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ESTABILIZAÇÃO E NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL

No documento Estabilização da tutela antecipada (páginas 125-128)

5 OUTRAS QUESTÕES RELATIVAS À ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA

5.9 ESTABILIZAÇÃO E NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL

Não há muitas razões que se possam opor à possibilidade de realização de negócio jurídico processual para firmar a estabilização da tutela antecipada.

O negócio jurídico processual é justamente o fato jurídico por intermédio do qual o sujeito pode escolher a categoria jurídica de uma sua determinada manifestação

177 COSTA, Eduardo José da Fonseca. Art. 304. Comentários ao Código de Processo Civil. STRECK,

Lenio Luiz; NUNES, Dierle; CUNHA, Leonardo (orgs.). São Paulo: Saraiva, 2016, p. 431.

178 SICA, Heitor Vitor Mendonça. Doze problemas e onze soluções quanto à chamada “estabilização da

tutela antecipada”. In: DIDIER JR., Fredie; PEREIRA, Mateus; GOUVEIA, Roberto; COSTA, Eduardo José da Fonseca (coord.). Grandes temas do novo CPC, v. 6: tutela provisória. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 359.

de vontade ou ajustar certas situações jurídicas processuais aos seus interesses, dentro dos limites fixados pela lei179.

Ademais, o art. 190 do CPC conferiu enorme liberdade às partes para realizar negócios jurídicos processuais, permitindo-lhes estipular mudanças no procedimento para adaptá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, daí se podendo extrair a possibilidade de realização de negócio processual para o alcance da estabilização da tutela antecipada, já que aqui se está a falar de direitos que admitem autocomposição.

É preciso observar que o referido art. 190 é inovador e conferiu “faculdade às partes e aos sujeitos em geral” para dispor, “por meio de convenção, de maneira ampla, sobre o processo”180.

Ajustar, de maneira negocial, a estabilização nada mais é do que escolher a categoria jurídica em que será enquadrada a manifestação de vontade das partes, e não se tira de nenhuma parte do Código norma que proíba a realização de negócio jurídico processual com esse desiderato, ou seja, que excepcione dessa verdadeira cláusula geral

de negociação o poder de dispor a respeito da estabilização da tutela antecipada.

Não por outra razão Humberto Theodoro e Érico Andrade posicionaram-se favoravelmente à celebração de negócio jurídico processual com o fito de promover a estabilização da tutela antecipada, afirmando inclusive a possibilidade de se estabelecer presunção de urgência, de forma que as medidas que derivassem do negócio jurídico celebrado seriam submetidas ao procedimento de tutela antecipada antecedente181.

Além disso, também o enunciado nº 32 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC)182 dispõe no sentido da possibilidade de realização da estabilização de maneira negociada.

O negócio jurídico processual aqui analisado poderá ser realizado antes do início ou durante o procedimento antecedente.

179 DIDIER JR., Fredie; NOGUEIRA, Pedro Henrique Pedrosa. Teoria dos fatos jurídicos processuais.

Salvador: Juspodivm, 2013, p. 59.

180 NOGUEIRA, Pedro Henrique. Art. 190. Breves comentários ao novo Código de Processo Civil.

WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; DIDIER JR., Fredie; TALAMINI, Eduardo; DANTAS, Bruno (coord.). São Paulo: RT, 2015, p. 592.

181 THEODORO JÚNIOR, Humberto. ANDRADE, Érico. A autonomização e a estabilização da tutela

de urgência no projeto de CPC. Revista de Processo, vol. 206, ano 37. São Paulo: RT, abril/2012, p. 54. Também admitindo a estabilização da tutela antecipada antecedente de forma negociada: GODINHO, Robson Renault. Comentários ao novo Código de Processo Civil. CABRAL, Antonio do Passo; CRAMER, Ronaldo (coord.). Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 480.

182 Enunciado nº 32 do FPPC: “Além da hipótese prevista no art. 304, é possível a estabilização

Todavia, tanto num como noutro caso, qualquer das partes poderá lançar mão da ação autônoma para impugnação da tutela antecipada até a consumação do prazo de prescrição ou decadência, uma vez que a possibilidade de questionar a tutela estável é da essência do próprio instituto, e a existência de negócio processual não tem o condão de impedir futuro questionamento da decisão estabilizada, como autoriza o próprio CPC (art. 304, §§ 2º e 6º).

Portanto, ainda que a tutela estabilizada tenha sido alcançada pela celebração de negócio jurídico processual, as partes estarão livres para ajuizar a ação autônoma visando a questioná-la. A contrapartida pela acentuada sumariedade do procedimento antecedente é a possiblidade de questionamento da tutela deferida e, portanto, negar a possibilidade de recurso à ação autônoma seria uma violação à lei e poderia provocar sérios questionamentos a respeito de uma possível ofensa ao contraditório e à ampla defesa.

Se as partes pretenderem encerrar definitivamente a discussão a respeito do caso, poderão valer-se de negócio jurídico tendo por objeto o próprio direito material (realizando transação, por exemplo), submetendo-o à homologação judicial.

É importante ressaltar que o negócio jurídico processual que verse sobre a estabilização da tutela antecipada apenas poderá ocorrer naquelas situações em que a própria lei autoriza a ocorrência da estabilização.

Dessa forma, não é possível a celebração do negócio jurídico aqui tratado durante o curso do processo principal (de cognição exauriente), pois nesse caso só caberia a tutela de urgência incidente, e a lei não autoriza a estabilização nesse caso.

Do mesmo modo, não cabe o negócio processual com a finalidade aqui tratada se não se puder comprovar a ocorrência de uma situação de urgência, já que o CPC fez a – equivocada – opção de limitar a estabilização aos casos de urgência (art. 303, caput, CPC).

Nesses casos, como acima dito, as partes poderiam realizar negócio jurídico tendo por objeto o próprio direito material controvertido e submetê-lo à homologação, o que, inclusive, provocaria a resolução do mérito e a formação de coisa julgada material (art. 487, inciso III, CPC).

Bruno Garcia Redondo entende de forma contrária: ele defende ser possível a realização de convenção para ampliar as hipóteses em que se admite estabilização (por exemplo, para englobar a tutela de evidência e a tutela antecipada incidental)183.

Por mais nobre que seja o propósito de garantir maior utilidade ao instituto, o fato é que tal solução é visivelmente contra legem. A letra da lei é clara ao autorizar a estabilização apenas nos casos de tutela de urgência e, ainda assim, somente naqueles casos em que a tutela for requerida em caráter antecedente (e não de forma incidental).

Em suma, é possível a celebração de negócio jurídico processual com o fito de promover a estabilização da tutela antecipada, mas não pode tal avença ser considerada válida se contrariar as normas cogentes do Código de Processo Civil. Não se pode permitir que, de maneira oblíqua, sejam alcançados resultados que a lei proíbe de forma direta.

5.10 IMPUGNAÇÃO APRESENTADA POR PARTE DOS LITISCONSORTES E

No documento Estabilização da tutela antecipada (páginas 125-128)