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Guilherme José de Araújo Moreira

Meu nome completo é Guilherme José de Araújo Moreira. Nasci no dia 6 de abril de 1960, filho de

Guilherme Franco Moreira e Maria José de Araújo Moreira. Tive quatro irmãos. Meu pai era militar; hoje está reformado. Um ano depois de se casar, ele foi transferido para Belém do Pará, onde “fui feito”, mas acabei nascendo no Rio, no bairro da Tijuca, para onde meus pais voltaram. Mais tarde, moramos em Salvador, quando eu tinha uns seis ou sete anos. Finalmente, entre 1978 e 1981, a família residiu na Inglaterra. Em virtude dessas andanças, iniciei os estudos primários na Bahia, vindo a completá-los no Rio, numa escola pública situada em Copacabana, muito boa por sinal. Cursei o 2

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grau no Colégio Militar e o 3

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ano no Colégio Bahiense, já me preparando para o vestibular. Entretanto, a missão de meu pai no exterior interrompeu meus estudos, e só entrei para a faculdade em 1981. Não considero ter sofrido com isso, pois entre os 18 e os 21 anos, aproveitei a viagem para fazer um curso de marketing e publicidade e outro de relações internacionais, além de viajar por toda Europa e a então URSS. Meu irmão, bem mais novinho, cursou o elementary school, pois tinha 10 anos e fala um inglês perfeito, sem nenhum sotaque. Enfim, de volta ao Brasil, embora minha vontade fosse estudar história e geografia, resolvi seguir os conselhos paternos, e me diplomei em economia, pela UERJ,1em 1987, e em direito, pela Universidade Cândido Mendes, em 1998.

Duas faculdades?...

Sim. E quem sabe, um dia, ainda realize meu sonho. Não vou provar ao meu “velho” que professor não morre de fome, mas poderei tirar um mestrado.

Enquanto cursava economia, você trabalhava?

Desde a época do vestibular, eu estudava e trabalhava como bancário. Primeiro no Banco Real; depois, no Citibank; e, finalmente, no antigo Banco Nacional, onde fiquei pouco tempo. A minha carteira de trabalho não é muito cheia de carimbos, não...

Você só teve três empregos.

Antes de ingressar no Ministério do Trabalho.



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27 O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, FGTS, foi instituído pela Lei nº 5.107, de treze de setembro de 1966. Esta lei foi regulamentada pelo Decreto nº 59.820, de vinte de dezembro de 1966. O Fundo é formado por depósitos mensais, efetuados pelas empresas em nome de seus empregados. Ver: www.mte.gov.br/Trabalhador/FGTS/ [acesso em 27/11/2006]

28 O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de transferência direta de renda com condicionalidades, que beneficia famílias em situação de pobreza (com renda mensal por pessoa de R$ 60,01 a R$ 120,00) e extrema pobreza (com renda mensal por pessoa de até R$ 60,00), e prevê a unificação dos programas Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Auxílio Gás e Cartão Alimentação, criados anteriormente. Ver: www.mds.gov.br [acesso em 3/1/2007]

29 A Medalha Chico Mendes de Resistência foi criada pelo Grupo Tortura Nunca Mais/RJ em 1989, para homenagear pessoas e entidades que têm se destacado na luta contra as violações aos Direitos Humanos no Brasil e no mundo. Desde então, a cada ano dez pessoas ou entidades de setores diversos são homenageados, após terem sido escolhidos em reuniões abertas. Ver: [acesso em 5/1/2007]



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Esta entrevista foi realizada por Angela de Castro Gomes e Vanessa Matheus Cavalcante no CPDOC/FGV, Rio de Janeiro, em 31 de outubro de 2006.

a dez deles,4quando há outros vinte não registrados. Sem exagero!... Não é nada anormal constatarmos metade ou um terço da mão-de-obra em situação irregular. O ser humano é mestre em enganação, e não há programa de computador que substitua uma visita.

E que impressão lhe deu a DRT, naquele momento?

