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7. METODOLOGIA PARA AVALIAÇÃO DA ESTRUTURA

7.4 Matriz de avaliação das estruturas organizacionais

O método de pesquisa consiste em aplicar uma matriz de avaliação específica para avaliar a funcionalidade da estrutura organizacional dos organismos gestores de transporte nas cidades brasileiras, em face das disposições da Lei Federal n° 12.587/2012.

Na fase de leitura documental não foi encontrado nenhum trabalho acadêmico ou técnico que abordasse um método de avaliação adequado para alcançar o objetivo da pesquisa. Portanto, fez-se necessário elaborar a pretendida matriz de avaliação, que sistematiza e ordena um rol de variáveis, a serem observadas no trabalho empírico, que forneça uma avaliação formal das potencialidades de cada caso estudado em responder adequadamente aos ditames da Política Nacional de Mobilidade Urbana. O método baseia-se no agrupamento destas variáveis ou quesitos, de maneira a facilitar a análise das informações coletadas e possibilitar resultados consistentes para a pesquisa.

Na elaboração da matriz e na definição precisa do método, foram consideradas as questões postas pela literatura e pela documentação institucional estudadas. Desta feita, procedeu-se à análise da literatura sobre Teoria Geral da Administração, sobretudo de Organização e Métodos (O&M), retratada como referencial para a estruturação da matriz e avaliação da estrutura organizacional do ponto de vista administrativo. Cumpriu-se também a análise do texto da Lei Federal n° 12.587/2012, em que foram elencados requisitos necessários a um órgão de transporte urbano para o mesmo tornar-se capaz de implementar a PNMU. E por fim, utilizou-se um benchmarking das boas práticas de gestão dos organismos da mobilidade urbana de duas capitais brasileiras, Curitiba/PR e Belo Horizonte/MG, reconhecidos nacionalmente como casos de sucesso em planejamento e gestão da mobilidade.

Portanto, a elaboração do método de pesquisa consistiu nas seguintes etapas:

Etapa 1 – Análise da literatura de O&M

Para a estruturação da matriz, foram classificados os aspectos básicos de uma estrutura organizacional, conforme conceituados na revisão de literatura:

 Elementos organizacionais: atividades, autoridade, comunicação;

 Fatores contingenciais: objetivos, estratégias, políticas, ambiente organizacional, tecnologia, histórico, idade, tamanho da organização;

 Níveis de influência: estratégico, tático e operacional.

Estes aspectos básicos foram introduzidos na matriz para fins de caracterização da estrutura organizacional, bem como para análise dos seus mútuos relacionamentos na estrutura e das relações entre eles e o conjunto da organização.

Etapa 2 – Análise da Lei Federal n° 12.587/2012

Quanto a análise do texto da lei, foram elencados quesitos que versam sobre atribuições a serem cumpridas pelos organismos gestores da mobilidade urbana, podendo existir ou não uma unidade organizacional específica dentro da estrutura organizacional para tal atribuição. Seguem os quesitos elencados:

 Atribuições do Poder Público – atribuições do Poder Público em âmbito metropolitano e municipal, conforme orientações da Lei n° 12.587/2012 nos artigos 16, 17 e 18.

 Gerência dos modos de transporte urbano: inclui todos os modos motorizados e não motorizados que circulam na cidade. Quanto ao objeto, de passageiros e de cargas; quanto às características do serviço, coletivo e individual; quanto a natureza do serviço, público e privado (Art. 3º, § 1).

 Infraestruturas de mobilidade urbana – Segunda o Art. 3º, § 3, da Lei, são infraestruturas: vias e demais logradouros públicos (metroferrovias, hidrovias e ciclovias); estacionamentos; terminais, estações e demais conexões; pontos para embarque e desembarque de passageiros e cargas; sinalização viária e de trânsito; equipamentos e instalações; e instrumentos de controle, fiscalização, arrecadação de taxas e tarifas e difusão de informações.

 Políticas de sustentabilidade ambiental – medidas mitigadoras de custos ambientais, como controle de emissão de poluentes e incentivos ao transporte coletivo e não motorizados (Art. 23).

 Acessibilidade – Trata-se da “facilidade disponibilizada às pessoas que possibilite a todas autonomia nos deslocamentos desejados” (Art. 4º, inciso III). Acesso físico às infraestruturas e modos de transportes.

 Elementos de gestão participativa – órgãos colegiados com representantes do Poder Executivo, da sociedade civil e dos operadores dos serviços; ouvidorias nos organismos de gestão da mobilidade urbana; audiências e consultas públicas para decisões de grandes projetos, como licitação do transporte coletivo, por exemplo; e procedimentos sistemáticos de comunicação e avaliação da satisfação dos usuários (Art. 15).

