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CAPÍTULO II ASSISTÊNCIA SOCIAL

2.1. ESPECIFICIDADES DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

2.1.6. Recursos para a Assistência Social 1 Regras Gerais

2.1.6.2 Imunidades Tributárias

Visando incentivar e manter as práticas assistenciais prestadas pela sociedade, de forma contínua, permanente e planejada, o constituinte instituiu as imunidades tributárias, para as entidades beneficentes de assistência social,189 desde que atendam aos requisitos da lei. É uma medida política importante, que funciona como estímulo dirigido para a participação do setor privado.

É necessária a certificação como entidades beneficentes de assistência social, para auferir essas imunidades subjetivas tributárias (art. 195, § 7º, da CF), das pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, que prestem serviços ou realizem ações assistenciais, de forma gratuita, continuada e planejada, para os usuários e a quem deles necessitar, sem qualquer tipo de discriminação. ___________________________________________________________________ 187

A cidade de São Paulo criou o Conselho Municipal da Assistência Social – COMAS, por meio da Lei nº 12.524/97, o qual compete gerir o Fundo Municipal de Assistência Social. O art. 8º da Lei diz que: Constituirão receitas do Fundo Municipal de Assistência Social (FMAS): I – dotação consignada anualmente no orçamento municipal e verbas adicionadas que a lei estabelecer no decurso do período; II – recursos provenientes dos Conselhos Estaduais e Nacional de Assistência Social; III – doações, auxílios, contribuições e legados que lhe venham a ser destinados; IV – contribuições dos governos e organismos nacionais, estrangeiros e internacionais; V – rendas eventuais, inclusive as resultantes de depósitos e aplicações de capitais.

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Item 3.1.4 do Financiamento da Política Nacional da Assistência Social. POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL PNAS/2004 NOB/SUAS. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome – SNAS. Brasília, novembro 2005, p. 48-49.

189A nova redação da LOAS adotou a expressão entidades e organizações de assistência social – art. 3º.

77 Essas entidades devem estar inscritas no Conselho Municipal ou Distrital de Assistência Social e integrar o cadastro nacional de entidades, nos termos da Lei nº 12.101/09, regulamentado pelo Decreto nº 7.237/10.190

A certificação terá prazo de validade de três anos, conforme determina o art. 5º do referido decreto, permitida sua renovação por iguais períodos.

Também as entidades de assistência social que prestam serviços, com o objetivo de habilitação e reabilitação, de pessoa com deficiência e de promoção da sua integração à vida comunitária, bem como as entidades filantrópicas ou casa-lar para abrigagem dos idosos, poderão ser certificadas, desde que comprovem a oferta, no mínimo, de 60% (sessenta por cento) da sua capacidade de atendimento ao sistema de assistência social (art. 18 da Lei nº 12.101/09). A análise dos estatutos dessas entidades nos dará a sua finalidade, se assistencial ou não.

Não existe a obrigatoriedade que a entidade preste atendimento exclusivamente de assistência social, nos casos da filantrópica ou casa-lar, bastando que a maior parte o seja. Com a certificação, essas entidades também farão jus à imunidade do art. 195, § 7º - não podendo a mesma ser estendida, a entidade com personalidade jurídica própria, constituída e mantida, pela entidade à qual a isenção foi concedida, devido ao seu caráter naturalmente personalíssimo (art. 30 da Lei nº 12.101/09).

O principal requisito, para a obtenção da imunidade, é que essas pessoas jurídicas apliquem suas rendas, seus recursos e eventual superávit integralmente no território nacional, na manutenção e desenvolvimento de seus objetivos institucionais, e, que não distribuam resultados, dividendos, bonificações, participações ou parcelas do seu patrimônio, sob qualquer forma ou pretexto (art. 29 da citada lei).

Toda documentação será submetida à apreciação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que deverá analisar o tipo de atividade que a entidade realiza191

. O objeto da relação assistencial deverá estar relacionado ___________________________________________________________________ 190Esses requisitos são os mesmo para que se vinculem ao SUAS. Na LOAS, passarão a ser denominadas entidades ou organizações assistenciais.

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78 com práticas “que busquem retirar o cidadão de toda e qualquer situação de indigência,”192

com o tipo de prestação ou serviço fornecido, bem como pelo modo como eles são prestados.

Se deferido o pedido do requerimento de concessão dos certificados, essas entidades passarão a ser reconhecidas como entidades beneficentes de assistência social e gozarão de prerrogativas fiscais, como imunidades do pagamento de contribuições patronais para a seguridade social e contribuições sobre o faturamento e do lucro, desde que atendidos os requisitos legais193

, além da imunidade tributária constitucional, prevista no art. 150, inciso VI, alínea “c”, que é uma desoneração de impostos pertencentes ao orçamento fiscal.194 Reafirma-se, não são imunes a todos os impostos, mas apenas os impostos relacionados ao patrimônio, renda e os serviços, desde que relacionados à sua atividade essencial.

Essa renúncia de receitas se justifica, segundo José Guilherme Ferraz Costa, em razão da “gigantesca tarefa de inclusão social” a que se propõe a assistência social, “onde a iniciativa privada sempre teve uma participação substancial” e “cujo atendimento, dirige-se primordialmente à camada mais carente da população”.195

___________________________________________________________________ certificados das entidades beneficentes de assistência social serão apreciadas no âmbito dos seguintes Ministérios: I - da Saúde, quanto às entidades da área de saúde; II - da Educação, quanto às entidades educacionais; e III - do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, quanto às entidades de assistência social.

192MARQUES, Carlos Gustavo Moimaz. O benefício assistencial de prestação continuada: Reflexões sobre o trabalho do poder judiciário na concretização dos direitos à seguridade social. São Paulo: LTr Editora Ltda., 2009, p. 41.

