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Joaquim Elégio de Carvalho

Sou Joaquim Elégio de Carvalho, de Belo Horizonte, nascido em 23 de novembro de 1940, filho de Manoel José de Carvalho e Maria Fleury de Carvalho. Meu pai começou a vida como trabalhador rural. Minha mãe sempre foi do lar. Não fui um bom estudante e sofri um atraso muito grande, só concluindo o chamado 2º grau e ingressando na faculdade, com quase 30 anos, já casado. Mas, com tudo isso, tenho cursos de contabilidade, de direito e de qualificação para o magistério no ensino comercial.

Quando o senhor pensou em fazer concurso para o Ministério do Trabalho?

Essa vocação surgiu por afinidade. O meu primeiro emprego, o primeiro escritório onde trabalhei, situava-se nas vizinhanças da Delegacia Regional do Trabalho. A biblioteca que eu freqüentava, como acadêmico de direito, também era naquelas imediações. Mais tarde, já na condição de advogado trabalhista, a DRT era um repositório de boas informações. Tudo isso me fez pensar no concurso e a me preparar para ele. Em meados dos anos 1970, passei no exame e fui aprovado, mas me classifiquei mal. Uma nova oportunidade só surgiu dez anos depois, em 1984. Dessa feita, como a procura crescera muito, as inscrições foram regionalizadas e a dificuldade foi bem maior.

Mas o resultado foi sua aprovação. O que o cativava mais: o trabalho interessante, a boa remuneração, a estabilidade?

A remuneração é sempre um fator considerável. Eu, porém, dava mais atenção à segurança no trabalho e ao seu significado social. Por isso me tornei auditor fiscal, cargo que até dois ou três anos ainda se denominava “fiscal” do trabalho. No concurso, fiz provas de direito constitucional e direito do trabalho, legislação comercial, penal, direito administrativo e português. Entre os candidatos havia uma nítida predominância de bacharéis em direito, e uns poucos formados em administração de empresas. Tomei posse em 1

º

de fevereiro de 1985 e assumi as minhas funções na subdelegacia de Ipatinga, a cerca de 250km de Belo Horizonte.

Como funcionava a subdelegacia, e qual era exatamente o seu trabalho?

Fui para Ipatinga antes de ser chamado para o treinamento técnico em Belo Horizonte, a fim de estabelecer contatos iniciais com empresários e o movimento sindical. Minha idéia era ir me enfronhando no dia-a-dia,



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9 Criado em 1955, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, Dieese, desenvolve atividades de pesquisa, assessoria, educação e comunicação nos temas relacionados ao mundo do trabalho. Ver: www.dieese.org.br [acesso em 27/11/2006]

10 A Comissão Pastoral da Terra, CPT, foi criada em junho de 1975, durante o Encontro de Pastoral da Amazônia, convocado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e realizado em Goiânia, Goiás. Ver: www.cptnac.com.br/?system=news&eid=26 [acesso em 27/11/2006]

11 Nicolao Dino de Castro e Costa Neto foi procurador da República no estado do Maranhão e um dos diretores da Associação Nacional de Procuradores da República, ANPR, entre 1999 e 2003. Foi também presidente da ANPR, residindo em Brasília, durante o biênio 2003/2005. Ver: www.anpr.org.br [acesso em 2/1/2007]

12 A criação do Instituto Carvão Cidadão, ICC, partiu da iniciativa das sete siderúrgicas do estado do Maranhão. O ICC tem como objetivo orientar e fiscalizar todas as atividades relacionadas com a cadeia de produção do carvão vegetal. Isso significa o fornecimento às indústrias dos estados do Maranhão, Pará e Tocantins, como seus beneficiários finais, com vistas ao cumprimento da legislação trabalhista e demais normas de proteção à segurança e a saúde do trabalhador e a preservação do ambiente de trabalho. Ver: www.mj.gov.br/sedh/ct/conatrae/icc.htm [acesso em 27/11/2006]

13 Patrícia Audi é Coordenadora do Projeto de Combate ao Trabalho Forçado da Organização Internacional do Trabalho no Brasil. Ver: www.oitbrasil.org.br [acesso em 27/11/2006]

14 A Organização Internacional do Trabalho, OIT, foi fundada em 1919 e é a única das agências do Sistema das Nações Unidas que tem estrutura tripartite, na qual os representantes dos empregadores e dos trabalhadores têm os mesmos direitos que os dos governos. Ver: www.oitbrasil.org.br/inst/index.php [acesso em 27/11/2006]

