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Para discorrer sobre o fazer docente na era digital torna-se ne- cessário pensar na educação de ontem, retroagir no tempo.

Tempos atrás, não muito distante, o ambiente escolar era o local adequado para o aprendizado do ler, escrever e contar, que tinha por papel a preparação moral e intelectual dos alunos, para assumir sua

posição na sociedade. O professor era a autoridade máxima, o detentor do conhecimento que repassava aos alunos por meio de aulas teóricas, hábil no manejo de suas ferramentas de trabalho: o quadro negro e os livros didáticos, com a obrigatoriedade de vencer os conteúdos previa- mente determinados pelos setores competentes da época. O aluno era o elemento passivo do processo, grande receptor dos conhecimentos, absorvidos de forma pacífica, cuja aprendizagem era demonstrada nos momentos avaliativos No ensino, praticamente inexistiam atividades de teor prático, ou seja, aos alunos não era permitido criar e construir o conhecimento.

Hoje, a sociedade vivencia a era digital, traduzida pela diversidade de recursos tecnológicos, disponibilizada aos cidadãos no meio social. É o mundo da tecnologia a favor de todos. Na era digital, o ambiente escolar tornou-se um espaço livre para o ensino e o educar, com a função de formar cidadão com saberes indispensáveis para a sua inserção na sociedade. O professor deixou de ser o centro do processo e assumiu a postura de mediador da aprendizagem e o aluno, de mero expectador, passa a ter o perfil de colaborador, haja vista que sua aprendizagem começa a acontecer a partir de seus conhecimentos prévios.

Tais mudanças suscitaram alterações na prática pedagógica do professor, o qual buscou na aquisição e/ou redimensionamento do le- tramento digital, a saída para acompanhar a aprendizagem da geração digital, competente no uso dos equipamentos digitais. São novos tem- pos, nova geração, hora de ressignificar a educação, a práxis pedagógica. A literatura circulante sobre a integração das tecnologias com a educação indica que a apropriação tecnológica se reflete nas práticas pedagógicas, visto que, tal inserção não se traduz simplesmente, pela troca do velho pelo novo, mas o adentrar de novos recursos no ambiente escolar capazes de motivar transformações nos elementos integrantes do processo educativo, dentre eles o fazer pedagógico.

Considerando a vinculação da educação às características marcan- tes de cada época, as quais lhe define o caráter e o pensamento pedagó- gico, é possível afirmar que, na era digital, amplia a sua finalidade em termos de acesso e passa a cumprir a função social mais democrática. Nesse contexto, encontra-se o profissional da educação, agora partícipe ativo do processo ensino aprendizagem, responsável pela instauração dos suportes e subsídios necessários para o desenvolvimento das com- petências e habilidades indispensáveis para a construção do conheci- mento do saber pelo aluno. Para tal empreendimento, é preciso que o professor tenha uma boa formação acadêmica e um bom letramento digital, facilitador do uso dos recursos tecnológicos, afinal a tecnologia

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sozinha não representa a salvação da escola, em termos da superação de seus problemas e de garantia da aprendizagem dos alunos.

Sobre a importância e necessidade de preparação do professor para o enfrentamento dos desafios educacionais Piaget (1988, p. 25) já afirmava:

A preparação do professor constitui a questão pri- mordial de todas as reformas pedagógicas, pois enquanto não for resolvida de forma satisfatória, será totalmente inútil organizar belos programas ou construir belas teorias a respeito do que deveria ser realizado [...] A única solução racional: uma formação universitária completa para os mestres de todos os níveis.

A construção da habilidade e capacidade de ensinar é vinculada ao tipo de formação profissional, o que reforça a necessidade de uma formação que subsidie o entendimento e o relacionamento do docente com a teoria e a prática, de forma a fundamentar a ação pedagógica adequada às condições de intervenção na realidade escolar. Assim, a formação dos professores deve visar ao perfil da clientela do século XXI, portadores de influência significativa dos recursos tecnológicos, corroborando com as palavras de Belloni (2010, p. 246) em “oferecer um ensino mais sintonizado com as culturas das novas gerações e com as demandas da sociedade”.

No contexto educacional brasileiro destacam-se dois modelos de formação, o da racionalidade técnica e o da formação como um conti- nuum. O primeiro modelo, o da racionalidade técnica, fundamenta-se no acúmulo de conhecimentos teóricos para uma aplicabilidade prá- tica posterior, viabilizando uma atividade profissional com base na resolução de problemas instrumentais pelo viés da aplicação teórica.

Nos tempos atuais, com base em uma dimensão mais pontual, a literatura vem enunciando dois espaços nos quais pode ocorrer, em caráter formal, o desenvolvimento profissional dos docentes: o da formação inicial e o da formação continuada. A formação inicial é entendida como os processos institucionais de formação profissional, no caso, os cursos de licenciatura, responsáveis pela legitimidade do exercício nos níveis fundamental e médio; a formação continuada abrange todas as iniciativas pessoais e/ou institucionais de aprofun- damento de conhecimentos, com duração e formatos diferenciados, realizados, paralelamente, ao exercício profissional docente.

O modelo de formação como racionalidade técnica, de certa forma, tem sido superado pelo surgimento da concepção de formação docente como um continuum, o qual abrange o processo de forma mais ampla, ou seja, inicia antes da formação inicial, com prolongamento por toda a vida, sem encerramento em uma única iniciativa de aprofundamento de conhecimentos.

