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Fábia Cristina Esteves de Brito

Eu me chamo Fábia Cristina Esteves de Brito. Nasci em Arcoverde, no sertão de Pernambuco, filha de Ulisses de Brito Cavalcanti e Zita Maria Esteves de Brito. Fazendeiro e funcionário público, meu pai sempre esteve envolvido com política. Uma política que, aos 17 anos, eu considerava assistencialista; hoje, eu a definiria como humanitária. Na infância, minha percepção da ditadura fora influenciada pelo seu olhar. Mas quando vim cursar a universidade, no Recife, trouxe comigo toda uma reflexão crítica a respeito das atividades que ele desenvolvia; para mim, mais importante era a conquista da cidadania. Foi essa compreensão que me fez optar pelo direito. Entrei para a faculdade em 1977, numa época em que graças à redemocratização, os movimentos sociais ressurgiam. Antes, eu fizera contato com estudantes da capital que interagiam com jovens do interior, e isso me abriu os horizontes. No ambiente

extremamente elitista da Escola de Direito, as questões políticas sequer afloravam. Nossos professores, promotores, juízes, desembargadores, não tinham posições muito avançadas, digamos assim, além de serem pouco abertos ao diálogo. O movimento estudantil me pareceu uma saída natural, e ainda caloura, participei da primeira greve pós-64, que paralisou as aulas.

Como se deu seu engajamento no movimento estudantil?

O campus da faculdade situava-se no parque 13 de Maio. No período da manhã, meus colegas eram oriundos também de famílias da classe média; nossos pais se preocupavam em nos garantir formação universitária, acesso à cultura etc. Já os que cursavam o turno da noite, trabalhavam, e possuíam um nível de politização muito maior. Eu gostava do contraponto que havia entre as conversas em casa e com os estudantes, inclusive de medicina e engenharia, que eu me aventurava a procurar. Os professores formavam uma barreira ideológica fortíssima. O que ensinava Direito Penal, por exemplo, por ser contrário ao aborto, recusava-se a tratar do assunto. Descontentes, uns poucos se retiravam da sala. De que adiantaria aprender direito senão para entender o avesso das coisas? Gradativamente, fui me identificando cada vez mais com a sociologia jurídica, com uma corrente do direito intitulada o “direito achado nas ruas”.



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Esta entrevista foi realizada por Angela de Castro Gomes e Marcelo Thimóteo da Costa, na Delegacia Regional do Trabalho, em Recife, no dia 11 de setembro de 2006.

A ação fiscal é uma política pública, e conseguimos que os direitos trabalhistas fossem respeitados. Para resgatar aquele povo da pobreza, porém, seriam necessárias ações específicas. Sem isso, a realidade não muda, não existe evolução social. Nosso sonho de distribuir riqueza não se realizou. Inclusive, a pressão para que se cumprisse a legislação trabalhista resultou na expulsão dos empregados das casas que habitavam nas usinas, e nos arruados, eles viraram favelados. O que a convenção de 1979 garantiu, foi o fim da total falta de respeito aos trabalhadores que até então imperava, e uma melhoria extraordinária da sua condição de vida. Eles passaram a ser registrados, a contar tempo de serviço e ter direito a benefícios previdenciários, além de ganhar alguns hectares para a sua lavoura de subsistência. Mas uma distribuição da riqueza, isso não.

Mas os 2 hectares destinados à subsistência não representaram renda para o trabalhador?

Os trabalhadores não têm mais essa área de cultivo. Obrigados a cumprir a legislação, os donos das fazendas foram, paulatinamente, restringindo os demais direitos assegurados pela convenção coletiva. Assim, destruíram as vilas que existiam dentro dos limites de suas terras e deixaram os empregados entregues à sua própria sorte. Mais: milhares de trabalhadores são contratados por apenas seis meses, dependendo da época da safra e das reduções que ela sofre em virtude de problemas climáticos. Resultado: em metade do ano não existe nenhuma ação do Estado para garantir uma sobrevida aos desempregados. Na entressafra, o que a lei exige do empregador é que ele assegure a instrução do empregado, (previsão legal usando a suspensão temporária do contrato de trabalho e recursos do seguro-desemprego – bolsa qualificação) visando a sua qualificação. Mas é preciso que a fiscalização fique em cima, porque há muito “faz de conta”. “Faz-de-conta que a gente ensina, faz-de-conta que a gente dá aula, faz-de-conta que você aprende”... Outro grande problema com a entressafra, quando termina a colheita, o trabalhador não recebe o seguro-desemprego (pois é um trabalho temporário) e migra para outras regiões.