Durante muito tempo, a coisa pública foi loteada, não entre partidos, mas entre pessoas, que trocavam de partido, mas permaneciam com o poder de distribuir benesses. O Rio de Janeiro, capital do Império e da República, talvez abrigasse o maior contingente de funcionários não concursados do país. Em vida, segundo soube, Grande Otelo era fiscal do trabalho!...5Cada governo, ao assumir, desmontava os quadros do anterior. Nem a ditadura militar mudou essa prática. Em conseqüência, não havia profissionalismo, muito menos suporte. O emprego se convertia num biscate ou fonte de corrupção. Pior: o serviço público não funcionava como ferramenta para a consecução das políticas governamentais. Na Itália do pós- guerra, por exemplo, apesar de toda a instabilidade, e na Inglaterra, sempre que há troca de gabinete, a máquina administrativa nunca deixa de operar.

Foi o presidente Itamar Franco, quem empreendeu a primeira tentativa séria de transformar a estrutura da administração pública do Brasil, mediante a intensificação dos concursos.6Mesmo assim, ao botar os pés na DRT, senti que ainda era muito difícil executar as tarefas, dada a falta de condições de trabalho e a

quantidade de gente que ocupava cargos sem contribuir, efetivamente, quase nada. Alguns se limitavam a fiscalizar açougues, armarinhos ou meia dúzia de bancas de jornais. A grande virada aconteceu a partir de 2001. Foi quando, pela primeira vez, tive a oportunidade de fiscalizar uma empresa de porte, o que aumentou a minha carga de trabalho e exigiu mais critério. Não se pode tratar da mesma forma uma lojinha com dois empregados e uma grande empresa telefônica, esta com um departamento jurídico formidável, aquela mal conseguindo pagar um contador desatualizado. Além disso, a repercussão, na mídia, ao se apanhar um peixe grande, induz os pequenos a consertarem os erros que andaram cometendo.

No entanto, durante sete anos, você fiscalizou pequenos negócios. Que tipo de fiscalização era essa?

As irregularidades mais comuns eram a falta de registro em carteira e o atraso do salário. Pagamento por fora é um problema crônico, ainda hoje. Obviamente, as butiques de Ipanema não pagam apenas R$ 500,00 às suas vendedoras, mas como provar? Em geral, os empresários reclamavam, dizendo que eu devia ir para Brasília, pegar os criminosos de colarinho branco pelo pé. Apesar disso, e dos transtornos que a fiscalização causava à rotina dos negócios, recebiam a gente razoavelmente bem. Em minha opinião, ninguém está obrigado a amar o fiscal, mas deve respeitá-lo. Não somos simpáticos, até porque a legislação é tão extensa que nenhuma empresa consegue manter-se 100% correta, o que torna a nossa presença indesejada para 99% dos empregadores. Quase sempre encontramos uma bagunça total, e perdemos tempo arrumando os papéis. Uma única vez, há cerca de 5 anos, eu entrei numa loja com tudo

Entrevista Guilherme José de Araújo Moreira



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Nesse ínterim, você começou a se interessar por estudar direito...

Antes, eu precisei me preparar psicologicamente, digamos assim, para enfrentar mais quatro anos de faculdade. Minha família, por parte de mãe e pai, tinha juiz, advogados; incentivo, portanto, havia. O concurso e o vestibular foram praticamente concomitantes: ao tomar posse no Ministério do Trabalho, eu estava no 1

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período da Cândido Mendes.

Para se tornar auditor, qual foi o estímulo?

Antes de mais nada, segurança; a perspectiva de uma carreira garantida, sem os percalços de quem tem carteira assinada. É o que acontece com a imensa maioria dos que optam pelo serviço público. Àquela época, o setor bancário demitia muito, em virtude da incorporação de novas tecnologias, mas eu trabalhava como operador de open marketing,2lidando com a aplicação financeira de empresas e, para mim, o problema maior era a inflação. Entre 1987 e 1990, e mesmo depois da posse do Collor,3a

instabilidade foi terrível, gerando mudanças constantes nos grandes investimentos. Quem vivia do salário não tinha proteção.

Escolhi duas áreas que me pareceram interessantes e fiz concurso para auditor do trabalho e para Técnico da Receita Federal. Foi em 1994. Passei em ambos, mas dei preferência ao Ministério do Trabalho. O interesse, eu mantenho, ainda hoje, mas a esperança de uma vida tranqüila não se realizou. De fato, nos últimos 11 anos, a cobrança de produtividade sofreu transformações radicais. Atualmente, quem não alcança as metas estabelecidas, recebe apenas parte da gratificação, além da parte fixa dos salários, naturalmente. Isso nos livrou da fama de preguiçosos, que todo funcionário público carrega nas costas, mas, por outro lado, nos colocou em constante dissensão com o governo no que diz respeito à fixação das metas, que pretendemos sempre diminuir e as autoridades, aumentar.

