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mônica Eliana de oliveira ferreira36

maria caroline cavalcante dos Santos37

raimunda Berenice Pinheiro cardoso38

iNTroduÇÃo

A obra “Issao e Guga”, de matthew lipman39, é uma narrativa pertencente ao Programa de Filosofia para crianças, cuja finalidade é apresentar uma abordagem filosófica e interdisciplinar para as crianças do primeiro e segundo ano do Ensino Fundamental I.

36 Doutoranda em Comunicação, linguagens e Cultura pela universidade da Amazônia; mestre em Ciência da educação; Professora da universidade do estado do Pará; e-mail: monicaeliana.ferreira@gmail.com

37 Mestranda pelo Programa de Pós- Graduação em Educação pela Universidade Federal do Pará (UFPA) Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). E-mail: carollcavalcante98@gmail.com

38 Doutoranda em Comunicação, linguagens e Cultura pela universidade da Amazônia; mestre em Comunicação, linguagens e Cultura; Professora da Rede estadual de ensino; e-mail: berecardoso2015@gmail.com

39 matthew lipman nasceu em 1923 em Vineland, Nova Jersey, faleceu em 26 dezembro de 2010 em sua cidade natal. Estudou em Stanford, Columbia, na Sorbonne, em Paris e na universidade de Áustria, Ph.D. em Filosofia pela universidade de Columbia em 1954. Sua tese, (1967) teve como referência a obra de John Dewey. Foi professor de Filosofia na uni- versidade de Columbia e presidente do Departamento Geral de Educação no período de 1950 e 1960. Em 1972, foi para a Montclair State College para desenvolver sua proposta de Filosofia para Crianças. em 1974, fundou o Institute for the Advancement of Philosophy for Children (IAPC) (Instituto para o Avanço da Filosofia para Crianças), com Ann mar- garet Sharp, sua assistente e co-autora dos manuais de Filosofia para Crianças. lipman desenvolveu o Programa de Filosofia para Crianças na década de 70, em Nova Jersey, nos estados unidos, cujos princípios e métodos estão reunidos nas obras: “A Filosofia vai à escola e Filosofia na Sala de Aula”. Sua proposta foi desenvolvida em vários países, sendo que no Brasil iniciou na década de 80, em São Paulo. Atualmente, a proposta de Filosofia para Crianças é desenvolvida pelo Instituto de Filosofia e educação para o Pensar em Curitiba/PR.

Na concepção de Lipman (1990), o ensino é resultado de um pro- cesso de investigação que posiciona o professor como facilitador/ mediador do diálogo, ou seja, aquele que é capaz de proporcionar e incentivar a busca de conhecimento pela pesquisa e pela reflexão. Por isso “Issao e Guga” formam um programa que tem por objetivo levar às crianças a refletirem sobre a natureza” (lIPmAN, 1997, p. 14). o autor propõe o diálogo como forma de estabelecer análises cognitivas de pensamento razoado para estimular o pensamento auto reflexivo das crianças. Assim, “[...] fazer filosofia é algo que a criança pode achar bastante agradável, significa conversar sobre tópicos filosóficos em linguagem comum, disciplinada...” (lIPmAN, 1990, p. 165)

A proposta de estudo atenta, primordialmente, às contribuições do literário Mattew Lipman. Esse estudo se consolida por meio da análise bibliográfica da narrativa “Issao e Guga”, destinada às crianças do primeiro e segundo ano do ensino Fundamental I, as quais consti- tuem atores atuantes, a fim de que ocorra uma melhor compreensão do estudo proposto. Com isso, o objetivo é analisar as contribuições da proposta de Filosofia para Crianças, de mattew lipman a partir da interdisciplinaridade e educação inclusiva, compreender a narrativa “Issao e Guga”.

