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Capítulo 6 – As idéias de Waibel e Valverde para além-muros do CNG

6.3. O significado político interno de uma excursão

Embora raras e pulverizadas, as centelhas de teor ideológico disponíveis no texto valverdiano de 1948 não vaporizaram as modulações de sua época relativas ao lugar ocupado pela agricultura no porvir da nação. Mais do que isso, essas acanhadas chispas manifestadas durante o governo Dutra revelam, ainda assim, uma visão mais clara a respeito dos posicionamentos político-ideológicos com os quais Valverde se entrelaçou nesse momento de sua trajetória, em franca complementação daqueles por ele recolhidos no período político anterior. Basta um olhar atento sobre o prisma valorativo com o qual tanto ele quanto Waibel julgaram por bem radiografar os fatores concorrentes para o sucesso ou o insucesso dos projetos de colonização e uso da terra por descendentes europeus na porção meridional do território nacional.

Com efeito, no caso específico do estudo de Valverde, suas conclusões mais gerais a respeito não destoaram do parecer do geógrafo alemão no artigo “Princípios da colonização européia no Sul do Brasil”, em que, ao discorrer sobre os projetos de colonização nos três estados do Sul do Brasil, ele deu como certo que a “prosperidade” ou a “estagnação” destes mantinha relação direta com o tipo de uso da terra praticado pelos colonos estrangeiros. Teve nesse enfoque a principal chave de interpretação científica para se compreenderem as diferentes paisagens culturais com as quais se deparou nas áreas de colonização do território brasileiro, atitude que, fora de dúvida, também se nota claramente no artigo de Valverde publicado um ano antes.

É possível compreender melhor a tônica das contribuições de Valverde e Waibel ao estudo da temática ressaltando as estreitas aproximações e alguns leves distanciamentos entre os escritos de ambos. Cabe não descurar dessa comparação, porquanto tais escritos guardam afinidades não somente metodológicas como, para os fins específicos que ora nos interessam, também ideológicas, nas quais transparecem certas inflexões capitais do período Dutra.

No trabalho “Princípios da colonização européia no Sul do Brasil”, Waibel classificou os três principais sistemas agrícolas que observou nas pequenas propriedades da região em foco, na segunda metade da década de 1940, empregando como critérios o uso da terra e o tamanho das propriedades: a rotação de terras primitiva, a rotação de terras melhorada e a rotação de culturas associada à criação de gado. No entendimento do geógrafo alemão, esses três sistemas correspondiam teoricamente a estágios sucessivos de desenvolvimento da paisagem agrária colonial. Ele enfatizou o resultado de suas pesquisas chamando a atenção para o predomínio da rotação de terras (primitiva e melhorada). De acordo com seu estudo, 50% destes praticavam o segundo sistema, em terras ainda não esgotadas, 45% utilizavam o primeiro ou estavam na fase de decadência e estagnação do segundo, e apenas 5% haviam alcançado o terceiro. Segundo Waibel, a rotação de terras extensiva era encontrada em propriedades cujo tamanho médio era de 15-20 hectares e constituía uma das principais causas das precárias condições de vida da maioria dos descendentes de imigrantes europeus no Sul do Brasil16.

Na verdade, esses apontamentos de Waibel a respeito do estado de adequação ou não da estrutura fundiária prevalecente entre os colonos europeus inscreveram-se na linhagem de uma preocupação já constante entre certos autores que, elaborando propostas sobre a dimensão da propriedade agrária para diversos contextos de análise, discutiam o problema no âmbito interno da Geografia. No que tange não somente a esse como também a outros assuntos, Afrânio de Carvalho, isto é, o próprio autor do Projeto ao qual foi dado seu nome, elaborado em 1947, sob inspiração do Ministério da Agricultura (ao qual nos referimos no capítulo anterior), merece ser comentado mais detidamente tomando-se como base um texto de sua autoria publicado em 1948 na Revista Brasileira de Geografia, intitulado “A Lei Agrária e a Geografia”.

