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EXPOSIÇÃO AO MERCÚRIO E SEUS EFEITOS

No documento Odontologia: temas relevantes (páginas 105-108)

Exposição Ocupacional ao Mercúrio na Odontologia

2 EXPOSIÇÃO AO MERCÚRIO E SEUS EFEITOS

Indivíduos podem sofrer exposição ao mercúrio de diversas manei- ras: por meio da alimentação, de acidentes ambientais, ou através da expo-

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sição ocupacional8, 10, 11. Nos últimos anos, o uso do mercúrio inorgânico

tem sido intenso no meio industrial, desde metalúrgicas até o uso em em- presas de cosméticos, e, na odontologia, o Hg está presente no amálgama dentário12, 13, 14, 15. Diante do uso em larga escala, pode-se verificar em torno

de 90 tipos de ocupações associadas à exposição ao mercúrio.9, 16, 17

Os maiores produtores de mercúrio no mundo são Canadá, Rússia e Espanha, sendo a produção mundial estimada em cerca de 10.000 tone- ladas por ano para uso nas mais diversas áreas, como indústrias, minera- ção e odontologia18. No Brasil, o uso é bastante intenso nos grandes cen-

tros urbanos industriais e em garimpos. Em função desse uso, tem-se observado altas concentrações de Hg na Amazônia e na região Sudeste, especialmente na água e em organismos aquáticos17. A contaminação pelo

mercúrio pode estar associada ao fato de que as indústrias despejam seus resíduos nas águas, ocorrendo, em seguida, a formação do metilmercúrio, composto ainda mais tóxico. Além disso, os peixes que habitam essas águas também são contaminados, e a contaminação, por consequência, acomete os indivíduos que consomem esses peixes.5

Até o momento, não foi possível estabelecer limites seguros relaci- onados ao grau permitido de exposição ao mercúrio. Por isso, o nível de exposição deveria ser o menor possível, ou inexistente9. A Organização

Mundial da Saúde afirma a dificuldade na determinação de níveis seguros de exposição, porém consta, na legislação brasileira, o limite máximo per- mitido para a população em geral, para o trabalhador e para o ar, de res- pectivamente de 5 µg, 35µg de mercúrio por grama de creatinina e 40µg de mercúrio por m3 de ar, presente na NR 7.19

O mercúrio penetra no organismo principalmente através da respi- ração, sendo em seguida absorvido pelos pulmões e retido no organismo. Ao penetrar na corrente sanguínea, é oxidado para Hg+2, íon que possui

alta capacidade de fixação das proteínas do plasma, forma compostos or- gânicos mercuriais que vão se depositar em órgãos como os rins, o fígado, a medula óssea, a parede intestinal, a parte superior do aparelho respirató- rio, a mucosa bucal, as glândulas salivares, o córtex cerebral, o cerebelo e o núcleo cerebral, ossos e pulmões, podendo ainda transpor a barreira placentária. Como a oxidação do mercúrio metálico não é imediata, o Hg0 consegue penetrar a barreira hematoencefálica e alojar-se no sistema

nervoso central, além de provocar neurotoxicidade em função do aumen- to da permeabilidade da membrana plasmática ao cálcio.18, 20

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Os compostos mercuriais interferem no metabolismo e na função celular através de sua capacidade de inativar as sulfidrilas das enzimas, deprimindo os mecanismos enzimáticos, fundamentais à oxidação celu- lar. No sistema digestivo, os mercuriais provocam transtornos digestivos devido à sua ação cáustica.18, 20, 21

No sangue, a maior parte do metilmercúrio encontra-se nos glóbulos vermelhos, sendo esse um importante meio indicador da quan- tidade total da substância presente no organismo. Por outro lado, o plas- ma é mais apropriado para indicar os níveis de mercúrio inorgânico, que se distribui sempre entre o plasma e os eritrócitos. O metilmercúrio acu- mula-se ainda notadamente nas fibras do cabelo, com concentração dire- tamente proporcional à do sangue. Vale ressaltar que o cabelo serve como registro histórico de níveis sanguíneos anteriores.18

Durante a gestação, o mercúrio pode provocar efeitos sobre embri- ões, aumentando a probabilidade de abortos, pela capacidade de ultrapassar a barreira placentária. A eliminação é realizada, principalmente, através de fezes e urina e em menor proporção por saliva, suor e ar expirado. Estudos revelam que a meia vida do Hg gira em torno de 60 dias. Porém, no sistema nervoso central, esse período aumenta para mais de um ano, e não existe comprovação de que a eliminação total realmente ocorra.13, 15, 22, 23

Diversas são as alterações provocadas pelo mercúrio. A síndrome neuropsíquica, ou eretismo, pode ser observada após a exposição do indi- víduo ao mercúrio metálico, sobretudo nos casos de exposição ocupacional crônica em indústrias, garimpos e consultórios odontológicos que não oferecem medidas preventivas adequadas aos trabalhadores. Essa síndrome é caracterizada por sintomas de irritabilidade, ansiedade, mudanças de comportamento, apatia, perda de autoestima e de memória, depressão, insônia, delírio, cefaléia, dores musculares e tremores. Manifestações de hipertensão arterial, renais, imunológicas e alérgicas são frequentes.2, 9, 24

O amálgama de prata é um dos materiais de uso odontológico que podem estar associados a reações de hipersensibilidade na mucosa oral. A forma mais frequente é a aparição de uma reação liquenóide, consequência do contato direto entre a mucosa oral e a restauração de amálgama. Esta alteração é produzida por uma reação de hipersensibilidade retardada do tipo IV, como resposta imune mediada por células frente ao mercúrio ou a algum outro componente do amálgama dental.25, 26

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Em populações da região amazônica, têm sido relatados sinais clí- nicos relacionados à exposição mercurial tanto em adultos como em cri- anças. Diferentes bioindicadores revelam uma ampla faixa de exposição nessas comunidades, incluindo déficits neurocomportamentais, evidênci- as de dano citogenético, mudanças imunológicas e toxicidade cardiovascular, que foram encontrados nessas populações.27

Em populações consumidoras de peixe, a ingestão de metilmercúrio via dieta representa um grande impacto nas taxas de metilmercúrio no cérebro, enquanto a exposição por intermédio de restaurações de amálgama dentário elevam as taxas de mercúrio inorgânico no tecido cerebral. A discriminação entre diferentes tipos de mercúrio é necessária para se avali- ar o impacto dos níveis da substância no cérebro a partir de fontes distin- tas de exposição e suas possíveis conseqüências.28

3 O USO DO MERCÚRIO NA ODONTOLOGIA E A

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