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As idéias-força de Caio Prado Júnior, Waibel e Valverde sobre colonização

Capítulo 6 – As idéias de Waibel e Valverde para além-muros do CNG

6.2. As idéias-força de Caio Prado Júnior, Waibel e Valverde sobre colonização

qual nos referimos. Ou seja, o assentimento de Valverde em estudar as regiões meridionais brasileiras ao lado de Waibel sugere por si mesmo que, para além da turbidez de sentido da conclusão de seu escrito de 1948, seus esforços refletiram nessa época certas críticas desfechadas contra aqueles que defendiam sem reservas a ocupação desenfreada e sem mais cuidados do interior do país. Não obstante, com relação ao povoamento do território, diante da impossibilidade demonstrada de se emparelhar o

escrito valverdiano em sua plenitude com a oposição explícita de Waibel ao avanço incontido do Estado em direção aos fundos territoriais, torna-se impossível admitir que Valverde tenha, à maneira de seu orientador, endereçado crítica severa aos argumentos daqueles que viam na ocupação rápida a concretização da defesa da segurança nacional.

Apenas dando início ao desvendamento desses horizontes de análise, que polirá as linhas restantes tanto deste capítulo quanto do seguinte, ETGES (2000:127), por exemplo, partindo de certas ilações do texto caiopradiano de 1946, cujos traços mais gerais foram tratados no capítulo anterior, salienta que Waibel, desde seu desembarque no país, se deparou com uma ambiência cultural na qual prevalecia forte inquietação em povoar o território e “um relativo consenso em colocar o modelo da pequena propriedade do Sul do país como modelo ideal nesse processo”. Tomando assento nesse parecer, é possível explorar seu caráter sugestivo mantendo fidelidade aos liames alicerçados no capítulo precedente e àqueles que nos prendem ao escrito valverdiano.

Nesse sentido, é de bom grado reconhecer que, uma vez transpostos os tempos de euforia da proclamada Campanha Marcha para o Oeste, foi de acordo com o mesmo movimento caiopradiano de releitura do que até então havia sido realizado quanto ao assunto que Waibel e Valverde também tomaram parte no debate sobre colonização. Contudo, e aí surge uma diferença fundamental com relação ao historiador paulista, à primeira vista os dois geógrafos assim procederam no segundo pós-guerra de acordo com os limites e contrariedades então prevalecentes na instituição na qual exerciam suas atividades e, não menos importante, segundo um modo específico, ou seja, estribados nos aportes metodológicos dos quais então dispunha a Geografia e limitados pelas reservas que esse campo disciplinar julgava conveniente manter ante as controvérsias políticas. Noutra face da questão, há que se atentar também para uma diferença substancial entre os dois geógrafos e o historiador: enquanto Caio Prado Júnior tratou do assunto fazendo oposição política a Vargas, atitude semelhante não parece ter sido adotada por Waibel e Valverde.

Mais pronunciadamente no caso de Valverde, um primeiro ponto que merece destaque nesse aspecto é que, enquanto o texto caiopradiano de 1946 interpelou diretamente os equívocos do “espírito bandeirante” estatal de ascendência ricardiana (VELHO, 1979:147), imiscuído na Campanha Marcha para o Oeste, o geógrafo, ao contrário, jamais mencionou abertamente as insuficiências do programa na totalidade de

seu trabalho de 1948. Tal constatação certamente não deve causar surpresa, levando-se em consideração o fato de o historiador ter buscado, com suas formulações, a estruturação de um pensamento político que estimulasse o debate público, enquanto o geógrafo, embora tivesse, ao lado de Waibel, o mesmo objetivo, perseguiu-o no interior de uma área científica aclimatada aos reclamos da disjuntiva política/ciência e de um órgão técnico do Estado. Inserido numa instituição governamental sintonizada em alimentar outros braços estatais com informações a respeito do território e sobre a qual recaía a tarefa de fornecer suporte para as políticas levadas a cabo pelo Estado, Valverde guardou distância do criticismo dos argumentos caiopradianos para, ao que tudo indica, não contrariar seus créditos governamentais. A descendência intelectual e institucional de Orlando Valverde e os constrangimentos por ela acarretados a seu labor já foram enfocados nos capítulos anteriores, mas aqui readquirem igual peso e importância.

