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I NTRODUÇÃO G ERAL AOS M ICROSPORIDIA

ESPÉCIES REFERÊNCIAS

3. ESPECTRO CLÍNICO E PATOGENIA NO HOMEM

3.2. I NFECÇÕES POR ESPÉCIES DE MICROSPORIDIA MENOS FREQUENTES

Outros casos de interesse, correspondem à infecção no Homem, por espécies de microsporidia menos frequentes: infecção da córnea num doente com sida por T.

anthropopthera [Juarez et al. 2005]; um caso fatal de miosite, numa mulher, com artrite

reumatóide, e diabetes, causada por A. algerae, um miscrosporídio que habitualmente infecta mosquitos [Coyle et al. 2004; Visvesvara et al. 2005; Franzen et al. 2006]. Este último caso, suscita a possibilidade de transmissão dos microsporidia, por vectores.

O número de casos de microsporidiose ocular também tem vindo a aumentar, nomeadamente entre os utilizadores de lentes de contacto [Theng et al. 2001; Sridhar & Sharma 2003; Chan et al. 2003; Kodjikian et al. 2005; Joseph et al. 2005; Fogla et al. 2005; Kakrania et al. 2006; Joseph et al. 2006; Sagoo et al. 2007].

3.2.1.Infecção por Anncaliia spp.

A espécie Anncaliia algerae [Lowman et al. 2000] é sobejamente conhecida como um agente patogénico de insectos, nomeadamente de mosquitos [Vavra & Undeen 1970], sendo apontada como um potencial agente de controlo biológico destes insectos [Mathis et al. 2005]. Há três registos de infecção por A. algerae. O primeiro caso, refere-se a uma queratite num imunocompetente com 67 anos de idade, que apresentava diminuição da acuidade visual, olho vermelho e prurido [Visvesvara et al. 1999a]. No segundo caso, o microsporídio foi isolado a partir de biópsia do tecido muscular da coxa, associado a mialgia, miastenia e ao aumento dos níveis séricos da creatina quinase, de um doente com diabetes e artrite reumatóide submetido a terapêutica imunossupressora [Coyle et al. 2004]. A espécie A. algerae foi também isolada de lesões na pele, de uma criança com leucemia linfocítica aguda [Kucerova et

al. 2004]

Estão descritos mais dois casos de infecção humana, por outras espécies pertencentes ao género Anncaliia: Anncallia connori [Bergquist et al. 1984a] (originalmente designada por Nosema connori e depois como Brachiola connori) [Cali

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este agente [Margileth et al. 1973], e a espécie Anncallia vesicularum, envolvendo um doente com sida, com lesões no tecido muscular esquelético [Cali et al. 1998].

3.2.2.Infecção por Microsporidium spp.

O género Microsporidium foi criado para albergar os microsporídios, ainda com classificação por definir. Encontram-se neste género as espécies Microsporidium

africanum (sin. Nosema sp.) e Microsporidium ceylonensis (sin. Nosema sp.), que foram

isoladas no estroma da córnea de dois seronegativos para VIH [Ashton & Wirasinha 1973; Pinnolis et al. 1981]. Em ambos os doentes, a infecção causou úlceras na córnea, que levaram à perda de visão [Canning et al. 1998; Kotler & Orenstein 1999].

3.2.3.Infecção por Nosema ocularum

A infecção por Nosema ocularum, foi descrita no estroma da córnea, num seronegativo para o VIH, que apresentava inflamação e diminuição da acuidade visual, do olho esquerdo [Cali et al. 1991a].

3.2.4.Infecção por Pleistophora sp.

Estão descritas três infecções por Pleistophora sp., em doentes com sida [Kotler & Orenstein 1999]. O primeiro caso foi registado em 1985, tendo sido identificado à data, o microsporídio, apenas até ao género. Mais tarde, este isolado veio a constituir a primeira descrição da espécie Pleistophora ronneafiei [Ledford et al. 1985; Cali & Takvorian 2003]. Os restantes isolados, apenas, foram identificados até ao género. Estes microsporídios, foram isolados no tecido muscular esquelético, em doentes que apresentavam mialgia e miastenia [chupp et al 1993].

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3.2.5.Infecção por Trachipleistophora spp.

O género Trachipleistophora alberga as espécies T. anthropophthera [Vavra et

al. 1998] e T. hominis [Hollister et al. 1996b]. A espécie T. hominis, foi identificada em

dois doentes com sida e num imunocompetente africano, imigrante no Reino Unido [Field et al. 1996; Hollister et al. 1996b; Rauz et al. 2004; Curry et al. 2005]. Nos doentes com sida, esta espécie provocou infecção no tecido muscular esquelético, para além de, num deles, ter causado infecção do epitélio da córnea. No imunocompetente observou-se uma infecção localizada no estroma da córnea.

