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Meu nome completo é Ruth Beatriz de Vasconcelos Vilela, e eu nasci em Sete Lagoas, a 60 km de Belo Horizonte, no dia 16 de dezembro de 1948. Meus pais eram José de Vasconcelos Padrão, advogado criminalista, e Ruth dos Santos Dutra, servidora pública municipal e dona de casa. Minha mãe foi uma mulher independente, de uma família de mulheres que sempre trabalharam fora, do tipo das que têm dupla jornada de trabalho.

Você fez seu curso de direito onde?

Tirei diploma na faculdade de Sete Lagoas, em 1974, e fiz concurso público para a carreira de fiscal do Ministério do Trabalho, em 1974/75. Felizmente, fui aprovada, aliás, com uma classificação muito boa: passei em 5ºlugar. Em agosto desse mesmo ano, fui chamada e toda a minha vida profissional e a minha carreira transcorreram no Ministério do Trabalho.

Na faculdade, você se interessava por direito do trabalho?

Interessante, na faculdade, eu gostava de direito civil e de direito penal. Na época, ainda cogitava da possibilidade de trabalhar no escritório de meu pai. Soube do concurso por uma amiga da família, dois ou três dias antes do encerramento das inscrições. Nunca havia pensado em emprego público como alternativa profissional, nem fazia a menor idéia dos encargos que poderiam incumbir um inspetor do trabalho. Também não tive tempo para estudar muito para o concurso. Minha filha contava, então, pouco mais de 1 ano de idade; deixei-a com os avós, e passei uma semana no apartamento de meu irmão, lendo toda a matéria das provas.

São as estratégias operacionais femininas... E as provas, foram difíceis?

Eu só havia feito provas do vestibular e, talvez por isso, o concurso me pareceu bastante difícil. Mas fui uma das primeiras a finalizar a prova. Pelos comentários posteriores, avaliei que me saíra muito mal; minhas respostas não conferiam com as dos demais candidatos. Senti uma enorme sensação de fracasso, e a auto-estima ficou lá embaixo! Enfim, voltei para casa e disse a meu pai que o assunto estava

encerrado. No entanto, quando saiu o resultado, alguém telefonou – outra amiga da família – para informar que eu tinha sido classificada. “Deve ser engano. Ela leu mal” – pensei. Só me convenci ao ver



Esta entrevistada foi realizada por Angela de Castro Gomes e Marcelo Thimotheo, no Ministério do Trabalho e Emprego, Brasília, em 4 de setembro de 2006.



permaneceu no cargo 27 anos. No seu gabinete, além dos telefones comuns, havia um telefone especial que, em circunstâncias extraordinárias, poderia ser usado para chamar o exército... Sei lá! É o que se dizia... Embora ele estivesse ali para servir à ditadura, nossa convivência não foi difícil. Tudo, na DRT, funcionava bem, e as pessoas cumpriam, rigorosamente, as jornadas de trabalho e a rotina do serviço.

De qual instância emanavam as ordens de intervenção nos sindicatos?

Eu não saberia responder a essa pergunta. O que posso dizer é que chegavam à DRT de um escalão mais alto, talvez do próprio Ministério do Trabalho, em Brasília, ou da própria Presidência da República. Durante a ditadura, as relações de poder se exerciam de forma peculiar, envolvendo diversas fontes de comando e, freqüentemente, subvertendo a hierarquia do serviço público. Por isso, não me surpreenderia nem um pouco se essas ordens partissem de uma unidade do exército, sem passar sequer pelo ministro.

A censura à imprensa, em geral, chegava à redação dos jornais por telefone. Uma voz anônima alertava: “De ordem superior”, e informava o que não deveria ser publicado. Nunca se sabia exatamente a origem de tais chamadas. Bem, na DRT, você vai ser designada para a Assessoria Jurídica.

Exato. E permaneci lá até quase 1984, quase dez anos. Os primeiros colocados no concurso receberam essa incumbência, hoje a cargo da própria Advocacia da União. Fui para lá, inicialmente, com outras duas colegas, para cuidar da análise de mandados de segurança, processos referentes a eleições sindicais, eleições de Cipa,4além da rotina diária, de emitir pareceres e responder consultas.