Quanto a Caio Prado Júnior, visando tornar mais claras as diferenças entre o locus de origem de suas locuções de 1946 sobre povoamento e pequena propriedade e o daquelas emitidas por Valverde dois anos depois, cabe atentar que, em 1943, ao lado de Monteiro Lobato e A. Neves, o historiador já havia fundado a Editora Brasiliense e estruturado a Gráfica Urupês. Esses empreendimentos traduziram as intenções do intelectual paulista de influir na formação da opinião pública de sua época e impulsionaram sua inserção nas mais diferentes esferas sociais. Por meio deles, Caio Prado Júnior consolidou as bases de uma conduta que não mais deixaria de praticar nos anos seguintes, qual seja a de expandir e tornar popular o universo daquilo que, seguindo em parte os passos de Oliveira Vianna, chamou de “opinião pública organizada”9. Assim, amparado não somente nesse momento como também ao longo de sua vida pública, ele envidou esforços em prol da democracia e defendeu o estabelecimento de laços “orgânicos” entre a sociedade e a política. Sob o revestimento dessa causa primária, com sua obra e militância na imprensa, no mercado editorial e na política, buscou incessantemente dialogar com os diferentes segmentos da sociedade brasileira10.

Foi de acordo com essas motivações de fundo que, no meado da década de 1940, o historiador paulista publicou seu texto “Problemas de povoamento e divisão da propriedade rural”, cujos argumentos capilares foram comentados no capítulo anterior.

Diante das informações fornecidas, o que importa ressaltar é que, nesse trabalho, em sentido inverso ao do estudo valverdiano sobre as áreas gauchescas de colonização antiga, o autor pautou sua prática intelectual em torno da formação da “opinião pública”, enquanto o geógrafo ibegeano elaborou seu trabalho bastante distante desses horizontes. Na segunda metade dos anos 1940, essas discrepâncias entre a natureza dos “lugares de fala” dos dois autores guarneceram diferenças substanciais entre suas respectivas abordagens sobre os assuntos fundamentais concernentes ao temário colonização e povoamento, das quais ressai a maior liberdade e soltura caiopradiana para associar tais assuntos à discussão sobre a organização agrária, enquanto Valverde, por seu turno, esquivou-se claramente do problema11.

Conservando em mente as singularidades estremadas, mostra-se oportuno passar a um outro conjunto de considerações, visando complementar seus efeitos nos escritos desses autores. Desse modo, apesar das diferenças entre as condições de produção de Caio Prado Jr. e de Valverde, o fato de o discurso deste último não trazer menções claras das controvérsias da organização fundiária naqueles idos não significa que não possamos extrair dele mais acuradamente certo substrato político-ideológico. Na verdade, perscrutando-o em comparação tanto com o texto do historiador quanto com a tônica das demais propostas da época concernentes à pequena propriedade e ao povoamento, queremos crer que o discurso valverdiano assumiu posicionamento indireto diante desses assuntos, mesmo estando submetido aos constrangimentos antepostos por aqueles interditos institucionais e metodológicos já frisados.

Enveredando no registro apreciativo lançado, convém em primeiro lugar esclarecer que a própria natureza do trabalho do geógrafo de 1948 semelha constituir-se numa razão para se conceder crédito ao deslindamento do exame em pauta. Ou seja, embora tenha deixado de mencionar literalmente as polêmicas ideológicas de sua época a respeito desses assuntos, tal característica discursiva não destitui seu escrito de significado político, mesmo diante daquele quadro de debates acirrados. Valverde, de fato, buscou preservar seu escrito dessas tensões conjunturais, acreditando poder mantê- lo numa suposta neutralidade científica capaz de legitimar sua visão sobre a colonização européia na porção meridional do país ante a comunidade científica e institucional da qual participava. No entanto, antes de obscurecer o significado de seu trabalho naquele contexto, isso ajuda a esclarecê-lo, merecendo por isso alguns detalhamentos.