O concurso foi muito concorrido? Você achou as provas difíceis?

Todo concurso público é concorrido. Nas áreas de auditoria fiscal, seja do trabalho, da previdência ou da receita, é como um vestibular; a diferença entre o número de vagas e o de candidatos é tão gritante que só tirando uma nota acima de 8 o sujeito pode sossegar. A concorrência é tremenda e, na prova, é preciso ter uma atenção enorme, pois existe o risco de se perder a vaga por um único erro. Além disso, o fator sorte tem um peso muito grande, assim como o seu estado de espírito, no dia da prova. É preciso estar relaxado. Por isso, poucas pessoas obtêm êxito na primeira tentativa.

Você fazia idéia do que era um auditor fiscal quando fez o concurso?

Não. Sabia, apenas em linhas gerais, como o trabalho se realizava, e me surpreendeu muito a intensidade dos contatos com as partes. Ao contrário do fiscal da Receita, que dificilmente chega ao contribuinte, o auditor do trabalho precisa estar in loco, para verificar um dado básico: o registro do empregado. Análise documental não basta, pois ela pode nos informar sobre o recolhimento em dia do FGTS correspondente

MINISTÉRIO DO TRABALHO: UMA HISTÓRIA VIVIDA E CONTADA



O relacionamento com os trabalhadores varia muito de empresas maiores para as pequenas empresas?

Na empresa pequena, o dono está sempre ao lado, constrangendo o empregado, e nas maiores, existe o medo da perda do emprego. Eu evito conversas por isso, e também porque de nada adiantaria forçar a mão. Mantemos sigilo em torno das denúncias que nos chegam com nome e endereço do denunciante, uma exigência legal, mas quando se trata de uma comunicação anônima, às vezes, uma simples troca de olhares identifica o autor. Os trabalhadores tentam nos ajudar de várias maneiras, inclusive acenando por cima do ombro do patrão.

Na empresa grande, o auto de infração é recebido por um preposto; nas pequenas empresas, o dono está atrás do balcão. O dono do açougue é alguém que trabalha e ganha pouco mais do que um operário qualificado, apenas tem um negócio próprio. Às vezes, ele se desespera, diz estar sendo perseguido, reclama da carga tributária... Aprende-se muito acerca da legislação, fiscalizando grandes empresas; nas menores, apesar do enorme desgaste, são escolas de relações humanas, e de autocontrole.

Um pequeno empresário poderá me pedir pelo amor de Deus para que eu volte em 15 minutos, ou no dia seguinte, a fim de que ele conclua uma venda essencial à sua sobrevivência, e se o pedido me parecer verdadeiro, não terei dúvida em atendê-lo; com um grande empresário, eu não seria tão condescendente.

A fiscalização da DRT do Rio de Janeiro operava mais à base de denúncias ou segundo um planejamento?

Toda fiscalização tem início com uma denúncia; mesmo o planejamento é feito à base de denúncias anteriores. Exercemos uma atividade de inteligência, que não se expressa na descoberta de algo inédito, mas na ampliação do foco, a partir de uma informação, às vezes pequena, mas significativa. No Rio de Janeiro, as denúncias são tantas que é preciso listar prioridades; entre a falta de registro apontada por um empregado do açougue da esquina e a suspeita de irregularidades num prédio em construção, optamos pela atividade de risco e que envolve maior número de trabalhadores. As instruções provenientes de Brasília são incorporadas às diretrizes locais. Em época de carnaval, por exemplo, ou quando se programa um grande evento internacional, a fiscalização não pode deixar de levar isso em conta. Ou seja, também planejamos conforme os acontecimentos. O problema é que os bancos de dados existentes são antigos e pouco utilizados, e sem a memória das ações efetivadas em tais ou quais setores, há dois, cinco anos atrás, perdemos muito da nossa objetividade e eficácia. Todavia, nos últimos anos há uma sensível melhora nesta área.

Como é que uma denúncia chega à DRT?