Esse trabalho facilitava o acesso ao delegado regional?

A demanda era criada por ele, que nos atribuía tarefas encaminhadas por seu chefe de gabinete. Contato direto só havia, por exemplo, no caso dele não gostar de um determinado parecer, e chamar o autor para conversar a respeito. Como eu tinha idéias próprias, nossos desentendimentos eram freqüentes, em geral sobre a avaliação técnico-jurídica de eleições sindicais e em virtude da minha tendência a defender o lado dos trabalhadores naquilo que fosse possível e tivesse respaldo legal.

Sem nível superior, um belo dia o Dr. Onésimo resolveu cursar direito, e pretendeu que o pessoal da Assessoria Jurídica o ajudasse a fazer os trabalhos da faculdade. Recusei-me, alegando que não faria isso nem para o meu pai. Ele ficou sem me dirigir a palavra durante meses. No entanto, ao discursar no seu almoço de despedida, entre vários elogios a diversas pessoas, louvou o meu temperamento contestador, afirmando que aprendera muito comigo. Mais tarde, já na gestão do ministro do Trabalho Walter Barelli,5 sempre que ele vinha a Brasília visitar parentes, telefonava e passava na minha sala, para um

cumprimento. Acredito que passou a gostar de mim e a me respeitar.

O Dr. Onésimo exercia um papel essencialmente político, muito diferente da minha função, mas nunca houve uma ruptura entre nós. Se abstrairmos o momento político e a questão ideológica, pode-se dizer



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meu nome da relação do Dasp,1que funcionava no prédio ocupado por diversas repartições do

Ministério da Fazenda, em Belo Horizonte. De fato, eu fora muito bem no concurso. Tirei a terceira maior nota, embora pelo critério de classificação tenha ficado em 5º lugar.

O concurso era feito por etapas ou era uma só prova?

Uma prova só, incluindo todos os ramos do direito, língua portuguesa e compreensão de um idioma estrangeiro; havia questões abertas e uma parte de múltipla escolha, tudo para ser respondido de uma só vez. Foi bastante cansativo e havia muita gente concorrendo. Não lembro a relação entre o número de vagas e o de candidatos, mas pode-se deduzir pelo salário de inspetor do trabalho, que era uma oportunidade bastante atraente. Um dos meus irmãos, cientista político da Fundação João Pinheiro, ganhava, na época, praticamente o mesmo salário; nos primeiros meses, eu nem sabia o que fazer com tanto dinheiro! Ainda hoje, a carreira atrai muita gente. No recente concurso nacional, para 200 vagas, inscreveram-se 54 mil candidatos. Por aí se tem uma idéia...

Quer dizer que você nem sabia muito bem o que era ser um fiscal do trabalho...

Só na prática, e aos poucos, fui me familiarizando com a instituição e descobrindo um outro mundo, completamente ignorado por mim durante o tempo em que fazia faculdade: o campo do chamado direito administrativo do Trabalho, as normas internas, os procedimentais etc. Ingressei na Delegacia Regional do Trabalho de Minas Gerais no ano de 1975, em plena ditadura militar. O governo do general Ernesto Geisel, historicamente conhecido como o da abertura lenta, gradual e segura, teve espasmos de

repressão. Durante os trâmites de minha contratação, fui obrigada a passar um dia inteiro na Reitoria da Universidade Federal, para retirar o meu diploma, e a me submeter a uma entrevista, na Assessoria de Segurança e Informações da DRT/MG, uma espécie de apêndice do SNI que existia em todas as repartições do serviço público federal.2

Foi constrangedor responder a um questionário – aliás, absolutamente idiota – com perguntas tipo: “Qual a sua posição diante da revolução de março de 1964?” – “Como você se define do ponto de vista

político-ideológico?” Escrevi uma única palavra: “Neutra”. É claro. Um colega nosso, mais ousado, militante talvez, previu que perderia o emprego, pois não daria respostas mentirosas. Tolice!... Aquilo não tinha a mínima importância. Mais tarde, correu o boato de que alguém, de fato, perdera o emprego por força de suas declarações verdadeiras. Não sei, eu não conhecia todos os aprovados; talvez isso fosse apenas folclore...