Eventualmente, é aliciado, tornando-se escravo ou algo parecido. Nenhum governo, até hoje, resolveu esse problema. A área urbana e a área rural canavieira são muito próximas saindo das cidades situadas na zona da mata, já se está dentro de um engenho, em contato com trabalhadores analfabetos, que nada sabem além de cortar cana. Essa é a realidade que precisa ser transformada. Legislação trabalhista, apenas, jamais será o bastante. Para que haja transferência de renda, a empresa deve assumir responsabilidade social. Quem sabe... repartir parte de seus lucros com os empregados?

O desenvolvimento econômico poderia impulsionar tais iniciativas?

O Ministério do Trabalho, no governo Lula, vem empreendendo ações mais complexas e mais amplas de qualificação profissional, tendo em vista a implantação, na área em torno do porto de Suape,4 (área canavieira) de 40 mil novos postos de trabalho. A Camargo Corrêa, integrante do Consórcio Atlântico Sul,5vem para Pernambuco, a fim de construir navios. Estão previstas uma refinaria e um pólo de poliéster. Talvez seja um sonho, que meros cortadores de cana possam, um dia, tornarem-se operários de



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Foi nessa época que você se interessou por Direito do Trabalho?

Não. Somente quando ingressei na carreira de fiscal do trabalho, vivenciando a aplicação do direito do trabalho no cotidiano; fui percebendo sua importância social, política e tranformadora.

E quando se iniciou a sua carreira no Ministério do Trabalho?

Eu me formei em 1981, e fui admitida num escritório de advocacia, no Rio de Janeiro. Infelizmente, não me identifiquei com o trabalho. De volta ao Recife, atuei como assessora jurídica do estado, lidando mais com Direito Administrativo. Prestei concurso para delegada da Polícia Federal, mas fui reprovada no exame psicotécnico. Aqueles borrões do teste de Rorschach,1que suscitam na maioria das pessoas a idéia de um pulmão de fumante, me pareciam flores, crianças brincando de roda... Não tinha aptidão para ser tira, evidentemente. Depois disso ingressei por concurso público (29 de março de 1985) para o cargo de Fiscal do Trabalho, do Ministério do Trabalho, mesmo aquela época desconhecendo a importância e a dimensão do que teria pela frente.

De início, considerei a rotina meio monótona. Fiz umas poucas auditorias urbanas e, em dezembro de 1985, fui designada para atuar na zona canavieira do estado, uma região que fora palco da primeira convenção coletiva rural, em 1979, fruto de uma negociação mediada pela Delegacia Regional do Trabalho. Esse conhecimento histórico me motivou um bocado e, aos poucos, a experiência me encantou e me apaixonei. Eu entrava pelas fazendas, pisando na palha da cana, perguntando aos trabalhadores: “Companheiro, você está fichado?” – se indagasse pelo registro em carteira, ele não saberia responder. E era riquíssimo ouvir aquele povo, conhecer a sua organização sindical e o seu grau de mobilização. Cada ação fiscal transformava-se em mediação, uma vez que a própria convenção coletiva previa isso. Por exemplo, quando os cabos2 que determinavam aos trabalhadores a quantidade de cubos3que deveriam ser cortados, e os mesmos não concordavam, por se tratar de tarefa excessiva, então a negociação entre eles se impunha. Invariavelmente, após a nossa intervenção, a tarefa se efetuava da forma correta; tiravam-se duas medidas e se fazia a média. Nas discussões sobre o que era terra dura e o que terra mole, então recorríamos a uma tabela que indicava com precisão as tarefas a serem cumpridas. Só que, para mim, tudo era terra dura, e eu ia ouvir os trabalhadores para opinar.

