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IMPUGNAÇÃO APRESENTADA POR PARTE DOS LITISCONSORTES E

No documento Estabilização da tutela antecipada (páginas 128-131)

5 OUTRAS QUESTÕES RELATIVAS À ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA

5.10 IMPUGNAÇÃO APRESENTADA POR PARTE DOS LITISCONSORTES E

Situações que também merecem atenção da comunidade jurídica são aquelas em que há impugnação apresentada por apenas uma parte dos sujeitos interessados ou com relação apenas a uma fração da decisão concessiva da tutela antecipada antecedente.

Eduardo Talamini, a esse respeito, e com acerto, diz que a solução deverá ser semelhante à que é aplicável aos recursos, à impugnação ao cumprimento de sentença, aos embargos do executado e aos embargos monitórios, de forma que, se houver litisconsórcio passivo no procedimento de tutela antecipada antecedente, a impugnação que um dos réus apresentar aproveitará aos que não impugnaram se o fundamento da impugnação for comum184.

No caso de impugnação apresentada por parte dos litisconsortes, deverá haver a incidência das regras que regulam o litisconsórcio.

Neste último caso, é preciso verificar, inicialmente, se o litisconsórcio é unitário ou simples.

183 REDONDO, Bruno Garcia. “Estabilização, modificação e negociação da tutela de urgência antecipada

antecedente: principais controvérsias”. In: DIDIER JR., Fredie; PEREIRA, Mateus; GOUVEIA, Roberto; COSTA, Eduardo José da Fonseca (coord.). Grandes temas do novo CPC, v. 6: tutela provisória. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 300.

184 TALAMINI, Eduardo. Tutela de urgência no projeto de novo Código de Processo Civil: a

estabilização da medida urgente e a “monitorização” do processo civil brasileiro. Revista de Processo, vol. 209, ano 37. São Paulo: RT, julho/2012, p. 29.

Sendo unitário, a solução há de ser uma só para todos os litisconsortes. Nesse caso, como há apenas uma relação jurídica sendo discutida (e essa relação é indivisível), a conduta alternativa de um litisconsorte beneficia os demais e a conduta determinante não os prejudica.

Dessa forma, a impugnação apresentada por um dos litisconsortes impede a estabilização, restando ao autor a alternativa de aditar a inicial e provocar o início do processo principal.

Note-se que, como a solução tem que ser igual para todos os corréus, o réu que manifestou recurso ou ofereceu outra forma de impugnação não pode ser prejudicado por aquele que se manteve silente, por isso prevalece a solução mais conservadora, que é privilegiar a vontade daquele que quis evitar a estabilização185.

Por outro lado, se o litisconsórcio é simples, a decisão pode ser diferente para cada um dos litisconsortes. É como se o autor houvesse ajuizado uma ação contra cada um deles separadamente.

Nesse caso, não faz sentido que aqui se faça uma interpretação extensiva da regra do art. 345, I, do CPC186, para fins de estender os efeitos da impugnação de um réu para os demais corréus. Tal dispositivo, é bom que se ressalte, diz respeito especificamente à confissão ficta, impedindo que se a reconheça em desfavor de um litisconsorte revel se o fato impugnado por outro litisconsorte for comum a ambos.

No litisconsórcio simples, todavia, a aplicação desse artigo é mitigada, pois, não sendo o fundamento da defesa comum aos litisconsortes, a impugnação de um não pode beneficiar o outro.

Em se tratando de procedimento antecedente de concessão de tutela antecipada, sendo simples o litisconsórcio, nada impede que um dos réus queira a estabilização e um outro não a entenda conveniente.

Nessa situação, como se tem mais de uma relação jurídica ou uma relação jurídica divisível, a solução deve ser individualizada: aquele que quer adotar uma postura “conciliatória” poderá aceitar a estabilização, ao passo que o outro litisconsorte seguirá adiante com o processo principal.

185 A título de curiosidade, cabe destacar o conteúdo do enunciado nº 501 do Fórum Permanente de

Processualistas Civis (FPPC), que diz respeito à impugnação apresentada pelo assistente simples: “A tutela antecipada concedida em caráter antecedente não se estabilizará quando for interposto recurso pelo assistente simples, salvo se houver manifestação expressa do réu em sentido contrário”.

