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6. CARACTERIZAÇÃO DOS CASOS DA PESQUISA

6.1 A Região Metropolitana da Grande Recife

6.1.2 A Gestão Metropolitana na RM do Recife

A instituição da RMR pela Lei Complementar Federal n° 14/1973 deu início ao notório planejamento e à gestão metropolitana na RMR. Nos anos sucessivos foram instituídos os instrumentos de gestão desta região. Em concordância com esta lei, em 1974 foi promulgada a Lei Estadual n° 6.708, de 17 de junho, que criou os Conselhos Deliberativo e Consultivo e estabeleceu outras providências para a gestão metropolitana. Esta última lei também criou o Conselho de Desenvolvimento de Pernambuco (CONDEPE) como órgão de apoio técnico às ações da RMR.

Em 1975, o CONDEPE foi substituído pela Fundação de Desenvolvimento da RMR (FIDEM), autorizada a sua criação pelo Poder Executivo através da Lei Estadual n° 6.890, de julho daquele ano, conferindo-lhe as funções de apoio técnico e administrativo aos conselhos da RMR. A FIDEM tinha por atribuições o planejamento integrado do desenvolvimento metropolitano; programação e coordenação das intervenções em setores de interesse metropolitano; programação e efetivação da articulação com a União, estados e municípios da RMR; modernização da administração municipal dos municípios integrantes da RMR; execução de obras e serviços de interesse da RMR; execução de serviços administrativos necessários ao funcionamento dos Conselhos Deliberativo e Consultivo (PERNAMBUCO, 1975). Em dezembro do mesmo ano, é criado o Fundo de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife (FUNDERM) pela Lei Estadual n° 7.003, de 2 de dezembro de 1975,

destinado a financiar a execução do planejamento metropolitano e de serviços comuns na RMR.

Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, que passou para a tutela dos estados a competência de instituir as regiões metropolitanas, o Governo de Pernambuco instituiu o Sistema de Gestão Metropolitana (SGM) visando suprir o vácuo institucional existente desde a redemocratização, sendo essa uma experiência pioneira no Brasil (BEST, 2010). O SGM foi instituído pela Lei Complementar Estadual n° 10, de 6 de janeiro de 1994, que dispõe sobre a RMR e dá outras providências, e está fundamentado dentro de um modelo de gestão integrada baseado na ação intergovernamental e no interesse comum dos municípios integrantes da RM (CONDEPE/FIDEM, 2015).

Segundo Ramalho (2009), no ano anterior à aprovação da lei complementar ocorreram discussões e negociações entre dirigentes estaduais, municipais, parlamentares e entidades da sociedade civil para a elaboração do projeto de lei que tinha por objetivo reorganizar a RMR. A experiência da FIDEM e a visão de que as questões de interesse comum deveriam ser compartilhadas entre o estado e os municípios metropolitanos tornaram mais fácil o processo de instituição do SGM.

A RMR foi constituída para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. São consideradas funções públicas de interesse comum metropolitano (PERNAMBUCO, 1994, Art.3º):

I – O estabelecimento de políticas e diretrizes de desenvolvimento e de referenciais de desempenho dos serviços;

II – a reordenação territorial de atividades, compreendendo o planejamento físico, a estruturação urbana, o movimento de terras e o parcelamento, o uso e a ocupação do solo;

III – o desenvolvimento econômico e social, com ênfase na produção e na geração e distribuição de renda;

IV – a infraestrutura econômica e relativa, entre outros, a insumos energéticos, comunicações, terminais, entrepostos, rodovias, ferrovias, dutovias;

V – sistema viário e o trânsito, os transportes e o tráfego de bens e pessoas; VI – a captação, a adução, o tratamento e a distribuição de água potável;

VII – a coleta, o transporte, o tratamento e a destinação final dos esgotos sanitários;

VIII – a macrodrenagem das águas superficiais e o controle de enchentes; IX – a destinação final e o tratamento dos resíduos urbanos;

X – a política da oferta habitacional de interesse social; XI – o controle da qualidade ambiental;

XII – a educação e a captação dos recursos humanos; XIII – a saúde a nutrição;

O SGM foi estabelecido compreendendo institutos de gestão metropolitana em operação que passaram por alterações posteriores, com o objetivo de administrar os interesses metropolitanos e prestar apoio aos agentes encarregados pela execução das funções públicas de interesse comum. Atualmente é constituído por três entes (Figura 7):

 Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife - CONDERM, na qualidade de órgão deliberativo e consultivo;

 Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco - CONDEPE/FIDEM (antiga FIDEM, reformulada pela Lei Complementar Estadual n°49, de 31 de janeiro de 2003), na qualidade de Secretaria Executiva e órgão de apoio técnico ao conselho, vinculada à Secretaria Estadual de Planejamento (SEPLAN);

 Fundo de Desenvolvimento da RMR - FUNDERM, na qualidade de instrumento financeiro.