O presidente do sindicato, em geral, nos acompanhava. Alguns quando não conseguiam resolver os conflitos trabalhistas diziam aos proprietários rurais: vou trazer o Ministério do Trabalho! E chegávamos lá, duas mulheres pequenininhas... ( eu e uma colega ) ,sem nada nas mãos, erguíamos a nossa voz, explicando o sentido da norma, exigindo o cumprimento da legislação. Assim foi feita a história da fiscalização nos canaviais, baseada numa regra pactuada, num país em cuja área rural o poder dos coronéis ainda predominava. Diálogos como: “O senhor derrubou a casa de fulano”. – “Derrubei”. – “Vai ter de indenizar”. – “Mas ele não trabalha mais para mim” – “O senhor não poderia demiti-lo sem razão. E precisa comprar equipamentos de segurança, para os que ficaram”.



organização em Turim e sendo diplomada na sede, em Genebra. Ouvia-se falar já muito de flexibilização, aqui no Brasil, nesta época, mas a legislação ainda não tinha ousado ser alterada, e fomos atrás das experiências concretas que vinham ocorrendo na Europa. Era um grupo aberto, integrado por sindicalistas, auditores, procuradores e juizes de vários estados, sem nenhum apoio do Ministério do Trabalho, que aliás não se interessava em preparar, naquela época, os seus técnicos; para participar, eu me auto-financiava.

E o magistério?

Ao término da segunda pós, em 1987, fui convidada para lecionar Direito do Trabalho II, na UNICAP - Universidade Católica de Pernambuco na cadeira de direito coletivo do trabalho (Direito Sindical). Pude, então aí, ensinar como gostaria de ter aprendido, um direito que dá respostas aos grandes dilemas da sociedade, em contraposição ao direito individual, prescrito pelo Estado, e que determina o valor da hora extra, do salário, o período da jornada etc. O direito coletivo abre a perspectiva da negociação e

transforma a realidade, através da ação política dos representantes das classes, para alcançar o equilíbrio. Fui professora durante 4 anos, e meus alunos eram profissionais de direito, economia, administração de empresas e ciências contábeis.

A experiência acadêmica foi importante, mas recebi uma proposta mais ousada, desta vez do Sebrae, para participar do “Sebrae Ideal”.12Foi depois que voltei da Europa, em 1997, e fiquei até 2000. Cabia-me explicar conceitos básicos da negociação coletiva aos pequenos e médios empresários das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Por exemplo, se eles pretendiam flexibilizar banco de horas, teriam de

reconhecer o seu parceiro social, o sindicato dos trabalhadores. Fui dizer isso, no coração da Amazônia, onde o sindicato era visto como coisa do demônio. Foi tarefa difícil mas enriquecedora, pois, ao fim de cada aula os pequenos empresários conheciam os conceitos do direito do trabalho coletivo e a importância da visão coletiva do mundo do trabalho.

Você viajava muito pelo interior...

Durante os finais de semana. Funcionária pública federal, era obrigada a compatibilizar horários; não podia abandonar as minhas funções. Saía, em geral, sexta-feira, à noite, e retornava domingo. Conheci, assim, lugarejos encantadores, e uma gente ansiosa por aprender aquilo que as centrais sindicais já vinham ensinando aos trabalhadores há tempos. Na verdade, os pequenos empresários estavam completamente despreparados. Eu os fazia entender o direito coletivo à luz dos seus resultados, dando ênfase à correlação de forças e à função política das entidades sindicais. Eu chamava atenção, por exemplo, para o caráter sindical da poderosa Fiesp,13que influía sobre os destinos do país. “Vocês são tão sindicalistas quanto os trabalhadores”. Minhas palavras produziam efeito, porque aqueles homens precisavam de informação, e queriam usar a lei a seu favor. Mas não havia artifício capaz de escamotear a realidade: nada seria possível fora da negociação coletiva.

Entrevista Fábia Cristina Esteves de Brito



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estaleiros, petroleiros ou empregados em fábricas de tecidos. Mas foi com a chegada das empresas que vieram do Sul e do Sudeste, para plantar uvas no vale do São Francisco (outra região rural de PE), que os trabalhadores dos vinhedos conseguiram se organizar.

A região da chamada Nova Califórnia é sertão, e o sertanejo não era politizado como os cortadores de cana, históricos participantes das Ligas Camponesas.6Pois, foi justamente ali, na década de 1990 e devido ao novo ambiente criado pelo crescimento econômico, sob a liderança da Fetape7, com a nossa mediação, que se concretizou a segunda convenção coletiva rural, negociada entre representantes de empresários de Pernambuco e da Bahia, e trabalhadores da Bahia – porque é só um rio que diferencia Juazeiro e Petrolina.8

Vê-se que sua experiência como auditora foi excelente!...

