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2. OPERAÇÕES URBANAS CONSORCIADAS – INSTRUMENTOS PARA A

2.3. Casos Referenciais II Zones d’Aménagement Concerté

2.3.3. A implantação da ZAC Paris Rive Gauche

A cidade de Paris é historicamente marcada por um grande desequilíbrio na distribuição sócio espacial de sua população e de seus equipamentos urbanos. Segundo André-Marie Burlon o setor Oeste da cidade sempre concentrou a população mais rica, as administrações nacionais, as benfeitorias urbanas mais prestigiadas e o maior centro comercial da França, enquanto o setor Leste sempre abrigou a maior parte da população trabalhadora e dos conjuntos habitacionais, além de serviços urbanos como pátios ferroviários, usinas de gás, matadouros, adegas e moinhos (2009, p. 43).

A fim de diminuir a desigualdade entre estes diferentes setores da cidade foi aprovado em 1983 o Plan Programme de l’Est de Paris (PPEP), que buscava

revalorizar o setor Leste da capital francesa, território que soma 4000 hectares e corresponde a cerca de 45% da área do município (BURLON, 2009). Este plano foi concebido pelo Atelier Parisien d’Urbanisme e não tinha força de lei, contando com

as Zones d’Aménagement Concerté como principal instrumento para sua

viabilização (NEWMAN; THORNLEY, 1996, p. 178).

O PPEP buscava implantar no setor Leste de Paris um novo distrito de atividades terciárias, com ênfase na ocupação por edifícios de escritórios, criando um contraponto ao grande distrito de La Défense criado no setor Oeste, o que

103 aumentaria a competitividade da capital francesa frente às outras grandes cidades europeias (Ibid., p. 179). No período em que este plano foi desenvolvido a França passava por uma grande expansão do referido setor terciário, que coincidiu com a implantação de leis a favor da descentralização de prerrogativas urbanísticas francesas, transferindo do governo central para as comunas a responsabilidade pelo financiamento das habitações sociais e pela aplicação do planejamento. Uma vez que as municipalidades não contavam com tantos recursos quanto o Estado central, essa transição teve impacto direto nas intervenções urbanas em desenvolvimento na época. As comunas tiveram de flexibilizar os programas das ZACs em favor da iniciativa privada para atrair parceiros e viabilizar equipamentos (AVELINE, 1997).

FIGURA 2.8 - Mapa fornecido pela prefeitura de Paris com a demarcação das ZACs vigentes neste município, com destaque para a ZAC Paris Rive Gauche, em vermelho.

Fonte: Plan Local d’Urbanisme de Paris, Marie de Paris. Disponível em: <http://www.paris.fr/pratique/urbanisme/documents- d-urbanisme-plu/p6576>. Acesso em: dezembro de 2014.

A ZAC Seine Rive Gauche era a maior operação prevista pelo PEPP, ocupando uma área de 130 hectares, e entrou em operação no ano de 1991 com a aprovação do seu PAZ pela municipalidade (NEWMAN; THORNLEY, 1996, p. 178).

104 Situa-se dentro do XIIIème arrondissement (13o distrito) de Paris, à margem esquerda

do rio Sena, sendo delimitada a Sudoeste pela Rue du Chevaleret, paralela ao curso d’água, a Sudeste pelo Boulevard Périphérique, junto à divisa com o município vizinho de Ivry-sur-Seine, ao Noroeste pelo Boulevard de l’Hôpital e ao Nordeste

pelo rio Sena. Dentro de seu perímetro encontra-se a Gare d’Austerlitz, que recebe

trens do sistema ferroviário de transporte intermunicipal, o RER - Reseau Express

Regional, e grandes terrenos isolados entre a ferrovia e o rio, antes ocupados por

armazéns e indústrias em declínio, incluindo edifícios históricos como os Grands

Moulins e a Halle aux Farines.

FIGURA 2.9 - Setores da ZAC Paris Rive Gauche e Indicação de Principais vias e edifícios.

Fonte: Google Earth, Janeiro de 2015.