15 Ver entrevista, p. 275.



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Esta entrevista foi realizada por Angela de Castro Gomes, na Delegacia Regional do Trabalho, Belo Horizonte, em 22 de agosto de 2006.

esses estabelecimentos, a cada dia, com a convicção de que aquele era o meu primeiro dia de trabalho. Até porque nenhuma fiscalização é idêntica à anterior. E trabalho havia. Em Minas, o Ministério é uma

instituição que goza de grande credibilidade entre os trabalhadores, recebendo demandas que sequer nos dizem respeito, mas que ajudamos a solucionar com calma e paciência, indicando o órgão competente.

A subdelegacia era muito movimentada?

Sempre foi. Ipatinga é considerada a capital do Vale do Aço, região onde têm sede a Usiminas e a Acesita,1e inúmeras outras empresas de médio e pequeno porte que gravitam em torno delas. Os trabalhadores nos consultavam com dúvidas acerca do salário, excesso de jornada, falta de carteira assinada, exames médicos não realizados, punições injustas, ou seja, direitos que supunham sobrestados. Os que tivessem sido demitidos, nós os encaminhávamos à Justiça do Trabalho; o Ministério só avalia relações de trabalho efetivas.

Da perspectiva do trabalhador, não deve ser fácil fazer tal distinção.

Com certeza. E além dessa dificuldade natural, o trabalhador tem em nós uma confiança histórica.

E da parte das empresas que o senhor fiscalizava, havia muitas resistências?

O êxito da fiscalização reside no seu inesperado. Se há sinais de que a empresa impõe aos trabalhadores excesso de jornada ou os mantém sem carteira assinada, não adianta nada eu ir à diretoria, me identificar e dizer que vim verificar os empregados sem registro. Agindo assim, vou fracassar, com certeza. Muitas vezes fui obrigado a ser ágil ou mesmo deselegante, para conhecer o maior número de trabalhadores, antes de conferir a documentação. Feito isso – entrada e identificação preliminar dos trabalhadores – aí, sim, deve-se procurar a administração. O costume é ir entrando mesmo, para não desperdiçar o fator surpresa. Pouco importa se essa atitude vai ser tomada como abuso de autoridade ou falta de educação; ela é necessária. Quando nos sentarmos com o empresário, teremos oportunidade de mostrar-lhe respeito e polidez. É preciso sensibilizá-lo para que ele entenda a fiscalização, não como um ato contrário aos seus interesses, mas um meio de obter dividendos vantajosos, para si próprio e para a sua empresa. O auto de infração, a autuação, a apreensão de documentos, que têm características repressivas, também podem servir à reavaliação e à melhoria do seu modus faciendi. Preocupado em adquirir matéria-prima, vender, exportar, ele acaba relegando as relações de emprego a um segundo plano e ignorando os prejuízos que sofrem os trabalhadores. É nessa hora que lhe damos uma boa sacudida.

O que ocorre mais comumente: eles entendem ou é difícil?

A experiência demonstra que o empresário resistente à inspeção do trabalho reage igualmente à fiscalização previdenciária, do ICMS2e da Receita Federal. Por quê? Para impedir que apareçam as irregularidades que vem praticando. Quem não deve, não teme, e deixa a porta da casa aberta. Já

Entrevista Joaquim Elégio de Carvalho



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conhecer os formulários usados na fiscalização e, quem sabe, prestar alguma consultoria, calculando acertos trabalhistas. Logo após, passei por um aprendizado preparatório, a cargo de uma equipe

especializada, que nos forneceu embasamento, inclusive psicológico, a mim e a outros colegas destacados para Lavras, Pouso Alegre e outras cidades da região. Essa etapa durou 15 dias, em horário integral, dentro da repartição e em inspeções reais, na companhia de um auditor experiente, é óbvio. Ele nos instruía em métodos de abordagem e chamava nossa atenção acerca dos diversos interesses em jogo. Trata-se de uma prática de treinamento não somente necessária, mas salutar; eu diria mesmo, fundamental.

Passados esses 15 dias em Belo Horizonte, o senhor retornou a Ipatinga..

