• Nenhum resultado encontrado

PRESSUPOSTOS PARA A OCORRÊNCIA DA ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA

No documento Estabilização da tutela antecipada (páginas 56-59)

4. DO PROCEDIMENTO DA ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA

4.1 PRESSUPOSTOS PARA A OCORRÊNCIA DA ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA

A doutrina vem debatendo a existência de pressupostos para a ocorrência da estabilização da tutela antecipada.

Dizem Fredie Didier, Rafael Alexandria e Paula Sarno que os pressupostos para a estabilização são basicamente quatro: a) o autor deve requerer a concessão de tutela provisória satisfativa em caráter antecedente (somente esta se estabiliza); b) o autor não deve manifestar, na petição inicial, sua intenção de dar prosseguimento ao processo (pressuposto negativo); c) deve haver prolação de decisão concessória da tutela antecipada antecedente; d) ausência de impugnação por parte do réu, litisconsorte passivo ou assistente simples87.

Os pressupostos das letras “c” e “d” acima são intuitivos e não requerem maiores divagações: é necessário que haja decisão deferindo a tutela antecipada antecedente (pois só ela pode ser objeto de estabilização) e é preciso também que o réu se abstenha de impugnar a referida decisão, pois a apresentação de impugnação prorroga a litispendência e leva o procedimento à fase de cognição exauriente.

Abaixo serão vistos os outros dois pressupostos.

87 DIDIER JR., Fredie; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de; BRAGA, Paula Sarno. Curso de Direito

4.1.1 Requerimento expresso do autor

Importante pressuposto é o requerimento expresso do autor no sentido de ver

estabilizada a tutela antecipada antecedente. Tal requerimento é necessário para que o

réu possa se posicionar adequadamente a respeito da tutela antecipada – caso haja o seu deferimento –, pois a conclusão de aceitar a decisão sumária e abdicar do direito ao recurso passa pelo conhecimento das intenções do autor quanto ao prosseguimento do processo rumo à cognição exauriente. Sabendo que o autor pretende conformar-se com a tutela antecipada e evitar o seguimento da demanda, será mais fácil ao réu aceitar a decisão desfavorável e deixar de recorrer.

Não fosse assim, o réu poderia abdicar de recorrer na expectativa de que o autor fosse conformar-se com a tutela provisória e, após, ver-se surpreendido pelo aditamento da inicial pelo requerente que, antes, não havia expressado seu propósito de dar continuidade à demanda.

Assim, por dever de informação e de lealdade processual, o autor tem que declarar expressamente que deseja a estabilização. Se não o faz, não poderá dela usufruir. Se requerer expressamente a estabilização, não poderá aditar a inicial e solicitar o prosseguimento do feito – o que, inclusive, configuraria venire contra factum

proprium –, sob pena de surpreender o réu e causar-lhe sério embaraço ao direito de

defesa.

O momento da postulação inicial, portanto, é de suma importância, pois é quando o autor deverá realizar a estratégica opção pela estabilização ou pela continuidade do processo, cada um desses caminhos com consequências processuais próprias que serão examinadas neste trabalho.

Há verdadeiro ônus de informação que pesa sobre o autor e tem por objetivo permitir que o réu avalie corretamente a conduta que deve adotar88.

Uma observação se faz necessária: não basta que o autor declare que deseja o procedimento de tutela antecipada antecedente, como entendem os referidos autores. É preciso que ele requeira expressamente a estabilização da tutela antecipada, uma vez que o procedimento antecedente pode ser usado não apenas por quem deseja a estabilização, mas também por quem apenas deseja maior celeridade na tramitação do

88 DI SPIRITO, Marco Paulo Denucci. “Adequações procedimentais para a tutela satisfativa antecedente

no Código de Processo Civil/2015”. In: DIDIER JR., Fredie; PEREIRA, Mateus; GOUVEIA, Roberto; COSTA, Eduardo José da Fonseca (coord.). Grandes temas do novo CPC, v. 6: tutela provisória. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 372.

pedido de tutela provisória ou está experimentando uma situação de elevada urgência, sem ter interesse na estabilização.

4.1.2 Pressuposto negativo: ausência de manifestação pelo prosseguimento do processo

O pressuposto negativo ora examinado é mera decorrência do primeiro pressuposto (requerimento expresso de estabilização). Se o autor requer a estabilização, é evidente que não poderá declarar também o intuito de que o processo prossiga rumo ao procedimento plenário e exauriente. São duas posturas incompatíveis. A estabilização da tutela provisória indica a satisfação do autor – e também do réu – com esta medida. Do mesmo modo, requerer a continuidade do processo significa que ao autor não satisfaz a estabilização.

Portanto, apesar de ser mero corolário do primeiro pressuposto, é importante que se reconheça a existência deste segundo pressuposto (negativo), que consiste na impossibilidade de manifestar, na petição inicial, interesse na continuidade do processo se deferida a tutela provisória. É evidente que o autor poderá aditar a inicial e requerer o prosseguimento do feito se a tutela provisória for indeferida, pois, nesse caso, o seu objetivo principal, que era a estabilização, acabou malogrado.

Chegar a conclusão diversa daquela que aqui é defendida poderia estimular posturas incoerentes e contraditórias do autor que acabariam por prejudicar o direito de defesa do réu.

Elaine Macedo não admite a existência desse segundo pressuposto, qual seja, a impossibilidade de o autor manifestar, na petição inicial, a intenção de dar prosseguimento ao processo, seguindo rito sob cognição exauriente.

Ela afirma que o autor que faz uso do procedimento especial aqui estudado não está dispensado de cumprir os demais requisitos do art. 303 do CPC-2015, que, segundo sua interpretação do aludido dispositivo, são: a) indicação do pedido de tutela final; b) exposição da lide principal; c) indicação do direito subjetivo que se busca realizar89.

Não parece ter razão a referida autora quanto à discordância acima apontada.

89 MACEDO, Elaine Harzheim. Prestação jurisdicional em sede de tutela antecedente: procedimento,

estabilização da decisão e decurso do prazo de 2 (dois) anos: um novo caso de perempção? Revista de Processo, vol. 250, ano 40. São Paulo: RT, dez/2015, p. 202.

Os motivos principais serão explicitados mais à frente (em tópico próprio), mas, de antemão, é possível antecipar que requerer a estabilização e, ao mesmo tempo, pretender o prosseguimento do processo é uma postura incoerente. A estabilização se faz possível, conforme defendido neste trabalho, se o autor abre mão do prosseguimento do feito.

A postura do requerente da medida deve ser clara: deve haver opção pela estabilização ou a manifestação da intenção de exaurir posteriormente a cognição. Permitir que o autor adote as duas opções causaria fundadas dúvidas no réu a respeito das verdadeiras intenções processuais do autor, o que poderia prejudicar o exercício escorreito do seu direito de defesa.

Ademais, haveria um grande inconveniente se se permitisse essa postura contraditória do autor: o réu, tomando conhecimento da intenção autoral de prosseguir com a demanda, sentir-se-ia estimulado a recorrer da decisão concessiva da tutela antecipada, evitando a estabilização.

Portanto, a manifestação inicial de interesse do autor no procedimento plenário constitui obstáculo intransponível à estabilização da tutela antecipada.

No documento Estabilização da tutela antecipada (páginas 56-59)