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Promoção do empreendedorismo

No documento O-MUNDO-RURAL-2014 (páginas 134-137)

No Brasil, a adoção de novas e modernas tecnologias passa a exigir conhecimentos e habilidades específicas, tanto por parte do produtor quanto do trabalhador rural. O pro- cesso de urbanização no Brasil e no mundo, associado à crescente complexidade da gestão da atividade (inclusive pela ampliação da normatividade ambiental), e o atraso de grande parte dos pequenos produtores em se apropriar de conhecimento tecnológico adequa- do têm reduzido a disponibilidade de mão de obra no setor agropecuário. Essa redução é agravada pela crescente demanda por mão de obra qualificada em todas as etapas da produção de alimentos.

Além disso, a dinâmica do setor privado exige atualização eficaz do arcabouço legal, por parte do governo, para a promoção de um ambiente de negócios estável, com políticas e legislação atualizadas e alinhadas à promoção da inovação e do empreendedorismo, a fim de sanar essas lacunas. O prazo requerido para análise e concessão de patentes no Bra- sil (5,4 anos em 2011) (BRASIL, 2012) é um dos exemplos da disparidade entre a dinâmica de ação do governo e de atuação do setor privado, e tem sido apontado como entrave à inovação.

Na promoção da inovação e do empreendedorismo, o arcabouço legal deve criar condições para aumentar a participação do investimento privado no desenvolvimento tecnológico. Além disso, é importante que o arcabouço legal e as políticas de incentivo ao desenvolvimento criem as condições necessárias para integrar a evolução científico- -tecnológico-educacional das instituições públicas de pesquisa com o mercado, facilitando a participação de pesquisadores no campo empresarial e estimulando a inserção dos insti- tutos de ciência e tecnologia (ICTs) em arranjos institucionais público-privados.

A instituição e a implantação de um programa de desoneração tributária, de um sistema regulatório consistente, eficiente em custos e com embasamento científico, foram

sugeridas em estudos do Projeto Alimentos (por exemplo: Estudo 5 – Sustentabilidade econômica; e Estudo 7 – Situação atual e perspectivas da agroindústria). O governo, com o apoio do setor privado, deve dar sequência ao desenvolvimento e à implantação dessas medidas, enquanto a ciência deve buscar evidências e argumentos técnicos e científicos para embasar a elaboração de propostas.

Com relação a fatores que podem afetar a mão de obra, grande parte dos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, vivencia um período conhecido como “janela de oportunidades”, no qual o número de crianças está diminuindo e a população em idade ati- va está aumentando (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2013). Isso também representa um desafio, visto que esses países contam com parcela elevada de população jovem.

No Brasil, desde o início da década de 1980, vem ocorrendo uma redução da parcela de crianças (com idade até 14 anos) na população total, paralelamente ao aumento da população com idade entre 15 e 64 anos (ou população entrando no mercado de trabalho mais aquela economicamente ativa). Em 2013, a parcela de crianças com idade até 14 anos correspondia a 24% da população, enquanto o grupo com mais de 65 anos era de aproxi- madamente 7% (Tabela 1).

Com base nas projeções do IBGE (2013), é provável que essa situação (janela de oportunidades) prossiga até 2023, quando esse grupo começará a reduzir na parcela total da população, e o índice de janela demográfica4 brasileiro começará a reduzir.

Em 2050, o grupo de pessoas até 14 anos passará dos atuais 48 milhões para cerca de 32 milhões (o que representará 14% da população total). Já a população idosa aumentará mais de três vezes, atingindo 51 milhões de pessoas (ou 22,6% da população total) (IBGE, 2013). Essas diferenças indicam que o País caminha rumo a um perfil demográfico cada vez mais envelhecido.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (2013), as experiências dos países desenvolvidos demonstram a importância de se aproveitar esse bônus demográfico. Em geral, o período de janela de oportunidades é estável por 4 décadas e possibilita “a introdução de sistemas de segurança social” sem a pressão exercida pelo envelhecimento demográfico. Em paralelo, para se beneficiar das oportunidades criadas por essa janela demográfica, é fundamental que haja disponibilidade de emprego produtivo para uma população ativa cada vez maior (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2013). 4 (População economicamente ativa de 15 anos ou mais)/(população total - população economicamente ativa de 15

O Brasil estará diante de uma excelente chance de atingir o rol dos países ricos se souber aproveitar essa oportunidade. Para isso, é necessário preparo em termos educa- cionais e de qualificação profissional para um mercado de trabalho cada vez mais com- petitivo, não somente em âmbito nacional, mas também em escala global. Em suma, a Organização Internacional do Trabalho (2013) sugere a promoção do emprego dos jovens e o fomento ao processo de aprendizagem e de qualificação ao longo da vida. De acordo com Moreira (2013), “[...] o Brasil precisa investir basicamente em dois eixos fundamen- tais: educação dos jovens e qualificação da população em idade adulta, que constitui a [principal] força de trabalho [...]”.

No campo, a qualificação profissional, no entanto, deverá avançar para além dos trei- namentos pontuais ou formais, procurando despertar, nos trabalhadores e nos emprega- dores, a cultura do empreendedorismo, para o aproveitamento das novas oportunidades que surgirem na produção e na transformação de alimentos. A julgar pelo desenvolvimen- to tecnológico nas atividades agrícolas, os produtores demandarão, cada vez mais, mão de obra com alta competência para trabalhar com mecanização, automação, robótica, instrumentação avançada, sensoriamento remoto e tecnologias de precisão aplicadas a condições específicas de manejo nas propriedades rurais.

As oportunidades para empreendedores no campo e na agroindústria vão desde a criação de novos empreendimentos – como o desenvolvimento de máquinas e equipa- mentos de menor escala, que se adaptem melhor às características das pequenas e mé- dias propriedades – até a prestação de serviços terceirizados que desonerem o produtor (treinamento de trabalhadores, fornecimento de mão de obra especializada em caráter temporário, serviço móvel de refeições, etc.).

As condições para a formação de cultura empreendedora e de empreendedores de- pendem de vários fatores: a) ambiente favorável, com CLT para agro; b) segurança no campo;

Tabela 1. Percentuais de participação relativa da população por grupos de idade, em 2013, e projeções para 2030 e 2050. Idade 2013(%) 2030(%) 2050(%) Até 14 anos 24,1 17,6 14,1 De 15 a 24 anos 17,0 13,6 10,6 De 24 a 64 anos 51,4 55,4 52,6 De 15 a 64 anos 68,4 70,0 63,2 De 65 anos ou mais 7,4 13,4 22,6 Fonte: IBGE (2013).

c) marcos regulatórios claros; d) comunicação; e e) aceleradoras de empreendedorismo (em lugar de incubadoras), com crédito, capacitação e estudo de mercado. A formação de empre- endedores dar-se-á também por meio da parceria escola-empresa, para cursos customizados com a realidade econômica da região, pela agregação de valor na exploração de recursos da biodiversidade e pela interação do empreendedorismo rural com o urbano, ligando as novas tendências de produção com o consumo urbano. Outros aceleradores do empreen- dedorismo poderão vir de: parques tecnológicos especialmente desenhados para o setor agroindustrial e da mídia, que busquem, divulguem e premiem casos e modelos de sucesso, contribuindo, assim, para a valorização da imagem do produtor de alimentos. No caso da in- dústria, observa-se ainda a importância de obter economias de escopo, com aproveitamento das vocações regionais, da diversidade cultural e da biodiversidade (MADI, 2013).

No documento O-MUNDO-RURAL-2014 (páginas 134-137)