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PARTE I – A ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DO ATLÂNTICO NORTE

S. Longhand Draft Letter from President Harry Truman to Secretary of State James Byrnes President’s Secretary’s Files, Truman Papers January 5, 1946 Disponível em:

3. A Organização do Tratado do Atlântico Norte

3.1.2. Estados Parceiros

Outro elemento que reflete as alterações atravessadas pela OTAN após o fim da Guerra Fria é o sistema de parcerias estabelecido com diversos Estados, em áreas como Ásia central, Cáucaso e Mediterrâneo. Tal política seria ratificada como parte fundamental dos planos securitários da Aliança Atlântica em alguns dos seus mais importantes documentos estratégicos subsequentes. Ao longo da última década, ela seria, ainda, aprofundada pela aproximação da OTAN de regiões cada vez mais distantes da sua tradicional área de atuação99.

Formulado nos primeiros anos da década de 90100, o programa de parcerias desenvolver-se-ia no âmbito do recém-estabelecido Conselho de Cooperação do Atlântico Norte (NACC). Tal órgão promovia a realização de consultas recíprocas entre os antigos membros do Pacto de Varsóvia e a OTAN, sobre aspectos estratégicos residuais da Guerra Fria, como, por exemplo, a retirada das tropas russas dos Estados Bálticos. Em seu seio, era ainda prestado, àquele primeiro grupo de países, auxílio em matérias relativas à

97 De modo geral, OTAN. Bucharest Summit Declaration. April 2008. Considerandos 20, 23 e 24. Disponível em: <http://www.nato.int/cps/en/natolive/official_texts_8443.htm>. Acesso em: Setembro de 2015.

98 OTAN. Strategic Concept for the Defence and Security of the Members of the North Atlantic Treaty Organization. November 2010. Considerando 27. Doravante designado Conceito Estratégico de Lisboa. Disponível em: <http://www.nato.int/lisbon2010/strategic-concept-2010-eng.pdf>. Acesso em: Setembro de 2015.

99 Veja, p. ex., OTAN. The Alliance's Strategic Concept. 24 Apr. 1999. Considerandos 4, 9 e 10. Disponível em: <http://www.nato.int/cps/en/natolive/official_texts_27433.htm>. Acesso em: Setembro de 2015. 100 Confira OTAN. London Declaration on a Transformed North Atlantic Alliance. July 1990.

Considerando 2. Disponível em: <http://www.nato.int/docu/comm/49-95/c900706a.htm>. Acesso em: Setembro de 2015.

construção de relações entre as novas autoridades civis e militares, ao desenvolvimento de novos planos de defesa, dentre outras101. Mas por estar fundado no estabelecimento de relações multilaterais, o NACC não permitia o aprofundamento das relações entre a OTAN e cada um dos Estados parceiros originários. Em Janeiro de 1994, com o objetivo de sanar esta específica dificuldade, seria criado o programa Parcerias para a Paz (PFPs)102, permitindo a cada Estado parceiro progredir em suas cooperações bilaterais com a OTAN, de acordo com as respectivas necessidades e interesses estratégicos. Para além do desenvolvimento de instrumentos específicos viabilizadores de uma atuação operacional conjunta entre as forças aliadas e parceiras, as PFPs incluíam, em seu programa de cooperação, a possibilidade de um Estado participante consultar-se com a Aliança, quando julgasse estar diante de ameaças à sua independência política ou integridade territorial103.

A crescente interação operacional entre os Estados participantes e as forças militares da Aliança Atlântica, logo revelaria a necessidade de possibilitar àquele primeiro grupo uma maior participação no processo de planejamento das missões conjuntas. De forma a atingir estes objetivos, o Conselho de Cooperação do Atlântico Norte seria substituído, em 1997, pelo Conselho de Parceria Euro-Atlântica (EAPC), integrado, atualmente, por um total de 50 países.

Mas o sistema de parcerias não se limita, somente, às PFPs, tendo sido igualmente desenvolvidos outros programas semelhantes. Dirigidos a áreas geográficas específicas, eles buscavam não apenas desenvolver alguma interação operacional entre as forças armadas locais e àquelas pertencentes à Aliança Atlântica, mas, exercem – ou exerceram – funções de relações públicas, promovendo, junto a determinados governos, esclarecimentos sobre as funções e atividades perseguidas pela Aliança Atlântica após a

101 WEAVER, Robert. NATO’s Evolving Partnerships: Building security trough partnership. In NATO Review. Vol. 49, nº 03 (2001). Disponível em: <http://www.nato.int/docu/review/2001/0103-01.htm>. Acesso em: Setembro de 2015.

