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UM ESTUDO SOBRE O USO DE MATERIAIS PEDAGÓGICOS DE APOIO PARA ENSINO DE GEOMETRIA E EXPRESSÕES

2 ESTRATÉGIAS DE ENSINO E A RELAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ESTUDANTE

A qualidade no ensino é um tema recorrente entre os profissionais da educação que buscam maneiras de melhorar o aproveitamento dos estudantes diante de novos conteúdos. Pesquisam-se diferentes estratégias para que haja uma boa compreensão e a construção do conhecimento aconteça de forma significativa e prazerosa.

Cada professor desenvolve seus métodos de forma particular e os aplica a diferentes turmas de estudantes, que trazem consigo realidades externas à escola, o que gera uma multiplicidade de pensamentos, sentimentos, emoções e experiências de vida que interferem ou até definem o nível de desenvolvimento do indivíduo. Cabe ao professor tentar equalizar essas diferenças nas turmas, conhecer sua realidade e a partir daí definir as diferentes estratégias que utilizará em cada uma delas.

Considerando os diferentes grupos de estudantes e a realidade que cada indivíduo traz consigo para a sala de aula, o professor acaba, através do convívio, conhecendo ao menos parte da realidade de cada um deles e, mesmo que intuitivamente, adapta o método a ser utilizado, pois, segundo Mizukami (1986, p. 78).

O professor deve conviver com os alunos, observando seus comportamentos, conversando com eles, e realizar, também com eles, suas experiências, para que possa auxiliar sua aprendizagem e desenvolvimento. (...) O aluno deve ser tratado de acordo com as características estruturais próprias de sua fase evolutiva e o ensino precisa, consequentemente, ser adaptado ao desenvolvimento mental e social.

A adaptação do conteúdo aos diferentes níveis de desenvolvimento mental do estudante parece ser algo mais tangível, pois o que se espera é que haja um nivelamento de acordo com a faixa etária de cada grupo. Em contrapartida, a adaptação ao nível social requer a resposta ao convívio e a observação do docente às diferentes realidades presentes em sala de aula. Estudos desenvolvidos pela psicologia da educação mostram que algumas estratégias podem ser aplicadas a diferentes grupos de estudantes, independentemente da realidade social ou de seu desenvolvimento mental.

O trabalho em grupos, por exemplo, se faz fundamental para o desenvolvimento intelectual do indivíduo, pois é através da interação social e da

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partilha de ideias, informações, responsabilidades e decisões que o desenvolvimento operatório acontece. No grupo, cada indivíduo percebe que existe uma lógica de pensamento, pois os outros integrantes servem como nivelamento, um certo controle dessa lógica e cada um começa a aprender as conveniências sociais. Desde o grupo familiar até o convívio com os colegas em sala de aula, é nos agrupamentos que se começa a superar o egocentrismo, que é natural do ser humano, e também acontece a compreensão dos 'mecanismos sociais', do respeito pelos outros, por suas opiniões, pontos de vista e iniciam-se as trocas de ideias. (MIZUKAMI, 1986).

Quando os estudantes estão desenvolvendo atividades em grupos, o professor tem uma excelente oportunidade para analisar o comportamento, o nível de interação individual, o interesse pela atividade e a participação dos integrantes para atingirem o objetivo proposto. É também o momento para fazer as intervenções necessárias para que haja um bom aproveitamento da atividade e que esta seja um instrumento para o desenvolvimento de potencialidades, pois, de acordo com Libâneo (2013, p. 275).

O professor não apenas transmite uma informação ou faz perguntas, mas também ouve os alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a expressar-se, a expor opiniões e dar respostas. O trabalho docente nunca é unidirecional. As respostas e opiniões dos alunos mostram como eles estão reagindo à atuação do professor, às dificuldades que encontram na assimilação dos conhecimentos. Servem, também, para diagnosticar as causas que dão origem a essas dificuldades.

Situações de interação entre professor e estudante possibilitam ao docente fazer esse movimento de intervenção, busca de respostas e análise de como o grupo está se desenvolvendo. Diante disso, definir estratégias e atividades que tornem as situações de interação possíveis pode ser uma boa vertente para o professor que pretende alcançar seus objetivos no processo de ensino.

