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PrÁticos da Educação inFantil

E a ForMação do PEdaGoGo:

rElato dE EXPEriÊncia

Simei Araujo Silva16

iNTroduÇÃo

o presente texto propõe relatar, analisar e refletir sobre o desenvolvimento e a contribuição das disciplinas de Sociedade, Cultura e Infância e de Fundamentos Teóricos e Práticos da Educação Infantil para a formação do professor de educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental. Ambas possuem 64h teóricas e 16h práticas e foram realizadas em 2019, no pri- meiro ano do Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da universidade Federal de Goiás (Fe/uFG). em 2015, a Fe adequou o Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia (PPCP) segundo as exigências das resoluções do Conselho Nacional de educação (nº 01/2006 e nº 02/2015), que instituíram as Diretrizes Cur- riculares Nacionais para o curso de graduação em pedagogia – licenciatura –, dentre elas o aumento da carga horária prática desde o primeiro ano do curso, o que ressalta a importância da relação teoria e prática na formação do professor.

Faremos um recorte do conteúdo estudado nessas disciplinas no campo teórico a partir de aspectos históricos, políticos, cultu- rais, legais e pedagógicos da concepção de criança, de infância, da trajetória da assistência social e educacional a partir do estudo de Marcílio (1998). A autora analisa os aspectos históricos e so- ciais da criança desde a antiguidade até o século XX, elencando o abandono e a assistência pela Igreja e pelo Estado de crianças carentes, desvalidas, escravas, legítimas e ilegítimas.

16 Doutora em Educação. Professora e pesquisadora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. E-mail: simeiaraujo@hotmail.com

dEsEnVolViMEnto

Em meio ao processo de democratização da sociedade brasileira que resultou da extinção do Regime militar no início da década de 80 do século XX, iniciou-se a discussão de elaboração de políticas públi- cas para os diversos campos sociais como saúde, educação, cultura, meio ambiente e outros. Em decorrência desse cenário democrático, implantou-se a Constituição Federal de 1988 que expressou as variadas aspirações dos governantes, professores e estudantes universitários e população em geral em prol dos direitos e deveres do cidadão.

Nesse contexto, surgiram novas discussões e elaborações de po- líticas públicas, sobretudo para a garantia de uma educação pública, gratuita e de qualidade a todos os cidadãos brasileiros. Assim, foi construída e implementada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (lei nº 9.394/96) que determina a formação em nível supe- rior (em universidades e institutos superiores de educação) de todos os professores da educação infantil e séries iniciais do ensino fun- damental. Em decorrência dessa legislação, o Conselho Nacional de Educação instituiu Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial e continuada dos professores do magistério da educação básica, dentre elas destacamos a Resolução de 2015 (CNE/CP nº 02/2015), que estabelece princípios e concepções de educação, de formação que engloba principalmente a relação teoria e prática, sólida base teórica, interdisciplinaridade, elaboração de projeto pedagógico, articulação entre ensino, pesquisa e extensão, conforme verificamos no capítulo I, Das Disposições Gerais, incisos V, VI, VII do documento;

V – a articulação entre teoria e prática no processo de formação docente fundada no domínio dos co- nhecimentos científicos e didáticos, contemplando a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e exten- são, VI – reconhecimentos da educação básica como espaços necessários à formação dos professores do magistério, VII – um projeto formativo nas insti- tuições de educação sob uma sólida base teórica e interdisciplinar que reflita a especificidade da formação docente, assegurando organicidade ao tra- balho das diferentes unidades que concorrem para essa formação (BRASIL, CNE/CP n. 02/2015, p. 4).

FORMAÇÃO DOCENTE: importância, estratégias e princípios - Volume I

Diante desse documento, constatamos que a formação do professor da educação infantil e das séries iniciais do ensino fundamental requer sólida fundamentação teórica e permanente diálogo com a prática pedagógica interdisciplinar da escola básica que inclui uma gestão participativa e democrática envolvendo toda a comunidade escolar.

No ano de 2015, em atendimento às exigências dessas resolu- ções do Conselho Nacional de educação, a Fe/uFG adequou o PPCP implementando-o a partir do ano de 2018 aos novos ingressantes desse curso. esse projeto apresenta uma concepção de formação em que:

Cabe ao pedagogo formado por essa instituição compreender historicamente as múltiplas di- mensões dos processos de formação humana, participar da produção do saber da área e atuar como docente em Educação Infantil e nos Anos Iniciais do ensino Fundamental, o que inclui a reflexão, a crítica, a criação, o planejamento, a execução, a gestão e a avaliação do trabalho pedagógico, dos sistemas, unidades e projetos educacionais na escola, instituições educativas e em outros contextos formativos. (PPCP, 2015, p.12).