Retornei e continuei a trabalhar sob supervisão de um auditor por mais duas ou três semanas, até estar em condições de assumir a rotina com segurança. Certos detalhes, embora simples, confundem o iniciante. Por exemplo, a maior empresa do município ocupava uma área cujo perímetro media de 14km, e eu não tinha a mínima noção de qual era a entrada social. Dos n portões – para funcionários, para cargas perigosas –, eu não poderia usar qualquer um, sob o risco de provocar um acidente e causar prejuízos à produção. Porque havia máquinas em constante movimento, cabos de alta tensão, pisos escorregadios...

Quanto tempo o senhor permaneceu em Ipatinga?

Na cidade, quatro meses; depois, fui designado para fiscalizar as empresas de Itabira, na mesma circunscrição. Deixando a capital, o que me causou a primeira sensação foi a mudança geográfica, a mudança no cotidiano do trabalho: cidades industriais não dormem. Essa empresa a que me referi, mantinha, em três turnos, milhares de empregados. O movimento não cessava durante 24 horas. Para mim, aquilo parecia fascinante, e à medida que fui me adaptando melhor ao ambiente, me senti direcionado por ele. Ao longo da semana, sem parar, como uma corrente, inspecionava uma grande empresa, uma pequena, outra de médio porte: padaria, açougue, metalúrgica, transportadora, banco etc.

Que tipo de liberdade o fiscal tem para programar suas atividades?

Não é livre escolha, não, pois, via de regra, obedecemos a uma programação que nos atribui uma carga de trabalho compatível com o período de uma semana, quinze dias, um mês ou algum prazo emergencial. Mas, para mim, não é difícil manter um fluxo constante. Há quem diga que sou viciado em trabalho, porém penso que minha disponibilidade é para o Ministério do Trabalho: o que se exige dentro da jornada de 8 horas não é excesso. Além disso, os resultados são tão gratificantes que reduzem a preocupação com esse quantitativo.

Como auditor – e ao longo de 21 anos, passei por diversas administrações – sempre considerei eqüitativa a distribuição do serviço. Para facilitar o conhecimento de todas as atividades econômicas locais, as tarefas eram diversificadas, cabendo a cada um dos 8 auditores da subdelegacia fiscalizar lojas de comércio, indústrias, escritórios de prestação de serviço e empresas do setor de alimentação. Eu entrava em todos

MINISTÉRIO DO TRABALHO: UMA HISTÓRIA VIVIDA E CONTADA



entidades sindicais, ou de outras instituições, como Varas do Trabalho, Ministério Público, e também da imprensa. Todas são rotineiras e, eventualmente, as reclamações dos empregados coincidem com a denúncia encaminhada por ofício do sindicato, ambas apontado uma empresa que não recolhe o FGTS.3 E pode ocorrer, ao mesmo tempo, que essa empresa esteja na programação do Ministério, devido ao fato de ter sido autuada seis meses antes. Em suma, existem vários dados que a administração soma, a fim de tornar proveitosa a visita do auditor a um determinado lugar. Nossa mão-de-obra é rara, é cara e deve ser usada muito racionalmente. O custo/benefício tem de ser avaliado tecnicamente, sem interferência política, visando apenas o ganho social.

Há tempo para examinar a documentação ainda durante a primeira visita?

É possível, sim. Depende muito do ambiente, do nível de organização, mas há casos em que a própria lei concede prazos para a apresentação. Por exemplo: a verificação do registro do trabalhador, quadro de horário, cartão de ponto é feita na hora, mas em se tratando da folha de pagamento de mês ou ano anteriores, somos obrigados a dar um prazo maior – o documento pode estar em outro prédio. A falta do livro de registros sinaliza algum problema, e um fiscal experiente não aceitará desculpas, tipo: “Não está aqui, está não sei onde”. – “Vai buscar. Eu fico aguardando”. “Fulano adoeceu, deixou trancado no cofre”. Empresa moderna não tem isso.

Os auditores fiscais atuam sozinhos ou estão sempre na companhia de colegas?

O trabalho do auditor é muito técnico, exigindo cálculos, conferências, em lugares freqüentemente hostis, na periferia, comunidades com alto índice de violência, onde não são raros os casos de assaltos e

assassinatos. A mídia nos fornece pistas através do seu noticiário, e quando se trata de algum bairro perigoso, trabalhamos em equipe, dois ou três colegas, às vezes com acompanhamento policial. Sozinho, o auditor teria de deixar o seu carro estacionado na porta da empresa, durante a visita, mas quem garante que o encontraria na volta? Embora sejamos agentes do estado, até os policiais são assaltados!...

