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Nova classe média – anos

No documento O-MUNDO-RURAL-2014 (páginas 94-96)

Em 1980, o PIB per capita brasileiro havia se multiplicado por 12 em relação ao de 1900. O PIB do Brasil, que era 0,6% do PIB mundial, passou a ser de 3,4%7. Em 1980, 67%

da população brasileira vivia no meio urbano. O analfabetismo no País ainda era de 25,9% (IBGE, 1982). A indústria alcançava o que seria a sua maior participação histórica no PIB: 34,3% (BONELLI, 2006). Indústria e construção civil empregavam 24,6% da população ocu- pada. A agricultura havia sido reduzida a 9,8% do PIB e empregava 33% (IPEA, 2011b).

Na avaliação de Horie (2012), em 1980, 38,5% da população ocupada consistia em miseráveis, isto é, população com renda individual do trabalho inferior a R$ 329,00, em valores de 2009. Barros et al. (2001) calculam que, em 1981, o percentual de indigentes era de 18,5%, enquanto o de pobres era de 43,2% da população brasileira8.

Constatava-se, pois, que o esforço de industrialização, de 1950 a 1980, no contexto das demais mudanças socioeconômicas (por exemplo, as havidas no campo e, também, em termos de inflação e endividamento externo) havia levado a um expressivo crescimento da economia do País, o qual, porém, tinha vindo acompanhado de significativa concentração na distribuição de renda. A maior parte da força de trabalho brasileira em 1980 estava fora dos setores de maior produtividade. O PIB por trabalhador crescera 30% no setor secundá- rio (que empregava 25% da força de trabalho), mas 75% da força de trabalho (agricultura e serviços) havia, na média, experimentado queda de mais de 19% na sua produtividade9.

Mesmo assim, alguns analistas observavam um fenômeno novo no País: o surgimen- to de uma nova classe média. Quadros (1991, p. 1) trata da

[...] extraordinária expansão das ‘classes médias’ urbanas não-proprietárias que se verifi- cara na década de 1970, no bojo do intenso processo de mobilidade social impulsionado pelas profundas transformações que ocorrem nas estruturas econômicas e sociais.

Para o autor, a participação dos trabalhadores em ocupações “típicas de classe média” havia passado de 24,5% da PEA urbana (ou 1,7 milhão de pessoas) em 1950, para 31,7% (ou 7 Angus Madison, Statistics on World Population, GDP and Per Capita GDP, citado por Fernandes et al. (2011). 8 “Indigência” refere-se à renda insuficiente para o consumo calórico mínimo. “Pobreza” considera os gastos

mínimos com alimentação, transporte, vestuário e habitação. Ver Barros et al. (2001).

9 Cálculos feitos com base nos dados Comunicações Ipea, nº 104. “Natureza e dinâmica das mudanças recentes na

9,4 milhões de pessoas) em 1980. O aumento relativo mais expressivo se dera entre os traba- lhadores na área de “gestão”, a que se seguiram aqueles em “atividades sociais” e “técnicas”10.

Conforme apontado por Horie (2012), essas observações estão em consonância com o ponto de vista de Mills (1979), para quem o progresso técnico reduz a importância relativa dos trabalhadores ligados diretamente à produção e aumenta a daqueles ligados à administração, a qual tende a se profissionalizar e a criar novos cargos na hierarquia de to- mada de decisões. Ademais, por causa do avanço da produção e do mercado consumidor, observava-se aumento do emprego em atividades relacionadas à distribuição (transporte, comércio, finanças, etc.). O aumento do papel do Estado, inerente à estratégia de promoção da industrialização, levava a ocupações no setor público de serviços. Por sua vez, a massa trabalhadora sem qualificação ou formação profissional caía em importância, podendo perder remuneração relativa.

Pastore (1993 citado por SOMAGLINO, 1994), examinando os dados da Pnad de 1973, constatou que 58,1% da população havia experimentado mobilidade social intrageracio- nal11, dos quais 93% tinham ascendido em termos de status. Verificou também que 58,4%

haviam experimentado mobilidade intergeracional, 71% dos quais em sentido ascendente. Já para o ano de 1982, após um período de menor dinamismo econômico, Pastore verificou que a mobilidade intrageracional havia caído para 30,6% – dos quais 85% eram ascenden- tes –, e a intergeracional para 67,5% – dos quais, 59% ascendentes.

Pastore e Zylberstajn (1992) tratam a situação observada no período como um falso paradoxo. A significativa mobilidade ascendente deveria, à primeira vista, ter reduzido a desigualdade na distribuição de renda, o que, entretanto, não aconteceu. Isso não se tra- tava de um paradoxo. Na verdade, a mobilidade observada teria sido do tipo estrutural, decorrente do próprio crescimento econômico, à qual se associava a abertura de novas oportunidades de emprego. O aumento na desigualdade teria ocorrido em razão de, ape- sar de ter havido mobilidade ascendente intensa, as distâncias percorridas pelos indivíduos dos estratos inferiores tinham sido menores do que as percorridas pelos ocupantes de estratos médios e superiores. Trabalhadores rurais que migravam para a área urbana ex- perimentaram a ascensão ocupacional, apesar de passarem a ocupar atividades de baixas qualificação e remuneração. Ao mesmo tempo, os ocupantes de estratos médios – com maior grau de educação e qualificação – galgavam posições de maiores especialização 10 Na área de “gestão”, estão incluídos: administradores, gerentes, chefes, auxiliares de escritório, economistas,

contadores, técnicos de contabilidade, mestres e contramestres. Em “atividades sociais”, estão: médicos, dentistas, enfermeiros diplomados, auxiliares em saúde, professores primários, secundários e superiores, e inspetores de ensino. Em ocupações “técnicas”, estão: engenheiros, arquitetos e auxiliares, e outros de níveis superior e médio.

11 Mobilidade intrageracional é aquela experimentada pelo indivíduo a partir do status de sua ocupação inicial até

ao da atual (ou seja, ao longo de sua carreira). A intergeracional refere-se àquela que compara o status da atual ocupação do indivíduo ao da ocupação de seus pais.

técnica e rendimento. Os autores anteviam, ademais, que, a vigorar um menor crescimento econômico nos anos seguintes, a tendência de competição por vagas (mobilidade circular) seria crescer, e os atributos relacionados à capacitação passariam a ser mais importantes na disputa pelas oportunidades existentes.

Indústria entra em colapso, enquanto

No documento O-MUNDO-RURAL-2014 (páginas 94-96)