A Société d'Economie Mixte d’Aménagement de Paris - SEMAPA, operadora

da ZAC Paris Rive Gauche, foi concebida como uma sociedade de economia mista no ano de 1985 por iniciativa da prefeitura de Paris (SEMAPA, 2014d). Seus principais acionistas eram a referida municipalidade, que possuía 57% das ações, e a Société National des Chemins de Fer (SNCF), proprietária de 20%, enquanto o restante desta empresa era dividido entre outras instâncias governamentais e instituições (ADAM, 2009). Conforme analisado por Newman e Thornley (1996, p. 180), a grande participação da empresa ferroviária nesta sociedade contribuiu para a viabilização da referida intervenção. Cerca de metade das terras desta ZAC situava- se dentro de área pertencentes à referida companhia, a qual flexibilizou a venda de terrenos em vista de lucros a longo prazo decorrentes das contrapartidas desta

105 intervenção. No ano de 1996 esta operação foi rebatizada como Paris Rive Gauche (SEMAPA, 2013).

Ao descrever o PAZ dessa operação Newman e Thornley (1996, p. 179) afirmam que havia a previsão de construção de 900 mil m² de edifícios para escritórios nesta região, a serem dispostos ao longo de uma nova avenida que atravessaria longitudinalmente o perímetro da intervenção, a Avenue de France. Havia a prerrogativa de preservação dos edifícios históricos, que acabou sendo respeitada, e de construção de cerca de 300 mil m² de habitações, 2/3 com função social, com capacidade para abrigar cerca de 15 mil pessoas. Esta intervenção seria servida por uma nova linha de transporte metroviário a ser construída com recursos da região da Ile-de-France, a linha Meteor, que iniciou suas operações em 1998 e ligará os dois maiores aeroportos da metrópole francesa, quando suas extensões forem concluídas (SEMAPA, 2014a). O referido plano ainda previa a implantação da Biblioteca Nacional dentro do perímetro desta intervenção, equipamento proposto e financiado pelo governo central (NEWMAN; THORNLEY, 1996, p. 179).

FIGURA 2.10 - Foto área da condição atual da ZAC Paris Rive Gauche, com destaque para a Biblioteca Nacional.

Fonte: SEMAPA, 2014a.

Esta operação deveria ser implantada em 15 anos, com conclusão prevista para 2006, e a operadora escolhida, como se mencionou, foi a Societé d'Economie

Mixte d'Aménagement de Paris – SEMAPA (NEWMAN; THORNLEY, 1996, p. 179).

106 os interesses da iniciativa privada, priorizando a construção de espaços para atividades terciárias e destinando uma pequena parcela do território para habitações e áreas comunitárias. Após a aprovação deste PAZ foram inseridos e previstos alguns novos equipamentos urbanos ao programa desta operação, como o novo campus da Universidade Paris VII (ALLIX, 2007), já em funcionamento, e a criação de uma conexão entre a Gare d’Austerlitz e a rede de trens de alta velocidade francesa, o TGV - Train à Grande Vitesse, com implantação prevista para 2025 (SEMAPA, 2014a).

FIGURA 2.11 - Edifícios educacionais dentro da ZAC Paris Rive Gauche: Faculdade de Física e Química (projeto de Chaix & Morel) e a Faculdade de Biologia (arquiteto François Chochon).

Fonte: L'Internaute Magazine / Cécile Debise. Disponível em: <www.linternaute.com>. Acesso em: dezembro de 2014.

Na década de 1990 a França sofreu uma grande crise imobiliária decorrente de uma oferta de espaços para atividades terciárias muito superior à demanda, sendo que no ano de 1996 apenas a cidade de Paris contava com cerca de 5 milhões de m² de escritórios vagos (NEWMAN; THORNLEY, 1996, p. 180). No mesmo período ganhavam corpo manifestações populares contestando a má qualidade das habitações sociais edificadas nas áreas de ZUP, e a sua grande distância das regiões urbanas centrais, dotadas de melhor infraestrutura (AVELINE, 1997) – critica endossada pelo debate urbanístico contemporâneo desde os anos 1960/1970, que passou a condenar a prática de criar grandes conjuntos habitacionais em regiões periféricas.