O percurso metodológico utilizado para atender ao objetivo pro- posto se constituiu de um estudo bibliográfico, tendo como principal referência as obras de mattew lipman, e outros literários que corro- boram com o pensamento lipmaniano.

o ProGraMa dE FilosoFia Para crianças E a

PráTicA docENTE

o Programa de Filosofia para Crianças, de mattew lipman, pode ser desenvolvido desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. Esse programa propõe ultrapassar os limites da educação tradicional, além de incentivar as crianças ao exercício da racionalidade, a partir do de- senvolvimento do pensamento, que para o autor são “[...] habilidades de raciocínio, habilidades de formação de conceitos, habilidades de investigação e habilidades de tradução [...]”. (lIPmAN, 1990, p. 99–101). Tais habilidades são efetivadas pelo diálogo investigativo. A relação dialógica torna-se essencial por considerar a potencialidade intelec- tual da criança, a necessidade de participação como sujeito ativo no processo ensino-aprendizagem, sendo a sala de aula, uma comuni- dade de investigação filosófica. Assim “o objetivo primordial de um

FORMAÇÃO DOCENTE: importância, estratégias e princípios - Volume I

programa de Filosofia para Crianças é ajudá-las a aprenderem a pensar por si mesma”. (lIPmAN, 1990, 994, p. 81). A construção do pensa- mento autônomo ocorre à medida que as crianças não só respondem a questionamentos, mas também possam elaborá-los. Isto permitirá o desenvolvimento desta capacidade, ou seja, o pensamento razoado, dentro de uma lógica infantil e não infantilizada.

Lipman (1990), defende o diálogo para construção da identidade da criança, a partir da linguagem, da arte, da literatura e outras áreas do conhecimento. Para isso “[...] a conversação é um princípio da edu- cação geral. mas, na educação filosófica, a conversação é um princípio essencial inerente à própria atividade do filosofar.” (CuNHA, 1992, p. 15). Logo, o diálogo caracteriza-se fundamental nesta proposta educadora.

o principal desafio do referido programa consiste na apropriação de uma nova concepção educacional, denominada pelo autor de “edu- cação para o pensar”. lipman (1994) enfatiza o uso da racionalidade pela reflexão, à formação de professores a qual propõe ao professor compreender e analisar como ele transmite os conhecimentos, pois haverá sempre uma intencionalidade que está além do escrito. Neste sentido, lipman (1994), propõe três eixos sistemáticos que estruturam o programa: filosofia, investigação e educação democrática. Assim, em sua construção teórica, alerta que o primeiro passo para a filosofia é a “inquietação”, a qual conduz ao questionamento.

Na educação para o pensar, o diálogo investigativo é ponto de partida para compreender pontos de vistas divergentes, que possa possibilitar tanto ao aluno como ao professor rever seus posiciona- mentos, reavaliar, pensar e refletir. Assim, pauta-se na maiêutica socrática. No entanto, lipman (1990, p. 79) “[...] num diálogo em sala de aula, presume-se que o professor tenha autoridade no que se refere às técnicas e procedimentos da investigação [...]”, mas o professor não deve, de modo algum, tentar manipular ou direcionar os pontos de vistas divergentes que surgem durante o diálogo. Nesse momento, o professor mediador deve ser capaz de levantar questionamentos que levem as crianças a pensar ou repensar seus posicionamentos de forma lógica e coerente. Neste sentido, para Lipman (1990, p. 163-164):

[...] O professor não poderia mais ser entendido como um jardineiro que pode cuidar e manter as flo- res em canteiros, ajudando-as a tornarem-se aquilo a que já estavam geneticamente determinadas a ser desde o início. Em vez disso, o professor tornou-se parte de uma intervenção adulta cuja intenção era liberar o processo de pensamento no aluno, para

que este começasse a pensar por si próprio, em vez de papaguear o pensamento do professor ou do livro – texto.

estes são requisitos essenciais para a investigação filosófica: a prontidão para a razão, o respeito mútuo e a ausência de doutrinação; estes procedimentos são da própria filosofia que não aceita aprofun- damento teórico sem a racionalidade, dentro da concepção ética que compreende e respeita o ser humano.