102 As PFPs são “a practical programme of military cooperation and assistance tailored to the individual needs

of each participating country, designed initially to help establish democratic control over armed forces, assist the military reform process and help develop NATO-compatible militaries”. BENNETT, Cristopher.

Building Effective Partnerships. In NATO Review. Autumn 2003. Disponível em: <http://www.nato.int/docu/review/2003/NATO-Strategic-Partners/Building-effective-

partnerships/EN/index.htm> Acesso em: Setembro de 2015.

103 WEAVER, Robert. NATO’s Evolving Partnerships: Building security trough partnership. In NATO Review. Vol. 49, nº 03 (2001). Disponível em: <http://www.nato.int/docu/review/2001/0103-01.htm>. Acesso em: Setembro de 2015.

Guerra Fria104. A primeira destas iniciativas verificou-se também em 1994, com o estabelecimento do Mediterranean Dialogue e, mais recentemente, com o Istanbul

Cooperation Initiative.

O programa de parcerias, muito particularmente as PFPs, acabou por se revelar exitoso para a Aliança Atlântica. Por um lado, ele possibilitou que Estados parceiros contribuíssem para as missões OTAN nos Balcãs em meados da década de 90, seja por meio do fornecimento de tropas, equipamentos ou recursos. Ademais, desempenharam um papel importante após os atentados de 11 de Setembro de 2001, a partir dos quais a OTAN se outorgaria um âmbito de atuação alargado. Neste sentido, durante a Cimeira de Praga, seria aprovado o Partnership Action Plan Against Terrorism, que fornecia o quadro estratégico necessário para que os Estados parceiros interessados pudessem somar forças com a Aliança em suas iniciativas de combate ao terrorismo105. É interessante notar, a este respeito, que se o programa de parcerias acrescenta pouco às capacidades militares da OTAN, ele fornece, seguramente, uma maior aparência de legitimidade às operações militares aliadas, especialmente quando elas não possuem fundamento jurídico sólido.

Atualmente, 22 Parceiros encontram-se ligados a Aliança Atlântica por meio das PFPs ou pelo EAPC: Armênia, Áustria, Azerbaijão, Bielorrússia, Bósnia Herzegovina, Finlândia, Macedônia, Geórgia, Irlanda, o Cazaquistão, Quirguistão, Malta, Moldova, Montenegro, Sérvia, Suécia, Suíça, Tajiquistão, Turcomenistão, Ucrânia, Uzbequistão e Rússia106.

Encontramos, ainda, 7 Estados parceiros (Argélia, Egito, Israel, Jordânia, Mauritânia, Marrocos e Tunísia) no âmbito do Diálogo do Mediterrâneo; 4 no Istanbul

Cooperation Initiative (Bahrein, Catar, Kuwait e Emirados Árabes Unidos); e, outros 4,

designados por ‘Contact Countries’ (Austrália, Japão, Coréia do Sul e Nova Zelândia) que

104 BIN, Alberto. Enhancing NATO's Mediterranean Dialogue. In NATO Review. February 2003. Disponível em: <http://www.nato.int/docu/review/2001/0103-01.htm>. Acesso em: Setembro de 2015.

105 OTAN. Partnership Action Plan Against Terrorism. November 2002. Disponível em: <http://www.nato.int/cps/en/natohq/official_texts_19549.htm?selectedLocale=en>. Acesso em: Setembro de 2015.

106 A Rússia é considerada um Estado parceiro desde 1991. Todavia, as relações NATO-Rússia se encontram, atualmente, suspensas. OTAN. NATO’s Relations with Russia. November 2015. <http://www.nato.int/cps/en/natolive/topics_50090.htm>. Acesso em: Dezembro de 2015.

participam ativamente no âmbito da International Security Assistance Force (ISAF), no Afeganistão.

A Aliança Atlântica conta, portanto, com um total de 37 Estados parceiros.