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3. AS PROPOSTAS PARA A ORLA FERROVIÁRIA DE JUNDIAÍ

3.1. O planejamento estratégico de Jundiaí

3.1.2. O Plano Jundiaí 2040

O Plano Jundiaí 2040 (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012) organizou os desdobramentos das discussões que se iniciaram durante o seminário em quatro eixos principais: oportunidade de negócios, mobilidade, equilíbrio social e economia rural/melhoria ambiental. Para cada um destes tópicos o relatório descreve algumas proposições principais, e projetos estratégicos que contribuiriam para que essas metas fossem atendidas a longo e médio prazo. Analisaremos a seguir algumas das diretrizes mais importantes idealizadas para os dois primeiros

125 temas, que são os mais pertinentes para a compreensão da proposta de operação urbana que será exposta no próximo tópico.

Ao discutir as futuras oportunidades de negócios para o município de Jundiaí, a Prefeitura estabeleceu como objetivo “a construção de um ambiente urbano favorável a negócios e empreendimentos de alto valor agregado” (PREFEITURA DO

MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 40), que demandaria a atração de mão-de-obra qualificada e o aprimoramento dos modos de negócios tradicionais.

Ao analisar a atual pirâmide etária de Jundiaí a Secretaria de Planejamento e a FUPAM verificaram o atual predomínio da população economicamente ativa, que abordamos no Capítulo 1, e que até o horizonte de 2040 poderia evoluir para uma condição inversa, com maioria de população dependente, composta principalmente por idosos (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 21). Este cenário seria prejudicial à economia do município a longo prazo. De acordo com as referidas instituições a redução da quantidade de adultos com idade próxima dos 30 anos implicaria na diminuição da capacidade de inovação de sua mão-de-obra, uma vez que pessoas nesta faixa etária seriam as mais propensas a inovar. Por este motivo foi estabelecido no Relatório de Visão Estratégica de Jundiaí que esta cidade deveria focar seus esforços em atrair população jovem e qualificada durante as próximas décadas, mantendo-se atrativa para empresas que desenvolvam produtos com alto valor agregado, dependentes desse ativo (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 21).

A fim de atingir tal meta, de acordo com o referido relatório, a cidade de Jundiaí deveria continuar oferecendo uma boa qualidade de vida para seus habitantes e oportunidades profissionais, fatores que seriam primordiais para agregar indivíduos da referida faixa etária, os mais propensos a migrar para regiões que ofereçam melhores condições (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 21). O plano também prevê o desenvolvimento de indicadores capazes de demonstrar quais seriam os setores mais aquecidos da economia do município. Informada das tendências econômicas mais recentes a Prefeitura poderia se articular com instituições de ensino locais a fim de promover cursos profissionalizantes que preparem a população jovem para postos de trabalho

126 qualificados, em vez de depender apenas da atração de profissionais capacitados de outras regiões.

Uma outra medida para garantir o desenvolvimento econômico de Jundiaí a longo prazo prevista na Visão estratégica do município seria a criação de polos tecnológicos (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 20). De acordo com José Adelino Medeiros (1990) esta ferramenta política seria caracterizada por quatro fatores que deveriam ocorrer em uma mesma cidade ou bairro: instituições de ensino e pesquisa especializadas em pelo menos uma tecnologia; aglomerados de empresas envolvidas com esse ramo científico; projetos de inovação tecnológica estratégicos desenvolvidos conjuntamente por instituições e firmas, estimulados pelo governo; e uma estrutura organizacional apropriada, ou seja, uma fundação que promova a comunicação entre a iniciativa privada, os meios acadêmico- universitários e as diferentes esferas governamentais.

Para a Prefeitura e a FUPAM a implantação de polos tecnológicos certamente aumentaria as chances de sucesso das firmas existentes e ainda poderia atrair para Jundiaí novas empresas inovadoras. A fim de garantir a viabilização dessa proposta o referido plano estabelece que a administração pública deveria se articular em diferentes frentes, promovendo isenções fiscais, cooperação entre instituições de ensino e a iniciativa privada e novos investimentos em infraestrutura, que atualmente já demostraria sinais de esgotamento (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 19). Seria imprescindível também a implantação de um centro de pesquisa ou universidade de ponta no município, capaz de interagir com a iniciativa privada e formar mão-de-obra altamente qualificada. O planejamento estratégico sugere uma articulação junto às instancias estadual e/ou federal do governo, pleiteando um centro de pesquisa relacionado a alguma universidade pública (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 41).