Com foco nas necessidades e o desenvolvimento profissional do professor, a formação docente como um continuum considera a histo- ricidade da caminhada docente, em termos de experiências pessoais e profissionais do professor. Tais experiências influenciam e interferem no trabalho pedagógico, o qual se desenvolve de forma integrada às práticas inerentes aos contextos social e escolar vivenciado por cada professor. Na verdade, é uma formação, cujo marco inicial incide na realidade prática do professor, sendo ele figura central do processo.

No processo de formação continuada, o professor tem a oportuni- dade de analisar, questionar e refletir a sua própria prática, tornando- -se o investigador de própria prática, elemento importante para a realização de intervenções, construção de práticas alternativas para sua atuação pedagógica, atento à complexidade do contexto de atuação no qual está inserido.

Assim, muitos acreditam que a formação inicial ou continuada, no atual contexto, se beneficiaria com a inserção do letramento digital, com o sentido de “usar a tecnologia digital, ferramentas de comunicação e/ou redes para acessar, gerenciar, integrar, avaliar e criar informação para funcionar em uma sociedade de conhecimento” (SeRIm, 2002 apud SOUZA, 2007, p. 57) nas propostas curriculares, como também, nas proposições de continuidade de estudos, considerando que tal inserção, nas formações, se refletiria na prática pedagógica, principal- mente, no que tange à compreensão do letramento digital do alunado. Com o conhecimento e uso das ferramentas digitais, o professor torna- -se um letrado digital, com possibilidade de acessar os instrumentos tecnológicos, de ter domínio das capacidades básicas para o uso deles, sem esquecer os gêneros discursivos e linguagens digitais utilizadas pelos alunos. Tudo em prol da integração dos alunos, de forma criativa e construtiva, ao cotidiano escolar.

Salienta-se que o termo integrar aqui utilizado não significa o abandono das práticas já existentes, que ainda continuam sendo produtivas e necessárias, mas que ocorra o acréscimo do novo ao já existente, afinal, como enunciado anteriormente, embora com outras palavras, a tecnologia não é a panaceia das dificuldades enfrentadas

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pelo professor diante do processo educativo; é, antes, importante aliada para o desenvolvimento do trabalho docente.

coNSidErAÇÕES fiNAiS

A partir dos estudos realizados para a elaboração deste trabalho, foi possível refletir de maneira crítica a respeito da tecnologia como ferramenta, hoje, indispensável à prática do docente, tanto em sala de aula, quanto fora dela, permeando os caminhos do saber e os que levam à construção do ser humano em sociedade e para ela, daquele que tendo nascido na era digital, é capaz de acessar as mais variadas informações e acercar-se de elementos para construir seus discursos e explicitá-los quase sempre em tempo real.

Autores importantes  como Almeida (2003), Belloni (2010), Frei- tas (2010), mizukami (2010), Pretto (2011) entre outros que discutem acerca de Educação, era digital e tecnologia, foram de grande valia, pois suas obras nortearam as discussões sobre a temática da futura escrita, motivaram a produção textual, subsidiando com informações e argumentos contidos neste texto, além de direcionar a confirmação da relevância da tecnologia para o processo ensino-aprendizagem.

O reconhecimento do papel da tecnologia implica o entendimento da inserção de todos neste contexto, o da época digital, como educa- dores e aprendizes, uma vez que muitos são professores formados num tempo em que a grande tecnologia era a máquina datilográfica. Na atual conjuntura, muito embora ainda esses professores tenham algum olhar voltado para a Educação do passado, vivem o panorama dos questionamentos sobre qual a melhor atitude a tomar diante de discentes versados em aparelhos digitais desde a mais tenra idade e/ou como adequar a prática pedagógica a fim de que as aulas possam ser criativas, de modo que o processo ensino-aprendizagem seja eficiente. A tecnologia tem servido tão bem aos propósitos comunicativos que a produção integral desse trabalho ocorreu de maneira colabora- tiva entre as autoras, dentro de ambientes virtuais, nos quais foram realizadas pesquisas e leituras em prol da consolidação do alicerce para a referida produção, evidenciando, assim, o quão importante a tecnologia é no contexto educacional e o quanto pode contribuir no processo ensino-aprendizagem.

A ciência tecnológica proporcionou inovações em todos os sentidos e em todas as áreas de atuação do homem; com a educação não poderia ser diferente, daí a necessidade de um novo olhar para

as ações educativas continuadas, em busca de maneiras que visem à transformação da realidade das salas de aula para que a educação e a sociedade sejam as grandes beneficiadas, permitindo a participação de docentes e discentes, de modo efetivo, dos processos formativo e informativo, propiciados pela educação atrelada à tecnologia.

É fato que a escola contemporânea deve estar sempre em busca de conhecimento, por ser o espaço no qual as realizações humanas vão além da aquisição de conteúdos programáticos, pois é na escola virtual ou física que se alarga a possibilidade de produção, constru- ção, elaboração e seleção de conhecimentos baseados em inovação, criatividade e reflexão .

Nesta perspectiva, há o entendimento de que a era chamada digital ajudou a reinventar a sala de aula, alterou as formas de ensi- nar e aprender e trouxe muitas dificuldades para os antigos que a ela chegaram. Percebem-se, ainda, conflitos entre o tradicional e o mo- derno relativos à adaptação e ao uso de ferramentas tecnológicas; no entanto, faz-se necessário construir, sedimentar e ampliar ainda mais as relações entre educação e tecnologia e que, nessa ligação, docentes e discentes, num trabalho de parceria, sejam capazes de agir e interagir; ensinar e aprender, buscando e potencializando conhecimentos que, partilhados, possam ser transformados em bem comum.

rEfErêNciAS

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