Observa-se que entre os 50 bilhetes encaminhados, 21 tinham uma preocupação comum referente a questões financeiras, levando a concluir que a representação social mais significativa nas reivindicações dos professores implicam a necessidade de melhoria salarial. Isso demonstra ser o salário o “núcleo central da representação social” nas lutas reivindicativas dos professores. Na maioria das vezes as reivindicações surgem de maneira fragmentada, isolada, como expressão da angústia de cada um individualmente, ou de pequenos

segmentos que compõem uma totalidade maior. Aos poucos vão caracterizando um sentimento coletivo, constituindo-se em reivindicações de uma categoria, em um movimento que visa mudanças de caráter mais amplo. Muitos desses sentimentos individuais foram expressos no conteúdo dos bilhetes encaminhado à mesa durante o seminário.

“Por que os professores do pré-escolar, 2º Grau e jovens e adultos continuam recebendo pelo FUNDEF???”

“Gostaria de saber porque o professor de creche não tem direito ao FUNDEF? Por que o professor de creche não tem uma gratificação? Afinal somos mais que professor!”

“Se o FUNDEF manda o dinheiro de acordo com o número de alunos, por que os professores não ganham seu salário de acordo com o número de alunos da sua escola. Já que os diretores ganham de acordo com o número de alunos. Baseado em que lei isso acontece?”

Percebeu-se a existência de uma polêmica entre os professores ao buscarem esclarecimentos do Secretário de Educação em relação à aplicação dos recursos do FUNDEF. Enquanto o conteúdo do primeiro bilhete revelou uma preocupação em relação ao pagamento do salário dos professores da Pré-escola, Ensino Médio e EJA, com recursos provenientes do Fundo. O segundo, buscava explicações para o fato dos professores de Educação Infantil não receberem seus salários de acordo com o FUNDEF.

O terceiro ao questionar o por quê dos professores não receberem seus salários de acordo com o número de alunos matriculados em cada escola, demonstra um rompimento com a noção de rede e a idéia de um coletivo mais amplo capaz de reivindicar as conquistas para todos.

“... não fomos beneficiados com o FUNDEF porque somos um número que ultrapassa a folha. Então como vai ficar nossa situação se já vai haver um novo concurso?”

200 horas, e agora só tem direito a 100 horas. As outras 100 horas ficando a disposição da secretaria. Só que eu quero as 200 em sala de aula”

Ao analisar o conteúdo dos bilhetes percebeu-se nas questões colocadas pelos professores não apenas o caráter da reivindicação salarial, mas também, a manifestação de interesses pessoais ou de pequenos grupos, revelando uma identidade profissional fragmentada. Nesse aspecto, professores do ensino fundamental reclamam que os professores de outras modalidades da educação básica recebem pelo FUNDEF; os professores de creche reclamam por não serem incluídos no referido Fundo; outro reivindica que o pagamento dos salários seja feito de acordo com o número de alunos existente em cada escola a sala de aula de cada professor.

Isso demonstra que as preocupações de grande parte dos professores se reduzem a questões imediatas, as afirmações são feitas sem maiores fundamentos, traduzindo assim, uma compreensão estreita dos aspectos que envolvem a política educacional. Assim, desloca-se o conflito da esfera mais ampla para o opositor mais próximo, a reivindicação é dirigida ao ente mais próximo, ao município, ao sindicato ou mesmo ao colega professor. Pensando e agindo da forma descrita acima, as representações sociais"36 sobre o que se reivindica vão se transformando numa espécie de "salve-se quem puder", que faz diminuir a força do movimento e às vezes inviabiliza os projetos de mudança cultural.

Vale salientar que as representações sociais que temos das coisas, dos fatos, e de nós mesmos, são construídas a partir de uma relação entre os processos cognitivos e as interações com a realidade exterior, com o ambiente social. Assim essa preocupação imediata com o salário, se constitui culturalmente como principal reivindicação dos professores a partir das necessidades individuais de cada um, associadas aos movimentos reivindicativos que as colocam como ponto central nas pautas de negociação, nos discursos e nas palavras de ordem.

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