Haverá, nesse caso, uma cisão do procedimento, de forma que a estabilização será efetivada em relação aos litisconsortes que a desejarem, e o litígio prosseguirá em formato de cognição exauriente para os que não se conformarem com a decisão liminar antecipatória.

Não há qualquer razão para obrigar um determinado litisconsorte a continuar litigando se ele deseja a estabilização, já que a situação jurídica discutida é divisível.

O propósito do art. 345, I, do CPC foi evitar o reconhecimento da confissão ficta de um dos litisconsortes caso ele se tornasse revel. Não há esse risco quando se trata da estabilização de tutela antecipada, pois não há confissão ficta aqui. A qualquer tempo, pode o réu que não ofereceu impugnação tempestivamente ajuizar ação de revisão para modificar, cassar ou anular a tutela antecipada estável, não havendo presunção de veracidade com relação a nenhum fato não impugnado no procedimento anterior.

Portanto, a solução, sendo simples o litisconsórcio, é admitir a estabilização com relação àqueles litisconsortes que não impugnaram a decisão, e dar seguimento ao processo quanto aos que ofereceram impugnação.

Por outro lado, se a decisão que deferir a tutela antecipada antecedente tiver vários capítulos e o réu impugnar apenas parte deles, os capítulos não impugnados serão estabilizados. Do mesmo modo, se for impugnada apenas uma fração numérica do capítulo da decisão, a fração não recorrida será estabilizada187.

Cada capítulo é materialmente uma decisão distinta. Se há capítulos não impugnados, é forçoso concluir, por força do art. 304, caput, do CPC, que a respeito deles será reconhecida a estabilização da tutela antecipada. O mesmo raciocínio se aplica ao recurso apresentado contra parcela de um capítulo (a decisão manda antecipar 100 e o recurso impugna apenas 60): a parcela não impugnada ficará estável.

Do mesmo modo, se houver deferimento apenas parcial da tutela antecipada e não houver recurso do réu quanto a esse deferimento, haverá estabilização com relação a essa parte e extinção do processo sem resolução do mérito (e sem estabilização, portanto) com relação à parcela do pedido negada (isso se não houver recurso do autor).

É importante observar que, negado, total ou parcialmente, o pedido de tutela antecipada, o autor poderá apresentar o pertinente recurso, que, no caso, será o agravo de instrumento, de forma que a parte recorrida constituirá objeto da ação de seguimento.

187 TALAMINI, Eduardo. Tutela de urgência no projeto de novo Código de Processo Civil: a

estabilização da medida urgente e a “monitorização” do processo civil brasileiro. Revista de Processo, vol. 209, ano 37. São Paulo: RT, julho/2012, p. 30.

Cabe destacar que Heitor Sica, embora concorde com a possibilidade de estabilização parcial, aponta, com relação a essa situação, um possível problema – que não parece existir. Trata-se, de acordo com seu entendimento, do risco de a decisão final sobre a parte não estabilizada ser desfavorável ao autor e, assim, ser produzida “certa contradição lógica (não jurídica) que é assumida como natural pelo sistema todas as vezes em que não há o simultaneus processus”188.

Analisando todas as possibilidades, não há esse risco.

Primeiro, porque, como há capítulos decisórios diferentes, provavelmente não haverá a tal incompatibilidade lógica entre a parte que foi estabilizada e a outra que continuou sendo discutida.

Ademais, caso haja de fato incompatibilidade entre as decisões relativas a ambos os capítulos – e, deve-se admitir, existe a possibilidade teórica de que isso ocorra –, a solução não é difícil de ser alcançada: ela se baseia na constatação de que uma decisão proferida sob cognição plena e exauriente irá sempre preponderar sobre a decisão estabilizada. Essa é a lógica que preside a própria previsão de uma ação plenária para rever a estabilização da tutela antecipada (art. 304, §§ 2º e 6º).

Portanto, se a decisão proferida sob cognição exauriente for contrária à decisão sumária objeto da estabilização, prevalecerá a primeira e a segunda será revogada. Não haverá conflito lógico, portanto, já que se cuida de normas jurídicas concretas de diferentes níveis hierárquicos.

5.11 COISA JULGADA MATERIAL, PRECLUSÃO E AÇÃO MONITÓRIA:

No documento Estabilização da tutela antecipada (páginas 128-131)