Nesse texto, Carvalho demonstrou sua preocupação com a aplicação dos conhecimentos geográficos na elaboração da Lei Agrária brasileira, cuja promulgação ocorrera um ano antes. Analisando o projeto de lei, elucidou com mais vagar seus fundamentos e demonstrou que a consideração aos fatores geográficos não esteve ausente em sua elaboração. Trabalhando alguns temas centrais, o autor destacou a atenção dispensada às particularidades regionais e buscou estabelecer as interdependências entre o quadro físico do território do país e sua ocupação, sobrepondo a paisagem humana à natural. Preocupado com os fatores geográficos que

determinariam ou condicionariam a exploração rural em todo o país, Carvalho esclareceu que, naquela causa de repercussões políticas, havia evitado a adoção de proposições que poderiam se mostrar inaplicáveis devido à influência de variações regionais (CARVALHO, 1948:537). Para o autor, certos elementos da Lei Agrária sofriam influência geográfica direta, uma vez que eram determinados pelos fatos geográficos e humanos. Ele considerou que a instabilidade da agricultura no país, decorrente da busca contínua de novas terras, era causada pelo desgaste dos solos de outras que nem sempre eram tão adequadas aos cultivos e às formas de cultivar17.

Ao lado do problema da conservação dos solos, Carvalho ainda enfatizou a questão da distribuição da terra, explicando as razões concorrentes para não ter sido estabelecida na Lei Agrária uma rigidez quanto à variação do tamanho da propriedade. Segundo seu raciocínio, o fator quantitativo (tamanho das propriedades) poderia assumir os mais diversos valores em virtude da variação do qualitativo, sendo necessário partir desse pressuposto para uma adequada determinação da “unidade econômica rural”. Essa última noção era composta de dois elementos, quais sejam o tempo integral de dispêndio de trabalho do dono da terra e dos membros de sua família e, em função disso, a capacidade de quem trabalhava a terra de assegurar o sustento (CARVALHO, 1948:543).

É possível observar que Afrânio de Carvalho, tal como Waibel, Valverde e mesmo Caio Prado Júnior, apresentava uma postura menos acalorada relativamente à ocupação de novas terras no interior do país, utilizando argumentos semelhantes, postulando, ao contrário, um conhecimento científico capaz de subsidiar a correção dos equívocos que haviam sido cometidos no Leste do país, área de povoamento mais antigo. Decerto, é mais importante, nessa altura da exposição, fazer notar que suas preocupações com a inadequação do tamanho das propriedades rurais nas diversas realidades regionais do país e com os métodos agrícolas empregados, responsáveis pelo manejo mal conduzido dos solos, sem dúvida revelam afinidades com a contribuição waibeliana acerca dos mesmos assuntos. Com efeito, em seu artigo de 1949, Waibel não deixou de demonstrar a mesma preocupação, propondo que o tamanho das propriedades fosse definido pela noção alemã de minimale Ackernahrung, cujo sentido consistia na “mínima quantidade de terra necessária para proporcionar a um agricultor e sua família um padrão econômico e cultural decente”, na dependência sobretudo das

“características físicas da terra” e do “sistema agrícola que o lavrador deverá aplicar” (WAIBEL, 1949:239).

No mesmo período, outros geógrafos agrários seguiram de perto essa tendência da qual Waibel, como Carvalho, não se desviou. CÂMARA (1949: 516), por exemplo, num estudo sobre a concentração de terras no país, esforçou-se no mesmo sentido, a não ser pelo enfoque mais abrangente e geral de seu trabalho comparativamente ao de Waibel. Apoiando-se numa metodologia baseada em técnicas estatísticas, concordando com os princípios mencionados de Afrânio de Carvalho e do geógrafo alemão, esse autor defendeu que seria um erro estabelecer limites numéricos para o tamanho das propriedades, como, por exemplo, metros absolutos, uma vez que a localização, o fim e as condições do meio também seriam variáveis concorrentes para a definição da dimensão das propriedades agrícolas.