Também vi como muito importante o trabalho individual como Auditora. Eu entrava nas empresas, procurando ver o que estava errado, e nunca saía sem ter pelo menos tentado mudar as relações de trabalho. Mesmo quando autuava, minha ação era pedagógica. Com alguma habilidade, evitava as discussões, e conversava, interagindo e anulando as resistências. A reação é natural. O representante do Estado nunca é bem-vindo. Cabe-nos demonstrar que nossas exigências vão tornar o local de trabalho melhor, vão aumentar a segurança, preservar a saúde dos trabalhadores e, afinal, vão incrementar a produtividade. Acredito que isso é que motiva os auditores: todos os dias, nós saímos às ruas para provocar alterações da realidade. Se desejarmos apenas cumprir metas, ou garantir o recolhimento do FGTS,9ninguém jamais será um bom auditor.

As metas, vinculadas ao FGTS, não contribuíram para melhorar os salários dos auditores?

De fato, até 1992, nossos salários eram miseráveis, e desde então, fiscalizar os depósitos fundiários (FGTS ) das empresas junto à Caixa Econômica Federal, contribuiu para melhorar os salários dos auditores. Tornamo-nos, porém, menos dispostos ao tête-à-tête com os trabalhadores, acredito eu. Isso é ruim. Precisamos ganhar bem, mas sem perder de vista a visão protetora que temos ao fiscalizar e que estão contidas nas normas trabalhistas.

Durante algum tempo, você deixou a fiscalização de lado, para estudar mais.

Não, porém, sempre estudei e fiz cursos de pós-graduação, quase que permanentes durante mais de uma década. Em 1985 iniciei um curso de pós-graduação em Direito Público pela Universidade Católica de PE. De 1987 a 1988, fiz outra pós-graduação, em Direito do Trabalho, com Arnaldo Süssekind10e outros professores também na mesma Universidade. Entre 1992 e 1993 fiz pós graduação em Relações de Trabalho, na Universidade de Pernambuco- UPE, Na Universidade Autônoma de Madri completei um Modulo da pós da UPE. Entre 1994 a 1996 fui estudar as relações de trabalho priorizando a realidade da Itália e da Alemanha, projeto de estudos acompanhado pela OIT,11visitando o centro de estudos desta

MINISTÉRIO DO TRABALHO: UMA HISTÓRIA VIVIDA E CONTADA



de subsídios intelectuais. Durante muito tempo, o Ministério do Trabalho teve tão pouca importância, que sequer participava das discussões sobre o salário mínimo! A questão ficava circunscrita aos ministros da área econômica. À exceção do ministro Barelli,15os titulares da pasta oscilavam entre uma visão patronal e uma visão com falta de foco.

Em que consistia esse trabalho de monitora a que você se referiu?

Fui monitora em treinamentos de mediadores públicos, uma expressão que ainda nem existia. O Manual

do mediador só foi editado em 1995, quando se começou a estruturar melhor, de forma conceitual, essa

atuação que nós conduzíamos de maneira absolutamente intuitiva, pragmática. Até então, não havia nada sistematizado, nenhuma literatura, e nos valíamos de conhecimentos teóricos de direito, economia, história política da cidade e do país, entre outros. A primeira legislação acerca da mediação pública é também de 1995 – a Portaria nº 817, do ministro Paulo Paiva.16

O primeiro curso de que participei, foi em Fortaleza. Depois, entrei pelo Centro-Oeste, e cheguei até o Sudeste. O pessoal do Rio Grande do Sul, por exemplo, tem uma experiência bonita na área de mediação.

Na Europa, a mediação é bastante estimulada pelo Estado. Os mediadores norte- americanos, ao contrário, se comportam com absoluta neutralidade.

