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ESQUEMA DE CONDUTAS PROFILÁTICAS DE ACORDO COM O TIPO DE FERIMENTO E HISTÓRIA VACINAL

Prevenção dos acidentes

ESQUEMA DE CONDUTAS PROFILÁTICAS DE ACORDO COM O TIPO DE FERIMENTO E HISTÓRIA VACINAL

História de vacinação prévia contra tétano

Ferimento com risco mínimo de tétano

Ferimento com alto risco

de tétano Outras condutas para o ferimento Vacina* SAT/Ighat** Vacina* SAT/Ighat**

Desconhece ou

menos de 3 doses sim não sim sim

Limpeza e desinfectação; lavar com soro fisiológico

e substância oxidante; fazer desbridamento quando houver indicação 3 doses ou mais e última dose há menos de 5 anos

não não não não

3 doses ou mais e última dose há mais de 5 anos e menos de 10

não não sim não

3 doses ou mais e a última há mais de 10 anos

sim não sim sim

*Para crianças com menos de sete anos: vacina tríplice bacteriana (DTP) ou tetra (DTP + HIB) ou dupla adulto (DT) Para criança com sete anos e mais: vacina dupla adulto (DT) ou toxóide tetânica (TT)

** SAT–5.000UI, via IM (após realização do teste cutâneo de sensibilidade, com resultado negativo) Ighat–250UI, via IM, em região diferente da em que foi aplicado o toxóide tetânico

Conclusão

No campo do saber da Saúde do Trabalhador, os acidentes do trabalho se configu- ram em um aspecto importante e muito relevante para investigação e estabelecimento de ações a fim de se obter melhoria das condições de vida e saúde dos trabalhadores. Na realidade dos trabalhadores da pesca artesanal de mariscos, os acidentes in-

ACIDENTES DO TRABALHO NAS ATIVIDADES... | 155

os acidentes perfurantes e cortantes, os traumas, os afogamentos, os incêndios, queimaduras, os acidentes com raios, bombas de pólvora e com animais peçonhen- tos marinhos, terrestres, dentre outros. A gravidade das consequências por eles provocadas pode variar bastante, podendo, inclusive, levar o trabalhador ao óbito.

As medidas e planos de ação preventivos compõem um ponto muito importante para a saúde do trabalhador da pesca artesanal, mesmo porque, o acesso aos serviços de saúde após os acidentes desta categoria são difíceis e muitos eventos danosos po- dem ser evitados até mesmo com algumas atitudes simples e não onerosas. Investir em atos preventivos nas atividades de pesca é algo factível e aponta um caminho no sentido de evitar os desdobramentos e prejuízos provocados pelos acidentes.

O Brasil é um país que tem uma boa parcela de sua economia sustentada pelas atividades do ramo da pesca e precisa cuidar da saúde de seus trabalhadores. Muitas são as circunstâncias perigosas a que estão expostos os pescadores e poucos são os recursos para enfretamento desta realidade. Além disso, não há uma assistência ade- quada para os trabalhadores acidentados, tanto do ponto de vista médico quanto dos direitos trabalhistas e previdenciários. É necessário estudar mais profundamente a realidade destes trabalhadores, implantar medidas intervencionistas e de prevenção dos agravos, e, ainda, fazer a divulgação do conhecimento já documentado para os profissionais envolvidos, principalmente os da saúde e direito, e para a sociedade.

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Introdução

Este artigo amplia a reflexão centrada no processo saúde-doença do trabalhador da pesca artesanal na perspectiva de tratar da contaminação ambiental em Ilha de Maré, situada na Baía de Todos os Santos, Salvador, Bahia, proveniente de poluentes químicos expelidos das indústrias químicas, petroquímicas e petrolíferas instaladas nesta região. Tem uma peculiaridade, pois apresenta essa situação tal qual é vista pelos moradores que habitam a localidade. Conforme relatórios oficiais que tratam dos recursos ambientais, a contaminação química que atinge a Baía de Todos os Santos, principalmente com metais pesados e hidrocarbonetos de petróleo, alcança valores críticos para a saúde humana, para a flora e a fauna marinha. (BAHIA, 2001)

O Relatório Síntese do Centro de Recursos Ambientais da Bahia (BAHIA, 2005), verificou em várias localidades da Baía de Todos os Santos situações de ameaça ao

Maria do Carmo Soares de Freitas

Manguezal

um lugar sagrado e ameaçado pela contaminação em Ilha de Maré

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meio ambiente pela presença acentuada de oito contaminantes: Arsênio, Cádmio, Chumbo, Cobre, Cromo, Ferro, Mercúrio e Zinco. Também, registrou o risco carci- nogênico do consumo de pescado com hidrocarbonetos em vários povoados desta mesma região. A cadeia alimentar ao ser atingida, torna mais grave a contaminação nos humanos (OKADA, 1997), sendo em crianças, sua maior absorção. (MAHAFFEY, 1990; ZIEGLER, 1978)