Outro sinal dos tempos era a prerrogativa do Ministério do Trabalho de intervir nos sindicatos; para isso, nomeava-se um servidor como interventor sindical, e alguns colegas aceitaram esse papel. O SNI ocupava uma sala, no 12

º

andar do prédio da DRT,3e seus funcionários dedicavam-se a acompanhar as greves. Secretamente, embora todos soubessem o que se passava através da “rádio corredor”, inclusive a terminologia que eles costumavam utilizar. O delegado regional do Trabalho, Onésimo Viana de Souza,



seu salário. Isso é péssimo! A lógica foi completamente invertida, pois a terceirização, teoricamente, deveria contribuir para baratear os custos. Contudo, só reduziu os problemas de gerenciamento de recursos humanos, deixados a cargo das empresas contratadas, pois o serviço, em si, custa muito mais caro. E com a agravante de exigir, a cada novo contrato, novo treinamento, para nova capacitação. A terceirização, ao se expandir, transformou-se em um verdadeiro cabide de empregos, em geral, por indicação política.

Vamos voltar à Assessoria Jurídica na DRT de Minas: você gostou da experiência?

Eu diria que tive muita sorte por ter sido designada para esse trabalho específico, porque ele me obrigou a estudar. Analisando processos e prestando informações em mandados de segurança, pude me inteirar do que era e como atuava o Ministério do Trabalho. Para mim, a assessoria foi uma verdadeira escola. De início, eu defendia idéias para as quais me inclinava intuitivamente, apenas por considerá-las corretas, mas aos poucos fui construindo uma visão político-ideológica mais madura e consistente. Contribuiu para isso, evidentemente, a emergência de um sindicalismo novo, no início dos anos 1980, época em que conheci algumas pessoas que se tornaram figuras históricas do movimento sindical de Minas. Entre eles, metalúrgicos da região do Vale do Aço, de cidades como Ipatinga e João Monlevade,7e representantes de outras duas categorias também muito organizadas e aguerridas, os petroleiros e os bancários.

Em que circunstâncias, exatamente, você conheceu esses líderes do movimento sindical?

O contato com lideranças do movimento sindical era meio inevitável para quem atuava na Assessoria Jurídica, por causa da questão das eleições sindicais e das eleições para as Cipas. Então, essas pessoas estavam sempre na DRT, procurando informações: “O processo já foi assinado, já foi despachado?” Foi quando o processo de redemocratização deu sinais de que seria efetivo, e os dirigentes sindicais mais duramente atingidos vinham tratar de questões vinculadas à anistia de pessoal de diversas categorias. Eu passava horas manuseando grandes livros de capa dura, contendo cópias de documentação, que eram feitas em folhinhas de papel de seda... Alguns nomes jamais se apagaram da minha memória: Luiz Fernando Maia, presidente dos petroleiros, e João Paulo Pires de Vasconcelos, a grande liderança sindical dos metalúrgicos de Monlevade.8O Sindicato dos Bancários, em Belo Horizonte, ficava bem defronte à DRT, e seu presidente era muito atuante.

Como você atuava nos processos de negociação coletiva nos quais esteve envolvida, no início dos anos 1980?

Nas negociações coletivas, a DRT se limitava a prestar um serviço de mediação pública. Os mediadores tentavam conduzir as partes a um consenso, sem interferir na discussão. Trata-se de um modelo originário dos Estados Unidos, do qual eu discordava, e por isso não me interessei muito pela tarefa. Extremamente ansiosa por resultados e dotada de uma mentalidade fiscalizadora, sempre tive dificuldade

Entrevista Ruth Vilela



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que ele foi um bom administrador, numa época em que os arquivos eram manuais, guardados em livros encadernados, não havendo computador e outras facilidades. Imagino que suportava pressões terríveis...

Qual era a estrutura da DRT de Minas Gerais, naquela ocasião?