A interação que ocorre em sala de aula é um reflexo da que ocorre entre o estudante e o meio em que convive. A bagagem de conhecimento que é trazida por ele é fruto de sua interação com o mundo, aonde as informações vão sendo adquiridas, "se inter-relacionam e se sucedem" até se estabilizarem ao atingirem estágios de inteligência com maior mobilidade (LIBÂNEO, 2013).

Fazer uma investigação sobre o meio em que determinada comunidade escolar está inserida e utilizar essas observações para nortear o trabalho, pode gerar instrumentos para que o professor atue em consonância com esse grupo,

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melhorando sua relação com os estudantes e consequentemente trazer resultados positivos.

Embora não exista receita definida ou um guia de passo a passo explicando como atuar na atividade docente, pois ela envolve muito mais que simples orientações ou conhecimentos técnicos, alguns estudos podem ajudar o professor na escolha de suas estratégias. Segundo Moysés (1997, p. 9):

Muitas são as áreas do conhecimento chamadas a dar sua contribuição nesse sentido. A da psicologia da educação é uma delas. O conhecimento teórico que nela vem se acumulando ao longo dos anos sobre os processos de aprender e ensinar encerra inúmeras sugestões para se alcançar essa melhoria. E mais: em um processo dinâmico, aponta sugestões, também, para o campo da pesquisa pedagógica, encaminhando, assim, novas buscas.

Existem pesquisas realizadas pelas áreas da psicologia da educação com o intuito de orientar aquele professor que procura se aperfeiçoar e utilizar novas estratégias de ensino e materiais que possam melhorar o desenvolvimento do estudante. Essas pesquisas podem aumentar as chances de se ter objetivos alcançados e pode também incentivar o avanço por este campo, possibilitando assim, novas descobertas.

As pesquisas no campo da psicologia da educação oferecem interpretações e olhares distintos sobre o assunto. Autores apresentam seus pontos de vista diferentes e às vezes conflitantes, o que pode levar o profissional de educação a desconfiar ou até duvidar de sua validação. Zabala (1998, p. 33), observa que:

Durante este século, os marcos teóricos que buscam explicar os processos de ensino / aprendizagem têm seguido trajetórias paralelas, de forma que atualmente não existe uma única corrente de interpretação destes processos. Esta falta de acordo ou consenso científico levou a que muitos educadores menosprezassem a informação que os estudos de psicologia da aprendizagem lhes ofereciam. Esta desconfiança, justificada por argumentos de falta de rigor ou da própria falta de acordo, semeou o ceticismo a respeito das contribuições desta ciência, fato que implicou, na prática, a manutenção de formas tradicionais de atuação na aula.

A existência de mais que uma corrente psicológica trazendo diferentes interpretações sobre ensino / aprendizagem e os processos que estão aí envolvidos mostra sua relevância. As pesquisas realizadas abordando diferentes pontos de vista, por mais que sejam conflitantes, promovem discussões acerca do assunto e mostram que existem pessoas preocupadas em agregar mais qualidade a este processo, assim como a preocupação por parte destes estudiosos em desenvolver estes campos de pesquisa. Ter conhecimento das diferentes correntes psicológicas

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e teóricas e suas implicações é fundamental para o desenvolvimento de um trabalho que possa conduzir o estudante a um aprendizado significativo, pois as pesquisas convergem para esse fim. Ainda de acordo com Zabala (1998, p. 34):

Faz mais de cem anos que existem estudos e trabalhos experimentais sobre os processos de aprendizagem; nosso conhecimento do tema é suficientemente exaustivo e profundo para podermos estar seguros de muitas coisas. O fato de que não exista uma única corrente psicológica, nem consenso entre as diversas correntes existentes, não pode nos fazer perder de vista que há uma série de princípios nos quais as diferentes correntes estão de acordo: as aprendizagens dependem das características singulares de cada um dos aprendizes; correspondem, em grande parte, às experiências que cada um viveu desde o nascimento; a forma como se aprende e o ritmo da aprendizagem variam segundo as capacidades, motivações e interesses de cada um dos meninos e meninas; enfim, a maneira e a forma como se produzem as aprendizagens são o resultado de processos que sempre são singulares e pessoais. São acordos e conclusões que todos nós, educadores, constatamos em nossa prática e que, diríamos, praticamente são senso comum.