Uma alteração expoente na matriz curricular do curso foi a criação de novas disciplinas, dentre elas Fundamentos Teóricos e Práticos da Educação Infantil, bem como o acréscimo de carga horária prática em diversas disciplinas clássicas como as de fundamentos da educação mi- nistradas no primeiro ano (História da Educação, Psicologia da Educação e Sociologia da Educação). Essa carga horária prática foi denominada de Prática como Componente Curricular (PCC), distinguindo-se da prática de ensino e do estágio obrigatório, “[...] entende-se prática como componente curricular, neste projeto, como o conjunto de atividades formativas que devem possibilitar aos educandos mobilizar e colocar em prática seus conhecimentos [...]” (PPCP, 2015, p. 25). Dentre as atividades que podem ser trabalhadas como PCC, é possível destacar: [...] organização de seminários temáticos integra- dores no âmbito das disciplinas por período, áreas afins ou outras formas de organização, semestrais ou anuais; observação e reflexão crítico-investiga- tiva sobre situações educativas; exame crítico das matrizes curriculares e materiais didáticos desti-

nados ao processo de ensino-aprendizagem nos estabelecimentos de ensino; atividades de obser- vação e análise dos processos de desenvolvimento e aprendizagem humana. (PPCP, 2015, p. 26). Rousseau (1992) contribui com a discussão do reconhecimento da criança como ser diferente do adulto, que tem sua particularidade infantil como natural e que, portanto, tem que ser respeitada. Para o autor:

A natureza quer que as crianças sejam crianças antes de ser homens. Se quisermos perturbar essa ordem, produziremos frutos precoces, que não terão maturação nem sabor e não tardarão em corromper-se; teremos jovens doutores e crianças velhas. A infância tem maneiras de ver, de pensar, de sentir que lhes são próprias; nada menos sensato do que substituí-las pelas nossas [...]. (RouSSeAu, 1992, p. 75).

Ao final do século XIX, na Itália, montessori iniciou seus ques- tionamentos sobre a falta de reconhecimento da criança como ser ativo e dotado de potência cognitiva, alertando a sociedade sobre a ausência de um lugar próprio para as crianças nos diversos espaços sociais. Em decorrência dessa problematização e de seus estudos e pesquisas, a autora afirma que a criança desde o seu nascimento possui uma energia vital que na relação com um rico ambiente físico e com a convivência humana desenvolverá a sua inteligência e construirá o novo homem. Por isso,

Após um determinado espaço de tempo, a criança fala, anda, passa de uma conquista a outra até cons- truir o homem em toda a sua grandeza e inteligência [...] a criança não é um ser vazio, que deve a nós tudo aquilo que sabe e com o que a enchemos. Não, a criança é o construtor do homem, não existe um só homem que não tenha sido formado pela criança que foi certo dia. (moNTeSSoRI, s/d, p. 25). Sobre a trajetória da educação infantil no Brasil, Merisse (1997) apresenta quatro concepções: a filantrópica que perdurou durante todo período colonial, a higiênico-sanitária que iniciou no Império

FORMAÇÃO DOCENTE: importância, estratégias e princípios - Volume I

e atravessou meados do século XX, a assistencial que predominou o atendimento ainda nesse século e, por fim, a educacional que felizmente foi construída diante do avanço da democracia na década de 1980, ins- pirando a elaboração de políticas públicas para educação infantil e en- globando a exigência da formação do pedagogo para atuar na educação da primeira infância e nas séries iniciais do ensino fundamental. Assim houve a ampliação do atendimento com maior qualidade sobretudo às crianças carentes e também a preocupação com a infraestrutura que inclui o espaço físico e a elaboração de diretrizes curriculares para a educação infantil.

O estudo do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNeI, 1998) também foi significativo para o conhecimento dos diversos fundamentos, princípios, metodologias e recursos didá- ticos, projetos e orientações para o trabalho do professor da educação infantil. A análise do volume 3 desse documento foi importante para os (as) alunos(as) de graduação conhecerem quais conteúdos são necessá- rios para a elaboração de um projeto e planejamento para a educação infantil. esse documento traz sugestões de cinco eixos para serem trabalhados na prática: música, artes visuais, linguagens oral e escrita, natureza e sociedade, matemática. Na disciplina de Fundamentos Te- óricos e Práticos da Educação Infantil, os (as) acadêmicos (as) criaram projetos temáticos inspirados nesses eixos para um agrupamento da educação infantil.

Foram desenvolvidas atividades práticas que objetivaram oportu- nizar aos estudante refletir a prática a partir do embasamento teórico estudado. Optamos por realizar tais atividades através de observação de uma instituição de educação infantil (pública ou particular) orientada por um roteiro previamente estruturado seguido da elaboração de um relatório dessa atividade. Posteriormente, houve a socialização dessa experiência com duas turmas formadas por 33 (trinta e três) alunos/as em cada uma delas. A socialização ocorreu por meio de debate e avalia- ção, criação de um projeto pedagógico temático para um agrupamento da educação infantil e exposição em sala de aula.

Importante ressaltar que o plano da carga horária prática de 16h da disciplina de Fundamentos Teóricos e Práticos da Educação Infantil contempla a atividade proposta pelo PCC, que é observação e análise crítica de uma situação educativa, como também elaboração de um seminário temático e de projeto pedagógico. A seguir relatamos as atividades práticas desenvolvidas nessa disciplina com duas turmas do primeiro ano matutino do curso de pedagogia da FE/UFG.

rElatos das oBsErVaçÕEs dE instituiçÕEs dE