O gabinete do delegado localizava-se no 8º andar. O prédio era ocupado, ainda, pela Assessoria Jurídica e diversas divisões e seções. Havia uma Divisão de Assuntos Sindicais e outra de Emprego e Salário, que cuidava dos registros profissionais, carteira de trabalho etc. A fiscalização estava subordinada à Divisão de Proteção ao Trabalho. A área de segurança e saúde no trabalho ainda não estava tão estruturada, o que só veio a ocorrer na década de 1980. A Divisão Administrativa incumbia-se dos assuntos internos: orçamento, pessoal etc. Não faço idéia de quantas pessoas compunham esse quadro, mas seriam mais de 100, com certeza. E éramos todos servidores de carreira, diferentemente de hoje, quando muitas

atividades, inclusive em setores estratégicos, são exercidas por pessoal terceirizado. Esse é um processo que se acelerou demais, nos últimos dez anos, lamentavelmente.

Você acredita que a terceirização acarreta riscos à eficácia do trabalho?

Sem dúvida. A meu ver é inadmissível deixar em mãos de pessoa contratada por tempo determinado, informações que poderão ser mal utilizadas no futuro. Sou radicalmente contrária à terceirização em atividades fim, ou próximas da atividade fim. As secretárias, por exemplo, respondem por uma atividade meio, mas absolutamente vinculadas à atividade fim, tendo acesso a informações valiosíssimas. Portanto, exceto o pessoal encarregado da limpeza, os seguranças e, talvez, os motoristas, não deveria haver ninguém que não fosse de carreira. Felizmente, agora já existe um Termo de Ajuste de Conduta, proposto pelo Ministério Público do Trabalho, com a participação da CGU6e da Advocacia Geral da União, que prevê a realização de concurso público para as atividades administrativas e de apoio, e um cronograma de substituição gradativa da mão-de-obra terceirizada, nos próximos cinco anos. No Ministério do Trabalho e Emprego, as mudanças dependem de um projeto de lei em curso no Congresso, que cria as vagas.

Segundo a sua avaliação, de forma geral, as Delegacias Regionais do Trabalho contam com funcionários dedicados?

A minha experiência talvez seja limitada, mas a DRT de Minas sempre foi considerada uma unidade “classe A”, por seu funcionamento e pela qualidade dos serviços. Ninguém jamais deixou de demonstrar empenho no cumprimento do dever. Não há como negar, porém, que a imagem do funcionário público é ruim na sociedade brasileira. Tenho que reconhecer que, além de cursos esparsos em Brasília, não se investe muito na qualificação dos servidores, nem existe qualquer incentivo a seu aprimoramento. O funcionário administrativo teve seu salário a tal ponto achatado que, hoje em dia, vive uma situação constrangedora, trabalhando lado a lado com terceirizados, que recebem o dobro, às vezes, o triplo de

MINISTÉRIO DO TRABALHO: UMA HISTÓRIA VIVIDA E CONTADA



existe no Brasil, na Itália, na Espanha e em outros países europeus.

Na Itália, o que houve foi um simpósio. O grupo era homogêneo, reunindo pessoal da Fiscalização e alguns procuradores do Ministério Público do Trabalho. No caso, debatemos a negociação coletiva, segundo a ótica da OIT, com base num modelo tripartite: trabalhadores, patrões e governo discutindo as propostas e definindo as políticas de emprego, trabalho e renda, e também a legislação. Trata-se de uma expansão da negociação stricto sensu, aquela que se trava por ocasião da data-base de reajuste salarial. Aí, o papel do Estado é mais ativo.

Na sua experiência pessoal, houve alguma negociação coletiva que tenha chamado mais sua atenção?

Houve vários casos, e não apenas comigo, mas com outros colegas que atuavam em mediações, freqüentemente atravessando a madrugada. Na década de 1980, isso era muito comum. Tínhamos por hábito fazer um intervalo, interrompendo as reuniões para conversar em separado com as partes, tentando vencer a intransigência daquela que estivesse criando impasses. Também merece registro o vigor com que se discutia os salários e as diversas fórmulas de reajuste. Durante todo o período em que o movimento sindical lutou contra a política de “arrocho salarial”,10a negociação coletiva centrou-se na matemática, deixando em segundo plano a melhoria das condições de trabalho e sua adequação aos novos processos produtivos e à implantação de novas tecnologias. A saúde e a segurança no trabalho só voltaram à baila bem recentemente.

Quando deixou a Assessoria Jurídica, em que tipo de funções você se envolveu?

