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4.5. Organização da pesquisa

4.5.2. Considerações e justificativas sobre as escolhas metodológicas

4.5.3.1. Fontes de dados empíricos

4.5.3.1.3. Fontes sem periodicidade regular de produção de dados

Foram também consideradas fontes sem periodicidade regular de produção de dados os documentos que não seguiam um fluxo anual ou de frequência predefinida de registro e divulgação. Na maior parte dos casos, são publicações únicas. Esses documentos consistem nos normativos produzidos pelas próprias iniciativas, tais como editais, decretos e portarias, seus relatórios de implementação, atas de reuniões, e também pesquisas contratadas, dissertações, teses, monografias e livros produzidos a respeito das iniciativas, bem como matérias jornalísticas, relatos presentes na internet e as plataformas de conversas online. As principais fontes são detalhadas a seguir:

a) Documentos produzidos pelas iniciativas: editais, portarias, decretos, atas de reuniões, apresentações divulgadas em eventos, relatórios de andamento produzidos e divulgados pelas próprias iniciativas consistiram em fontes de dados importantes para o detalhamento das alocações de orçamento e sistematização dos desenhos institucionais colocados em prática na implementação das políticas analisadas;

b) Pesquisas contratadas: foram consultadas pesquisas realizadas por bolsistas vinculados diretamente às iniciativas, contratados por meio do CNPq, e também por órgãos externos, como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que avaliou o programa Cultura Viva entre 2008 e 2010;

c) Dissertações, teses, monografias: as iniciativas de inclusão digital foram tema de estudo de estudantes universitários em nível de graduação e pós-graduação, e estes materiais foram utilizados na pesquisa, conforme o caso;

d) Livros e matérias jornalísticas: algumas iniciativas ou dirigentes diretamente envolvidos produziram os seus relatos próprios sobre implementação. Destacam-se o livro de Célio Turino (2010), intitulado Pontos de Cultura – o Brasil de Baixo para Cima, e o de Maurício Falavigna (2011), Inclusão digital: vivências brasileiras. Também foram consultadas notícias veiculadas especialmente via internet, tais como as reportagens da revista ARede, de circulação impressa e também disponível na web17. A revista, lançada em 2005, é

de periodicidade mensal e especializada na cobertura de iniciativas de inclusão digital;

e) Plataformas de conversa online: como parte das atividades de articulação e formação, diversas iniciativas estruturaram redes sociais próprias na internet, a partir das quais promoveram a interação entre as equipes responsáveis pela implementação e as pessoas envolvidas nos espaços de inclusão digital, em especial monitores e coordenadores locais. Para a análise proposta nesta tese, foram utilizados a plataforma Conversê, criada em 2005 para a ativação da rede de Pontos de Cultura à ação Cultura Digital, e o ambiente de gestão do Moodle do Projeto Casa Brasil, estruturado em 2006 para a realização de cursos de formação à distância destinados a monitores e coordenadores de unidades.

As considerações a respeito destas fontes de dados são apresentadas a seguir. Em relação a dados orçamentários, os documentos dos próprios projetos e iniciativas, os editais que lançaram, e os registros em forma de relatórios foram utilizados como fontes de detalhamento das informações. Permitiram conhecer o funcionamento dos programas na prática, em especial a forma de distribuição de orçamento entre recursos físicos, digitais, humanos e sociais necessários à inclusão digital. Apesar da proximidade com a realidade, a ausência de informações sistemáticas relacionadas à implantação não permitiu o uso dessas 17 Revista ARede. Disponível em: <http://www.arede.inf.br>. Acesso em: 14 jun. 2011.

informações para traçar um vínculo satisfatório entre a previsão de alocação orçamentária apresentada pelas iniciativas em seus documentos e a execução efetivamente registrada nos sistemas que produzem dados regularmente, já mencionados. Ressalta-se que os documentos produzidos pelas iniciativas devem ser analisados considerando a finalidade e o público aos quais se destinavam. Em relação aos problemas enfrentados, por exemplo, tais documentos somente os explicitam quando há um interesse específico na divulgação dessa informação.