 Comunicação e informação ao usuário – canais de atendimento ao usuário e de disponibilidade de informações sobre o sistema de mobilidade urbana, em linguagem simples e acessível ao usuário (Art. 14 e 15), podendo utilizar canais de mídia (aplicativos) e governo eletrônico, além de canais convencionais (impressos em geral, difusão por rádio e TV etc.).

 Informações do transporte coletivo – informações ao usuário sobre tarifas, pontos de embarque e desembarque, horários e integração com outros modais (Art. 14, inciso III).

 Transparência - prestação de contas, publicação da tarifa, receitas e despesas, inclusive andamento de programas de investimento (Art. 8º, Art. 15, inciso IV).

 Integração com as políticas setoriais urbanas – integração com as políticas de desenvolvimento urbano, tais como de uso e ocupação do solo, saneamento ambiental e habitação (Art. 6º, inciso I).

 Plano de Mobilidade Urbana – instrumento de efetivação da PNMU que deve contemplar os princípios, os objetivos e as diretrizes da Lei Federal n° 12.587/2012 (Art. 24).

Etapa 3 – Benchmarking dos organismos das cidades de Curitiba e Belo Horizonte

O benchmarking é uma ferramenta para melhorar a performance e a competitividade de organizações mediante a identificação e adoção das melhores práticas de gestão de outras, como também para a criação de práticas mais aperfeiçoadas. Como método de pesquisa, o benchmarking por meio do conhecimento prático, proporciona ferramentas para a investigação científica (KYRÖ, 2004). Portanto, procedeu-se um benchmarking das boas práticas de dois organismos reconhecidos no planejamento e na gestão da mobilidade urbana, URBS em Curitiba e BHTRANS em Belo Horizonte.

A cidade de Curitiba, Paraná, é reconhecida internacionalmente pelo sucesso da associação entre planejamento de transportes e planejamento de uso do solo na hierarquia de

ruas e avenidas, com a finalidade de promover um equilíbrio consistente entre demanda e oferta de transporte público (MIRANDA; SILVA, 2012). As iniciativas de planejamento e de gestão de transportes são antigas e acompanharam o desenvolvimento da cidade. Remontam a seis décadas de planejamento urbano, com início em 1943 com o Plano idealizado pelo urbanista francês Alfredo Agache que previa, entre outras recomendações, as diretrizes para um crescimento concêntrico da cidade (IRAZÁBAL, 2013).

Mas foi em 1966 que se deu a aprovação do inovador Plano Wilheim, dirigido pelo urbanista Jorge Wilheim, desenvolvido por duas empresas de consultoria em conjunto com técnicos municipais e grupos de elite. O Plano Diretor presumia um crescimento urbano a partir de eixos radiais divergentes a partir do centro da cidade, utilizava transporte público integrado e princípios de uso do solo misto (IRAZÁBAL, 2013). Fundamentava-se no tripé: uso do solo, transporte coletivo e circulação (IPPUC, 2015). Em 1975, uma nova lei de zoneamento foi sancionada, e associada a esta foram construídos os chamados “eixos estruturais”, onde o sistema viário foi hierarquizado com base nas características de tráfego e ocupação do solo (MIRANDA, 2010).

Como proposta institucional do Plano Diretor, em 1966 foi criado o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) para a implementação do plano e o desenvolvimento de todos os projetos integrantes. O IPPUC, desde esta data até a atualidade, conta com pessoal técnico especializado para planejar e coordenar projetos urbanos (IPPUC, 2015). Esta iniciativa foi muito importante para o sucesso do Plano, como podemos perceber pelas palavras de Ivo Arzua, prefeito de Curitiba na gestão de implementação do Plano Diretor:

“De nada adianta encomendarmos um plano a profissionais competentes sem o acompanhamento – tanto na elaboração como na definição das linhas principais – do pessoal que vai executá-lo. Por esta falta é que muitos planos ficam engavetados. Porque os encarregados de executá-los não os conhecem e não acreditam neles” (IVO ARZUA, 1996 em IPPUC, 2015).

Atualmente, a atribuição do IPPUC é coordenar as ações do Plano Diretor Municipal e monitorar as demais ações de planos e projetos urbanísticos em âmbito municipal e metropolitano (IPPUC, 2015).

Integrado ao IPPUC, como organismo gerenciador de transportes, Curitiba conta com a URBS (Urbanização de Curitiba S.A.), empresa municipal de capital misto (99, 9% de suas ações pertencentes ao município de Curitiba), criada em 1963; ao longo dos anos a URBS passou por algumas mudanças de ordem jurídica e de competência administrativa. Atualmente é “responsável pelas ações estratégicas de planejamento, operação e fiscalização

que envolvem o serviço de transporte público, além do gerenciamento e administração de equipamentos urbanos de uso comercial da cidade, instalados em bens públicos” (URBS, 2015).