A despeito de conservarem particularidades valorativas, seja entre si, seja com relação ao intelectual paulista, ao menos é possível acatar que Valverde e Waibel também assumiram a incumbência de produzir orientações mais concretas para o povoamento do território por meio de suas pesquisas. Não obstante essa tônica comum e de acordo com algumas sinalizações apresentadas no capítulo anterior, claro está que, na época em que escreveram seus trabalhos, ambos assumiram essa meta num locus laborativo, ao que tudo indica, avesso a proposituras reformistas mais avançadas atinentes ao campo brasileiro, seguindo nisso, ademais, a timidez das investidas seja estadonovistas, seja dos anos Dutra na questão. Como será possível desvelar oportunamente, em função desses elementos não é possível deixar de encarecer o papel que essa ambiência cumpriu na asfixia de entoações mais veementes dos geógrafos a respeito dos conflitos sociais no campo brasileiro, quando, no cerne do período considerado, era esse o flanco de discussões que ensejava as altercações relativas ao povoamento do território.

Apesar disso, por enquanto atendo-nos somente ao que interessa destacar, de qualquer forma percebe-se que, na visão dos dois geógrafos, atendendo ou ressoando o chamado da época tão bem captado por Caio Prado Júnior, os levantamentos de campo foram considerados como o subsídio de maior significado12 para amenizar as aflições decorrentes do desapontamento relativo às medidas de ocupação do território encetadas durante o Estado Novo e, mais largamente, aos reveses históricos assumidos durante a obra colonizadora no país. Ao mesmo tempo, esse movimento de releitura compartilhado por Prado Junior, Waibel e Valverde parece ter se mostrado assaz promissor para a frutificação de novas propostas concernentes ao assunto, oportunidade da qual souberam tirar partido de acordo com suas respectivas áreas de conhecimento.

Esse primeiro ponto comum entre os três autores merece ser visto em seus desdobramentos. Em proporções diferentes, é justo afirmar que eles travaram oposição similar às formulações expressas tanto no livro de Cassiano Ricardo quanto em outros surgidos durante o Estado Novo, nos quais tintas loquazes foram versadas sobre os temários colonização e imigração. Conforme aponta ESTERCI (1972:54), estes visavam “muito mais a veicular uma teoria política do que a discutir a eficiência destas práticas administrativas com relação a povoamento, criação de pequena propriedade, amparo a trabalhadores nacionais e produtividade econômica”. Não condizendo com essa

tendência, o segundo parágrafo do trecho de Valverde apresentado mais atrás expressa o afastamento que este assumiu diante dessa casta discursiva, na qual a abordagem do assunto era desprovida de apontamentos práticos elaborados por meio de levantamentos empírico-indutivos. Atitude igualmente destoante foi certificada por Waibel quando, nas primeiras linhas do escrito publicado apenas em 1955, exprimiu acreditar ser o geógrafo o profissional capacitado para “a tarefa de analisar cuidadosamente, em face dos conhecimentos que tem do país, o que no lema ‘marcha para o oeste’ é uma realidade e o que é frase vã”, tendo alertado que disso dependia “o julgamento das possibilidades futuras do país e a sua política de povoamento” (WAIBEL, 1955:4).

Observa-se que os dois geógrafos, embora alocados nas fileiras técnicas governamentais e movimentando-se em bases epistêmicas e eixos argumentativos diversos, abraçaram referendo similar àquele que Caio Prado Júnior assumiu em certo momento de sua produção intelectual, livre desses constrangimentos e em solo paulista. Com efeito, este havia se colocado à frente da modulação entoada por Valverde e Waibel, e tomado em punho os contornos desse incitamento “revisionista” naquele texto de 1946, exigindo um conhecimento mais confiável e fundamentado empiricamente sobre a colonização no Sul do Brasil. Esse registro de análise valorizado pelos autores certamente guarda distância expressiva diante da estirpe de trabalhos mencionada logo atrás, no início do parágrafo anterior.