No que diz respeito a documentos produzidos pelo Projeto Casa Brasil, foram considerados relevantes: o texto de apresentação do projeto original (2005); os dois editais realizados (2005 e 2010) e os respectivos instrumentos de apoio; os decretos e portarias normativas do projeto; as atas de reuniões dos Comitês Gestor e Executivo; informações prestadas no site do projeto18; e dois relatórios produzidos pela iniciativa – um relatório

parcial de atividades de fevereiro de 2008 (Brasil, 2008a), e um relatório de atividades e desafios de autoria da Rede Nacional de Extensão para Inclusão Digital (Reid)/ Casa Brasil, apresentado em 2010 (Brandão, 2010).

Sobre a iniciativa de Cultura Digital nos Pontos de Cultura, foram considerados de maior relevância, entre os documentos produzidos pela iniciativa: o texto de apresentação do programa Cultura Viva (Brasil, 2004b); os editais realizados entre 2004 e 2010; os decretos e portarias normativas; a proposta de trabalho da equipe Cultura Digital contratada por meio do Instituto de Projetos em Tecnologia da Informação (IPTI) em 2004, bem como o relatório apresentado em 2005 e a proposta apresentada para 2006; a cartilha de divulgação do programa (Brasil, 2006b) e as informações prestadas no site do programa Cultura Viva19,

incluindo notícias.

Quanto às pesquisas contratadas, a confiabilidade de cada uma foi analisada caso a caso. Ressalta-se que as pesquisas em que os bolsistas foram contratados pelo CNPq por indicação das próprias iniciativas possuíam caráter operacional para os programas. Isso porque os pesquisadores também atuavam como extensionistas, articulando a iniciativa ao mesmo tempo em que realizavam pesquisas. Já a pesquisa realizada, por exemplo, pelo Ipea sobre os Pontos de Cultura (Silva e Araújo, 2010) utilizou metodologias consagradas de levantamentos dessa natureza.

18 Projeto Casa Brasil. Disponível em: <http://www.casabrasil.gov.br>. Acesso em: 15 mai. 2011.

A pesquisa do Ipea consistiu em avaliação dos Pontos de Cultura a partir de um modelo lógico e pesquisa de campo nas entidades conveniadas com o Ministério da Cultura. Os dados foram discutidos em grupo focal composto pelos dirigentes e gestores da Secretaria responsável pela implementação do programa. O trabalho consiste na fonte mais confiável de dados quanti-qualitativos disponíveis a respeito da iniciativa no que se refere à mensuração de resultados finalísticos.

Outra pesquisa externa contratada foi apresentada em 2006 pelo Núcleo de Políticas Públicas de Cultura do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ/LPP, 2006) ao Ministério da Cultura. A metodologia fez uso de questionário online, preenchido por 100 dos 152 Pontos de Cultura conveniados. Os dados foram considerados confiáveis para o uso na presente pesquisa como retrato parcial daquele momento específico do programa Cultura Viva.

Já as pesquisas realizadas pelos bolsistas das iniciativas por meio do CNPq consistiram em material de relevância para o estudo desta tese por um motivo específico: trata-se de relatos realizados por pessoas diretamente envolvidas nas ações, baseados em informações de campo focadas na implementação dos projetos. Mediante a correlação entre autores e atores institucionais envolvidos nas iniciativas, foi possível fazer uso desse material de maneira coerente.

Uma dessas pesquisas se referiu à avaliação do Projeto Casa Brasil, com resultados apresentados no portal da iniciativa (Brandão e Souza, 2007) e também na tese de doutorado da coordenadora de avaliação do projeto perante o CNPq (Brandão, 2009). No âmbito dessas atividades de avaliação, foi realizada pesquisa de opinião com 40 coordenadores de unidade, realizada em junho de 2007. Essas informações acadêmicas consistiram em produto de agente interno à iniciativa, diferentemente dos trabalhos do Ipea e da UERJ sobre os Pontos de Cultura.

