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A formAÇÃo coNTiNuAdA dE docENTES No contEXto da Educação a distância no Brasil

do sÉculo XXi: PotEncialidadEs, liMitaçÕEs,

dEsaFios E conJEcturas – BrEVEs notas

Nos dias atuais, a EaD (híbrida e integralmente on-line) e a formação continuada de docentes têm, ambas, se configurado como duas vias de mão única, caminhando aladas no contexto da Educação Básica escolar brasileira. Sendo assim, pode-se dizer, grosso modo, que a formação continuada de professores(as) na modalidade EaD apresenta aspectos

FORMAÇÃO DOCENTE: importância, estratégias e princípios - Volume I

positivos, pontos nevrálgicos, desafios e perspectivas em torno de sua constituição no processo ensino-aprendizagem.

A formação continuada dos(as) profissionais da educação possui a vantagem de possibilitar aos(às) mesmos(as) oportunidades sem igual de continuarem sempre dialogando, compartilhando experiên- cias educacionais, refletindo criticamente, estudando, lendo livros e ensaios/artigos científicos de diferentes autores(as) e exercitando a escrita acadêmico-científica, a fim de estarem em contato direto com as novidades do atual momento histórico e as novas teorias pedagó- gicas e metodologias educacionais inovadoras (ensino híbrido, sala de aula invertida, gameficação educacional, etc.) mediadas pelas modernas tecnologias de informação e comunicação (telefone celular, whatsapp, softwares educativos, aplicativos eletrônicos educacionais (e-apps), no- tbook, laptop, ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs), redes sociais em geral, dentre outras).

Ao estar prevista, inclusive, na redação textual dos projetos po- lítico-pedagógicos das escolas de Educação Básica, a capacitação per- manente de docentes demanda:

[...] um repensar na formação dos professores, pois, além de ser contínua, deve buscar reflexões que aliem a teoria à prática e provoquem o aperfei- çoamento docente em processo desenvolvido na própria escola. este processo interativo reflexivo implica a convivência do formador e dos formandos numa relação de colaboração e de partilha. A figura do formador aparece como apoio técnico de quem já trilhou mais o caminho da docência, mas não se configura como o sabedor das coisas. A ênfase é nos saberes dos professores envolvidos. Estes sa- beres podem ser de caráter científico e didático. [...] A essência na formação continuada é a construção coletiva do saber e a discussão crítica reflexiva do saber fazer. (BEHRENS, 1996, p.135)

A EaD on-line tem facilitado a difusão das diferentes culturas e a democratização/socialização das informações e dos conhecimentos e saberes científicos, eliminando assim velhos paradigmas educacionais e muitas barreiras e fronteiras (im)postas pela educação presencial tradicional-conservadora. Ela tem oportunizado, na concepção de Saraiva (2010), condições de as pessoas estabelecerem conexão inte- rativa virtual em tempo (quase) real, mesmo elas estando em espaços geográficos diferentes.

Afora isto, a EaD on-line também visa propiciar aos(às) docentes ‘internautas’ em processo de formação continuada algumas formas variadas de estudar diversos conteúdos programáticos em horários e locais distintos (adaptação/flexibilização curricular), bem como de continuarem sempre aprimorando os seus conhecimentos acadêmico- científicos e saberes pedagógicos/docentes, mesmo que permaneçam lecionando ou consigam licença periódica (não) remunerada para esta finalidade educativa, seja se diplomando em um novo curso de graduação em licenciatura plena específica (segunda licenciatura) ou em cursos de pós-graduação lato sensu (especialização e MBA) e de pós- graduação stricto sensu (mestrado acadêmico ou profissional, doutorado acadêmico, pós-doutorado e livre-docência), ou realizando cursos e minicursos (de curta, média ou longa duração) de cunho extensionista em geral com certificação autorizada e reconhecida, ou ainda partici- pando de diferentes eventos acadêmico-científicos em nível nacional e internacional (congressos, simpósios, conferências, seminários, mesas-redondas, semanas acadêmicas, encontros temáticos, palestras públicas, feiras literárias, exposições temáticas, workshops, oficinas pedagógicas, grupos de estudos e pesquisas científicas, dentre outros). em contrapartida, consideramos que uma das grandes problemá- ticas atuais da EaD on-line (talvez!?) no âmbito da formação continuada de professores(as) resida no fato de a mesma impossibilitar o contato físico-concreto presencial em tempo real, que é, para Santos (2020), tão necessário e importante para o estabelecimento de relações inter- pessoais e o desenvolvimento maturacional da afetividade humana em termos de emoções e sentimentos. mesmo estando conectado via internet e efetuando interatividade virtual (relativa e parcial), a EaD on-line constitui-se em um recurso midiático tecnológico em que o(a) internauta está, na verdade, só, isolado; mas com a falsa ideia de estar inserido(a) no coletivo. Trata-se, pois, de uma situação real (no sentido literal do termo) em que o sujeito encontra-se sozinho e desolado em meio à coletividade grupal virtual da qual faz parte.