Figura 7 - Estrutura do Sistema Gestor Metropolitano da RMR Fonte: Adaptado de CONDEPE/FIDEM, 2015.

O Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife (CONDERM) é o órgão deliberativo e consultivo do SGM. A ele competem as funções de deliberação superior, formulação de política metropolitana e a articulação intergovernamental. As competências deste órgão são detalhadas no artigo 7º da Lei Complementar Estadual n°

10/1994. Integra a estrutura administrativa da Secretaria de Planejamento e Gestão e é presidido pelo respectivo secretário.

O CONDERM, como órgão deliberativo, tem representação de membros do Poder Público Executivo estadual e municipal. Os primeiros são nomeados pelo Governador do estado em número de 14 membros, e são geralmente titulares de secretarias ou de órgãos setoriais estaduais. Os segundos são os 14 prefeitos dos municípios integrantes da RM que são membros natos do conselho.

Como órgão consultivo, o CONDERM é composto por representantes dos Poderes Legislativos estadual e municipal, sendo três deputados estaduais indicados pela Assembleia Legislativa de Pernambuco, e um vereador representando cada Câmara Municipal dos municípios da RMR.

A Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (CONDEPE/FIDEM), antiga FIDEM, que foi reformulada e teve suas competências ampliadas pela LC Estadual n°49 de 31/2003, é o órgão de apoio técnico e administrativo às demandas do CONDERM. É uma autarquia do Poder Executivo Estadual vinculada à Secretaria de Planejamento e Gestão desta esfera de governo.

O CONDEPE/FIDEM, entre outras competências, exerce: a função de Secretaria Executiva do CONDERM e a gestão do FUNDERM; efetua estudos e pesquisas para o planejamento e desenvolvimento municipal, estadual e metropolitano; e é também o órgão de estatística do estado de Pernambuco. As finalidades e competências desta autarquia são determinadas pela Lei Complementar Estadual n° 49/2003, artigo 59, inciso III.

O Decreto Estadual nº 38.106, de abril de 2012, que aprova o Regulamento da CONDEPE/FIDEM e dá outras providências, define que as atividades são desenvolvidas na dimensão funcional, por duas áreas básicas: informações, estudos e pesquisas; e apoio à gestão regional e metropolitana e à articulação intergovernamental. Este decreto dispõe sobre a estrutura organizacional do órgão (Figura 8).

Figura 8 - Estrutura organizacional da CONDEPE/FIDEM Fonte: CONDEPE/FIDEM, 2015.

O Fundo de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife (FUNDERM) é um instrumento financeiro de caráter rotativo, destinado a financiar total ou parcialmente, sob a forma de empréstimo ou a fundo perdido, atividades de planejamento e serviços de interesse metropolitano. Recebe dotações orçamentárias do estado e municípios metropolitanos e outras arrecadações provenientes destes entes. São apontadas nos artigos 13 e 14 da Lei Complementar Estadual n° 10/1994 as ações de financiamento e as receitas do FUNDERM, respectivamente.

As Câmaras Técnicas Setoriais apoiam o CONDERM em suas deliberações. Constituem o meio de participação da sociedade civil no SGM e a ampliação da rede de entidades que atuam no sistema. As Câmaras são compostas paritariamente por 12 membros, representantes do Poder Público das três esferas de governo em número de seis, e representantes da sociedade civil também em número de seis membros, incluindo segmentos da comunidade (dois representantes), do setor privado (dois representantes) e o segmento acadêmico- profissional (dois representantes) (CONDEPE/FIDEM, 2015).

As Câmaras são criadas e regulamentadas por Resolução do CONDERM e são instituídas para um ou mais campos de que trata o artigo 3º da Lei Complementar Estadual nº

10/1994. Compete a elas elaborar e encaminhar projetos de matéria de seu domínio ao Conselho e avaliar planos e projetos no âmbito de suas atribuições, sempre a pedido do Conselho. São presididas por um dos seus membros escolhido por meio de votação interna, homologada pelo presidente do CONDERM, com alternância anual entre representantes do Poder Público e da sociedade civil. São Câmaras Metropolitanas as de Transportes, Saneamento e Meio Ambiente, Defesa Social, e Desenvolvimento Social. Os artigos 10 e 11 da Lei Complementar Estadual n° 10/1994 dispõem sobre as Câmaras Técnicas.