De acordo com a FUPAM e a Secretaria de Planejamento polos tecnológicos teriam maior eficiência em atrair e subsidiar empresas se desenvolvidos com um foco específico, ou seja, para um determinado ramo de negócio, se forem voltados para uma atividade já em expansão na região onde implantados (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 37). Por esse motivo a prefeitura de Jundiaí considera que estes núcleos deveriam ser concebidos a fim de atender as

127 necessidades de clusters, que seriam “grupos de firmas conectados por relações entre fornecedores e clientes, que usem os mesmos tipos de recursos ou tecnologias, que dependam do mesmo tipo de recursos humanos e que apresentem alguma vantagem comparativa por estarem localizados próximos” (PREFEITURA

DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 20).

Como descrito no Capítulo 1 do presente trabalho, a Prefeitura de Jundiaí teria identificado a existência de um cluster de logística neste município, e outros conjuntos de empresas com potencial para constituírem novos clusters pertencentes tanto ao setor secundário quanto terciário. Entretanto a própria administração municipal afirma que seriam necessárias análises mensurando a eventual demanda de investimentos públicos em relação aos benefícios gerados por estas atividades, em valor adicionado e geração de empregos, antes de implantar medidas que favoreçam o desenvolvimento destes setores. Só os clusters que propiciem o melhor retorno à sociedade deveriam ser fomentados (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 21).

Além de estimular as atividades econômicas implantadas em Jundiaí e de buscar atrair mão-de-obra jovem e qualificada, o plano estratégico prevê medidas em favor da população que ocupa postos de trabalho em outras áreas, como a Região Metropolitana de São Paulo, e reside em Jundiaí em busca de melhor qualidade de vida (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 22). De acordo com o relatório de visão estratégica o expressivo aumento do número de automóveis verificado nas últimas décadas, que ocasiona congestionamentos nas principais rodovias, poderia levar esta população a migrar para áreas mais próximas de seus empregos, fazendo com que Jundiaí perdesse mão-de-obra qualificada.

Independentemente da questão de mobilidade passar a ser melhor equacionada por eventuais novas opções de transporte, prevê-se a criação de “distritos inteligentes”. Estes distritos seriam regiões providas de infraestrutura de telecomunicação mais avançada e eficiente, facilitando a comunicação remota entre profissionais e parceiros distantes a fim de reduzir a demanda por deslocamentos (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 22). De acordo com o planejamento estratégico a criação destes distritos, aliada à existência de firmas de alto valor agregado em Jundiaí e em outras cidades próximas, contribuiriam tanto

128 para a permanência desta população quanto para a fixação de novos profissionais e firmas prestadoras de serviços neste município (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 37).

Jundiaí apresenta condições excelentes para atrair e reter profissionais mais experientes. A crescente tendência de outsourcing (terceirização) por parte de grandes corporações bem como a possibilidade de trabalho remoto por parte de consultores independentes e terceirizados tem alterado de maneira drástica as formas de trabalho entre funcionários e empresas no mundo corporativo de hoje. Atrair este tipo de profissional é um meio natural de induzir migração de recursos humanos qualificados, o que aumenta a produtividade do município. E Jundiaí tem todas as condições para ser bem sucedida nesta tarefa (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 37).

Além de prover os “distritos inteligentes” com melhor infraestrutura de telecomunicações, o planejamento estratégico prevê outras medidas que contribuiriam para que essas áreas atingissem seus objetivos. Uma delas seria alterar o zoneamento dessas regiões, estimulando o uso misto, de forma que os profissionais pudessem residir e trabalhar no mesmo bairro, fazendo a maior parte dos seus deslocamentos a pé. Também deveria ser criada uma agência responsável por divulgar a cidade de Jundiaí em grandes centralidades do Brasil, atraindo novos investimentos, de forma a tentar a atingir uma taxa de criação de novas empresas nesses distritos - firmas com menos de dois anos de idade - de 15% ao ano (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 60).

No eixo mobilidade as diretrizes estabelecidas no plano estratégico para 2040 voltam-se principalmente para garantir melhores condições de tráfego local, na tentativa de reduzir os congestionamentos ocasionados pelo aumento do número de veículos automotores, que mencionamos no Capítulo 1 do presente trabalho, um problema crescente em Jundiaí (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 32). Ao invés de sugerir a provisão de novas vias, incentivando a continuidade da predominância do transporte individual motorizado, as proposições que mais se destacam buscam aumentar a eficiência do transporte público e incentivar o uso de meios de transporte não motorizados.