107 A Loi Solidarité et Renouvellement Urbains, mencionada no tópico anterior, foi aprovada no início da década de 2000 não apenas como um mecanismo para reorganizar aspectos do direito urbanístico francês e garantir maior participação popular nas decisões urbanísticas, mas também para promover a superação da referida problemática habitacional. Esta lei estabelece um índice mínimo de 20% de habitações sociais em relação à totalidade de residências de uma comuna, as quais devem ser construídas preferencialmente em áreas dotadas de infraestrutura, promovendo a interação entre diferentes classes sociais. A municipalidade que não atingir este índice estaria sujeita a penalidades (FRANÇA, Lei nº 1.208, de 13 de dezembro de 2000).

De acordo com Allix (2007, p. 1) a inserção dos referidos novos equipamentos urbanos, como a universidade, combinada à vitória da esquerda nas eleições municipais de Paris em 2000, teria contribuído para que, no início da década de 2000, o programa da ZAC Paris Rive Gauche fosse revisado e seu prazo de conclusão prorrogado para 2020. Assim, à concepção inicial da operação, marcada pelo contexto mais privatista e neoliberal dos anos 1980-1990, e centrada na proposta de criação de um grande centro terciário e na idéia de competitividade com outras grandes cidades europeias, sobrepôs-se uma revisão parcial da mesma, nos termos mais participativos, de solidariedade social e de sustentabilidade colocados pela SRU de 2000.

2.3.3.2. O Programa Atual

Para a SEMAPA, o conselho municipal de Paris “reequilibrou” o programa de Paris Rive Gauche em 2003 na tentativa de conferir maior vitalidade a esta região, promovendo áreas de uso múltiplo e aumentando a quantidade de espaços verdes, habitações e comércios (2013, p. 9). O programa atual, que deriva das diretrizes estabelecidas nesse período, prevê uma redução da área destinada a escritórios para 745 mil m², os quais poderiam abrigar cerca de 60 mil postos de trabalho, e uma consistente ampliação da área destinada a habitações para cerca de 585 mil m², oferecendo moradia para cerca de 20 mil pessoas. Importante ressaltar que metade das habitações previstas teria caráter social, acolhendo famílias e estudantes universitários (SEMAPA, 2014a). Até o momento atual (dados de 2013)

108 foram construídos cerca de 294 mil m² de habitações dentro desta ZAC, comportando 8.000 habitantes, e os 450 mil m² de escritórios já edificados no setor são frequentados por 20 mil trabalhadores (SEMAPA, 2013).

Entre áreas já edificadas e previstas, o atual programa da ZAC Paris Rive Gauche também prevê a construção de 405 mil m² de espaços para atividades comerciais, 98 mil m² de áreas verdes e 665 mil m² de equipamentos urbanos, dos quais 250 mil m² correspondem a Biblioteca Nacional, inaugurada em 1995, e 210 mil m² correspondem aos diversos edifícios do Campus da Universidade Paris VII- Denis-Diderot, que foi concluído em 2012 (SEMAPA, 2014a). A implantação desta instituição de ensino confere maior movimento e urbanidade à região, atraindo diariamente cerca de 30 mil estudantes, professores e funcionários para Paris Rive Gauche (SEMAPA, 2013).

FIGURA 2.12 - Paris Rive Gauche - Nomenclatura de setores e bairros

Fonte: SEMAPA, 2014a.

