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exportações do agronegócio

No documento O-MUNDO-RURAL-2014 (páginas 152-156)

O passado recente pode mostrar sinais do que pode acontecer num futuro próximo. Por isso, é importante analisar os dados das exportações. Pela Figura 1, pode-se visualizar o comportamento do valor das exportações e das importações totais brasileiras e do agro- negócio, em particular para o período de 1989 a 2013.

Figura 1. Evolução anual da balança comercial brasileira e do agronegócio no período de 1989 a 2013 (em US$ bilhões).

Fonte: AgroStat (2014).

Até o ano 2004, o Brasil era um país fechado ao comércio internacional. O valor das exportações, em valores nominais, foi de apenas US$ 34,4 bilhões em 1989, apenas supe- rando os US$ 100 bilhões em 2005 e atingindo a US$ 200 em 2010. O recorde foi em 2011, com US$ 256 bilhões. Nos últimos dois anos (2012 e 2013), as exportações totais brasileiras situaram-se em posição levemente superior a US$ 242 bilhões.

Desempenho melhor ocorreu com as exportações dos setores do agronegócio. No ano de 1989, suas exportações atingiram a apenas US$ 13,9 bilhões, fechando em 2013 em valor muito próximo de US$ 100 bilhões. A participação das exportações do agronegócio em comparação com as exportações totais situou-se próximo dos 40%, e indicando certa

constância. Podia-se esperar que, com o desenvolvimento global do País, as exportações, principalmente as agrícolas, perdessem sua posição de participação, o que não ocorreu. Isso indica seu dinamismo, por um período relativamente longo, que se estende até os nossos dias.

A Figura 2 mostra a contribuição do agronegócio na balança comercial brasileira. Somando-se os valores em superávit comercial do setor, no período de 1989 a 2013, o saldo acumulado atingiu US$ 797,1 bilhões (linha azul), enquanto, nos demais setores (indústria e serviços), o déficit acumulado somou US$ 417,0 bilhões. Do ponto de vista macroeconô- mico, não há dúvidas de que o agronegócio contribuiu significativamente para o equilíbrio das contas externas. Sem seu desempenho, os choques externos teriam alcançado maior impacto, reduzindo até mesmo o próprio crescimento econômico global. As projeções sobre as exportações do setor, a serem apresentadas em outro capítulo, serão importantes para prevenir choques externos que comprometam o crescimento econômico do País.

Figura 2. Saldo acumulado de divisas do agronegócio e demais setores da economia, no período de 1989 a 2013 (em US$ bilhões).

Figura 3. Produção, exportações e consumo interno dos principais grãos (em milhões de toneladas).

Fonte: AgroStat (2014).

Na Figura 3, são apresentados dados de produção, consumo interno e exportações dos principais grãos, nas safras de 1996/1997 até 2012/2013. Naturalmente, o consumo interno tem-se mantido, quase sempre como prioridade nas políticas de governo, mas os dados mostram que a participação das exportações, que, no primeiro período, era de 25,9%, subiu para 48,1%, ou seja, de pouco mais de ¼ para quase a metade da produção destinou-se às exportações. Esses dados reforçam a tese de que as exportações têm sido o fator fundamental da dinâmica de crescimento do agronegócio brasileiro.

Se a economia brasileira tivesse permanecido fechada, o agronegócio teria perdido sua dinâmica e, consequentemente, diminuiria sua eficiência, particularmente no que concerne à adoção de novas tecnologias. Possivelmente teria ocorrido um “freio” na mo- dernização da agricultura, conforme tese de Ruy Miller Paiva, por causa da incapacidade de crescimento do setor não agrícola, a taxas suficientes para absorver o adicional gerado na produção agrícola a preços constantes, além da não incorporação de mão de obra, liberada pela modernização da agricultura (SCHUH, 1973). As crescentes exportações do agronegó- cio ocorridas nos últimos anos eliminaram esse risco. Recentemente, a crescente demanda externa elevou os preços internacionais das principais commodities, criando condições de rentabilidade para o setor.