T. anthropophthera, foi identificada em três doentes com sida, dois dos quais

manifestavam sintomas neurológicos [Yachnis et al. 1996; Vavra et al. 1998; Juarez et

al. 2005; Pariyakanok & Jongwutiwes 2005]. As autópsias destes dois doentes,

permitiram isolar a espécie no cérebro e em vários outros órgãos. Pelo contrário, observou-se no terceiro doente, uma infecção localizada, ao nível do epitélio da córnea.

Uma nova avaliação de dois casos de miosite atribuídos inicialmente a

Pleistophora spp. [Chupp et al. 1993; Grau et al. 1996], apontou para que, em ambos os

casos, se tratasse de uma infecção por Trachipleistophora [Curry et al. 2005].

3.2.6.Infecção por Vittaforma corneae

Encontram-se descritas quatro infecções por V. corneae (originalmente designada por Nosema corneum) [Shadduck et al. 1990; Davis et al. 1990; Silveira & Canning 1995; Mittleider et al. 2002; Rauz et al. 2004], em que apenas uma delas se reporta a um doente africano com sida [Deplazes et al. 1998]. Nos três casos de imunocompetentes oriundos dos EUA, a infecção circunscreveu-se ao estroma da córnea. A sintomatologia englobava fotofobia e diminuição da acuidade visual. No doente com sida, identificaram-se esporos de V. corneae na urina, sugerindo que este microsporídio tenha a capacidade de se propagar noutros órgãos.

Em Portugal, foi identificada uma nova espécie - Vittaforma-like, geneticamente relacionada com V. corneae, nas fezes de 22 doentes infectados por VIH e de três

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crianças, seronegativas para VIH. Todos os infectados manifestavam um quadro diarreico [Sulaiman et al. 2003c].

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4. IMUNOLOGIA

As infecções parasitárias continuam a ser causa a de morbilidade e mortalidade significativas a nível mundial, independente do estado imunológico dos doentes. Estima-se que existam aproximadamente cerca de 340 espécies de parasitas potencialmente infectantes para o Homem, sendo a maioria das pessoas infectadas residentes em regiões do globo em vias de desenvolvimento [Stark et al. 2009]. Os parasitas intestinais são considerados a causa mais comum de doenças parasitárias, associadas a uma significativa morbilidade e mortalidade.

Os factores de risco associados à probabilidade de contrair uma infecção parasitária são idênticos quer se trate da população imunocompetente, quer da população imunodeficiente. Qual será, então o papel do sistema imunológico, nas infecções parasitárias? Na verdade, o sistema imunológico, através de determinadas respostas localizadas ou sistémicas, tem um papel preponderante na forma do estabelecimento da infecção, no controlo da infecção após o estabelecimento, limitando a gravidade e a disseminação da doença, e ajudando na eliminação ou controlo do parasita [Stark et al. 2009]. Sendo assim, os hospedeiros imunossuprimidos, encontram- se mais susceptíveis a contrair a infecção após serem expostos ao parasita, desenvolvem doença com maior gravidade, têm maior probabilidade de desenvolver infecção disseminada e não têm capacidade de erradicar os parasitas, passando ao estado de portadores crónicos. Todos estes parâmetros conduzem à elevada morbilidade e mortalidade entre este grupo específico de doentes. No entanto, a maioria dos imunossuprimidos não diferem dos imunocompetentes na sua apresentação, sendo o grau de deficiência imunitária o determinante principal da gravidade da infecção e da sua evolução. Acrescenta-se, ainda, que a reconstituição imunitária através da introdução de terapêutica eficaz ou da remoção e/ou redução da dose de fármacos imunossupressores, pode dar a estes doentes uma maior capacidade de combater o agente infeccioso como acontece com os imunocompetentes.

O número de doentes com inmunossupressão, aumenta mundialmente, a cada ano que passa, associado à dispersão do VIH, estimando-se que surgam diariamente, em diversas regiões do globo, cerca de 14000 novas infecções [Barsoum 2006]. O que complica este problema é que a maioria destas novas infecções ocorre em regiões, nas

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quais o acesso a terapia anti-retrovirica é limitado, levando a que os doentes evoluam rapidamente para estados de profunda imunossupressão (ex, sida). Pelo contrário, nas regiões mais desenvolvidas o número de pessoas com imunossupressão continua a aumentar, mas como resultado da crescente administração de potentes fármacos imunossupressores, no tratamento de doenças auto-imunes ou em doentes submetidos a transplantes de medula e/ou órgãos [Bachur et al. 2008]