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4.3 DESTITUIÇÃO DE ADMINISTRADORES

4.3.3 Destituição por justa causa

4.3.3.2 Falta de cuidado e diligência

O Código Civil, pelo seu art. 1.011212, impõe ao administrador da sociedade limitada que, no exercício de suas funções, atue com o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios.

210 ”Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução,

os princípios de probidade e boa-fé.”

211 DIREITO COMERCIAL. SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA.

GARANTIA ASSINADA POR SÓCIO A EMPRESAS DO MESMO GRUPO ECONÔMICO. EXCESSO DE

PODER. RESPONSABILIDADE DA SOCIEDADE. TEORIA DOS ATOS ULTRA VIRES. INAPLICABILIDADE. RELEVÂNCIA DA BOA-FÉ E DA APARÊNCIA. ATO NEGOCIAL QUE RETORNOU EM BENEFÍCIO DA SOCIEDADE GARANTIDORA. (...) 3. A partir do Código Civil de

2002, o direito brasileiro, no que concerne às sociedades limitadas, por força dos arts. 1.015, § único e 1.053, adotou expressamente a ultra vires doctrine. (...) 4. No caso em julgamento, o acórdão recorrido emprestou, corretamente, relevância à boa-fé do banco credor, bem como à aparência de quem se apresentava como sócio contratualmente habilitado à prática do negócio jurídico. 5. Não se pode invocar a restrição do contrato social

quando as garantias prestadas pelo sócio, muito embora extravasando os limites de gestão previstos contratualmente, retornaram, direta ou indiretamente, em proveito dos demais sócios da sociedade fiadora, não podendo estes, em absoluta afronta à boa-fé, reivindicar a ineficácia dos atos outrora praticados pelo gerente. 6. Recurso especial improvido. Grifou-se. (Recurso Especial n.º 704546/DF, Relator:

Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, Publicação: DJ, em 8-6-10). No mesmo sentido, TJSP, Agravo de Instrumento n.º 7232203900, Relator: Desembargador Salles Vieira, Vigésima Quarta Câmara de Direito Privado, Publicação: DJ, em 11-2-09.

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“Art. 1.011. O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração de seus próprios negócios.

§ 1º Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação.

Por essa mesma razão, o legislador tomou o cuidado preventivo de vedar a administração societária por parte de condenados por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação.

A referida regra tem inspiração no Código Comercial brasileiro, cujo já revogado art. 88-4 previa que os trapicheiros e administradores de armazéns de depósito eram obrigados a

ter em boa guarda os gêneros que receberem, e a vigiar e cuidar que se não deteriorem, nem se vazem sendo líquidos, fazendo para esse fim, por conta de quem pertencer, as mesmas diligências e despesas que fariam se seus próprios fossem. Tal comando fora, ainda, reproduzido pelo art. 153213 da LSA.

No Direito Comparado, o dever de diligência é previsto pelos arts. 64, do Código das Sociedades Comerciais português, 225, da Lei das Sociedades de Capital Espanhola, e 223- 22, do Código Comercial francês.

A referida regra de conduta demonstra o rigor do legislador civilista, afinal, a negligência do administrador, malgrado não constitua um ato ilícito, pode ser suficiente para gerar a pretensão de responsabilização deste por parte dos demais quotistas, por expressa previsão do art. 1.016214, do CC.

Tal situação pode gerar severos litígios entre sócios e administradores nos momentos de crise econômica, quando resultados negativos não decorrem, necessariamente, da desídia dos gestores. Essa situação de grande risco merece a devida atenção pelo Poder Judiciário215.

A indeterminação do alcance da aplicação do dever de diligência deve, portanto, levar à sua interpretação restrita, só havendo responsabilidade de quem assume o encargo

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“Art. 153. O administrador da companhia deve empregar, no exercício de suas funções, o cuidado e diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração dos seus próprios negócios.”

214 “Art. 1.016. Os administradores respondem solidariamente perante a sociedade e os terceiros prejudicados,

por culpa no desempenho de suas funções.”

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Verifique-se a correção do seguinte trecho, extraído do voto do Desembargador Fernando Vidal de Oliveira, em processo tramitado junto ao TJPR: (...) importa frisar que, 'internamente, em suas relações com os sócios, o gerente exerce o poder de gestão; em seu relacionamento com terceiros, o de representação', ou de 'presentação' da sociedade, como quer Pontes de Miranda. Obrará sempre o gerente, em atividades tanto de gestão

(internamente), como de presentação (externamente), 'com o cuidado e diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração dos seus próprios negócios. (...) Assim obrando, não poderá o gerente, tão-somente porque inexitoso (sic) em sua administração, ser responsabilizado. Se não excedeu, nem se desviou de seus poderes gestórios (sic) e de presentação, não haverá fundamento para se lhe imputar qualquer responsabilidade. Os azares, a alhea (sic), a tirania das circunstâncias (como as chamou

Galbraith) rondam os negócios. E em países como o nosso, de economia instável, há ainda o 'fato do príncipe' (em oito anos, oito planos econômicos), a transformar, repentinamente, bons negócios em caminho certo até mesmo para a quebra. (...). (Apelação Cível n.º 155.378-0, Relator: Desembargador Fernando Vidal de Oliveira, Quinta Câmara Cível, Julgamento: 1.º-6-04).

administrativo quando, analisando-se precisamente a sua ação, esta destoar flagrantemente do esperado nas práticas empresariais216.