O território desta intervenção urbana foi dividido em três setores principais,

Austerlitz, Tolbiac e Masséna, cada um deles contando com um equipamento

urbano que atua como âncora: a Gare d’Austerlitz, a Biblioteca Nacional da França –

François Miterrand e a Universidade de Paris VII - Denis Diderot, respectivamente (SEMAPA, 2013). Junto ao Boulevard Périphérique e à divisa com o município de

Ivry-sur-Seine situa-se o quarto setor desta operação, Bruneseau. A fim de

109 setores em alguns sub-setores, definindo diferentes arquitetos coordenadores para cada um deles, entre os quais destacam-se Christian de Portzamparc, Pierre Gaignet, Ateliers Jean Nouvel, Atelier Lion e a Amenagement, Recherche, Pole

d'Echanges (AREP), dirigida por Jean-Marie Duthilleul e Étienne Tricaud. Cabe

destacar também a grande importância que a SEMAPA deu ao projeto urbanístico das principais vias, definindo Paul Andreu como arquiteto coordenador da Avenue

de France e Bruno Fortier e Jean/Thierry Bloch para coordenação da concepção da Rue du Chevaleret. Esta via demanda uma proposta de grande peculiaridade a fim

de integrar o tecido urbano existente com o construído nesta ZAC, devido ao desnível criado pela cobertura sobre as linhas ferroviárias (SEMAPA, 2014a).

FIGURA 2.13 - Foto aérea e interna da condição atual da Gare d’Austerlitz.

Fonte: SEMAPA, 2014b (direita) e arquivo pessoal de Eunice Abascal (direita), novembro de 2014.

A região da Gare d`Austerlitz carrega uma forte identidade ferroviária, decorrente da estação ferroviária construída no século XIX para receber as linhas provenientes do Centro-Sul da França, e que atualmente se interliga às linhas metroviárias 10 e 5 (elevada) e à rede de trens regionais RER. Adjacente a esta infraestrutura o plano de uso de solo estabelecido pela SEMAPA definiu uma ocupação praticamente monofuncional, com predominância de espaços terciários para escritórios e algumas áreas destinadas a empreendimentos de hotelaria, que atenderiam usuários provenientes das linhas ferroviárias intermunicipais que encontram nesta estação seu destino final. Conforme afirmamos anteriormente a

110 conexão deste terminal com a rede de TGV, que garante o transporte entre diferentes países europeus, deve ser viabilizada até o ano de 2025. Esta nova infraestrutura deve transformar esta Gare em um importante polo de transporte intermodal, aumentando seu fluxo de passageiros anual, que hoje está próximo dos 17 milhões, para cerca de 44 milhões (SEMAPA, 2014a).

FIGURA 2.14 - Principais linhas metroviárias e ferroviárias, previstas e existentes, que se conectam com a região de Paris Rive Gauche.

Fonte: SEMAPA, 2014d.

Prevendo este futuro incremento de usuários a SEMAPA propôs a construção de um grande empreendimento adjacente à estação histórica que deveria ser capaz de abrigar áreas de apoio para usuários das redes de mobilidade e espaços de escritórios, comércio, habitação e hotelaria, além de um estacionamento subterrâneo com cerca de 1140 vagas de automóveis (SEMAPA, 2014a). Este complexo seria implantado a Oeste da Gare, junto à Place Marie-Curie, delimitada ao Sul pela imponente fachada do Hôpital de la Pitié-Salpêtrière.

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FIGURA 2.15 - Perspectiva da condição atual da Gare d’Austerlitz, mostrando a fachada do Hospital de la Pitié- Salpêtrière e a praça Marie-Curie em frente.

Fonte: CPC, 2014.

Os escritórios AREP e AJN, que tem como principais representantes os arquitetos Jean-Marie Duthilleuil e Jean Nouvel, venceram em 2007 a competição pelo projeto deste complexo e da reconfiguração da Gare d’Austerlitz (PAVILLON

DE L'ARSENAL, 2014). A estação histórica terá seu interior reformulado em função da demanda prevista, o que implica em alargamento de corredores e reconfiguração das conexões entre o metrô elevado, subterrâneo e a RER, com previsão de adição de escadas rolantes e criação de espaços de negócios adjacentes ao fluxo dos usuários (CPC, 2013).