Sobre a contaminação industrial na Bahia, principalmente, por metais pesados (chumbo e o cádmio), já existem estudos que mostram a exposição de trabalhadores que foram expostos em uma fábrica de fundição de chumbo, no município de Santo Amaro da Purificação, recôncavo Baiano, atingindo suas famílias e moradores próxi- mos. Esse impacto ambiental repercutiu no estuário do Rio Subaé, na Baía de Todos os Santos e suas comunidades. (SILVANY-NETO; CARVALHO, 1996) Em 1996, outra pesquisa confirmou as altas concentrações desses metais em sedimentos e moluscos de todo o ecossistema ao norte dessa Baía. (TAVARES; CARVALHO, 1992) Os dados oficiais mais atuais admitem a ocorrência de contaminação química por metais pesa- dos (sendo a maior toxicidade em Mercúrio, Chumbo e Cádmio), em Madre de Deus, nas proximidades da Ilha de Maré. (BAHIA, 2005). Verificou-se também a presença de outros contaminantes químicos, a exemplo dos Hidrocarbonetos Policíclicos Aro- máticos (HPA) como o benzo[a]pireno, os quais incidem na região norte e leste da BTS, além do Porto de Aratú, Caboto e Pati próximos aos povoados de Bananeiras e Maracanã, em Ilha de Maré.

Foram encontrados metais pesados em quantidades que infringem a legislação, em toda a Baía de Todos os Santos. Especificamente, encontram-se contaminados com metais tóxicos como mercúrio, chumbo, arsênio e cádmio, os mariscos nomea- dos popularmente, como sururu, rala-coco, lambreta; os crustáceos: siri, caranguejo e aratu; e os peixes: tainha, arraia, coró, sardinha, linguado e carapeba. (BAHIA, 2005) Ressalta-se que o tipo de contaminação industrial ou química é parte do processo global da crise ecológica em andamento, implícito no modelo de desenvolvimento industrial, de caráter insustentável que predomina no Brasil e no mundo. Há trin- ta anos, Ignacy Sachs (SACHS, 1974) definiu o desenvolvimento sustentável ou

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ambiental não é, portanto, apenas econômica, mas está conectada a outros aspectos da vida das populações, como no caso específico deste estudo. Em síntese, vale dizer que os impactos danosos em Ilha de Maré se apresentam como um problema local conjugado à crise ambiental globalizada.

Além da contaminação há registros sobre a destinação das águas residuais prove- nientes dos esgotos sanitários domésticos e industriais que poluem as águas super- ficiais e subterrâneas, solo da Baía de Todos os Santos, fato que é verificado também em muitos municípios brasileiros (68,9% contêm esgotamento sanitário adequado). (BRASIL, 2002) Estes tipos de efluentes passam a escoar a céu aberto, constituindo em perigosos focos de disseminação de doenças. Esta situação demonstra mais uma vez a falta de controle de poluentes domésticos e industriais em países de economia dependente como o Brasil.

Mesmo diante da magnitude do problema ambiental, não foram encontrados estudos sobre a percepção das populações tradicionais atingidas por este. A pesquisa de natureza exploratória que deu origem a este artigo busca contribuir com o tema, ao investigar os significados que assinala o caráter polissêmico do impacto da conta- minação ambiental, principalmente da poluição química, tal como é interpretado por moradores da Ilha de Maré. Busca-se, pois, a contribuição de disciplinas das ciências sociais, como a antropologia ambiental e da saúde, para a compreensão do universo subjetivo e cultural da crise ecológica que afeta a saúde da população.

O tema da contaminação química de origem industrial, em particular com me- tais pesados em populações, é complexo e os estudos são ainda insuficientes. Este artigo apresenta as percepções dos moradores de uma ilha devastada por poluentes industriais e seus danos sobre o meio ambiente.

A escolha de Ilha de Maré para a realização da pesquisa que deu origem a este texto ocorreu a partir de um Encontro de Pescadores e Marisqueiras, organizado pela Pastoral da Pesca da Bahia, em 2005, quando os moradores denunciaram os problemas ambientais e de saúde da população, associando-os à contaminação in- dustrial. Deste então, iniciou-se um estudo sistemático da situação, por meio de visitas dos pesquisadores à Ilha, visando a preparar e a realizar uma investigação empírica sobre o assunto.

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Neste trabalho, priorizou-se uma análise intersubjetiva que caracteriza a busca a compreensão da experiência dos moradores em sua vida relacional, em suas ações, falas e gestos, e valoriza sua interpretação individual e grupal em relação ao objeto de estudo. (FAUSTINO, 2006) Desse modo, o dizível da experiência do morador da Ilha de Maré, sobre a contaminação ambiental, refere-se a si e a outros que vivem nesta realidade. As expressões da linguagem ressaltam distintas maneiras de signi- ficar o problema ambiental relacionado a outras questões do cotidiano, num todo significativo para o sujeito em seu mundo.

Ao perceber o risco de contaminação, os indivíduos temem os transtornos do ambiente, e consequentemente, o adoecimento do corpo. Segundo Douglas (1966, 1999), no mundo humano, o indivíduo apreende objetos externos que ferem sua estrutura interna. Em sua teoria sobre pureza, poluição e perigo, a autora sustenta a noção de necessidade do controle social para manter um mínimo de estabilidade e conter a desordem sociocultural produzida pela poluição, a qual ela nomeia como “ofensa” contra as referências ordenadas de um contexto social.

As expressões dos moradores da Ilha de Maré são acolhidas neste estudo como construções culturais de modelos explicativos sobre contaminação, poluição e doenças associadas. (HELMAN, 2003; SPIRO, 1996)