Nota-se que o fato de conhecer o grupo com o qual se trabalha e na medida do possível cada elemento desse grupo, suas características e peculiaridades é de fundamental importância para a definição de estratégias que possam levar a um bom aproveitamento e compreensão do conteúdo. Apresentar atividades que envolvam a atuação do estudante, provocar debates e organizar trabalhos em grupos são ferramentas que o professor pode utilizar para observar comportamento, interesse, nível de comprometimento e até mesmo o despertar de lideranças.

Naturalmente, conhecer as individualidades de cada grupo leva o professor a uma aproximação maior, uma empatia que facilita suas intervenções nos processos de ensino / aprendizagem, pois pressupõe-se que esses processos acontecem através da associação dos novos conhecimentos, apresentados pelo professor, com aqueles já existentes, que o professor vai captando durante o convívio com seus estudantes. Quanto maior for a correspondência entre o novo e o previamente conhecido, mais significativo se torna o aprendizado. Corroborando com isto, Zabala (1998, p. 37) diz:

Agora, para que este processo se desencadeie, não basta que os alunos se encontrem frente a conteúdos para aprender; é necessário que diante destes possam atualizar seus esquemas de conhecimento, compará-los com o que é novo, identificar semelhanças e diferenças e integrá-las em seus esquemas, comprovar que o resultado tem certa coerência etc. Quando acontece tudo isto – ou na medida em que acontece – podemos dizer que está se produzindo uma aprendizagem significativa dos conteúdos apresentados.

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O que se percebe é que a construção da aprendizagem significativa está ligada de forma intrínseca com a associação entre conhecimento prévio e conteúdo a ser aplicado, o que sugere certo protagonismo do estudante que, orientado pelo professor, vai fazer uso daquilo que já conhece para poder seguir rumo ao novo. O papel do professor vai além da apresentação do conteúdo. Ele é ativo e vai apresentar situações para que o estudante conheça seus potenciais e faça uso deles, na busca do conhecimento, pois “o papel do educador está em criar condições para que o educando aprenda e se desenvolva, de forma ativa, inteligível e sistemática.” (LUCKESI, 1994, p. 119).

Percebe-se o quão importante se faz a atuação do educador no decorrer do processo pois, seja qual for a estratégia escolhida, é por seu intermédio que as condições necessárias para que o aprendizado aconteça são concretizadas. Embora esta pesquisa evidencie a relação entre professor e estudante por meio da correlação com a realidade, há de se salientar que o olhar voltado para a estrutura interna de cada conteúdo, independente desta correlação, é relevante para desenvolver um tipo de raciocínio diferente daquele em que se associa propositadamente um conteúdo a situações reais, pois outro tipo de correlação pode acontecer naturalmente. Zabala (1998, p. 40) mostra que:

Todo conteúdo, por mais específico que seja, sempre está associado e portanto será aprendido junto com conteúdos de outra natureza. Por exemplo, os aspectos mais factuais da soma (código e símbolo) são aprendidos juntos com os conceituais da soma (união e número), com os algorítmicos (cálculo mental e algoritmos) e os atitudinais (sentido e valor). Percebe-se que observar a estrutura interna da matemática e apresentá-la ao estudante também por este prisma pode levá-lo a fazer certas correlações por conta própria, estimulando sua autonomia. Contudo, associar os conteúdos escolares à vivência cultural, natural e social o levará a entender que a escola não é um oásis de conhecimento, mas está inserida na sociedade e aquilo que aprende faz parte de seu cotidiano. Desperta o senso de observação, crítica e realidade, que o preparam para o convívio social.

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3 A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO ATRAVÉS DE JOGOS