Ao que tudo indica, essas notórias inquietações a respeito do tamanho da propriedade rural podem ser consideradas como um efeito das tendências dos participantes do debate sobre a questão agrária no âmbito dos estudos geográficos do período. No feixe mais amplo do contexto político da época, na verdade esse assunto quase não mereceu menções da parte das versões agrárias conservadoras. Isso se explica pelo fato de que seus arautos pensavam a colonização como o aproveitamento das terras devolutas, principalmente nas zonas de fronteiras, para fins de criação de núcleos de pequenos proprietários, proposta que por si só explica seu desvio do foco de análise usado pelos geógrafos citados no parágrafo anterior. Não teríamos problemas em reconhecer que tanto Waibel como Valverde parecem tê-la rechaçado, ainda que indiretamente. Com efeito, para a burguesia agrária, qualquer iniciativa de lançar mão da desapropriação das terras dos particulares para este fim era inaceitável; daí não haver concedido atenção ao problema do tamanho da área que seria adequado para a alocação da pequena propriedade.18

Esses apontamentos permitem, de um lado, atribuir certa tonalidade reformista à preocupação manifesta por Waibel em estabelecer um tamanho mínimo para as propriedades rurais, levando-se na devida conta as “características físicas da terra” e o sistema agrícola que o lavrador deveria aplicar. De outro lado e a despeito disso, é necessário reconhecer também que essa iniciativa do geógrafo alemão não contrariava a valorização da pequena propriedade, tal como a ocorrida na Campanha Marcha para o

Oeste, mas também não é razão suficiente para asseverar sem ressalvas que essa sua contribuição tenha representado um posicionamento político inovador.

É preciso considerar que a defesa de um programa de recolonização das zonas velhas, seguramente por Waibel e menos enfaticamente por Valverde, não constituiu um privilégio seja dos dois geógrafos, seja de Caio Prado Júnior. Apenas a título de exemplo, em julho de 1949, na II Conferência Nacional das Classes Produtoras de Araxá, a mesma vindícia foi asseverada. Há que lembrar, ainda e no mesmo sentido, a particularidade das idéias defendidas por Álvaro Machado apontadas no capítulo anterior. A perspectiva desse autor quanto à cena política do país não limitava a colonização ao aproveitamento das terras públicas de fronteira, destoando das posições mais ferrenhamente conservadoras: englobava terras particulares localizadas em zonas densamente povoadas, detalhe que o aproxima dos outros três. Basicamente, Machado incluiu no “estoque de terras potencialmente colonizáveis” aquelas localizadas nas zonas de ocupação antiga. Bastante interessante também, conforme visto, era seu posicionamento diante da polêmica entre grande propriedade e pequena propriedade. Em termos gerais, a burguesia agrária defendia enfaticamente a superioridade econômica da grande propriedade, apresentando esse ponto de vista de forma até reiterativa. Sem adotar a tese reformista (para os limites da época) da superioridade da pequena produção, ao mesmo tempo Machado afastava-se de posições demasiado vinculadas à inviabilidade da pequena produção, acenando, portanto, com uma posição moderada ante os inflamados debates da época entre reformistas e conservadores.

Com efeito, Álvaro Machado partiu da premissa de que não se justificava a subdivisão necessária de toda e qualquer propriedade e apresentou duas razões para a sua posição: de um lado, haveria terras suficientes para o programa de colonização; de outro, discordava daqueles que viam na grande propriedade algo intrinsecamente negativo. Complementava que, em muitos casos, a existência desta última se devia à baixa densidade populacional do país. Contudo, realçava que aquelas localizadas nas zonas densamente povoadas poderiam ser desapropriadas, caso não estivessem sendo devidamente exploradas.

O que há de importante a destacar nessa posição moderada de Machado é o fato de que, embora conservadora, representou a atitude mais apta a conciliar pontos de vista acerbamente divergentes sobre a questão agrária no período19. Mais significativo ainda é

entrever que, embora Valverde e Waibel não tenham consignado observações contundentes a respeito naquele momento, não muito mais tarde, ou seja, no início dos anos 1950, ao menos o primeiro parece ter assumido posição muito próxima da de Álvaro Machado, como, aliás, também o faria no início dos anos 196020. Em visão prospectiva, portanto, seus escritos posteriores mais imediatos ajudam a situá-lo no período de que ora nos ocupamos, dando margem a uma interpretação segundo a qual, na finalização de seu texto de 1948, o autor tenha emitido parecer semelhante.