Eu comecei a trabalhar na fiscalização normal, na rotineira. Mas antes, atuei no setor de análise de processos de multas e na Chefia de Gabinete do Paulo Lott, jornalista que assumiu a DRT de Minas no início do processo de redemocratização. A pessoa que ocupava o cargo se afastou, em licença de gestação, e eu a substituí. De 1985 a 1987, também exerci a presidência da Associação dos Auditores Fiscais de Minas Gerais, o que foi bem interessante.

Mas o fato mais importante foi minha mudança para Brasília, em 1993, a convite de pessoas da equipe do ministro Walter Barelli, quando me tornei Secretária Adjunta de Fiscalização. Foi a época do

Planejamento Estratégico Situacional (PES), sistematizado originalmente pelo economista chileno Carlos Matus, ministro de Salvador Allende, em 1973, e consultor do Ilpes/Cepal.11Fiz um curso com ele, de sorte que, até 1994, embora as políticas ministeriais não tenham avançado muito, como investimento pessoal aquele curto espaço de tempo foi fantástico.

O que vem a ser Planejamento Estratégico Situacional?

Trata-se de um aperfeiçoamento do planejamento estratégico, inventado pelos norte-americanos, que Matus adaptou à realidade da América Latina. É uma metodologia criada a partir dos erros cometidos na



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em agir como facilitadora, ainda mais por estar ciente da posição vulnerável dos sindicatos de trabalhadores diante das posições patronais. Estudei, fiz cursos no exterior, e embora admita que a negociação coletiva possa resultar em melhoria das condições de trabalho – pois quando as partes se entendem, cresce a produtividade e o bem estar –, ainda assim não me empenhei em ser mediadora por muito tempo. Não é o que mais gosto de fazer.

A mediação poderia funcionar melhor, a seu juízo? Afinal, é uma atividade habitual e das mais importantes de uma Delegacia Regional do Trabalho.

Acredito que seja uma atividade das mais relevantes, sim. Dá-se, porém, que os efeitos da negociação coletiva variam conforme o cenário político-econômico. Atualmente, os acordos e convenções são realizados em bases bem diferentes dos acordos e convenções daquela época áurea do sindicalismo. Hoje, para manter os seus postos de trabalho, os assalariados chegam a aceitar jornadas de até doze horas. E existem outros fatores que interferem como, por exemplo, a alta rotatividade dos empregos e da mão-de-obra, a enorme fragilidade da organização sindical que, a meu ver, obrigam o mediador a ir além da facilitação. Na conjuntura que estamos vivendo e tendo em vista a desigualdade que rege permanentemente as relações entre empregados e empregadores, justifica-se certa intervenção e certa ajuda do Estado, para propiciar um suposto equilíbrio entre capital e trabalho, dando força às melhores soluções possíveis. Caberia ao mediador, nesse sentido, colocar na mesa tudo o que pode ser extraído dos bancos de dados do próprio Ministério do Trabalho, informações da Rais, do Caged e do Sistema Federal de Inspeção do Trabalho,9para fortalecer a posição do sindicato de empregados. Obviamente, isso não acontece; ao contrário, o mediador se mantém asséptico, neutro, diante de uma relação desigual, pois isso é o que se espera do mediador.

Você se referiu aos cursos que fez, nos Estados Unidos, em 1984. Mas você também estudou na Itália, em 1997, na Organização Internacional do Trabalho, em Turim. Seria interessante saber quais as diferenças mais significativas entre as concepções de

negociação coletiva que emanam dessas duas orientações.

Fui, primeiramente, com um grupo de pessoas que não eram somente do Ministério do Trabalho, para o Instituto de Relações Industriais, da Universidade de Wisconsin, fazer um curso bastante específico sobre

collective bargaining. Recebemos uma massa colossal de informações de natureza técnica e, na

companhia de mediadores e árbitros, assistimos a alguns eventos reais. Há casos em que disputa é tão acirrada que as partes sequer permanecem no mesmo prédio; o mediador leva as propostas de um lado para o outro e, ao final das negociações, os representantes se encontram e apertam as mãos. Voltei de lá convencida de que seria difícil aplicar em outra parte do mundo aquele modelo, baseado na figura do