Figura 4. Os dez maiores compradores do agronegócio brasileiro em 1997 e seus volumes de compra em 1997, 2000 e 2013 (em milhões de dólares).

Fonte: AgroStat (2014).

Na Figura 4, são apresentados os dez países maiores compradores do agronegócio brasileiro, em milhões de dólares americanos. Comparando os dados de 2013 com os da- dos dos demais anos, observa-se um crescimento para todos os países, mas o que chama a atenção são as importações do agronegócio brasileiro realizadas pela China, que atingiram a importância de quase US$ 23 bilhões, enquanto, em 2000, essas importações somaram apenas US$ 562 milhões.

A China é o fato novo que merece muita reflexão, inclusive para o futuro. Sua popu- lação (de mais de 1,3 bilhão de pessoas), seu prolongado crescimento econômico (acima de 7,5% ao ano) e sua urbanização progressiva, tudo isso implica uma demanda por mais alimentos. Com recursos naturais limitados, como terra e água, a estratégia adotada foi a importação, que beneficiou o Brasil. O mesmo poder-se-á dizer, em alguns anos, para a Índia, onde a população deverá ultrapassar a da China (FIGUEIREDO; CONTINI, 2013).

Quais os produtos campeões nas exportações? Em décadas passadas, o Brasil era conhecido no exterior pela exportação dos tradicionais produtos, principalmente café e, em menor grau, açúcar e cacau. A concentração das exportações em poucos produtos leva

facilmente a potenciais crises nas contas externas, quando a economia do país está basea- da em produtos primários. Exemplo típico disso são as crises do café, no final do século 19, e a de 1929, tão bem descritas por Furtado (1971).

No final do século 20 e, com mais destaque, no início do século 21, o agronegócio brasileiro diversificou sua agricultura, criou agroindústrias para agregar valor e ampliou suas exportações com novos produtos e para novos mercados. Com a diversificação, o risco de crises recorrentes por queda de preços internacionais diminuiu, tornando mais estável até mesmo as contas externas. Mesmo assim, os cinco principais produtos de exportação situam-se entre 70% e 80%, em comparação com o valor total das exportações, o que ca- racteriza certa concentração. Isso significa que os demais produtos do agronegócio tiveram participação menor do que 30%.

De 1997 a 2013, o crescimento relativo maior foi do complexo soja, que passou de 24% para 31% do valor das exportações (Figura 5). O complexo carnes também cresceu, de 7% para 17%, no período analisado, com um ganho de 10% em 17 anos. O café perdeu importância relativa, decaindo de 13% para 5%. O complexo sucroalcooleiro ganhou 6%, enquanto os produtos florestais perderam 5%. Isso indica que as exportações brasileiras do agronegócio não estão estabilizadas, mas que há produtos ganhando importância relativa maior do que outros, ou seja, são mais dinâmicos. É o caso dos complexos soja e carnes.

Neste item, cabe analisar ainda o grau de abertura da economia em geral e do agro- negócio em particular. O grau de abertura total é definido como a relação entre as exporta- ções totais e o valor do Produto Interno Bruto (PIB); o grau de abertura do agronegócio é a relação entre as exportações do agronegócio e o PIB desse setor.

O que se observa na Tabela 1, comparando as médias do período 1991–1995 com as do período 2006–2010, é um grau de abertura crescente, da economia brasileira em geral, mas principalmente do agronegócio. O grau de abertura total da economia passou de 8,2% para 14%, enquanto o do agronegócio evoluiu de 3,4% para 17,5%. Esses dados retratam um crescimento bem mais rápido das exportações do agronegócio em comparação com as exportações totais. Terá o Brasil encontrado, no agronegócio, competitividade global, mesmo com deficiências de infraestrutura e do chamado Custo Brasil?

No documento O-MUNDO-RURAL-2014 (páginas 152-156)