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3. AS PROPOSTAS PARA A ORLA FERROVIÁRIA DE JUNDIAÍ

3.2. A Operação Urbana Consorciada Centro de Desenvolvimento Ponte São

3.2.1. A proposta da Secretaria de Planejamento

A proposta da operação urbana foi inteiramente desenvolvida pela Secretaria de Planejamento, como descrito por Antonio Panizza (ver Apêndice A), embora os trabalhos tenham se fundamentado em diretrizes definidas ao longo da elaboração do planejamento para 2040, que teve grande colaboração da FUPAM. O antigo Diretor de Planejamento afirma que a desativação da fábrica da Duratex, iniciada em 2009 (REVISTA EXAME, 2009), teria incentivado representantes da referida secretaria a buscar redirecionar essas áreas em favor do interesse público. Esta postura foi adotada em vista da localização privilegiada da gleba em questão, que situa-se entre bairros bem estruturados como Vila Arens e Ponte São João, regiões que até os dias de hoje não se comunicariam adequadamente devido à carência de alternativas de conexão mais eficazes e à continuidade de uma setorização ineficiente das áreas de circulação de ônibus, delimitadas pelas próprias concessionárias.

FIGURA 3.3 - Fotografia da área originalmente ocupada pela Indústria Duratex, registrada a partir do cruzamento da Avenida Antônio Frederico Ozanam e Viaduto Sperandio Peliciari.

134 Panniza relata que a possível implantação de uma estação da linha de trem de média velocidade nesta região foi outro importante fator a estimular a proposição da operação urbana (ver Apêndice A). O contínuo aporte de passageiros que seria ocasionado por esta nova infraestrutura certamente justificaria a solicitação de uma contrapartida dos empreendimentos ali implantados, que muito se beneficiariam dessa melhor condição de acessibilidade. É importante ressaltar que a área já concentra recursos e equipamentos provenientes de todas as instâncias governamentais. A faixa da ferrovia pertence à União, comissionada à empresa MRS Logística, a estação de trem da linha 7-Rubi da CPTM é de responsabilidade do Governo do Estado e o terminal de ônibus é da Prefeitura.

No Anexo B desta dissertação poderá ser verificada a proposta original desta operação urbana, incluída no Plano Diretor (JUNDIAÍ - LEI Nº 7.857/2012) e no planejamento para 2040 (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012). Após a realização de algumas entrevistas (ver Apêndices A, B e C) foi verificado que parte das legendas criadas para identificar as edificações na referida planta estavam incorretas. Por esse motivo foi elaborada a figura 3.4, que é uma montagem baseada na proposta divulgada com a correção dessas indicações.

Como podemos verificar na referida imagem, o perímetro de intervenção, que é a área para onde são propostas as maiores modificações, é delimitado a Leste pela Avenida União dos Ferroviários, a Oeste pela Avenida Antônio Frederico Ozanam, ao Sul pelo Córrego Vila Progresso e ao Norte pelo viaduto Sperandio Pelliciari, que faz a transposição da via férrea. Este território compreende terrenos privados que pertenceram ao grupo Duratex e uma grande faixa de terras que é de propriedade da União, ocupada parcialmente pela linha férrea, e soma cerca de 52,5 hectares.

A edificação prevista que mais se destaca nessa proposta é a grande passarela de pedestres que atravessaria todo o terreno da Duratex, permitindo a circulação entre as avenidas dos Ferroviários e Antônio Frederico Ozanam (ver indicação número 6). Esta passagem articularia o acesso dos pedestres às diversas variedades de empreendimentos e infraestruturas previstas para a área, facilitando a comunicação entre os bairros da Vila Arens e Vila Nambi, certamente contribuindo

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FIGURA 3.4 - Proposta da Operação Urbana Consorciada Centro de Desenvolvimento Ponte São João-Vila Arens.

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FIGURA 3.5 - Edifícios existentes dentro do Perímetro da Operação Urbana Consorciada Centro de Desenvolvimento Ponte São João-Vila Arens

137 para o desenvolvimento de ambos. Dentro da referida faixa de terrenos, paralela à linha férrea, foi prevista uma nova avenida que delimitaria a faixa de domínio da ferrovia e os lotes que receberiam propostas no âmbito da operação urbana, via identificada com o número 3.