Essas situações que o senhor está descrevendo aconteciam em Ipatinga?

Em Ipatinga, não! ... Aquela cidade tem hoje entre 300 mil a 400 mil habitantes; na época em que trabalhei lá era menor, mais tranqüila, apesar de ter gente 24 horas, entrando e saindo das fábricas. Ninguém nunca se sentia sozinho. E quando havia necessidade de fiscalização noturna, de zero hora às cinco da manhã, bastava avisar à chefia, que se destacava um colega: íamos sempre em dupla. Muitas fábricas têm turnos de revezamento, e, além disso, existem casas de shows, boates – um contingente de empregados que trabalha à noite e não pode ficar sem proteção. A fiscalização noturna, porém, é realizada por dois ou três auditores, não só devido a razões de segurança, mas também para agilizar o serviço.



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vivenciei as duas situações, em empresas grandes e pequenas. Recentemente, em visita a uma das maiores do país – líder do seu segmento, inclusive com vínculos internacionais – encontrei obstáculos infantis ao meu trabalho. A despeito do peso e da dificuldade que a legislação trabalhista possa

representar para a movimentação das pequenas empresas, como se alega muito, na prática, não são elas que concentram a maior oposição. E note-se que nem estou me referindo à carga tributária, de que todas se queixam, muito embora sem razão, posto que sempre houve grande número de empresários no Parlamento, onde se fazem as leis. Se eles têm os meios, por que se omitem?

Vamos continuar destrinchando a fiscalização...

Bem, tudo depende muito do objetivo da inspeção. Se for para verificar o registro dos trabalhadores, será preciso identificá-los, anotar os seus nomes, os controles de ponto e solicitar à empresa os livros de registro de empregados, onde todos deverão estar regularmente inscritos. O primeiro passo, portanto, é na direção do empregado, e a conversa costuma ser rápida, para não interromper a linha de produção ou o atendimento no balcão; depois é que se confere a documentação.

É necessário falar com vários trabalhadores?

Com o maior número possível. Eu me apresento, digo que sou auditor do Ministério do Trabalho e que estou ali para conhecer a situação dele e da empresa. O trabalhador entende, perfeitamente, que se trata de alguém encarregado da fiscalização. Às vezes, reclama, sussurrando: “O senhor demorou demais”. Ou: “Foi bom o senhor ter vindo”. Isso é sinal de alguma anormalidade. De um jeito ou de outro, ele nunca se mostra muito à vontade, pois está sujeito à vigilância do empregador e teme sofrer sanção. Mas há aqueles que ligam para o Ministério, ou nos interceptam na rua, ou na própria empresa, para encaminhar denúncias. A fiscalização não se esgota em um dia, evidentemente, e em geral voltamos uma semana depois, no máximo. Notificamos a empresa, que tem um prazo para preparar a documentação e nos apresentar. Normalmente, faço duas ou três visitas, para completar uma fiscalização.

Ser abordado na rua, como o senhor relatou, é uma experiência normal na vida dos auditores?

Acredito que sim. Não acontece todo dia, mas não é nada incomum. Aos poucos, nossa exposição aumenta e nos tornamos conhecidos no lugar. Por outro lado, a confiança do trabalhador cresce à medida que percebe a nossa preocupação com o interesse dele, com o salário que ganha, a hora extra, as férias. Tão logo seja possível, inclusive vencendo a timidez e o medo de represálias, ele dá retorno à fiscalização. Eu também sou cauteloso, evito conversar demais com o trabalhador, para não expô-lo a situações de desconforto. Da mesma maneira, procuro não constranger o empregador, dirigindo-me a ele de forma rápida, segura e respeitosa.

Há fiscalizações determinadas pela instituição e outras derivadas de denúncias de trabalhadores, ou de



demitir. Apenas sofrerá as conseqüências legais: será autuado por falta do registro, falta da anotação na carteira, falta do exame médico admissional. Dependendo da quantidade de empregados em situação irregular, o Ministério Público do Trabalho poderá promover uma ação específica contra ele. Enfim, o nosso trabalho não pára: somos nós, em boa parte, que subsidiamos o Judiciário Trabalhista, através do Ministério Público do Trabalho.

Há quem prefira pagar multas, sofrer penalidades, ao invés de registrar o trabalhador?

