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CAPÍTULO VIII – PERCEPÇÃO DE JUSTIÇA NA RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO

B 7. Geralmente as regras e procedimentos que os meus

professores utilizam são iguais para todos. 0,670

% de variância explicada 19,9 21,7 6,1

Alfa de Cronbach 0,82 0,80 0,68

A análise efectuada agregou os itens interaccionais e procedimentais num único factor, o qual foi designado por justiça relacional, tal como Gouveia-Pereira (2004). Estes resultados verificaram-se, igualmente, em outros estudos (e.g. Sousa & Vala, 1999; Gouveia-Pereira, 2004; Marçal, 2005), indicando que a justiça procedimental apresenta uma base relacional. “As pessoas têm dificuldade em distinguir estas duas dimensões

analíticas da experiência de justiça, enquanto distinguem facilmente a dimensão distributiva dos aspectos relacionais / procedimentais” (Gouveia-Pereira, 2004: 186).

O primeiro factor é constituído pelos itens que remetem para a justiça distributiva. Os itens agregados neste factor evidenciam que os alunos centram as suas percepções de justiça, relativamente aos seus professores, em torno da avaliação escolar e da distribuição dos resultados. Os alunos avaliam mais positivamente os seus professores quando estes reconhecem e recompensam os seus esforços e o seu trabalho, quando a distribuição dos resultados corresponde ao que os alunos merecem, isto é, quando há proporcionalidade entre o seu investimento e os resultados obtidos, bem como quando se sentem satisfeitos com as notas que os professores lhes têm dado.

O segundo factor remete para a justiça relacional e integra os itens da justiça procedimental e interaccional. Este factor também apresentou elevada consistência, evidenciando, assim, a importância que as relações interpessoais assumem, para estes alunos, na percepção de justiça. Os conteúdos deste factor evidenciam, também, a relevância da dimensão da justiça procedimental. Os resultados mostram que as avaliações de justiça não se reduzem a questões distributivas, que as questões procedimentais são também importantes, bem como aquelas que se referem à qualidade da interacção.

Assim, quando os alunos percepcionam que os seus professores os tratam com respeito/dignidade, quando têm em conta as suas necessidades e mostram preocupação pelos seus direitos, os alunos avaliam mais positivamente a relação estabelecida. A avaliação positiva da relação também joga com o facto de os alunos terem oportunidade de serem ouvidos e de exporem o seu ponto de vista (voz), antes de os seus professores tomarem uma decisão sobre eles. Quando percepcionam isenção e imparcialidade nas tomadas de decisão dos seus professores, bem como quando esses mesmos explicam/justificam as decisões que tomam, em matérias que lhes dizem respeito, avaliam- nos mais positivamente.

O terceiro factor remete para a justiça comparativa e os itens que o compõem integram duas dimensões da justiça consideradas por alguns autores (procedimental e interaccional). O aluno compara o comportamento dos professores na relação que estabelecem quer consigo, quer com os colegas da turma, e ajuíza sobre a mesma em termos de resultados, procedimentos e processos adoptados.

VIII. 1. Análise descritiva, por género e ano de escolaridade

De seguida procedemos à análise de médias e de desvio padrão, relativas às três dimensões da percepção de justiça, de modo a sabermos a posição em que se situam os alunos dos 5º, 7º e 9º anos de escolaridade (cf. Quadro 24).

Quadro 24 – Médias e desvio padrão das respostas referentes às dimensões da percepção de justiça, por género e ano de escolaridade.

Ano de escolaridade / género

5º 7º 9º

Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem. Dimensões da percepção de justiça M DP M DP M DP M DP M DP M DP Distributiva 3,78 0,70 3,85 0,92 3,62 0,78 3,74 0,72 3,49 0,59 3,73 0,67 Relacional 3,77 0,68 3,92 0,46 3,61 0,60 3,67 0,51 3,53 0,57 3,50 0,55 Comparativa 3,66 0,88 3,98 0,80 3,41 0.88 3,63 0,75 3,52 0,69 3,71 0,84

Pela observação do quadro verificamos que são os alunos do 5º ano que têm uma percepção de justiça mais elevada, quando comparados com os alunos dos 7º e 9º anos. De entre estes, são as raparigas que têm uma maior percepção. Os alunos do 9º ano, mais ainda os rapazes, são os que revelam uma percepção de justiça mais baixa, relativamente aos outros dois grupos amostrais.

Relativamente às três dimensões da justiça, se compararmos as médias obtidas, a justiça comparativa apresenta valores mais elevados junto das raparigas do 5º ano, enquanto que os rapazes deste mesmo ano têm uma percepção mais elevada na dimensão de justiça distributiva. No 7º ano, independentemente do género, as percepções de justiça são mais elevadas na dimensão distributiva.

Entre os alunos do 9º ano, são os rapazes que têm uma percepção de justiça mais elevada na dimensão relacional, enquanto que, neste mesmo ano de escolaridade, as raparigas têm uma percepção mais elevada na dimensão de justiça distributiva. No conjunto dos alunos do 9º ano, as percepções são mais elevadas nas dimensões comparativa e distributiva.

Note-se que em qualquer uma das dimensões da percepção de justiça os valores encontrados se situam acima do ponto médio da escala, reveladores, portanto, da grande percepção de justiça que estes alunos têm, no que concerne à actuação pedagógica dos seus professores.

VIII. 2. A relação entre as percepções de justiça e a legitimação da autoridade escolar

Com base nos seis indicadores que integravam a medida da legitimação da autoridade escolar (cf. Subcapítulo VI.4. e Q2 – Anexo D), e no sentido de responder a um dos objectivos deste estudo, analisou-se qual a relação entre as dimensões da escala da percepção de justiça do comportamento do professor e a legitimação da sua autoridade.

Para analisarmos qual das dimensões de justiça tem maior impacto na legitimação da autoridade escolar, realizámos a análise de Correlação de Pearson. Os resultados obtidos por meio desta correlação podem ser observados no quadro que se segue.

Quadro 25 – Correlações de Pearson para as três dimensões da justiça e a legitimação da autoridade escolar.

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