Em suma, a proposta esboçada por Machado, cuja minudência de pontos não necessariamente transpareceu no escrito valverdiano de 1948 mas nos posteriores, baseada na redistribuição de terras por meio de planos de colonização, pode ser interpretada como uma alternativa tanto aos projetos de reforma agrária como à intransigência dos setores agrários. Essa proposta tinha as vantagens de permitir certa redistribuição da terra em zonas integradas economicamente e de que o custo inicial da colonização era relativamente baixo, ensejando que o preço da terra fosse aceitável aos compradores, com o Estado contornando eventuais dificuldades para a execução de desapropriações. E também de, mesmo não afetando muito os interesses da grande propriedade territorial, permitir a utilização das fronteiras internas dos estados – por exemplo, São Paulo. Certamente, essa proposta era, do ponto de vista de sua viabilidade política, muito mais promissora do que a da reforma agrária strictu senso.

Em contrapartida, um olhar mais atento sobre essa questão específica, somado ao esboço dos embates políticos travados em torno dela na época, é de suma valia para se compreender o papel proeminente que adquiriu não somente nos escritos de Caio Prado Júnior, como também naqueles de Waibel e Valverde ora comentados. A atenção que estes últimos dispensaram à pequena propriedade – ao menos na época em que escreveram seus trabalhos e de acordo com os limites neles expressos, em virtude de comungarem até certo ponto das demandas revisionistas mais amplas já salientadas – deveu-se muito mais ao problema representado pelo vazio demográfico e pela territorialidade na vida social do que propriamente à questão da luta pela terra. Além disso, há que se entrever que, no enredo apresentado no capítulo anterior, a respeito das formas como o Estado sob a vigência do governo Dutra buscou intervir na problemática agrária, fizemos despontar o fato que, desde o princípio dessa gestão, setores administrativos relevantes não escamotearam suas preocupações com relação à situação

da agricultura. Decerto, esse ponto merece ser destacado nesse esforço comparativo entre o que se apresentou sobre o período e o tratamento conferido por Valverde à problemática agrária em seu estudo sobre as áreas de colonização antiga do Rio Grande do Sul.

Sabendo-se que, em seu escrito de 1948, o autor tratou do uso da terra e que sua trajetória de vida nos reporta para uma descendência técnica e intelectual vinculada não somente às políticas territoriais estadonovistas como também a certo agrupamento político interno do CNG, o qual manteve relações estreitas com o Ministério da Agricultura, mostra-se relevante abordar a visão desse segmento sobre a problemática agrária para apurar um pouco mais a especificidade de seu contributo nas discussões de sua época sobre os assuntos pequena propriedade, povoamento e colonização.

Esse intento, de acordo com esses indícios, somente pode ser mais bem aclarado por intermédio do Projeto Afrânio de Carvalho, cuja forja se deu no agrupamento político, ao que tudo indica, mais próximo das idéias valverdianas. Não nos esqueçamos, por outro lado, do fato de que as propostas consubstanciadas no Plano SALTE também mereceram algumas anuências do Ministério da Agricultura. Tomando- se como base explanativa esses dois referenciais de conjuntura, é possível extrair deles algumas singularidades valorativas adicionais entre Waibel, Valverde e Caio Prado Júnior.

No caso de Valverde, é interessante notar que suas considerações a respeito dos sistemas agrícolas ou sistemas de exploração da terra, no escrito de 1948, foram associadas à teoria de Von Thünen. Assim ele procedeu ao discorrer sobre o sistema de rotação de culturas nas áreas próximas às cidades de São Leopoldo e Novo Hamburgo, identificando previamente os chamados “‘anéis’ de criação de gado leiteiro”, o “‘anel’ de horticultura (truck farming)” e o “‘anel’ de agricultura melhorada” (VALVERDE, 1948:6, 19 e 48 respectivamente). Como faixa de truck farming ele identificou aquela onde se praticava a rotação de culturas, fornecendo a seqüência geral dos tipos e o rodízio das culturas, e outra designada como “rotação de terras melhorada” (VALVERDE:1948:19-20). Nesse percurso, mais adiante em seu texto refere-se às relações entre essa tipologia e a teoria de Von Thünen:

“Êsse sistema de lavoura, que denominamos ‘rotação de terras melhorada’, trouxe mais prosperidade, apesar do solo ser pobre. Há mesmo campos de milho arados. Êste aperfeiçoamento no uso da terra está relacionado à proximidade da estrada de ferro, bem como às condições de mercado.” (VALVERDE, 1948:40).

