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Da não obrigatoriedade do aditamento

No documento Estabilização da tutela antecipada (páginas 90-93)

4. DO PROCEDIMENTO DA ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA

4.8 POSSÍVEIS ATITUDES DO AUTOR APÓS A MANIFESTAÇÃO DO RÉU

4.8.2 Da não obrigatoriedade do aditamento

O entendimento de que o autor deve manifestar-se sobre o aditamento após a decisão do demandado sobre o recurso é correto, pois é realmente conveniente que esse juízo seja feito somente após o demandante ter ciência a respeito das intenções do réu quanto ao recurso, mesmo porque, de acordo com o posicionamento adotado neste trabalho, se não for interposto recurso (ou apresentada qualquer forma de impugnação), não poderá ser feito o aditamento. Apenas se houver interposição do recurso (ou outra forma de impugnação) é que o autor deverá decidir se adita a inicial, inaugurando o procedimento plenário e exauriente, ou se deixa de aditar e, assim, desiste da demanda. Neste último caso, haverá extinção do processo sem resolução do mérito e sem estabilização – a decisão simplesmente será revogada.

Todavia, aqui se pretende apresentar solução para a questão por um outro enfoque: o do ônus do aditamento. Note-se que as soluções apresentadas acima não abordam expressamente o fato de que a letra da lei obriga131 ao aditamento em qualquer

hipótese.

Não seria muito útil levar o aditamento para um momento posterior à decisão do réu sobre a impugnação se o próprio aditamento continuasse sendo obrigatório, estimulando o prosseguimento do processo.

A forma correta de interpretar o art. 303, §2º, do CPC-2015 é no sentido de que o aditamento só será obrigatório se o réu impugnar a decisão liminar132. Se o réu concordar com esta decisão, não há razão para exigir que o autor provoque uma discussão plenária sobre a questão133. Só faz sentido fazer aditamento se for para iniciar

131 Como dito acima, o certo é falar em ônus, e não propriamente em obrigação, já que, a vingar a

interpretação literal do Código, o autor não seria obrigado a aditar, mas suportaria consequências processuais negativas se não o fizesse. A palavra obrigatoriedade, aqui, todavia, deve ser entendida de maneira elástica, no sentido de que o autor é obrigado a aditar caso queira beneficiar-se da estabilização.

132 O aditamento será também obrigatório quando o autor não tiver manifestado na inicial o desejo de

beneficiar-se da estabilização da tutela antecipada. Nesse caso, não poderá valer-se deste instituto, e o único caminho possível será o aditamento da inicial para o seguimento da demanda. Esta situação, todavia, não interessa a este tópico, mas sim ao tópico específico que trata do procedimento antecedente nos casos em que o autor não fez opção pela estabilização.

133 Em sentido oposto, sustentando a necessidade de aditamento apenas quando o réu não impugnar a

decisão: BUENO, Cássio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil anotado. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 224.

a discussão exauriente a respeito do mérito da causa, uma vez que já terá havido pedido suficiente e necessário para provocar o procedimento sumário de concessão de tutela antecipada antecedente, ou seja, no que concerne à tutela satisfativa sumária, o pedido está completo (tanto é assim que foi acolhido). O complemento do pedido haveria de ocorrer apenas caso o processo tivesse que prosseguir para a etapa de cognição exauriente, já que, para este caso, o pedido estaria incompleto, uma vez que o autor deu uma mera indicação de qual seria o pedido principal (art. 303, caput, CPC-2015), sem explicitá-lo adequadamente.

É correto, portanto, dizer que o art. 303, § 1º, I, do CPC veicula uma ordem ao dispor que o autor, após o deferimento da tutela antecipada antecedente, “deverá aditar a petição inicial, com a complementação de sua argumentação, a juntada de novos documentos e a confirmação do pedido de tutela final”, mas essa ordem só faz sentido quando o autor, por força da insurgência do réu, desejar o prosseguimento do processo para cognição exauriente, ou seja, quando ele buscar a formação de coisa julgada material134.

Ora, que sentido haveria em obrigar o autor a promover o aditamento da inicial, acrescentando-lhe novos argumentos e fundamentos, juntando novos documentos e apresentando – de forma explícita e direta – um pedido de tutela definitiva, naquelas situações em que o processo simplesmente será extinto em virtude da ocorrência da estabilização da tutela antecipada?