Algumas chegam, diretamente, ao plantão de consultas trabalhistas, onde a pessoa, empregado ou empregador, pode se identificar ou não; logicamente, o empregado que traz uma denúncia escolhe o



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direitinho: registros, salários, pagamento de férias, FGTS – impressionante! Não obstante o cumprimento da lei seja obrigatório, deixei consignada, no livro de inspeção, a minha admiração.

Em se tratando de pequenos negócios, cumpre ao fiscal orientar...

Auditar, orientar e regularizar situações é o que se almeja, mas fiscalizar sem ter a capacidade punir, lavrando os devidos autos de infração, não faz sentido, mutila a ação fiscal. Algumas pessoas preferem o enfrentamento, persistindo no erro ou tentando burlar, ou mesmo subornar o auditor; outras deixam patente a intenção de corrigir a situação. Por exemplo, informado de que um restaurante chinês vinha mantendo empregados sem registro, hoje, pela manhã, entrei pela porta dos fundos do estabelecimento. De fato, o proprietário não estava com os documentos em ordem, pediu desculpas, mas isso não me impressionou. Conheço n desculpas... Só decidi ajudá-lo, dando prazo para o registro retroativo dos trabalhadores, porque poderia ter mandado os garçons e cozinheiros saírem pela porta da frente, e não o fez. Nesse caso, eu o teria autuado. Não adianta ser tolerante quando o sujeito tenta ser esperto ou tem uma postura desrespeitosa. Estou sempre disposto a colaborar, mas também posso ser duro.

Você chegou a sofrer violências por parte de algum empresário?

Não. Às ameaças veladas costumo responder com energia ou deboche; deixar passar em branco seria um desprestígio para a autoridade. Mas são raras. Em duas ocasiões, ao retornar aos estabelecimentos que já visitara antes, encontrei as portas fechadas, mas nem me dei ao trabalho de chamar a polícia, pois já estava de posse de todos os dados necessários. De outra feita, há cerca de quatro ou cinco anos, quando estava a caminho de uma gráfica próxima do cais, acabei enveredando por uma ladeira e fui dar no morro da Providência, atrás do Hospital dos Servidores do Estado. Ao cruzar uma esquina, defronte a um botequim, um rapaz me interpelou: “Vai pra onde? Pode não!” – “Sou do Ministério do Trabalho”. Era o olheiro da boca de fumo, e minha sorte foi que o autor da denúncia contra a empresa era um parente dele. Resumindo: ganhei um salvo-conduto e pude verificar que, realmente, os empregados não recebiam horas extras. Ainda voltei lá duas ou três vezes, e ao término da questão, o moço me deu o seguinte recado: “Aí, doutor, qualquer coisa de que o senhor precise, aqui, na comunidade, é só vir procurar a gente”.

No Rio, há territórios onde a ausência do Estado tornou a situação muito complicada...

E o fiscal vai fazer o quê?... Enfim, nunca espero boa recepção. As pessoas são humanas, e suas desculpas, invariáveis. Certa vez, fui a um salão de beleza; a dona não estava, e quem me atendeu foi uma jovem manicure a quem pedi o CNPJ...7Não conseguiu encontrá-lo... Não tinha CNPJ! Viajei, passei uma semana fora, e quando voltei, encontrei uma garotinha de uns 10 anos: Islã, filha da proprietária. Desinibida, veio conversar comigo, trouxe um cafezinho, e muito solícita, foi buscar um frasco de álcool, para limpar as minhas mãos, que eu havia sujado nem sei com que. Tivesse 18 anos, teria se dado conta de quem eu era e, com certeza, não me trataria tão bem.



consultas ou atendimento ao público. Em tese, pode-se escolher, e eu sempre que pude dei preferência ao segundo, mais cansativo, porém muito mais interessante, por suscitar questões novas e que exigem estudo.

As jornadas dos auditores, portanto, compõem-se de visitas, plantões...

As delegacias e sub-delegacias são divididas em áreas; no Rio de Janeiro há oito: Centro, Zona Sul, Tijuca, Barra da Tijuca e Jacarepaguá, Pavuna, Ilha do Governador e Penha, Campo Grande e Santa Cruz e Sepetiba. A cada quatro meses procede-se a um sorteio e faz-se o remanejamento. Com isso evita-se a rotina e vínculos pessoais, que prejudicariam, inevitavelmente, o desempenho de quem permanecesse muito tempo em serviço na mesma região.