Sim, há casos e, por isso, a inspeção é fundamental, conseguindo obter a regularização de muitos trabalhadores. Não digo que a Fiscalização seja o “coração” de uma DRT, porque sem infra-estrutura, a sua atuação seria inviável; ninguém iria às ruas. Todos os órgãos que compõem uma DRT são essenciais. O que temos de particular é essa elasticidade, que nos permite provocar ações penais contra o mau empregador, algo que não existe em um departamento de transporte ou um departamento financeiro, ambos importantíssimos para a instituição. Trabalhando entrelaçados; constituímos, na verdade um grande “coração”. Nele, o auditor só se destaca por ser um servidor público decisivo, aquele que representa o Estado na relação entre o empregado e o empregador.

É verdade, o auditor é o servidor mais visível, de fato. E quanto tempo o senhor permaneceu em Itabira?

Cerca de seis meses. De lá, fui para Contagem, outra cidade da região metropolitana de Belo Horizonte, igualmente movimentada. Nela fiquei mais tempo, dois anos e meio, até o início de 1988. Contagem é um centro industrial por excelência, o primeiro a ser construído no Brasil, um pólo de grandes empresas. Aí o trabalho era muito mais fácil, uma vez que junto às organizações maiores, não se precisa dar prazos para a apresentação de documentos; há estruturas de contabilidade, recursos humanos, departamentos médicos etc. Atuando sobre segmentos diferentes, tanto do setor industrial, como do setor comercial, cresci profissionalmente, adquirindo uma experiência prática enorme e me tornando capaz de sugerir algumas inovações. Além disso, estando pertinho de Belo Horizonte, pude conviver muito mais com minha família. Acabei transferido para a capital e trabalhei na DRT de 1988 a 1997. Em 1997, fui designado para instalar a Subdelegacia do Trabalho de Betim. Fomos, eu e Amabile Sheili. A cidade, também industrial, nos proporcionou uma vivência inédita. Ocupamos uma salinha de uma casa em que funcionava, se não me engano, uma creche... Não havia condições!... Dei um ultimato ao Ministério: alugamos outra ou voltamos para Belo Horizonte. Daí, nos encarregaram de localizar um imóvel, trazer móveis antigos, receber, mandar consertar, enfim, instalar a casa toda. Deram-nos um prazo de seis meses, mas em 90 dias conseguimos celebrar a primeira negociação coletiva do município, entre o Sindicato dos

Comerciários e os empresários do setor. Amabile assumiu os encargos administrativos e dividiu comigo as tarefas de fiscalização. Betim, já naquela época, era o 3

º

parque da Grande Belo Horizonte e, em pouco tempo, pedimos reforço. Veio um terceiro colega, que passou a atuar como líbero,5auxiliando tanto

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Fiscalizar locais de lazer traz algum tipo de complicação especial?

Sem dúvida. Quem gerencia esse setor, na DRT de Minas, é uma colega chamada Amabile Sheili Rosignoli. Auditora experiente, muito lúcida e organizada, gosta de trabalhar em feiras e shows, atividades de curta duração que, geralmente, envolvem n trabalhadores sem registro, pagos incorretamente, submetidos a condições de absoluta insegurança, muitas vezes montando e desmontando, em dois ou três dias, palcos, arquibancadas, palanques. Eles são considerados “avulsos”, embora sua mão-de-obra, de tão necessária, já tenha se convertido em especializada. Amabile tem desenvolvido um trabalho muito interessante nesse segmento, com resultados fantásticos. Atualmente, os grupos que vêm organizar feiras em Belo

Horizonte, procuram a DRT antes, a fim de conhecer as pré-condições.

A mudança para Itabira trouxe mudanças grandes em seu trabalho?

Bem, em Ipatinga, eu trabalhava com grandes empresas de siderurgia e metalurgia, e com o grande comércio. Assim, os maiores problemas diziam respeito a excessos de jornada de trabalho. A partir de uma remuneração média baixa, as empresas estimulavam os trabalhadores a produzir muito, para ganhar mais horas extras. Tudo bem, desde que não haja exagero. O Ministério do Trabalho entende que, além de certos limites, a jornada pode prejudicar a saúde do trabalhador. Pode resultar em acidentes. Estressado, o sujeito abandona cautelas mínimas e corre risco em demasia, tornando-se vítima.

Quando me transferi para Itabira, esse foco mudou. O município concentra grandes mineradoras e outro tipo