FIGURA 2.16 - Plano de Massas da Proposta dos escritórios AREP e AJN para a Gare d’Austerlitz

112 O complexo multifuncional deverá ser composto por um único volume alongado paralelo a estação, contando com um átrio central ocupado por vegetação. Verificamos que a volumetria adotada evita qualquer obstrução da vista da fachada de Pitié-Salpêtrière à partir do Boulevard de l’Hôpital. A proposta de Nouvel e

Duthilleuil prioriza a circulação de pedestre no nível térreo. O novo edifício contará com áreas comerciais neste pavimento e criará passagens permitindo a comunicação entre a área verde em frente ao equipamento de saúde e a estação. O vazio entre a Gare e o novo empreendimento deverá configurar um bulevar para atividades comerciais. Nos níveis superiores do complexo é prevista a ocupação por áreas habitacionais, de hotelaria e terciárias, sendo que as últimas ocupariam 47 mil m² dos 85 mil m² previstos para este projeto. A evolução da proposta implicou na redução da capacidade do estacionamento subterrâneo para cerca de 600 vagas (SEMAPA, 2014c).

FIGURA 2.17 - Programa proposto para empreendimento vizinho à Gare d’Austerlitz e futuro bulevar previsto entre este edifício e a estação.

Fonte: CPC, 2014.

O setor Tolbiac, embora ainda incompleto, recebeu algumas das primeiras obras dessa intervenção. Seu sub-setor Norte abriga a Biblioteca Nacional da França – François Miterrand, projetada por Dominique Perrault e construída entre 1989 e 1995 (PERRAULT, 2014), equipamento que teria conferido credibilidade à

113 intervenção da ZAC como um todo, incentivando a implantação de infraestruturas na região, como as novas redes de mobilidade (NEWMAN; THORNLEY, 1996). Embora este setor apresente edifícios de escritórios junto à Avenue de France, também contará com uma expressiva ocupação por empreendimentos residenciais que devem ser construídos acima da linha férrea, nivelados com a referida avenida. Isto será possível graças à construção de grandes lajes de concreto sobre os eixos ferroviários que levam à Gare d`Austerlitz, servindo de base para os referidos imóveis. Esta solução, já implementada no setor Masséna, conferirá à SEMAPA um incremento de área dentro desta intervenção da ordem de 26 hectares (SEMAPA, 2014a). O setor Tolbiac deve receber também a maior incubadora de empresas digitais do mundo, com capacidade para 1000 start-ups, que ocupará o Salon

Freyssinet assim que seu retrofit, projetado por Jean Michel Wilmott, for concluído no

ano de 2017.

FIGURA 2.18 - Imagens do Setor Tolbiac: fotografia da Biblioteca Nacional (sup. esquerdo), perspectiva do Salão Freyssinet (sup. fir.) e fotografia de construção das lajes sobre as ferrovias.

Fontes: arquivo pessoal de Eunice Abascal, novembro de 2014 (sup. esq.). La Halle Freyssinet. Disponível em <http://www.1000startupsparis.fr/assets/img/common/gallery/big/Vue-Promenade-plantee-2017_Wilmotte-et-Associes-

114 O setor Masséna distingue-se por abrigar em seu sub-setor Norte os edifícios históricos de maior relevância situados dentro do perímetro da ZAC, como os citados

Grands Moulins e a Halle aux Farines, e também instituições educacionais como a

Universidade Paris VII – Denis Diderot e a Escola Superior de Arquitetura Paris-Val

de Seine (SEMAPA, 2014a). O prestigiado arquiteto Christian de Portzamparc é o

coordenador deste setor e, apesar de não ser responsável pela arquitetura arrojada de alguns dos edifícios desta área, destaca-se por desenvolver o desenho urbanístico, aplicando o conceito denominado por ele como “quadra-aberta”. De acordo com o arquiteto, esta nova conformação urbana (presente em vários projetos urbanísticos do arquiteto, inclusive em sua proposição para o Eixo Tamanduatehy em Santo André, citada anteriormente) seria a materialização de uma “terceira geração” das cidades, marcada por quadras com edifícios de volumetria heterogênea e descontínua, divididas por ruas estreitas, produzindo um tecido urbano denso que “brinca com a transparência e a intimidade” (ALLIX, 2007).