Ao analisarmos o arruamento proposto para a referida operação urbana constatamos que foram propostas poucas vias além da nova marginal à rodovia, preservando a atual configuração de grandes lotes. Este padrão de tecido urbano, similar ao verificado nos casos referenciais da O.U. Água Branca e do Projeto Eixo Tamanduatehy, analisados no capítulo 2, favorece a implantação de imensos empreendimentos monofuncionais, em sintonia com os interesses do grande capital. Se nesta região fosse desenvolvida uma malha viária mais densa, produzindo quadras menores, haveria maior probabilidade de se fomentar uma formação urbana mais rica e próxima da cidade tradicional, incentivando a apropriação da rua pela população e a multifuncionalidade, em similaridade ao que Portzamparc buscou ao implantar sua “quadra aberta” no setor Massená de Paris Rive Gauche.

O terreno que pertenceu à Duratex receberia a maioria dos empreendimentos desta operação urbana. Na região com hachura vermelha, indicada com o número 4, foi prevista a criação de uma universidade ou centro de pesquisa, ocupando um galpão existente. Esta proposição certamente teria articulação com o conceito de polo tecnológico descrito no tópico anterior, embora não exista indicação no Plano Diretor de que esta instituição estaria vinculada a alguma cadeia produtiva específica. De acordo com Antonio Panizza o restante da área deste lote seria voltada para projetos a serem desenvolvidos pela iniciativa privada, como blocos residenciais (8), espaços comerciais ocupando os antigos galpões da indústria (5) e edifícios de escritórios articulados com a passarela (7) que poderiam ser ocupados por empresas do setor terciário ou profissionais liberais. Ao verificarmos a atual expansão das atividades terciárias no município de Jundiaí, e sua “janela de oportunidade”, como abordamos no Capítulo 1 do presente trabalho, essa iniciativa se mostraria extremamente oportuna.

Ao ser questionado quanto aos objetivos desta operação urbana o arquiteto e urbanista Pedro Taddei (vide Apêndice B) relatou que as discussões que ocorreram ao longo do seminário de 2011 e da elaboração do planejamento para 2040

138 apontavam que essa iniciativa deveria fomentar a expansão do setor de serviços especializados na região. A área da Duratex e bairros vizinhos deveriam mudar de função, tornando-se aptos a abrigar edifícios de escritórios destinados a empresas que prestem serviços de engenharia, arquitetura, administração e finanças, atendendo uma clientela similar aos futuros usuários do trem expresso, que atuariam em ramos similares em firmas na capital. Certamente a contrapartida obtida com a implantação desses novos empreendimentos poderia viabilizar uma grande parte dos investimentos municipais, especialmente se fosse praticada a venda de Certificados de Potencial Construtivo Adicional (CEPACs) como se faz no município de São Paulo. Entretanto a inexistência de leis específicas regulamentando o instrumento das operações urbanas consorciadas e detalhando a referida intervenção impedem a captação desta mais-valia urbana.

FIGURA 3.6 - Depósito de Contêineres visto a partir da Avenida Antônio Frederico Ozanam.

Fonte: Imagem extraída do Google Earth (acesso em ago. 2014).

Os terrenos pertencentes à União dentro do perímetro de intervenção da operação urbana já foram da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima, extinta em 2007 (RRFSA), e atualmente são parcialmente ocupados por um depósito de contêineres operado pela concessionária desta rede ferroviária, a MRS Logística. A Secretaria de Planejamento não propôs alterações para este depósito, mas destinou a área ao sul deste lote para a construção de um parque destinado as atividades esportivas, culturais e educacionais, que também deveria contribuir com a drenagem urbana. Antonio Panizza (vide Apêndice A) afirma que esta região sofre com

139 constantes alagamentos, demandando lagoas de contenção, e que a criação deste parque iria de acordo com a Lei Federal N° 11.438, de 2006, que garante subsídios a investimentos voltados para a prática de esportes e treinamento de atletas.