Em Belo Horizonte, Minas Gerais, o organismos gestor de transporte e trânsito é relativamente novo. A Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte S/A (BHTRANS), criada em 1991 pela Lei municipal n° 5.953/1991 de 31 de julho, é uma empresa municipal de economia mista, com 98% do seu capital pertencente ao município de Belo Horizonte. A BHTRANS tem por finalidade “planejar, organizar, dirigir, coordenar, executar, delegar e controlar a prestação de serviços públicos relativos a transporte coletivo e individual de passageiros, tráfego, trânsito e sistema viário” (redação dada pela Lei municipal n° 7.037, de 27 de agosto de 1996).

A BHTRANS foi ganhadora do Prêmio ANTP de Qualidade em alguns ciclos. Nos ciclos 2003/2005 e 2011/2013 foi premiada na categoria de melhor órgão gestor de transporte e trânsito; no ciclo 2007/2009 recebeu o certificado de melhoria contínua. O Prêmio ANTP de Qualidade é um programa mantido pela Associação Nacional de Transportes Públicos desde 1995 e ocorre em ciclos bienais. Tem por objetivo estimular as entidades atuantes no setor de transporte urbano a buscarem excelência nos serviços oferecidos e na melhoria da qualidade do transporte e da gestão empresarial; reconhece as melhores do setor instigando as demais a serem semelhantes (PRÊMIO ANTP DE QUALIDADE, 2015).

A decisão de realizar um benchmarking destes dois organismos também deve-se ao fato de os mesmos terem sido apontados na pesquisa de Santos et al (2014) como de organismos locais com elevada maturidade relativa de governo eletrônico em mobilidade urbana. Na pesquisa de Costa, Santos e Brasileiro (2010) sobre o mesmo assunto, referente ao período de 2009, os dois organismos já se mostravam com maturidade elevada, o que indica uma permanência de médio prazo como organismos locais de referência em práticas modernas de gerenciamento.

Tendo conhecimento dos organogramas destes dois organismos de gestão, URBS e BHTRANS, foi realizada uma análise documental com base nas etapas anteriores (Etapa I e Etapa II) e elencadas as unidades organizacionais da departamentalização com atribuições consideradas como relevantes para a estrutura organizacional de um organismo gestor da mobilidade. O propósito foi identificar, nos organogramas destes organismos, funcionalidades

que atendem às prescrições da Lei Federal n° 12.587/2012, e que já estão sendo executadas com sucesso. A análise realizada identificou algumas unidades organizacionais, a saber:

 Gerência de gestão e desenvolvimento de pessoas: para tratar de atividades relativas ao desenvolvimento e incentivo a qualificação do corpo técnico da organização.

 Gerência de tecnologia da informação para processos administrativos: para manter sistemas de informação gerenciais internos a organização.

 Diretoria de transporte público: uma unidade organizacional em nível estratégico que reúne todas as funções de gestão para o transporte coletivo. Estas funções estão disseminadas em unidade organizacionais de nível operacional:

− Gerência de programação de rede

− Gerência de gestão de contratos de concessão − Gerência de gestão de permissionários

− Gerência de atendimento ao usuário do transporte coletivo − Gerência de gestão operacional do BRT

− Gerência de gestão de sistemas inteligentes de transporte (SIT) − Gerência de auditoria da qualidade do transporte coletivo − Gerência de manutenção das estações

− Gerência de estudos para o transporte coletivo − Gerência de fiscalização do transporte

 Diretoria de sistema viário: unidade organizacional em nível estratégico para promover atividade relativas a gestão de trânsito, bem como implantação e manutenção das infraestruturas. Estas funções estão disseminadas em unidade organizacionais de nível operacional:

− Gerência de projetos de trânsito − Gerência de sinalização

− Gerência de programação e gestão semafórica − Gerência de educação para a mobilidade urbana − Gerência de estacionamentos

 Diretoria de planejamento da mobilidade urbana: unidade de nível tático responsável pelo planejamento da mobilidade urbana. Entre as funções desta

diretoria, foram destacadas algumas que estão distribuídas por unidades organizacionais de nível tático:

− Escritório de projetos: para gerenciar os projetos da organização de acordo com as diretrizes do planejamento estratégico.

− Coordenadoria de políticas de sustentabilidade

− Coordenadoria de projetos especiais: para analisar projetos especiais, que devem ser analisados caso a caso.

− Coordenadoria de planejamento estratégico

− Superintendência de planejamento e pesquisas em mobilidade urbana.

 Unidade de táxi e transporte comercial: unidade em nível tático para gestão de táxi e dos modos de transportes comerciais. As funções estão distribuídas em unidades organizacionais de nível operacional:

− Unidade de gestão e cadastro de táxi

− Unidade de gestão e cadastro transporte comercial − Unidade de vistoria e fiscalização.

Para todas as atribuições investigadas pela matriz, é questionado o âmbito de atuação − municipal e metropolitano – já que a pesquisa se propõe a avaliar organismos nestes dois âmbitos.