Uma das metas estabelecidas para o ano de 2040 em Jundiaí seria a implantação de um Plano de Desenvolvimento Orientado ao Transporte Coletivo, conceito popularizado internacionalmente através da sigla TOD – Transit Oriented Development. Esta iniciativa buscaria “adequar as densidades de ocupação e o uso

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do solo ao sistema de transporte, visando diminuir o comprimento médio de viagem e incentivar o maior uso dos modos não motorizados” (PREFEITURA DO

MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 34).

Existe também a previsão de implantação de corredores de transporte coletivo junto às principais avenidas, não necessariamente segregados, nas tecnologias BRT ou VLT. A Prefeitura de Jundiaí acredita que estimulando a concentração de postos de trabalho nas áreas adjacentes às vias troncais se contribuiria para aumentar a eficiência dos corredores nelas implantados, especialmente se a ocupação lindeira for de uso misto, resultando em uma maior quantidade de deslocamentos de curta distância e de passageiros por quilômetro (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 34).

FIGURA 3.2 - Primeiros estudos para os corredores de ônibus (BRT) que pretende-se implantar em Jundiaí.3

Fonte: Prefeitura do Município de Jundiaí, 2011a, p. 71.

3 A rede de BRT demonstrada nesta imagem refere-se a um primeiro estudo desenvolvido pela prefeitura de Jundiaí no ano de 2011, que não corresponde ao sistema que de fato pretende-se implantar atualmente. Esta pesquisa não teve acesso a uma imagem atualizada e em maior resolução da proposta atualizada desta rede, mas obteve imagens do primeiro ramal que deve ser construído, que deve ser discutido nos tópicos a seguir e será indicado na figura 3.4.

130 Complementando as medidas descritas anteriormente, foram enumeradas no referido plano de visão estratégica outras propostas que colaborariam para a melhora das condições de circulação no município, como a implementação de uma política cicloviária e a criação de uma legislação que estabelecesse contrapartidas a serem oferecidas por empreendimentos de grande porte que comprometessem a circulação (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 59). A questão da pequena quantidade de transposições sobre a ferrovia e as rodovias Anhanguera e dos Bandeirantes, conforme indicamos no Capítulo 1 do presente trabalho, também é levantada por este plano, embora não tenha sido detalhada qualquer ação específica a fim de equacionar melhor este problema no planejamento a longo prazo.

O planejamento elaborado para o município de Jundiaí com horizonte para 2040 não prevê iniciativas para o transporte intermunicipal, embora enumere algumas das possíveis mudanças que devem ocorrer, fomentadas pelo governo estadual. Uma delas é a transferência da responsabilidade pela operação das linhas de ônibus entre os municípios da Aglomeração Urbana de Jundiaí da Artesp para a EMTU, considerada positiva pela Prefeitura de Jundiaí, que prevê uma futura melhoria na qualidade dos serviços prestados (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 36). Outra proposta seria a futura implantação do serviço de trem de média velocidade chamado de Expresso Jundiaí, que possibilitaria a este município uma ligação muito mais eficiente com a capital do Estado, com tempo de viagem previsto de 25 minutos.

Esta iniciativa do governo estadual, que prevê a implantação de uma nova estação junto aos vazios entre os bairros da Vila Arens e Vila Nambi, deixa ainda mais evidente o potencial latente desta região. A proposta da Operação Urbana Consorciada Centro de Desenvolvimento Ponte São João-Vila Arens (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012, p. 80) foi apresentada pela primeira vez em fevereiro de 2012, junto ao plano de visão estratégica para 2040. Como poderemos verificar a seguir, é uma iniciativa que busca incorporar uma parcela das diretrizes enumeradas ao longo deste tópico, na tentativa de oferecer novos estímulos à região Sul da orla ferroviária de Jundiaí, aproveitando-se da alavancagem oferecida pela previsão de uma nova infraestrutura de mobilidade na região. Entretanto, cabe

131 destacar que são previstas outras políticas públicas a fim de atender a todos os objetivos listados anteriormente, assim como projetos alinhados com os eixos de discussão de equilíbrio social e economia rural/melhoria ambiental também contidos no relatório de visão estratégica, não abordados nesta pesquisa por não terem relação com seu escopo e com seu objeto concreto.

3.2. A Operação Urbana Consorciada Centro de Desenvolvimento Ponte São