Cabe observar, nesse trecho, dois pontos de vista bastante caros a Valverde. De uma parte, patenteia sua visão de que o aprimoramento das técnicas agrícolas era pré- requisito incontornável não somente para carrear “prosperidade” à lavoura como também para suplantar as eventuais dificuldades advindas do meio físico. De outra, exemplifica a relação de dependência entre o aperfeiçoamento dos sistemas de uso da terra, as comunicações (sobretudo as vias de transporte) e o mercado, de acordo com a concepção de Von Thünen. Tomando esse parâmetro avaliativo, ele não mais deixaria de considerar o tipo de agricultura mais intensivo o mais “evolucionado” em contraposição ao sistema agrícola “primitivo” (VALVERDE, 1948:36 e 40), parecer, aliás, consoante com o de Waibel e que, a partir de então, marcou profundamente a trajetória de Valverde21.

Ainda mais significativo, o traçado dessas pontuais e rápidas congruências de método e de terminologia entre os dois trabalhos (“Princípios da Colonização Européia no Sul do Brasil” e “Excursão à Região Colonial Antiga do Rio Grande do Sul”) desimpede o trânsito para uma aproximação mais circunstanciada entre o texto valverdiano e o contexto mais imediato de sua elaboração cujos balizamentos principais já foram fornecidos. Com efeito, os elementos relacionados in limine por Valverde não permitem andar às escuras quando se trata de averiguar quais eram outras de suas afinidades e móveis ideológicos ao dissertar sobre o uso da terra nas áreas de colonização antiga por ele excursionadas. Deixar de indicar certas convergências desses elementos com as metas almejadas no Plano SALTE e no Relatório Abbink prejudicaria de antemão a compreensão da natureza valorativa contida nos termos e expressões dos quais ele se utilizou.

Dessa forma, não parece estranho depreender que o viés avaliativo de Valverde denotou paridade de propósitos com o arranjo de argumentos lançados à época pelas duas iniciativas governamentais mais importantes do período Dutra. Ele se aproximou destas inicialmente em virtude de haver considerado imprescindível para o desenvolvimento econômico da nação a concorrência do aperfeiçoamento dos sistemas

de uso da terra, dos transportes e do mercado, que eram tidos como os mais usualmente aceitos como fundamentais nas propostas governamentais. Outrossim, esses elementos faziam parte de um relativo consenso da época, sendo portanto “neutros” quando comparados às questões mais candentes ligadas ao significado da política colonizadora ante a reorganização da estrutura fundiária no país. Tal encaminhamento, por sua vez, constitui um primeiro ponto indicativo de como os propósitos do autor estavam voltados a minorar os males da agricultura brasileira, com o enfoque estritamente colocado sobre a problemática agrícola, numa abordagem que não saberíamos descolar do teor conservador de muitas avaliações encontradas no Plano SALTE e no Relatório Abbink sobre os impasses da agricultura brasileira naquele momento histórico.

Ainda a partir dos elementos concisos fornecidos e coletados no escrito do autor, a própria tipologia dos sistemas agrícolas que Valverde empregou em consonância com Waibel corrobora a interpretação de que ele não permaneceu imune a algumas das propostas oficiais, procurando, dessa forma, evitar adentrar no manancial conflituoso das propostas debatidas na cena política nacional (principalmente no fórum parlamentar). Assim procedendo, ele de fato não se furtou de empregar na essencialidade o enfoque dado pelo Plano SALTE à agricultura, contemplando seus aspectos de política agrícola e não necessariamente agrária, considerando-se que era por meio desse plano que, de um modo geral, a administração Dutra acenava com um