Importante destacar que a proposta colocada para a operação urbana não garantiria uma continuidade de espaços públicos entre estas áreas de lazer e os empreendimentos na área da Duratex. A localização deste parque também se mostra questionável ao observarmos sua posição dentro do município, próximo a áreas industriais e a vazios adjacentes à Avenida Antônio Frederico Ozanam e ao município vizinho, Várzea Paulista. Por outro lado, esta região está próxima de bairros predominantemente residenciais como Agapema e Jardim do Lago (IBGE 2010), o mais populoso do município, e encontra-se bem servida por transporte público.

O maior parque da cidade de Jundiaí, construído junto à Rodovia Constâncio Cintra em 2004, se mostrou uma experiência de sucesso, recebendo cerca de 10.000 visitantes por final de semana apesar de estar distante das regiões mais adensadas deste município (PARQUE DA CIDADE). Certamente o alto índice de motorização da população contribui para que equipamentos como este sejam muito utilizados apesar de demandarem longos deslocamentos, fator que demonstra que a construção de um novo centro esportivo junto à região ferroviária poderia ser viável.

Na área de influência desta operação urbana, que soma cerca de 82,5 hectares, foram estipulados usos de solo que nem sempre são compatíveis com a última versão do zoneamento aprovada. A maior parte dos lotes adjacentes à zona de intervenção deveriam abrigar áreas de “Desenvolvimento Industrial com estímulo à tecnologia”, especialmente a região da Vila Nambi lindeira à Avenida Antônio Frederico Ozanam, que atualmente comporta galpões da indústria calçadista Vulcabrás-Azaléia, e uma parcela do bairro da Vila Progresso, onde hoje existe a metalúrgica de peças automotivas SIFCO, que de acordo com a legislação municipal situa-se em uma zona residencial de baixa densidade (JUNDIAÍ - LEI Nº 7.858/2012).

Uma vez que a atividade industrial na Vulcabrás foi suspensa desde a última década, com seus edifícios sendo utilizados como depósitos, showroom, ou sublocados para firmas que atuam no setor de serviços, uma eventual substituição

140 de uso da área se mostra oportuna, especialmente se resultar na implantação de firmas desenvolvedoras de tecnologia dispostas a interagir com a futura instituição de ensino. A indústria da SIFCO está em um ramo capaz de constituir um cluster no município de Jundiaí (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE JUNDIAÍ, 2012), de forma que sua função pode ser considerada compatível com os objetivos da operação urbana para a zona onde está inserida, caso o referido centro de desenvolvimento se viabilize.

FIGURA 3.7 - Fotografia da Rua Água Branca, na Vila Nambi, e da entrada da Indústria SIFCO S.A., na Vila Progresso.

Fonte: Imagens extraídas do Google Earth (acesso em ago. 2014).

Nas áreas adjacentes aos dois extremos da passarela foram propostas regiões onde deveria ser privilegiado o uso de solo voltado para a hotelaria e habitação, sendo que imóveis destinados a esta segunda função já podem ser verificados nessas áreas. As boas condições de acessibilidade dessas zonas, especialmente após a construção do trem expresso, possibilitariam que a área atraísse pessoas que ocupam postos de trabalho na capital e desejam viver em Jundiaí. A atividade hoteleira também se mostra oportuna, profissionais de outras cidades que por ventura tivessem de se deslocar para este município a fim de estabelecer relações comerciais poderiam se hospedar junto a essa infraestrutura.

É importante destacar que a proposta de operação urbana não fez qualquer menção à criação de moradia de interesse social na região, apesar do bairro da Vila Nambi contar com residências em péssimo estado de conservação e população com menor poder aquisitivo (ver figura 1.18). Adensar a ocupação junto à nova

141 infraestrutura de transporte coletivo proposta (trem expresso, corredor de ônibus - BRT na Avenida Antônio Frederico Ozanam, articulação com o terminal de ônibus, reestruturação das linhas municipais, e das intermunicipais pela EMTU), que situa-se em uma região bem provida de outros tipos de equipamento urbano, se mostraria uma iniciativa mais racional do que permitir a expansão verificada junto às rodovias que cortam a região Norte do município, especialmente nos bairros Medeiros e Parque Industrial, próximos a Itupeva. Em similaridade com a Vila Nambi, estes bairros contam com núcleos de habitação precária, que no zoneamento do município estão indicados como ZEIS (JUNDIAÍ - LEI Nº 7.858/2012).