Existem metas e, em função delas, cada auditor realiza cerca de quinze auditorias por mês. Os pontos se somam conforme o número de empregados da empresa fiscalizada e o tipo de irregularidade que se encontra; falta de registro e levantamento de débitos com o FGTS contam mais. Obviamente, a

distribuição resulta num mix de “pepinos” e casos menos complicados, do contrário ninguém conseguiria alcançar a pontuação mínima. Às vezes, demora-se muito tempo numa empresa de 10 a 15 empregados, com um contador mal remunerado, a documentação desorganizada... Antes de autuar, aquilo vai dar um trabalhão! Por outro lado, o levantamento de dados em uma empresa de mil ou dois mil empregados, que pode exigir a impressão de até dez mil laudas, será todo ele executado por computador, e caberá num pen drive.8

Na blitz, a fiscalização é direcionada para certos atributos trabalhistas; no Natal, por exemplo, basta verificar os registros e os depósitos do fundo de garantia. Não há estresse e o número de visitas cresce. Cada fiscal trabalha de uma maneira, mas eu me desespero quando não consigo atingir as metas até o dia 20!... Por isso, acelero no início do mês. Alguns colegas adoram trabalhar à tarde; eu, no máximo às 8 e meia, já estou na rua, e vou até às 3 horas da tarde, direto. É uma vantagem, poder estabelecer seu próprio horário de trabalho, ir ao médico ou ao dentista sem qualquer problema, ou voltar pra casa ao sentir cansado, pois o trabalho de rua é extenuante.

Durante o ano em que estive na chefia da fiscalização a rua me fez falta. Por menos burocrático que fosse, o trabalho interno é diferente; os problemas trazidos a mim pelas visitas eram muito gratificantes, principalmente quando se chegava a uma solução. Por outro lado, se o sujeito não tinha como sanar a irregularidade, e a lei não me permitia estender mais o prazo, me desgostava entregar o caso à justiça. E aí, ficar sem saber o final...

Os prazos são fixos?

Não. Há quem dê muito prazo, outros dão pouco; costumo dar, inicialmente, sete dias, para evitar pedidos de prorrogação. Persistindo a irregularidade, conforme o andamento da ação fiscal, da real vontade do empregador em regularizar os erros, o prazo pode e deve ser prorrogado.

Entrevista Guilherme José de Araújo Moreira



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anonimato. Hoje em dia, recebemos informação também através do e-mail do gabinete do Delegado Regional do Trabalho. Outras fontes são os sindicatos e o Ministério Público do Trabalho, e os colegas fiscais de instituições diversas. Há quem prefira escrever à Presidência da República ou ao ministro. De um jeito ou de outro, toda denúncia é protocolada, para que o informante possa cobrar resultados.

Os sindicatos costumam ser atuantes nesse sentido?

No Brasil, os sindicatos têm força suficiente para alterar as relações de trabalho, mas ainda não se deram conta disso; a maioria está aprendendo a lidar com as denúncias. Ao invés de nos comunicarem

irregularidades, insistindo na realização imediata de mesas redondas ou ações fiscais, com a interferência da DRT, por que não tentam dialogar direto com a empresa, antes de acionar a Auditoria-Fiscal do Trabalho? Sindicato é para isso! Imagine quanta autuação poderia ser evitada graças ao entendimento direto entre as partes!...

Temos nos esforçado nesse sentido, estimulando as entidades a uma postura pró-ativa, e em alguns setores os sindicatos já vêm agindo desta forma: negociando, antes da visita do auditor. Bancários, metalúrgicos, telefônicos, enfermeiros, pessoal administrativo da área de ensino e porteiros de

condomínios têm obtido, por intermédio de suas entidades, a regularização de registros, de pagamentos em atraso, de horas extras; os operários dos estaleiros e da construção civil, a aquisição de equipamentos de segurança; e os empregados nas usinas, melhores condições de trabalho junto às caldeiras.

Não se trata, absolutamente, de equiparar os sindicatos à fiscalização: uma coisa não tem nada a ver com a outra. Inclusive, do meu ponto de vista, nem sempre é válido o representante sindical acompanhar o fiscal na sua visita à empresa. Às vezes, atrapalha... Os auditores, em que pese o modo mais ou menos