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DA FUNDAMENTALIDADE, PRIMAZIA E SUPERIORIDADE DOS PRINCÍPIOS EM RELAÇÃO ÀS NORMAS ESTRITAS E AOS PRÓPRIOS

No documento Dos convênios da administração pública (páginas 84-87)

CORRELATOS E, AINDA, TRABALHAR COM QUESTÕES COMO O FOMENTO PÚBLICO E AS SUBVENÇÕES PÚBLICAS

3. O princípio da máxima efetividade

2.6. DA FUNDAMENTALIDADE, PRIMAZIA E SUPERIORIDADE DOS PRINCÍPIOS EM RELAÇÃO ÀS NORMAS ESTRITAS E AOS PRÓPRIOS

VALORES

Entendemos indispensável, diante das contribuições de vasta e idônea doutrina, fixar a fundamentalidade, primazia e superioridade dos princípios em relação às normas estritas (regras) e aos próprios valores.

Os princípios são a base essencial do sistema/ordenamento jurídico, dentre outros motivos, por estabeleceram os principais fundamentos, direcionamentos e referências, gerais e/ou setoriais, para o mesmo. A definição nítida de tais alicerces, sentidos e parâmetros do sistema/ordenamento jurídico são de grande relevância para ultrapassar abordagens parcializadas e/ou fragmentárias, tendo em vista também, como lembra Juarez Freitas, “a compreensão de que o sistema jurídico é um só” 88.

De outro lado, a busca de uma compreensão adequada do conjunto do sistema/ordenamento jurídico, quando tem em conta a dialética todo/parte, certamente criará melhores condições também para o reconhecimento, a

87 BASTOS, Celso Ribeiro.

Hermenêutica e Interpretação Constitucional. Op. cit., pp.106 e 107. 88 FREITAS, Juarez.

compreensão e a valorização da complexidade, da multiplicidade e da singularidade presente no sistema/ordenamento jurídico.

O estabelecimento de tais fundamentos e nexos devem servir de balizamentos para exames, em face do sistema/ordenamento jurídico e do caso enfrentado concretamente, visando auxiliar, no âmbito dos próprios princípios, o intérprete na definição da importância e do peso axiológico de cada um deles, para enfrentar a concorrência e colisão dos mesmos e visando notadamente precisar juízos de ponderação, de adequação, de necessidade, de proporcionalidade, de razoabilidade, de harmonização, de hierarquização e de justiça.

Outrossim, lembrando as lições de Juarez Freitas, quando trata dos princípios89, e de Ingo Wolfgang Sarlet, quando aborda o tema direitos fundamentais90, entendemos que os princípios possuem a máxima eficácia e efetividade, havendo em relação aos mesmos presunção de aplicabilidade direta e imediata e de plena eficácia, a menos que ocorram adequados juízos de justificação que procedam a relativização das mencionadas proposições. De outra sorte, qualquer relativização deve procurar atingir no menor grau possível os princípios em disputa, mantendo, no mínimo, o núcleo essencial dos princípios restringidos.

A definição de tais alicerces e sentidos devem também construir parâmetros para estabelecer normas estritas (ou regras) que configurem, dêem concretude e assegurem uma maior e crescente efetividade aos princípios, não sendo admissíveis normas estritas (ou regras) que se caracterizem pela retirada de vigor e pela redução da potência dos princípios.

Entende Celso Antonio Bandeira de Mello, referindo-se aos princípios, que:

3. Princípio – já averbamos alhures – é, por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhe o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmonioso. É o conhecimento dos princípios que preside a

89 FREITAS, Juarez.

A interpretação Sistemática do Direito. 4a. edição. Op. cit., p. 229. 90 SARLET, Ingo Wolfgang.

intelecção das diferentes partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo. 91

Carlos Ari Sunfeld, analisando os princípios no Direito, anota que:

Os princípios são as idéias centrais de um sistema, ao qual dão sentido lógico, harmonioso, racional, permitindo a compreensão de seu modo de organizar-se. (...)

Pela própria circunstância de propiciar a compreensão global de um sistema, a identificação dos princípios é o meio mais eficaz para distinguí-lo de outros sistemas. (...)

(...) E os princípios são verdadeiras normas jurídicas; logo, devem ser tomadas em consideração para a solução de problemas jurídicos concretos. (...)

O princípio jurídico é norma de hierarquia superior à das regras, pois determina o sentido e o alcance destas, que não podem contrariá-lo, sob pena de por em risco a globalidade do ordenamento jurídico. (...)92

Constata Pauloo Bonavides, como uma conclusão do tema dos princípios gerais do direito aos princípios constitucionais, após amplo exame de consagrados autores estrangeiros e nacionais, que na atualidade temos a “total hegemonia e preeminência dos princípios”93. Entende o mestre, sobre os princípios, que:

Fazem eles a congruência, o equilíbrio e a essencialidade de um sistema jurídico legítimo. Postos no ápice da pirâmide normativa, elevam-se, portanto, ao grau de norma das normas, de fonte das fontes. São qualitativamente a viga mestra do sistema, o esteio da legitimidade constitucional, o penhor da constitucionalidade das regras de uma Constituição.94

Ensina Juarez Freitas, referindo-se aos princípios fundamentais, normas estritas (ou regras) e valores, que:

Por princípios fundamentais, entendem-se, por ora, os critérios ou diretrizes basilares do sistema jurídico, que se traduzem como disposições

91 MELLO, Celso Antônio Bandeira de.

Curso de Direito Administrativo. 17a. edição. São Paulo:

Malheiros, 2004, pp. 841 e 842. 960 p.

92 SUNDFELD, Carlos Ari.

Fundamentos de Direito Público. Op. cit., pp. 137, 139 e 140. 93 BONAVIDES, Paulo.

Curso de Direito Constitucional. Op. cit., p. 265. 94 BONAVIDES, Paulo.

hierarquicamente superiores, do ponto de vista axiológico, às normas estritas (regras) e aos próprios valores (mais genéricos e indeterminados), sendo linhas mestras de acordo com as quais guiar-se-á o intérprete quando se defrontar com as antinomias jurídicas.

Diferenciam-se das regras não propriamente por generalidade, mas por qualidade argumentativa superior, de modo que, havendo colisão, deve ser realizada interpretação em conformidade com os princípios (dada a “fundamentalidade” dos mesmos), sem que as regras, por supostamente apresentarem fundamentos definitivos, devam preponderar. A primazia da “fundamentalidade” faz com que – seja na colisão de princípios, seja no conflito de regras – um princípio, não um regra, venha a ser erigido como preponderante. Jamais haverá um conflito de regras que não se resolva à luz dos princípios, (...).

Então devem as normas estritas ou regras ser entendidas como preceitos menos amplos e axiologicamente inferiores aos princípios. Existem justamente para harmonizar e dar concretude aos princípios fundamentais, não para debilitá-los ou deles subtrair a nuclear eficácia direta e imediata. Tais regras, por isso, nunca devem ser aplicadas mecanicamente ou de modo passivo, mesmo porque a compreensão das regras implica, em todos os casos, uma simultânea aplicação dos princípios em conexão com as várias frações do ordenamento.95

Juarez Freitas, quando abordou, em versão recente, a interpretação sistemática e a superação da dicotomia rígida entre Direito Público e Direito Privado, efetuou de maneira didática o aprofundamento da temática referente às diferenças e semelhanças entre princípios e regras, fixando as mesmas através de tábuas.96

2.7. DA POSSIBILIDADE DE ATRIBUIÇÃO DE PESO E GRADAÇÃO

No documento Dos convênios da administração pública (páginas 84-87)

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