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3.1. Contexto histórico e institucional das iniciativas federais de apoio a

3.1.3. Poder público e telecentros: as primeiras iniciativas

Na esteira do que acontecia como movimento da sociedade civil, atores públicos também iniciaram projetos e ações para promover a inclusão digital em comunidades. Em 1999, um estudo realizado pelo Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para a Empresa de Informática e Informações da Prefeitura do Município de Belo Horizonte (Prodabel) recomendava a implantação de unidades de acesso a quatro computadores conectados à internet, instalados em escolas da rede municipal de ensino, de modo a permitir o uso pelos moradores das localidades mais distantes do centro da cidade. Previa um “agente de popularização da internet” em cada uma das unidades, formados e mantidos pela Prefeitura, ficando a Prodabel responsável pela oferta, a instalação, o suporte e a manutenção dos equipamentos, redes e contratação do serviço de conexão à internet (Cepik et alii, 1999).

A iniciativa proposta no documento também incluía a participação de entidades da sociedade civil organizada no projeto de popularização do acesso, porém não como espaços de uso pela população. A preocupação era com a falta de segurança das sedes das associações comunitárias. Recomendava-se, ainda, que o projeto fosse gerido por uma ONG seria criada para ter em seu conselho deliberativo movimentos sociais e instituições mais consolidadas da sociedade civil, com maior poder de intervenção na cidade (CUT, Dieese, pastorais, federações das associações comunitárias, entidades ambientalistas de grande porte, entre outras). Acerca das vantagens, uma das contribuições da nova organização seria a possibilidade de vínculo à Rits − Rede de Informações para o Terceiro Setor, que, segundo o documento, somente aceitava como membros entidades abrangidas pela “Lei do Terceiro Setor”11, o que excluiria sindicatos e outros setores da sociedade civil organizada

considerados importantes no município de Belo Horizonte (Cepik et alii, 1999).

As primeiras unidades de acesso pela população, projeto denominado Internet Cidadã, começaram a ser implantadas em 2002, em escolas municipais e no Centro de Cultura de Belo Horizonte, para uso gratuito pela população (Dias, 2003). Iniciativa similar à época, mas que 11 Lei n. 9.790/1999, que “Dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, institui e disciplina o Termo de Parceria, e dá outras providências” (Brasil, 1999a).

previa o uso do próprio laboratório de informática das escolas para o acesso pela comunidade, era o programa N@ Escola, da Prefeitura de Santo André (SP). Contava com a parceria do CDISP, organização que havia começado suas atividades como representante do CDI em São Paulo e que dele se desvinculou em 1995 (Dias, 2003).

Outra iniciativa do poder público foi a do Governo do Estado de São Paulo, que iniciou uma política de infocentros (outro nome para telecentros) no ano 2000. Os infocentros foram implantados em espaços do próprio governo estadual e em parceria com prefeituras do interior do Estado (São Paulo, 2010). A Companhia de Processamento de Dados do Estado (Prodesp) era responsável pela infraestrutura e a Imprensa Oficial do Estado, pela geração de conteúdo e o pagamento de pessoal e custeio, o que incluía a contratação de dois monitores por telecentro, capacitados pela Escola do Futuro da USP. O link de acesso à internet era cedido pela empresa Telefonica. Os infocentros ofereciam principalmente acesso gratuito, além de estimular monitores e usuários à participação na rede (Dias, 2003).

A Prefeitura de São Paulo implantou a rede de telecentros públicos do município na gestão 2001-2004, programa ao qual foram incorporadas as unidades do projeto Sampa.org. Os telecentros do município foram instalados em espaços mantidos pela prefeitura, nos Centros Educacionais Unificados (CEU) que estavam sendo implantados e também em parceria com associações e entidades de base local, como era o caso das unidades implantadas pelo Sampa.org. Na iniciativa municipal, os locais foram escolhidos com base no mapa de exclusão social resultante de pesquisa que referenciou o conjunto de políticas públicas daquela gestão.

Para a implantação dos telecentros, o poder público municipal se responsabilizava pela reforma do espaço, pela instalação e manutenção da infraestrutura técnica, softwares, monitores (remuneração e capacitação) e material de escritório. Os telecentros ofereciam gratuitamente curso de informática básica e acesso livre, além de outras atividades que foram sendo incorporadas conforme as demandas de cada local. Contudo, o principal diferencial desses telecentros, além da aposta no uso de software livre numa rede de centenas de unidades, era a instituição de um conselho gestor local, com membros eleitos pela comunidade. Além da institucionalização de processos participativos de gestão nos telecentros, defendia mecanismos nesse sentido para a própria política pública, a partir de um Conselho Municipal da Inclusão Digital (Dias, 2003).

A Prefeitura de Porto Alegre também implantou uma rede municipal de telecentros na gestão 2001-2004, inspirada no desenho de articulação comunitária do Sampa.org e atrelada à política de Orçamento Participativo do município. A primeira unidade foi montada em 2001 em bairro periférico da cidade, com computadores usados doados pela Companhia de Processamento de Dados do Município de Porto Alegre (Procempa), responsável pela gestão do projeto. As unidades seguintes contaram com equipamentos de maior capacidade de processamento, opção de dois sistemas operacionais (proprietário e livre) e conexão à internet em banda larga oferecida pela própria empresa municipal. Os monitores inicialmente eram voluntários e atuavam na oferta de cursos de informática básica à população, além de orientar o acesso livre e gratuito à internet. Nesses telecentros também houve desdobramentos de atividades, como projetos culturais e de alfabetização de adultos (Dias, 2003).

As iniciativas fazem parte de um conjunto expressivo de programas e projetos de abrangência local, municipal ou estadual para o apoio a telecentros que se estabeleceram entre 2000 e 2010 (Dias, 2003; Portal Inclusão Digital; ONID), fazendo parte do contexto no qual se desenvolveram as iniciativas federais objeto de estudo desta tese.