Além disto, a EaD on-line corre o risco de se tornar um empeci- lho tecnológico para o ensino e a aprendizagem caso os ensinantes e aprendentes virtuais não demandem grande esforço, dedicação, com- promisso, responsabilidade, pontualidade, assiduidade e disciplina rígida de estudos e pesquisas científicas nesse processo educativo. “Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, ensinar e aprender na mo- dalidade EaD on-line não é algo fácil e que pode, por isso, ser realizado a bel prazer” (RETT, 2008, p.70); mas constitui-se, outrossim, numa prática educativa tão complexa e relevante quanto o da realizada na educação presencial e na educação semipresencial/híbrida.

FORMAÇÃO DOCENTE: importância, estratégias e princípios - Volume I

Outro fator nevrálgico diz respeito aos inúmeros entraves téc- nico-burocráticos que a eaD on-line pode apresentar para a formação continuada dos(as) profissionais da educação, tais como: queda de energia elétrica; falta de conexão via internet; problemas de transmissão virtual de videoaulas, teleconferências, etc.; dificuldades de acesso e permanência dos(as) cursistas nos ambientes virtuais de aprendizagem (AVAs); déficits nas postagens de materiais didáticos para estudos e pesquisas científicas individuais e nos envios de atividades avaliativas para correção posterior pelo(a) tutor(a); ausência de esclarecimentos de possíveis dúvidas, em tempo real, quanto aos conteúdos programáticos abordados nas diferentes disciplinas curriculares; carência de maiores conhecimentos teórico-práticos alusivos à área de Informática; não familiaridade com as práticas de ambientação virtual mediadas por canais interativo-digitais; etc.

A despeito dos atuais desafios enfrentados, no Brasil, pelos cursos de formação continuada de docentes que são realizados por meio da EaD on-line, podemos mencionar, por exemplo, o difícil rompimento de ranços e resistências conceptuais que muitos(as) profissionais da educação (ainda) demonstram ter em relação a esta modalidade de ensino, considerando-a, apesar de deveras interessante, com pouca credibilidade no mercado de trabalho e de preparação profissional (inicial e continuada) com caráter duvidoso quanto à solidez dos conhe- cimentos científicos, didático-pedagógicos e metodológicos abordados pelos cursos desenvolvidos via mídias tecnológicas educacionais.

Isto significa assegurar que ainda gravitam muitos tabus, mitos, estereótipos, celeumas e preconceitos em torno da EaD on-line, oriun- dos de docentes e discentes (PRETI, 2005), o que tem ocasionado, em muitos casos, baixa qualidade (didática, pedagógica, metodológica e de aquisição de aprendizagem significativa) dos cursos cem por cento on-line ofertados pelas instituições de ensino Superior em detrimento apenas de interesses particulares e/ou de comercialização dos mes- mos, garantindo, por sua vez, aprendizado rápido com foco temático específico e certificação autorizada, reconhecida e válida em todo o território nacional para pontuação em concursos públicos que exijam prova de títulos.

Notória incoerência paradoxal (!), não é mesmo?

Diante do panorama delineado, é possível postular que inúmeras perspectivas se engendram acerca da formação continuada de docen- tes no contexto da EaD on-line, no intuito de que esta modalidade de ensino venha, num futuro bastante próximo, ser mais ou igualmente valorizada à educação presencial; uma vez que a eaD on-line tem sido o “boom” do século XXI, conforme assevera Bellei (2002), principalmente

no atual momento histórico em que o mundo e o Brasil sofrem terríveis crises em todos os setores da sociedade de classes, as quais foram cau- sadas, sobremaneira, pelo advento da pandemia do novo Coronavírus (COVID-19).

Behrens (1996, p.134) considera, dentre outros elementos, que “a iniciativa de formação ligada à resolução de problemas reais, com ajuda dos professores e dentro do espaço da escola, é uma perspectiva nova na capacitação docente”, a qual tem sido mediada pelas novas tecnologias digitais contemporâneas.

Associada a esta prospectiva, faz-se profícuo destacar também que a formação continuada de docentes da Educação Básica escolar precisa, urgentemente, ser melhor compreendida pelos(as) profissionais da educação em geral, haja vista que ela:

[...] tem como uma de suas funções questionar ou legitimar o conhecimento profissional posto em prática. A formação permanente tem o papel de descobrir a teoria para ordená-la, fundamentá-la, revisá-la e combatê-la, se for preciso. Seu objetivo é remover o sentido pedagógico comum, para re- compor o equilíbrio entre os esquemas práticos e os esquemas teóricos que sustentam a prática educativa. (IMBERNÓN, 2001, p. 59)

É fato que a sociedade, a educação e a escola brasileiras já avan- çaram bastante no que concerne à inserção e evolução das novas tec- nologias midiáticas de informação e comunicação em todos os setores da vida humana. mas, ainda há muito o que re-pensar, (re)fazer, in(ve) stigar e melhorar em termos qualiquantitativos de teorias e práticas educacionais. Portanto, é preciso muito estudo, pesquisa científica, colaboração, participação ativa e esforço coletivo de todos(as) os(as) envolvidos(as) no processo educativo (autoridades governamentais, profissionais da educação, agentes escolares e comunidade externa). enfim: torna-se imprescindível o engajamento e empreendimento de toda a sociedade civil organizada.