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Vide Lei 12.101 de 27.11.2009 e Lei 8.212/91, arts. 29 e 22, respectivamente. A lei nº 12.101/09 usa a terminologia isenção, quando o correto é imunidade.

194CF. art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: VI - instituir impostos sobre: c) patrimônio, renda ou serviços das instituições de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da Lei, relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas (§ 4º do art. 150). Pactuamos que as entidades beneficentes de assistência social e as instituições de assistência social, sem fins lucrativos, para efeitos da percepção dessa imunidade, são equivalentes juridicamente.

195COSTA. José Guilherme Ferraz. Seguridade Social & Incentivos Fiscais. Curitiba: Juruá, 2007, p. 70-71.

79 2.2 CONCEITO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

A partir do texto constitucional e de todas essas especificidades enumeradas acima, podemos conceituar a assistência social como sendo:

um subsistema de proteção social, direito fundamental social do cidadão necessitado e dever do Estado, que provê os mínimos sociais, realizado por meio de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e privada, com caráter subsidiário, específico e gratuito, de natureza não contributiva, por meio de benefícios e serviços, prestados com eficiência e qualidade, de modo a promover a universalização dos direitos sociais.

A assistência social abarca aquelas ações prestadas tanto pelo poder público quanto pela atividade privada. A constituição federal traçou as diretrizes para a assistência social pública, que deverá ser instrumentalizada por políticas públicas196 197

. Essas diretrizes deverão ser pautadas pela descentralização político-administrativa e pela participação da população.

Além dos princípios estampados no corpo do texto constitucional preconiza a LOAS, em seu art. 4º, a assistência social deverá ser regida pelos seguintes princípios:

supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica;

universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas;

respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade;

igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais e

divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão.

___________________________________________________________________ 196Política pública é o programa de ação governamental que resulta de um processo ou conjunto de processos juridicamente regulados - processo eleitoral, processo de planejamento, processo judicial - visando coordenar os meios à disposição do Estado e as atividades privadas, para a realização de objetivos socialmente relevantes e politicamente determinados. Como tipo ideal, a política pública deve visar a realização de objetivos definidos, expressando a seleção de prioridades, a reserva de meios necessários à sua consecução e o intervalo de tempo em que se espera o atingimento dos resultados, BUCCI, Maria Paula Dallari. O Conceito de política pública em direito. In Políticas Públicas – reflexões sobre o conceito jurídico. Org. Maria Paula Dallari Bucci. São Paulo: Saraiva. 2006, p.39 197A Política Nacional de Assistência Social foi aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social, em 14.10.2004 e instrumentalizada por meio da Resolução nº 145, de 15.10.2004. A Lei 12.435/2011, que alterou a LOAS, apenas incorporou a redação prevista pela PNAS.

80 Todos esses princípios nada mais são do que a aplicação daqueles princípios da seguridade social, inscritos no texto constitucional, com algumas especificidades da área de assistência social. A assistência social pública tem como característica básica a gratuidade, e que o assistido possa voltar a se reintegrar no seio da sociedade, por meio da família ou do trabalho. Por essa razão o sistema é pautado pela não contributividade.

Mas, para que esse direito social fundamental seja prestado, pelo Estado, é necessário um conjunto integrado de ações de iniciativa pública, para garantir o atendimento às necessidades básicas dos hipossuficientes, que não foram assistidos por suas famílias ou por particulares. Ressaltamos que a assistência social é direito do cidadão, direito esse que será instrumentalizado, na seara pública, por meio de políticas públicas. A participação da população, por meio de suas organizações representativas será fundamental para a constituição e formulação dessas políticas e para a mensuração e o controle das ações assistenciais.

Os assistidos devem ser tratados com urbanidade e respeito, não podendo a sua qualidade de necessitado lhe demandar discriminações. Portanto, a forma como comprovará a sua necessidade ou o estado de sua vulnerabilidade não pode ser vexatória. Os serviços e benefícios colocados à sua disposição devem ser pautados pela qualidade e eficiência e os assistentes sociais, bem como todo o suporte de pessoal, devem ter capacitação adequada para essa tarefa.

Os programas desenvolvidos pela área assistencial que ofereçam soluções, àqueles que estão em necessidade, devem desenvolver técnicas de disseminação da informação, pois os benefícios não podem ser concedidos de ofício, por parte da Administração Pública. O assistido deve se dirigir aos órgãos assistenciais (CRAS ou CREAS) e pleitear os serviços ou benefícios, comprovando a sua qualidade de necessitado.

Os direitos prestacionais, mais especificamente da assistência social, se pautam pela progressividade, comando esse inserido no Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais - PIDESC, em seu art. 2º, a saber:

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Cada um dos Estados Partes no presente Pacto compromete-se a agir, quer com o seu próprio esforço, quer com a assistência e cooperação internacionais, especialmente nos planos econômico e técnico, no máximo dos seus recursos disponíveis, que prediz: de modo a assegurar progressivamente o pleno exercício dos direitos reconhecidos no presente Pacto por todos os meios apropriados, incluindo em particular por meio de medidas legislativas.

Os serviços, benefícios, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público devem, paulatinamente, serem ampliados, até atingirem a sua potencialização máxima, atingindo o máximo de vulnerabilidades possíveis e àqueles de dele necessitam.

A conjugação dos princípios da seguridade social, mais os princípios específicos da assistência social e as diretrizes do sistema é que farão com que uma verdadeira implementação desse direito, tenha eficácia e efetividade.

2.3 A FUNDAMENTALIDADE DO DIREITO À ASSISTÊNCIA