Delimitadas essas congruências ao menos operacionais entre o ideal perseguido pelos autores, chama a atenção um outro ponto de convergência entre eles. Ao que tudo indica, é possível admitir que, tal como o historiador paulista, pouco a pouco, conscientemente ou não, a equipe dos pesquisadores que trabalharam ao lado de Waibel fez coro pela necessidade da expansão paulatina do povoamento a partir das áreas econômicas mais desenvolvidas do país contra o avanço desordenado e varonil do Estado em direção aos fundos territoriais. Assim, não é de se estranhar que, em certa medida, o teor da vocalização caiopradiana de 1946 também tenha estado presente nos textos da equipe de Waibel sobre o problema da mudança da capital do país, no arremate final do artigo de Valverde e no artigo de Waibel de 1949, publicados apenas dois a três anos depois do escrito do intelectual paulista.

Convergindo com certas pontuações caiopradianas, o estudo de Waibel sobre a colonização européia no Sul do Brasil contestou explicitamente a eficácia das medidas

restritivas centradas na imigração, apontando-as como insuficientes para carrear uma obra de povoamento harmônica com as aspirações desenvolvimentistas que, naquele momento de democratização, ainda encaixavam o “destino nacional” na moldura bem- sucedida do Oeste incorporador norte-americano. Diante desses pareceres compartilhados pelo geógrafo alemão e pelo historiador paulista, talvez não seja descomedido afirmar que as dubiedades apontadas no trabalho valverdiano de 1948 podem ser interpretadas com o mesmo viés. Em outras palavras, apesar de o autor ter se expressado nele de forma furtiva sobre esses temas, porque não se dispunha a refutar, ao menos de forma declarada, as posições que encampara durante o Estado Novo a respeito dos assuntos paralelos ao binômio povoamento-imigração, seu trabalho pode ser considerado um sinalizador mais discreto da necessidade de se ampliar o entendimento desses temas por meio de estudos mais rigorosos cientificamente. Mas, por outro lado, esse acanhamento é também capaz de atestar o não-comprometimento valverdiano para discutir, ao menos nesse momento de sua trajetória, o significado político de tal opção, o que não permite alinhar as suas com as proposituras mais reformistas da época sobre a organização do campo brasileiro.

Seguindo consoante esses limites colocados entre os três autores e o terreno de semeadura comum no qual parecem ter surgido seus respectivos trabalhos, nota-se entre eles não somente outras congruências como algumas discrepâncias essenciais, que permitem trazer à tona suas singularidades políticas e valorativas específicas. Para tanto, tendo em mente o que até aqui foi afirmado, é preciso adentrar um pouco mais nos meandros de seus respectivos textos.

Ainda em relação às questões apontadas, observa-se que o enquadramento caiopradiano da instabilidade do homem brasileiro mereceu sem retoques a anuência de Waibel ao final do trecho citado de sua obra (1955:29-30), que mereceu nossa transcrição no item anterior. No entanto, tal como no caso de Valverde, isso não permite alinhar a contribuição do geógrafo alemão nas áreas de colonização e povoamento com as matrizes de significado mais amplas do texto Caio Prado Júnior, no qual se nota que a realocação do temário da instabilidade do homem brasileiro em associação direta com a problemática específica do interior demarcou nítido contraste de suas formulações com as da Campanha Marcha para o Oeste. O historiador paulista assim procedeu ligado aos reclamos de sua tradição intelectual, isto é, exigia naquele momento um

equacionamento da questão do povoamento segundo a utopia emancipatória do desenvolvimento das forças produtivas, havendo empreendido uma leitura sobremodo política das iniciativas de colonização dirigida colocadas em marcha pelo Estado Novo.

Guardadas as devidas proporções entre o caráter científico do texto waibeliano e o ensaístico de Caio Prado Júnior, no que há de geral nessa afirmação, mais do que nos caminhos que serviram como fio condutor para que o historiador paulista a ela afluísse, não resta dúvida de que Waibel endossou juízo análogo em seu esforço para ajudar a formar uma opinião que servisse de amparo ao Estado sobre como deveriam ser colonizadas futuramente as áreas desabitadas do Brasil. Nisso, no entanto, embora tenha se utilizado da mesma idéia-força caiopradiana – a instabilidade do homem brasileiro –, convém notar que Waibel passou ao largo, ao menos frontalmente, daquelas incongruências relativas ao campo brasileiro alvejadas no escopo de análise de Caio Prado Júnior. Ou seja, não fez uso das balizas teóricas mais amplas contidas no texto do historiador que, tomadas em sua plenitude, descortinavam os impasses sociais e fundiários, e não meramente espaciais e econômicos, decorrentes da constituição histórica brasileira vista sob o prisma mais longo do “sentido” de sua formação.

