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PARTE I – A ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DO ATLÂNTICO NORTE

S. Longhand Draft Letter from President Harry Truman to Secretary of State James Byrnes President’s Secretary’s Files, Truman Papers January 5, 1946 Disponível em:

5. Novos Caminhos Após a Guerra-Fria

5.3.1. IFOR/SFOR

A paz na Bósnia somente seria alcançada em Dezembro de 1995, quando, em resposta a um massacre ocorrido em Sarajevo, seria iniciada a Operation Deliberate Force. Coordenando o poder aéreo da Aliança Atlântica com uma força de reação rápida (composta por forças francesas, inglesas e holandesas) atuando sob a bandeira da UNPROFOR, tal operação imporia sobre os bósnios de origem sérvia o General Framework

Agreement, mais conhecido como Acordo de Daitona – que, celebrado entre os governos

da Bósnia Herzegovina, Croácia e antiga República da Iugoslávia, punha termo ao conflito que já se arrastava por mais de três anos205.

O Acordo de Daitona se caracteriza por estabelecer previsões normativas em duas grandes áreas. A primeira delas versava, de modo geral, sobre a própria ‘construção’ do Estado Bósnio, regulando questões relativas à realização de eleições, atribuindo-lhe uma Constituição nacional e, ainda, definindo critérios para a consolidação de um sistema político viável, multiétnico e estável206. Por outro lado, em uma segunda frente normativa, o Acordo estabelece medidas de natureza militar, abrangendo aspectos relacionados à cessação de hostilidades bélicas e a retirada de divisões armadas estrangeiras, a serem obrigatoriamente observadas por todos os Estados signatários. De forma a garantir o cumprimento destas medidas, as Partes convidam o CSNU a estabelecer uma

Implementation Force (IFOR), composta, exclusivamente, pelos Estados membros e

parceiros da Aliança Atlântica, e sujeita, em todo caso, à autoridade política do NAC207. A IFOR seria formalmente estabelecida em 15 de Dezembro daquele ano, pela Resolução 1031 do CSNU, um dia após a celebração do Acordo de Daitona. Atuando com

205 GAZZINI, Tarcisio. NATO Coercive Military Activities in the Yugoslav Crisis (1992-1999). In European Journal of International Law. Vol. 12, nº 03 (2001), pp. 401-404. Aproveitando-se dos resultados obtidos pela Operation Deliberate Force, forças bósnias e croatas tomariam a cidade de Krajina, reduto sérvio na Croácia e que era, então, anexada pela força. O Professor James Mayall ensina a respeito, que a Conferência de Paz realizada em Daitona, nos EUA, foi facilitada “by the United States and its allies turning

a blind eye to Croatia's ethnic cleansing of Krajina”. Ainda segundo esta doutrina, após o Acordo de Paz de

Daitona, “there was little further debate about the rights and wrongs of humanitarian intervention, or

indeed about its practicability. Western publics – it was said – were suffering from compassion fatigue”. Em

todo caso, o debate seria retomado após a realização da controversa Operation Allied Force, no primeiro semestre de 1999. Confira AYALL, James. The Concept of Humanitarian Intervention Revisited. In THAKUR, Ramesh; SCHNABEL, Albrecht (edts). Kosovo and the Challenge of Humanitarian Intervention: Selective indignation, collective action, and international citizenship. Tokyo: United Nations University Press, 2000, p. 320. Veja ainda CROÁCIA; FRY; e BÓSNIA-HERZEGOVINA. General Framework Agreement. De 14 de Dezembro de 1995. Doravante designado Acordo de Daitona. Disponível em: <http://www.nato.int/ifor/gfa/gfa-home.htm>. Acesso em: Setembro de 2015.

206 Confira, p. ex., os Anexos 1B, 2, 3, 4, 5, 6, dentre outros, do Acordo de Daitona. 207 Confira o Anexo 1A do Acordo de Daitona.

os poderes que o capítulo VII da Carta lhe confere, o Conselho chancelava a nova força multinacional, autorizando-a a fazer uso da força armada sempre que assim fosse indispensável para o cumprimento da sua missão208. Seus poderes coercitivos, em conjunto com a atribuição de um mandato consideravelmente amplo, justificam a classificação da IFOR como uma “peace support operation”. Trata-se de designação própria da Aliança Atlântica, utilizada em referência às operações de paz que, compreendendo ampla gama de missões, realizam atividades em áreas “ranging from conflict prevention

activities, peacemaking, peacekeeping, humanitarian aid missions and peacebuilding, to peace enforcement, ‘using military means to restore peace in an area of conflict under Chapter VII of the UN Charter209’”.

Após servir na Bósnia-Herzegovina pelo período de um ano, e alcançado, com sucesso, todos os aspectos militares do Acordo de Daitona, a IFOR seria substituída pela

Stabilization Force (SFOR), tendo por objetivos preservar e consolidar as atividades

implementadas pela IFOR. Além disso, continuaria a garantir a estabilidade necessária para que os organismos responsáveis por realizar os demais dispositivos do Acordo pudessem continuar a desempenhar suas funções de forma regular210. Assim, a SFOR prestaria auxílio a entidades como a OSCE, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), a International Police Task-Force (IPTF) e o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII), colaborando em áreas tão distintas como o apoio logístico para a realização de eleições nacionais ou capturando indivíduos indiciados por crimes de guerra211.

208 CSNU. Resolution 1031. 15 December 1995. Considerandos 13-18. Disponível em: <http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=S/RES/1031(1995)>. Acesso em: Novembro de 2015.

209 BUTLER, Nicola. NATO: From collective defense to peace enforcement. In THAKUR, Ramesh; SCHNABEL, Albrecht (edts). Kosovo and the Challenge of Humanitarian Intervention: Selective indignation, collective action, and international citizenship. Tokyo: United Nations University Press, 2000, p. 275. Veja também OTAN. MC 327: Defining NATO’s Peace Support Operations. In CHILTON, Patricia; NASSAUER, Otfried; PLESCH, Dan. NATO, Peacekeeping and the United Nations. London: British American Security Information Council, 1994, p. 22.

210 Confira SCHULT, Gregory L. Bringing Peace to Bosnia and Change to the Alliance. In NATO Review. Vol. 45, nº 02, (1997). Disponível em: <http://www.nato.int/docu/review/1997/9702-6.htm>. Acesso em: Março de 2011; e CSNU. Resolution 1088. 12 December 1996. Disponível em: <http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=S/RES/1088(1996)>. Acesso em: Novembro de 2015.

211 Confira OTAN. History of the NATO-led Stabilization Force (SFOR) in Bosnia and Herzegovina. Disponível em: <http://www.nato.int/SFOR/docu/d981116a.htm>. Acesso em: Março de 2011. Veja, ainda, CLARK, Wesley. Building a Lasting Peace in Bosnia and Herzegovina. In NATO Review. Vol. 46, nº 01 (1998). Disponível em: <http://www.nato.int/docu/review/1998/9801-06.htm>. Acesso em: Março de 2011. Segundo o

Em Dezembro de 2004, a SFOR seria substituída pela European Military Force (EUFOR). Embora a missão tenha continuado sob a autoridade da OTAN, ela passou a ser exercida exclusivamente pelo pilar europeu da Aliança Atlântica, através da Política Europeia de Segurança e Defesa (atual Política Comum de Segurança e Defesa).