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LEITE MATERNO

No documento Odontologia: temas relevantes (páginas 84-87)

Estudo comparativo do leite humano frente a outros leites disponíveis no mercado e

3 LEITE MATERNO

A complexidade biológica do leite humano faz com que seja muito mais do que um simples conjunto de nutrientes. O leite humano é subs- tância viva, com atividade protetora e imunomoduladora que não apenas

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proporciona proteção contra infecções e alergias, como também estimula o desenvolvimento adequado do sistema imunológico e a maturação do sistema digestivo e neurológico.3,6

Os lactentes alimentados com leite materno têm flora fecal dife- rente dos que são alimentados com fórmulas lácteas. Os primeiros têm predomínio de bifidobactérias e lactobacilos, e os alimentados com fór- mulas apresentam mais coliformes e bacteróides.7

A maturação do sistema nervoso se deve às moléculas de lipase, prote- ína que ajuda a quebrar as moléculas gordurosas digeridas, em pedaços meno- res e que são levadas ao cérebro, formando uma capa esbranquiçada de mielina, que reveste os neurônios, por onde passam os impulsos elétricos.8

O leite humano reúne mais de 150 substâncias diferentes na sua com- posição. Microscopicamente é uma mistura homogênea em três frações: emulsão, suspensão e solução. A fração emulsão corresponde à fase lipídica do leite humano na qual se concentram os óleos, as gorduras, os ácidos graxos livres, as vitaminas e demais constituintes lipossolúveis. A fração

suspensão refere-se à fase suspensa do leite humano na qual as proteínas e

quase a totalidade do cálcio e fósforo encontram-se presentes na forma micelar, constituindo suspensão coloidal do tipo gel. A fração solução con- grega todos os componentes hidrossolúveis, como vitaminas, minerais, carboidratos, proteínas do soro, enzimas e hormônios, podendo ser consi- derado o soro do leite sendo a água o seu constituinte principal.3, 6,7

Na sua formação, o leite humano passa por três etapas: colostro (fluido espesso e amarelado, produzido de 3 a 6 dias após o parto), leite

de transição (de 7 a 15 dias após o parto) e leite maduro (produzido em

continuidade ao leite de transição).6, 9, 10

Sua composição é relativamente constante, embora o teor de al- guns nutrientes varie significativamente ao longo da lactação, durante o dia e até mesmo ao longo de uma mesma mamada9,10,11.O leite do início

da mamada é rico em proteína, lactose, vitaminas, minerais e água, en- quanto o leite que surge no final da mamada parece mais branco do que o leite da primeira ingesta por conter mais gordura o que traduz um con- teúdo mais calórico ou energético suprindo as necessidades básicas do bebê9,11,12,13. A produção de leite de uma mãe de criança prematura sofre

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proteínas, gorduras, sódio, vitamina A, vitamina E, imunoglobulinas, e mais pobre em vitamina C e lactose.8,14

Durante o dia o leite modifica sua composição adequando aos ho- rários de maior atividade da criança e, conforme a criança cresce, o leite continua seu processo de transformação suprindo às suas necessidades vi- tais9,10,11. Isso ocorre, por exemplo, com a vitamina A14,15, um

micronutriente fundamental para o crescimento, diferenciação e integri- dade do tecido epitelial e essencial durante a gravidez e a primeira infân- cia.6 Além de variar quanto ao estágio de lactação, acredita-se que o teor

de vitamina A no leite materno possa ser também influenciado pelo mo- mento da mamada, já que o leite secretado posteriormente é rico em gordura nutriente envolvido na absorção e transporte dessa vitamina14,15.

Existem estudos que determinam o nível de retinol no leite materno como indicador do estado nutricional da mãe em relação à vitamina A14,15. A

composição do leite também apresenta pequenas variações com a alimen- tação da mãe, mas essas alterações raramente têm algum significado.12

Nos primeiros dias após o parto as mamas secretam colostro9,13.

De cor amarela, mais grosso que o leite maduro e produzido apenas em pequenas quantidades para suprir as necessidades do lactante nos seus pri- meiros dias de vida. Esse alimento contém mais anticorpos e mais células brancas que o leite maduro promovendo a primeira “imunização”, por assegurando à criança proteção contra grande parte das bactérias e vírus9,13.

Estes glóbulos brancos, células de defesa, herança do sangue materno, possuem uma espécie de memória em relação às doenças maternas, imu- nizando a criança contra elas.9,13

Os fatores bífidos encontrados no colostro, como são conhecidos certos açucares que possuem moléculas de nitrogênio em sua fórmula, estimulam o crescimento de lactobacilos, microorganismos importantes para o bom funcionamento do intestino por transformarem a lactose, em dois tipos de ácidos o láctico e o acético que impedem a sobrevivência de bactérias nocivas ao recém-nascido.9,13

Por ser rico em fatores de crescimento que estimulam o intestino imaturo da criança a se desenvolver, o colostro prepara o intestino para digerir e absorver o leite maduro, impedindo a absorção de proteínas que não seriam digeridas9,13. Caso a criança receba leite de vaca ou outro ali-

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alergias9,10,12,13. O colostro com alto índice de colesterol, ao qual se atri-

bui propriedades laxantes, auxilia a eliminação do mecônio, considerado como as primeiras fezes muito escuras, evitando a icterícia, condição co- mum em recém-nascidos causada pelo excesso de bilirrubina no sangue devido a uma dificuldade de sua captação pelo fígado e a um aumento da sua reabsorção nos intestinos.9, 13, 16

Em uma ou duas semanas, o leite é secretado em maior quantidade e muda sua aparência física e composição. Este é o leite maduro que con- tém todos os nutrientes que a criança precisa para o desenvolvimento saudável além de fornecer água suficiente para manutenção das funções hídricas, mesmo em climas muito quentes.6,10

Nos primeiros seis meses de vida, o leite materno está naturalmen- te adaptado para atender às necessidades nutritivas e promover crescimen- to e desenvolvimento adequados. Após esse período deverá ser complementado com outros tipos de alimentação, porém mantido se possível até os dois anos de idade por ser fonte significativa de energia e nutrientes e fator de proteção contra doenças, infecções virais e bacterianas6.

As reações alérgicas raramente ocorrem com a sua ingestão.9

Frente à sua complexidade o leite materno é impossível de ser re- produzido tornando relevante a importância da amamentação natural principalmente sob o ponto de vista nutricional, imunológico e psicossocial; portanto, é um assunto de interesse multiprofissional envol- vendo dentistas, médicos, fonoaudiólogos, enfermeiros, nutricionistas e psicólogos.3

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