Em outras palavras, à semelhança do que ocorre com o de Valverde, nada de concreto se encontra no texto de Waibel que possa contrariar a afirmação de que ele se valeu das idéias caiopradianas sem delas extrair seu conteúdo político vis-à-vis os debates dicotômicos então em voga sobre a questão agrária brasileira. Se com essa fração de seu itinerário analítico, Caio Prado Júnior pôde estruturar uma de suas construções mais gerais sobre a formação social brasileira13, traduzindo-a numa reflexão geográfico-agrarista em constante busca pela constituição, integração e homogeneização social de uma população que, não obstante já estivesse constituída no território, nele ainda figurava movediça, Waibel dela se apropriou tão somente de esguelha, ou seja, embora decerto considerando-a, não levou às últimas conseqüências suas implicações mais gerais, o que poderia conduzir a criticar a condução oficial da questão agrária na época de seu escrito.

De qualquer modo, apesar dessas diferenças substanciais, é justo afirmar que a comunhão mantida por Waibel com certas bordas discursivas caiopradianas o levaram a não compreender o problema da nacionalidade sob o viés então vigente das “três raças”14 ou de uma “brasilidade” recôndita a ser valorizada a todo custo ou, ainda, do

argumento da defesa do território15, que teve ressonância em Valverde. Ademais, assim como o historiador paulista, Waibel também apontou o conhecimento dos métodos e princípios até então empregados na colonização como pré-requisito indispensável para se adquirir uma visão mais clara dos caminhos a serem percorridos na obra colonizadora e, depois de os ter rastreado, aceitou o parecer caiopradiano, de se “tomar pé firme no Leste” em vez de perpetuar os equívocos inerentes ao moderno bandeirantismo do Estado brasileiro, em direção à salvaguarda da soberania nacional. Contudo, nesse movimento, embora, como Caio Prado Júnior, levasse em conta também a qualidade de vida das populações interioranas como princípio norteador em suas valorações mais reservadas com relação ao avanço do povoamento, Waibel sobrepujou, ao mesmo tempo, o caráter reformista desse aspecto ao conceder grande ênfase aos ditames da integração econômica do território como pré-requisito para aquela tarefa adiada pelo Estado brasileiro. Tal rubrica, conforme apontado e apesar das nuanças demarcadas, ao menos no nível das especulações acerca das possibilidades de colonização do país pertencentes à tradição de escritos dos ideólogos do Estado Novo, resultou no distanciamento do geógrafo alemão em relação a certa modalidade de compreensão do problema até então vigente. Além disso, permitiu-lhe sustentar que o estudo apenas das condições físicas do território deixaria sem fundamento a postulação de qualquer proposta aspirante à resolução da questão do povoamento, reiterando nisso o que já havia anunciado na querela da escolha do sítio da nova capital do país. De maneira diversa, apontou a análise da “evolução” econômica e social das terras já colonizadas como procedimento absolutamente necessário para uma visão mais esclarecida sobre o assunto (ETGES, 2000:137), passando ao largo, em todo caso, de uma crítica à estrutura agrária do país.

Se por um lado, além de certa valorização da pequena propriedade, essa lida foi eleita por Waibel para ser o esteio-mestre da contribuição para o problema do povoamento, que ele almejava oferecer no período tanto ao público quanto ao governo brasileiros, por outro ela é igualmente capaz de explicar certos traços do artigo de Orlando Valverde de 1948 e de ajudar a entender algumas das razões de sua elaboração. Tal como o historiador paulista, os dois geógrafos se inspiraram no Oeste incorporador norte-americano, no qual a pequena propriedade desempenhou papel crucial para a