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I NTRODUÇÃO G ERAL AOS M ICROSPORIDIA

ESPÉCIES REFERÊNCIAS

2.1.3 Uma ligação aos fungos.

Apesar da acumulação de evidências, a origem primitiva dos microsporidia continuou a suscitar dúvidas entre a comunidade científica. A capacidade de adaptação destes parasitas assim como a elevada divergência das sequências dos seus genes constituem características problemáticas, com possibilidade de serem mal interpretadas. Um ciclo de vida intracelular obrigatório, pode potencialmente conduzir á redução e/ou perda de diversos organelos e estruturas celulares, tais como as mitocôndrias, os peroxissomas, centríolos, ou os ribossomas. Acrescente-se que, os rRNA possuem muitas delecções de modo que, é possível que a fusão das subunidades 5.8S com a LSU resultasse de uma regressão, pela perda de uma sequência [Cavalier- Smith 1993; Corradi & Keeling 2009]. Sabe-se também, que taxas elevadas de divergência de sequências dos genes, podem originar um artefacto filogenético, conhecido por “atracção de ramificações-longas” (da expressão anglo-saxónica para

long-branch attraction), arrastando errôneamente, os microsporidia para a base da

árvore filogenética.

Inicialmente, a proposta que sugeria os microsporidia com ligação de parentesco aos fungos, surgiu da ocorrência de semelhanças no ciclo de vida [Flegel & Pasharawipas 1995], da presença de quitina na parede do esporo (embora também possa ser encontrada noutros filos para além dos fungos), e do dissacárido trealose (dissacárido não reduzível, composto usado para armazenamento de energia), em ambos os grupos de organismos. Mais recentemente, a perspectiva evolutiva proporcionada por diversos estudos moleculares evidencia, esta proximidade ao Reino Fungi: a sequenciação dos genes conservados que codificam para as proteínas - e - tubulina [Edlind et al. 1994; Keeling & Doolittle 1996; Edlind et al. 1996; Muller 1997]; a

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identificação de quitinases semelhantes às dos fungos [Hinkle et al. 1997]; e a análise filogenética das proteínas de ligação à TATA-box [Fast et al. 1999]; assim como, a sequenciação de genes codificantes da grande subunidade da RNA polimerase II [Hirt et

al. 1999], da proteína de choque térmico de 70-kDa (HSP70, sigla anglo-saxónica para heat shock protein 70-kDa) [Hirt et al. 1997; Germot et al. 1997; Peyretaillade et al.

1998b], da glutamil sintetase [Brown & Doolittle 1999], ou das subunidades - e - da piruvato desidrogenase E1 [Fast & Keeling 2001]. Mais recentemente, a primeira caracterização do genoma total de um microsporídio E. cuniculi, veio reforçar a ligação entre os dois grupos [Katinka et al. 2001].

Acresce, a identificação, nos microsporidia, de mais de uma dúzia de genes que codificam para proteínas mitocondriais e a localização da proteína HSP70, no remeniscente mitocondrial, o mitossoma [Williams et al. 2002; Tsaousis et al. 2008; Goldberg et al. 2008; Lee et al. 2008; Williams et al. 2008a; Williams et al. 2008b], consistentes com a presença de mitocôndrias, confere rubustez à ideia, de que estes parasitas seriam de início organismos mais especializados que, embora tivessem perdido, posteriormente estes organelos, possuem, ainda, algumas evidências genéticas do seu passado.

Diversos autores, abandonaram então, a teoria de que, os microsporidia constituíam uma linha primitiva dos eucariotas, para os passarem a considerar como organismos especializados, que terão evoluído a partir de ancestrais com mitocôndrias, e que apresentam na sua constituição determinadas características celulares e moleculares que os ligam ao grupo dos fungos.

No final dos anos 90, do século passado a possibilidade de proximidade de parentesco entre os microsporidia e os membros do reino Fungi começou a ter aceitação, entre a comunidade científica [Weiss et al. 1999]. Actualmente, os debates centralizam-se em decidir se, na realidade, estes organismos partilharam o mesmo ancestral com os fungos ou, se então, derivaram dos fungos. Todavia, não foi possivel ainda, obter uma resposta concreta para estas dúvidas, uma vez que as análises filogenéticas são estabelecidas a partir de genes únicos, e que incluem habitualmente, apenas uma pequena fracção da diversidade quer dos microsporidia, quer dos fungos. Na verdade, o sucesso dos métodos moleculares nos estudos filogenéticos e de sistemática dependem em grande parte das moléculas escolhidas para a análise.

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Idealmente, a resolução do problema, passaria pela utilização, de um conjunto de dados multigénicos, com uma ampla representação taxonómica. Porém, até à data só foi possível o estudo do genoma de um grupo restrito de microsporidia, e dentre estes, a caracterização só foi obtida para um reduzido número de genes (<2000). Se a estas limitações, adicionarmos a elevada divergência das sequências determinadas [Katinka et

al. 2001; Slamovits et al. 2004], torna-se difícil, não só efectuar reconstruções

filogenéticas moleculares, como as torna extremamente incertas [Hirt et al. 1999; Thomarat et al. 2004]. Mais recentemente, recorreu-se a uma abordagem diferente, com base na conservação da ordem dos genes [Lee et al. 2008]. Verificou-se, que apesar das sequências dos genes dos microsporidia evoluírem muito rapidamente, a ordem dos genes dentro do próprio genoma, é altamente conservada [Slamovits et al. 2004; Corradi et al. 2007]. Estes resultados sugerem uma ligação aos zigomicetes, visto que ambos os grupos partilham uma elevada taxa de conservação no ordenamento dos genes. Ao contrário do que se observa, quando se compara esta taxa de ordenamento genético, com outros grupos de fungos, como por exemplo, dos basidiomicetes [Dyer 2008; Lee et al. 2008].

A hipótese dos microsporidia terem pelo menos uma proximidade de parentesco com o reino Fungi, parece estar a ser adoptada por um número crescente de autores [Hibbett et al. 2007]. Têm sido desenvolvidos esforços com o intuito de obter dados relativos ao genoma de outros microsporídios, e de continuar a análise comparativa entre os genomas das diversas espécies e outros organismos, de modo a clarificar as forças com impacte, na redução e compactação genómica, em relação à filogenia e evolução destes parasitas. A recente aplicação da comparação de análises filogenéticas moleculares gerou novas considerações, sobre a classificação taxonómica de diversas espécies, dentro dos microsporidia, estabelecida, previamente, com base em características ultraestruturais, biológicas, bioquímicas ou de habitat [Vossbrinck & brunner-Vossbrinck 2005; Larsson 2005].

A validade da classificação taxonómica dos microsporidia tem sido, diversas vezes questionada. À medida que vão sendo descritos e analisados aspectos moleculares de um crescente número destes parasitas, torna-se mais elevada a probabilidade de ocorrerem, no futuro, novas alterações no esquema de classificação do grupo [Baker et

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Verificada a ausência de consenso, entre os diversos membros da comunidade científica [Dong et al. 2010], como tal, não parecem estar, ainda, reunidas todas as condições para elaborar uma classificação definitiva para os microsporidia.