A prevalecer o entendimento contrário, o procedimento ora examinado determinaria providência processual inócua, um dispêndio inútil de energia, o que inclusive atenta contra os princípios da razoável duração do processo e da eficiência (art. 8º, CPC).

A obrigatoriedade “de aditamento da inicial em qualquer hipótese parece contrariar o sistema, que prevê uma técnica de abreviação de julgamento, conforme o comportamento do réu”, além de resultar em solução absolutamente sem sentido, já que, se o réu quedar-se inerte, o juiz extinguirá o processo (art. 304, caput, CPC) com um pedido de tutela definitiva pendente135.

134 Em sentido contrário, defendendo a necessidade de aditamento em qualquer hipótese: GODINHO,

Robson Renault. Comentários ao novo Código de Processo Civil. CABRAL, Antonio do Passo; CRAMER, Ronaldo (coord.). Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 476; MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo: RT, 2015, p. 316.

135 DI SPIRITO, Marco Paulo Denucci. “Adequações procedimentais para a tutela satisfativa antecedente

Noutros termos, é completamente fora de propósito impor ao autor que adite a inicial apenas em nome de uma formalidade processual vazia, sem nenhuma finalidade prática.

O aditamento, enfim, só será racionalmente justificável se tiver um sentido prático, qual seja, a promoção da continuidade do processo, submetendo a demanda à cognição exauriente.

Fredie Didier Jr., Rafael Alexandria e Paula Sarno parecem inclinar-se nesse mesmo sentido, pois defendem que persiste a estabilização da tutela antecipada mesmo que o autor não promova o aditamento, desde que, de forma concorrente, o réu também não interponha recurso contra a decisão que defere a antecipação136. Nesse caso, o processo seria extinto e a tutela antecipada estabilizada continuaria vigente.

Essa conclusão, ademais, é corroborada por uma análise teleológica da própria norma.

Com efeito, a finalidade precípua dessa nova figura foi a promoção da razoável duração do processo e de economia processual, resolvendo uma determinada situação de fato pela entrega à parte do bem da vida que pretende sem que se tenha que aguardar um demorado processo submetido a um rito plenário, ao mesmo tempo em que se lhe garante segurança jurídica materializada na estabilidade da tutela sumária.

Noutros termos, a parte abre mão da formação da coisa julgada material em troca de uma solução rápida – e estável – da demanda.

Se assim é, por que razão então o ordenamento jurídico obrigaria o autor a provocar uma demanda plenária após a concessão da tutela antecipada, em frontal agressão à razão que animou o legislador a inserir no ordenamento jurídico brasileiro a estabilização da decisão sumária ora tratada?

Se o autor for sempre obrigado a provocar a instauração de um processo principal e exauriente a respeito da matéria discutida, não fará absolutamente nenhum sentido prever a tutela antecipada estabilizada, que passaria a ser inócua. O novo instituto seria mais do mesmo, já que não apresentaria nenhuma diferença prática substancial em relação ao atual regime jurídico da tutela antecipada, é dizer, após o deferimento desta, o prosseguimento do feito pelo rito comum continuaria sendo obrigatório.

COSTA, Eduardo José da Fonseca (coord.). Grandes temas do novo CPC, v. 6: tutela provisória. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 370.

136 DIDIER JR., Fredie; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de; BRAGA, Paula Sarno. Curso de Direito

Assim, a única conclusão razoável a que se pode chegar quanto a este específico ponto é a de que o autor não pode ser obrigado a prosseguir com o processo após o deferimento da antecipação de tutela caso o réu não ofereça impugnação à decisão liminar. E, se isso é verdade, também não há o menor sentido em obrigá-lo a promover o aditamento da inicial. Se não há vontade da parte em prosseguir com a demanda, inaugurando o rito comum, é um contrassenso determinar o aditamento da inicial. Pensar o contrário é, como se disse, defender providência absolutamente sem sentido.

Ademais, uma das finalidades perseguidas pelo legislador, frise-se, foi exatamente a abreviação da demanda.

Por tais razões, o aditamento não só não é obrigatório, como também é providência vedada caso o autor tenha optado na inicial pela estabilização da tutela

antecipada.

No documento Estabilização da tutela antecipada (páginas 90-93)