A iniciativa Cultura Digital nos Pontos de Cultura também contou com produtos elaborados por bolsistas vinculados ao CNPq e utilizados nesta tese. O primeiro, de maio de 2009, apresenta um diagnóstico de Pontos e Pontões de Cultura Digital em suas regiões de atuação, bem como propostas de instrumentos para a gestão da Ação Cultura Digital (Meirelles et alii, 2009). O diagnóstico foi produzido a partir de uma metodologia construída pelo grupo de articuladores selecionado pelo Ministério da Cultura, em interlocução com

professores doutores envolvidos no programa Cultura Viva. O resultado metodológico foi um roteiro de pesquisa e mapeamento utilizado como guia para cada articulador do projeto na coleta de informações em visitas aos Pontos e Pontões de Cultura de sua respectiva área de atuação (estados ou conjuntos de estados).

O produto registra a opção pelo não uso de questionário: “É muito importante que cada articulador(a) tenha em mente que os integrantes de Pontos de Cultura estão, em geral, cansados de responder questionários ” (Meireles et alii, 2009, p. 40). Os articuladores foram orientados a produzir relatos após cada visita na ferramenta Wiki (plataforma colaborativa na internet) do projeto de pesquisa20. A escolha metodológica dos relatos, formulados por cada

articulador sem a obrigatoriedade de seguir um modelo fechado, permitiu a coleta de informações de caráter qualitativo e com observações personalizadas. Não houve um esforço para a sistematização das informações em termos quantitativos ou percentuais, diferentemente da pesquisa do Ipea e da avaliação do Casa Brasil.

O segundo produto consistiu na compilação de propostas para a estruturação da Ação Cultura Digital em três eixos: aprendizagem/ formação, sustentabilidade e desenvolvimento (Ação Cultura Digital, 2009b). Neste documento, os articuladores sugerem uma estrutura de articulação da ação em diversas frentes, proposta ao Ministério da Cultura e à própria rede de Pontos e Pontões de Cultura. Trata de aspectos financeiros, trazendo dados relevantes para a análise de lógicas institucionais do presente estudo.

As dissertações, teses e monografias a respeito das iniciativas analisadas foram consideradas da mesma forma. Parte delas foi realizada por pessoas diretamente envolvidas nas iniciativas, com resultados distintos conforme o grau de expertise do autor em relação ao método e aos objetivos de análise. O conhecimento deste contexto permitiu à presente pesquisa identificar os pontos fortes desses materiais, passíveis de uso no estudo aqui proposto.

A tese da coordenadora de avaliação do Projeto Casa Brasil, por exemplo, contém um capítulo de recomendações bastante relevante (Brandão, 2009, p. 89-92). Ao expressar a visão de um membro interno ao projeto sobre a implementação, o referido capítulo consistiu em fonte de informações úteis para o estudo dos aspectos institucionais relacionados à hipótese da 20 Ação Cultura Digital. Wiki de Articulação dos Pontões de Cultura Digital na internet. Disponível em: <http://cdcp2010.wikispaces.com>. Acesso em: 15 mai. 2011.

presente pesquisa. Já a dissertação de Corrêa (2007), ator externo aos programas de inclusão digital do governo federal, foi útil para captar elementos das iniciativas Casa Brasil e Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão – Gesac. A tese de Mendonça (2007), que participou do programa Gesac, também contribuiu com informações sobre aquela iniciativa.

Um trabalho acadêmico bastante útil a esta pesquisa foi a dissertação de mestrado sobre o programa Cultura Viva (Vilutis, 2009), de autoria de uma das coordenadoras das ações de gestão compartilhada realizada pelo Ministério da Cultura em parceria com o Instituto Paulo Freire. A dissertação sistematiza informações que nem mesmo documentos da própria iniciativa traziam à época, contribuindo com dados organizados para a presente análise. Outros trabalhos acadêmicos utilizados foram as monografias de graduação de Leandro Fossá (2006) e Adriana Meireles (2008), envolvidos na ação Cultura Digital antes e depois da produção dos respectivos trabalhos acadêmicos, e a dissertação de Eliane Costa (2011), atuante na área de patrocínios da Petrobras, empresa que realizou parcerias com o programa Cultura Viva.

