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2. Contexto dos territórios da Chapada Diamantina e Morro do Chapéu

2.5 Estrutura do patrimônio cultural na Chapada Diamantina

Diante da intensificação da influência do poder econômico e das transformações nos modos de vida da população ao longo dos últimos séculos, cabem breves considerações sobre como o Estado, através da política cultural, atua para a valorização das manifestações cultuais expressas no território de identidade da Chapada Diamantina. Para isso, utilizamos as informações organizadas em relatório preliminar da pesquisadora Joana Horta (2015) para o INRC-CD.

Este material considerava que o território configurava-se como um dos mais dinâmicos do Estado da Bahia no campo cultural, tanto por conta da diversidade das manifestações, quanto pela capacidade de proposição de projetos e atração de recursos financeiros. “Esta diversidade corre eminente risco frente aos desafios impostos pela globalização e exige mobilização e ação dos atores sociais e públicos das diversas esferas do poder” (HORTA, 2015 p. 7). Isso porque a fragilidade institucional a qual estão expostas as localidades fazem com que os elementos materiais e imateriais estejam sobre a constante ameaça de sujeição aos distintos atores de mercado internacional que possam ser atraídos pela oferta de recursos. Na conjuntura atual, os recursos naturais, a exemplo da água, insolação, ventos e minérios depositados no território são as maiores fontes de atração de interesses externos.

A pesquisadora do INRC-CD considerava que o poder público não atendia a totalidade das demandas pela valorização das diversas expressões culturais. “No entanto, entende-se que a população do território segue expressando suas tradições, valores, modos de ser e fazer, sustentações de sua identidade e sua cultura, como um movimento de resistência ou 'circularidade cultural'” (HORTA, 2015, p. 30), parafraseando o conceito cunhado pelo historiador italiano Carlo Ginzburg (2006, p. 18). Para Horta (2015, p. 30), “afirmar que a cultura do território é subjugada frente às novas dinâmicas que se impõem não se presta a aceitar a 'dicotomia cultural', mas a compreender a opressão do poder econômico frente à cultura local”.

Para a identificação das ações do poder público do campo cultural relacionado diretamente ao patrimônio cultural no território utilizamos as subdivisões “sítios arqueológicos”, “patrimônio cultural material” e “comunidades identitárias e tradicionais”, termos que já foram identificados em relatórios e informativos dos órgãos públicos da cultura e elaborados enquanto o pesquisador desta tese estava na representação da SecultBA na Chapada Diamantina. Na época estes eixos foram compreendidos como aqueles nos quais haviam significativas ações direcionadas a partir do poder público.

A Superintendência do Iphan na Bahia reconhece o potencial da arqueologia pré-histórica da Chapada Diamantina e exalta a concentração dos sítios identificados e estudados na região logo na página inicial do sítio da regional da autarquia na internet.

Atualmente a política estadual também identifica no território diversas culturas identitárias. Não só o volume de comunidades quilombolas reconhecidas é considerável, como também o fato do território possuir quatro territórios quilombolas demarcados, todos no município de Seabra. “Dos diversos grupos indígenas que ocupavam a região antes das entradas dos colonizadores, identifica- se um principal grupo de remanescentes indígena Payayas, cuja ocupação se estende praticamente em todo o território, mas, principalmente no município de Utinga” (HORTA, 2015, p. 30).

A pesquisadora do INRC-CD considerou que as políticas de proteção ao patrimônio histórico e cultural encontram no território um vasto campo para a realização de ações. A Chapada Diamantina está entre aqueles do Estado Bahia com maior volume de bens tombados pelo Estado e União, no entanto, as iniciativas de apoio são escassas, tendo em vista a diversidade do patrimônio cultural e o volume de processos de registro ou tombamento ou de bens que possuem potencial para tal.

Somando-se os tombamentos do IPAC, do IPHAN e um tombamento municipal no município de Palmeiras, o território possui 29 bens materiais tombados ou em processo de tombamento. A tabela de bens tombados, por município, sítio e órgão, nos territórios de identidade Chapada Diamantina pode ser identificada a seguir.

A espacialização do patrimônio cultural do território também pode ser representada por meio do mapa a seguir.

Figura 11: Mapa do patrimônio cultural edificado e arqueológico do território de identidade da Chapada Diamantina. Elaboração: SENAC, 2014. Fonte: Ipac, Iphan e UFBA.

Os municípios de Andaraí, Lençóis, Mucugê e Rio de Contas produziram legislações para criarem os fundos municipais para o patrimônio cultural, requisito para acessar o programa “Monumenta/Iphan” ou “BID/Monumenta”, criado pelo governo federal, em colaboração com o BID e a Unesco. Já Morro do Chapéu publicou, em abril de 2013, a Lei Municipal 1.002. A norma dispõe sobre “a proteção, preservação e promoção do patrimônio cultural no município [e] especifica as diretrizes para a realização de tombamentos, inventariados e registros” (HORTA, 2015, p. 33). Com a lei, o município criou o Departamento Municipal de Defesa do Patrimônio, subordinado à Secretaria Municipal de Cultura.

Principal mecanismo de consulta popular do sistema estadual de cultura, as conferências de cultura mais recentes realizadas na Chapada Diamantina ocorreram em 2013. As etapas municipais culminaram na Conferência Territorial de Cultura da Chapada Diamantina, realizada em Lençóis, em agosto de 2013, resultando na elaboração de sete propostas para o fortalecimento da cultura e das políticas para o setor no território. Entre as prioridades estabelecidas pela conferência territorial para a cultura da Chapada Diamantina estavam o “mapeamento em parceria com a comunidade e salvaguarda do patrimônio material e imaterial do território, com valorização das estradas reais, dos terreiros de jarê (e todas as demandas já priorizadas nas conferências anteriores) além de educação patrimonial de forma continuada” (MORENDE, 2015, p. 14).

De acordo com o relatório preliminar para o INRC-CD, os investimentos feitos pelo Iphan no território não se encontravam consolidados. Alguns dos projetos de inventariado das referências culturais do território foram aqueles relativos aos saberes tradicionais dos municípios Rio de Contas e Mucugê. Identifica-se ainda o investimento de R$ 250 mil, para a instalação da Casa do Patrimônio no município de Lençóis. No campo do patrimônio material, foi possível apurar que até 2008 o Monumenta/Iphan investiu R$ 8,23 milhões no município de Lençóis. “A maior parte dos recursos se destinou à restauração de edifícios históricos, vias públicas e monumentos, como os prédios da prefeitura, da biblioteca e do arquivo público, a ponte sobre o rio Lençóis, a avenida Nosso Senhor dos Passos e a igreja de Nossa Senhora do Rosário” (HORTA, 2015, p. 39). Outros R$ 2,68 milhões foram aplicados na recuperação de imóveis privados (IPHAN, 2008).

A breve análise considerou limitada não só a atuação dos atores públicos para o desenvolvimento cultural da Chapada Diamantina, mas mostra também o quanto os avanços conquistados eram frágeis frente às mudanças nas gestões. Um exemplo é o enfraquecimento dos elementos dos sistemas públicos de culturas – a exemplo das conferências, órgãos gestores, fundos de recursos, conselhos e planos de cultura – a partir das crises econômicas nos últimos anos, que contribuíram para frear a institucionalização das políticas culturais na escala municipal do território.

3. Política do patrimônio cultural e ambiental na