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Viabilidade econômica, social e ambiental dos sistemas agroalimentares

No documento O-MUNDO-RURAL-2014 (páginas 128-131)

Desde a década de 1990, o País vem observando um exuberante crescimento da pro- dução e da produtividade agropecuária. Associada aos preços elevados das últimas déca- das, essa atividade tem prosperado como geradora de riqueza e tem atraído, cada vez mais, agentes privados especializados, interessados em partilhar do “bolo da riqueza” gerado. Essa passou a ser uma atividade na qual o sucesso depende, cada vez mais, da capacidade

do produtor em se apropriar das inovações no seu processo produtivo (informação verbal)3.

Nesse contexto, a produtividade total dos fatores exerce papel fundamental e pode ser considerada como um dos principais drivers da agricultura. Existe razoável consenso sobre a necessidade de expansão da produção de alimentos e do potencial do Brasil para aumen- tar a sua produção. Contudo, além de incrementar os ganhos de produtividade (otimizar o uso de recursos e promover a sua conservação), é fundamental promover estratégias para a redução de perdas ao longo da cadeia alimentar e no nível do consumidor final e, para isso, é importante elevar o nível de automação e mecanização nos sistemas de produção brasileiros.

Esse processo de crescimento é acompanhado, entretanto, por uma situação de seletividade social, na qual predominarão os produtores tecnologicamente modernizados. A concorrência comercial e produtiva, exacerbada nas regiões agrícolas, com a gradual ocupação dos mercados de alimentos pelos estabelecimentos de maior escala, e a intensifi- cação tecnológica vêm, lentamente, encurralando os demais produtores ou a vasta maioria dos estabelecimentos rurais (NAVARRO; CAMPOS, 2013).

A crescente complexidade da gestão da atividade (inclusive pela ampliação da normatividade ambiental) e o atraso de grande parte dos pequenos produtores em se apropriar de conhecimento tecnológico adequado, em conjunto com outros fatores, pare- cem estar condenando à desistência uma parte considerável dos estabelecimentos rurais de menor porte econômico (NAVARRO; CAMPOS, 2013).

O esvaziamento populacional possivelmente ocorrerá em curto ou médio prazos, e o setor produtivo terá de lidar com a redução da disponibilidade de mão de obra e, por consequência, com o aumento dos salários rurais (NAVARRO; CAMPOS, 2013). Mais do que isso, a pressão por ganhos de produtividade exigirá mão de obra mais qualificada, para atuar em trabalhos mais especializados (que fazem uso mais intenso de automação e precisão).

Do ponto de vista social, porém, a pobreza continuará sendo o maior desafio na área agrícola, sobretudo na região que compõe a maior parte do Nordeste rural e o norte de Minas Gerais. Estudo realizado por Alves e Rocha (2010) mostra que cerca de 70% dos estabeleci- mentos rurais brasileiros (3,78 milhões com recebimento médio de R$ 128,00/mês – a preços de 2006) não encontrarão, na agricultura, a solução para a pobreza. Essas famílias depende- rão de políticas assistencialistas para serem mantidas no campo. Buainain e Garcia (2013), complementando a informação, dizem ser necessários ainda a qualificação para o trabalho rural não agrícola e incentivos à estratégia de migração cidadã.

3 Palestra “O mundo rural brasileiro: quais são os desafios (problemas) sociais na atualidade?”, proferida por

Do ponto de vista econômico, o principal entrave levantado em diversos estudos do Projeto Alimentos diz respeito ao Custo Brasil. Entretanto, lidar com esse entrave é bastante complexo, uma vez que envolve custos relacionados à infraestrutura e à logística (ampla- mente discutidos no Pilar III), gastos com a elevada carga tributária, o capital de giro, a energia e comunicações, serviços a funcionários, entre outros.

A grande participação dos custos com fertilizantes no custo total alerta para a ne- cessidade de se reduzir a dependência que o País tem desses insumos importados, funda- mentais para a garantia do aumento da produção e da produtividade. Em relação à carga tributária, especialistas indicam que a incidência da tributação deveria migrar do consumo para o patrimônio, ou seja, deveria incidir sobre o lucro e a renda, e não sobre o trabalho, a produção e o consumo.

Entre os drivers ambientais de importância para o sistema agroalimentar, o que mais necessita de atenção é a anunciada mudança do clima no planeta. Alguns dos efeitos dessa mudança já estão acontecendo, e outros são esperados. Temperaturas mais elevadas, mu- danças nas características das estações, maior frequência de eventos climáticos extremos, como secas e enchentes, entre outros, apontam para a exaustão dos recursos naturais, em especial os energéticos, que podem impactar a oferta e a demanda de alimentos. Tendo em vista a relevância desses acontecimentos, é importante monitorá-los para que, na medida do possível, sejam adotadas medidas preventivas e/ou de adaptação.

Os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovern-

mental Panel on Climate Change – IPCC) de 2001 e 2007 e outros trabalhos científicos re-

centes afirmam que a mudança climática é um fato inequívoco. O Relatório de Avaliação do

IPCC de 2007 indica uma variação extrema entre 1,1 °C e 6,4 °C, com média de 4 °C até 2100,

considerando a média de 1990 como referência (PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANÇA CLIMÁTICA, 2007). No Brasil, os modelos climáticos regionais apontam para o risco de “savanização” de regiões da Amazônia, secas mais intensas e mais frequentes no Nordeste, chuvas intensas e inundações nas áreas costeiras e urbanas das regiões Sudeste e Sul, e reduções significativas do potencial de geração hidroelétrica nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste.

Com exceção de um impacto positivo sobre a cana-de-açúcar e parcialmente sobre a mandioca, todas as demais culturas terão resultados negativos em razão das mudanças do clima (DECONTO, 2008; SANTANA, 2011). Considerando o Cenário A2 do IPCC, o aumento das temperaturas deverá reduzir as áreas com baixo risco de produção de soja, café e milho até o ano de 2070.

Em razão dessas mudanças e de seus efeitos, estudos estão chamando a atenção para a necessidade de reduzir a emissão de gases de efeito estufa e de preparar o setor agroalimentar para produzir em condições climáticas diferentes das atuais. Muitos países

estão dando agilidade ao processo de desenho e implementação de políticas voltadas ao pagamento de serviços ambientais, transformando os elementos naturais em bens públi- cos e serviços ecossistêmicos com impactos positivos em suas produções.

No documento O-MUNDO-RURAL-2014 (páginas 128-131)