Em relação aos livros e matérias jornalísticas reunidas para análise, conforme exposto, foi destacada a produção literária do dirigente do programa Cultura Viva sobre a própria experiência. O autor apresenta sua obra com a seguinte proposta:

Com este livro busco refletir sobre o significado deste trabalho em que me envolvo de corpo e alma há mais de cinco anos. Sem dúvida, a reflexão não se esgota aqui e as primeiras teses sobre os Pontos de Cultura e o programa Cultura Viva já começam a ser produzidas nas universidades; há também a reflexão de quem faz os Pontos de Cultura nas comunidades; o lado da burocracia. Ponto de Cultura é mais que uma política pública em construção, é um conceito e talvez uma teoria. Aqui apresento o que vi e vivi em mais de 600 viagens por todos os cantos do Brasil. Com este livro ofereço o meu caminho, e como cheguei até ele (Turino, 2009, p. 14).

Em relação às matérias jornalísticas, foi levado em consideração o grau de conhecimento dos autores (no caso, repórteres) sobre o assunto tratado, e os formatos dos relatos. Foram priorizadas entrevistas exclusivas, realizadas pelos veículos jornalísticos com agentes envolvidos, seja no papel de dirigentes, implementadores ou monitores das iniciativas de telecentros. Avaliou-se que entrevistas exclusivas, ainda que editadas, preservam maior fidelidade à fala do entrevistado do que as aspas eventualmente presentes nas matérias em que a maior parte do texto foi produzida pelo próprio repórter. Uma entrevista relevante neste

sentido foi a realizada pela revista ARede com o coordenador nacional e o diretor responsável pela transição do projeto Casa Brasil ao Ministério da Ciência e Tecnologia (ARede, 2010a), fonte de informações confiáveis para a pesquisa pela possibilidade de confirmação dos dados em entrevista diretamente realizada com o principal dirigente ao final de 2010.

Quanto às plataformas de conversa online, foi realizado estudo de análise semântica, utilizando os seguintes parâmetros:

a) Perfil e contextualização da rede: análise da quantidade total de usuários, quantos participaram de conversas e a distribuição dessas conversas ao longo dos anos de existência da rede. Esses dados permitem comparar a rede em questão com outras redes;

b) Quem fala: quantidade e perfil de grupos organizados criados na rede ou que se apropriaram da plataforma;

c) Perfil dos usuários e presença de endereços de e-mail institucionais (.gov), bem como de dirigentes institucionais utilizando a plataforma com e-mails não institucionais;

d) Recorrência dos temas de conflito entre os participantes da rede em relação à burocracia estatal: obtido mediante a taxa postagens e comentários relacionados aos temas ao longo do tempo.

Para o item “d”, foram utilizadas as seguintes palavras-chave, no caso da ação Cultura Digital em Pontos de Cultura:

1) convênio; 2) conveniamento; 3) repasse; 4) grana; 5) burocracia; 6) documentação; 7) prestação de contas; 8) parcela; 9) bolsa; 10) bolsista;

11) pagamento; 12) pagar; 13) SPPC;

14) liberação (de recursos, parcela, pagamento, bolsa); 15) licitação;

16) compra (de equipamento, do kit multimídia); 17) financeiro; 18) recursos financeiros; 19) atraso; 20) demora; 21) orçamento; 22) kit multimídia; 23) kits;

24) valor (no sentido financeiro – aparece muito “valorizar”); 25) equipamentos;

26) administrativo; 27) plano de trabalho;

Para análise da plataforma online do Projeto Casa Brasil, foram utilizados todas as palavras-chave anteriores, e também:

28) CNPq;

29) conta corrente;

30) Plataforma Carlos Chagas; 31) lattes;

32) CPF.

Os resultados da consulta às fontes de dados são apresentados ao longo do Capítulo 5, em que se apresentam os dados empíricos que fundamentam a análise proposta.