Certo. No Brasil, os aplicadores e os estudiosos do direito guiam-se pelas Normas Internacionais do Trabalho, fixadas pela convenção 98, da OIT, que atribui ao Estado a responsabilidade de fomentar as negociações. Na prática, a competência é do Ministério do Trabalho para convocar as partes e proporcionar a sua aproximação. Faz-se isso com uma neutralidade relativa. Porém, mais do que identificar convergências e estabelecer as condições de um equilíbrio momentâneo, o mediador procura alterar a racionalidade e a postura de empregados e empregadores, mudando as suas maneiras de pensar o conflito. Tratar-se-ia, portanto, de algo semelhante a uma pequena cirurgia. Evidentemente, nem todas as entidades possuem o mesmo compromisso social e político, e é preciso fomentá-lo. Por outro lado, a representatividade ou legitimidade da representação, ainda constitui um problema sério a ser superado pela consciência política dos trabalhadores. Nisso, o mediador não pode interferir.

De um jeito ou de outro, a mediação é novidade no Direito do Trabalho, pondo fim à substituição da vontade das partes, quer pela chamada conciliação, em que o juiz buscava um meio-termo capaz de resolver a desavença, regra geral, de caráter individual; quer pelas sentenças normativas, que dirimiam os dissídios coletivos. O mediador colabora para que os próprios interessados encontrem uma alternativa. Daí a característica que torna a sua missão encantadora: ela é pedagógica. E, no entanto, somos meros coadjuvantes; sequer assinamos a convenção que remove a discórdia.



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Que função você exercia, nessa época, na DRT?

Desde 1992, eu atuava nas mesas de negociação, mediando conflitos. Nessa atividade, e com uma experiência de mais de dez anos, também se empenhavam o delegado Gentil Mendonça e outros três ou quatro colegas. Havia resistência contra a minha participação; as pessoas não me levavam a sério por eu ser mulher e jovem – tinha pouco mais de 30 anos. Era uma moça, e não devia estar tratando de assuntos “masculinos”. A verdade é que eu demorei cerca de sete anos, desde minha aprovação no concurso, para ganhar notoriedade e abrir esse espaço, antes ocupado exclusivamente por homens já maduros. Fui, nesse sentido, uma pioneira, digamos assim.

Você chegou a ouvir algum comentário, alguma reticência por ser mulher?

Boa parte do preconceito contra a mulher decorre da postura em que nos colocamos. Eu me colocava como autoridade do Estado, e tinha competência. Ora, quais são os elementos indispensáveis à

mediação? Antes de tudo, ética; não só no trabalho, mas em todas as relações, profissionais e pessoais. E conhecimento, que dá visibilidade e o respeito do interlocutor. Naquela época, os advogados que faziam o acompanhamento das mediações eram jovens, estavam dando os primeiros passos na carreira, e isso significou uma confluência positiva. Quanto aos empregadores e aos representantes dos

empregados, desde 1975, eles vinham se relacionando com mulheres, que constituíram a maioria da primeira turma de auditores concursados em Pernambuco. O Estado mediador ganhou ênfase com a redemocratização. Seu instrumental foi consagrado pela Constituição de 1988, e algumas mudanças na organização sindical foi um avanço. Nesse particular, pode-se dizer que os fatos alteraram as normas, uma vez que a intervenção do Ministério do Trabalho já cessara bem antes. Mas é pena que a pluralidade sindical, que vem sendo defendida por setores da CUT,14ainda não tenha sido admitida.

No início dos anos 1980, houve uma mudança significativa nas relações entre a DRT e os sindicatos.

Sim, houve; foi quando passamos a nos concentrar na mediação. À época, sem dúvida, o ambiente político era propício à negociação, mas em Pernambuco tínhamos uma vantagem: a credibilidade que a DRT conquistara a partir da atuação dos auditores. Por isso, fomos um dos primeiros órgãos a atuar como mediação pública de conflitos coletivos do trabalho no Brasil. Inclusive, criando um processo didático-pedagógico que, como monitora, fui incumbida de difundir por outros estados. Os doutrinadores privilegiavam a arbitragem do Judiciário – a sentença – e dada à escassez de material escrito, aprendia-se a fazer, fazendo!...

Por que, até hoje, há tão poucos textos a respeito da mediação de conflitos coletivos?

Talvez porque os estímulos institucionais não tenham sido suficientes. O que nos movia era a vontade de fazer história, e, em termos imediatos, o engajamento parecia compensar a carência de infra-estrutura e



Em todo esse período, o que você destacaria?

Acima de tudo, uma mudança que tornou o Ministério do Trabalho muito mais presente junto à sociedade. Foi um processo, pelo qual tivemos maior participação na mídia e mais interação com as