FIGURA 2.19 - Os três principais tipos de implantação de edifícios nas quadras, segundo Portzamparc.

Fonte: Professor Roberto Cintra Campos. Disponível em <

http://professor.ucg.br/siteDocente/admin/arquivosUpload/2377/material/NOVAS%20AGLOMERACOES-PARIS.pdf >. Acesso em: dezembro de 2014.

Incentivando o uso múltiplo e a permeabilidade das quadras, que deveriam abrigar apenas uma limitada quantidade de edifícios desconectados, o urbanista busca garantir flexibilidade à ocupação, produzindo novas passagens e “ruas qualificadas” (ALLIX, 2007). No entanto, Grégoire Allix (2007) observa que, na

prática, a busca por aumentar a área construída, atendendo aos interesses dos incorporadores, resultou em ocupações muito mais densas do que o ambicionado por Portzamparc. Em visita de campo na região, Eunice Helena Sguizzardi Abascal também constatou que as circulações nos espaços intersticiais das quadras

115 encontravam-se predominantemente fechadas à população, acessíveis apenas aos usuários dos edifícios adjacentes.

FIGURA 2.20 - Fotografias de empreendimentos habitacionais em Masséna.

Fonte: Google Earth, Novembro de 2014.

A região Sul do setor Masséna tem função predominantemente residencial, e é marcada pelo grande embasamento proposto pelo arquiteto Bruno Fortier para vencer os 8 metros de desnível entre a Avenue de France e a Rue du Chevaleret. Esta diferença de cotas é resultado da já citada construção de empreendimentos em laje acima da linha férrea, resultando em um novo tecido urbano mais elevado que o existente. A circulação de pedestres entre as diferentes áreas se dá prioritariamente através de escadas fixas (SEMAPA, 2014a).

FIGURA 2.21 - Fotografias dos Grans Moulins de Paris (superior esq.) e a Halle Aux Farines (superior dir.), após restauração.

116 Conforme descrito anteriormente, o setor de Bruneseau situa-se em uma área de transição entre a cidade de Ivry-sur-Seine e o território parisiense. É o setor desta ZAC que até o momento recebeu menos iniciativas, destacando-se pela marcante presença de infraestruturas de transporte como o Boulevard Périphérique e as inúmeras linhas ferroviárias provenientes da Gare d`Austerlitz. Pretende-se melhorar a conexão entre as duas municipalidades através da reformulação das docas junto ao Sena e da construção de passagens subterrâneas para pedestres, medidas que também contribuiriam para a microacessibilidade da região. Devido à menor quantidade de lotes disponíveis neste setor, a operadora promoverá a verticalização dos empreendimentos, permitindo a construção de edifícios terciários de até 180 metros de altura e residenciais com mais de 50 metros (SEMAPA, 2014a).

FIGURA 2.22 - Perspectiva de edifícios propostos para o setor Bruneseu pelo Atelier Jean Nouvel.

Fonte: SEMAPA, 2014b.

No ano de 2012 a SEMAPA mudou seu estatuto, transformando-se em uma empresa pública, mantendo sua sigla original embora seu nome tenha sido alterado paraSociété d’Etude, de Maîtrise d’Ouvrage et d’Aménagement Parisienne. Seu

117 acionista prioritário continua a ser a comuna de Paris (66%) embora o Département

de Paris e a Région Ile-de-France tenham assumido maior participação, 26% e 8%

respectivamente (SEMAPA, 2014d). Atualmente esta empresa também tem desenvolvido estudos para outras operações urbanas, como o setor Paul Bourget e o Boulevard Vincent Auriol. A sua equipe é composta por cerca de setenta profissionais das mais diversas formações, como arquitetos, urbanistas, engenheiros, juristas, técnicos financeiros e promotores imobiliários, que devem garantir a implementação de intervenções urbanas e o contínuo diálogo com organizações locais, poder municipal e residentes da área (SEMAPA, 2014d).

A atuação da SEMAPA na ZAC Paris Rive Gauche é acompanhada pelo